quarta-feira, 6 de julho de 2016

Vacas japonesas criadas no luxo do Alentejo


01.07.2016 às 14h361

 ALAIN JULIEN

Bezerros originários do Japão nascidos em Portugal estão a fazer furor nos pratos de conceituados chefs pelo Mundo. As wagyu têm sotaque alentejano

RUBINA FREITAS
Quando chegaram a uma herdade junto ao Aeródromo Municipal de Évora, 24 vacas wagyu, uma raça japonesa, ficaram tão desorientadas que desataram a correr em volta da cerca durante horas. Apesar de darem origem à carne mais cara do Mundo - kobe - estrela em pratos dos mais conceituados chefs do Mundo, os animais não estavam habituados ao luxo do pasto alentejano.

Nuno Rosado, o criador, chegou a temer o pior. Não era por falta de experiência com gado, já que se trata de um agricultor que, apesar dos 38 anos, tem 15 de agricultura ativa, nado e criado em família com tradição agrícola. Mas eram as primeiras vacas wagyu a chegar a Portugal. Estávamos em 2014 e que se saiba até agora são as únicas. "O meu sócio, Manuel Silveira, ligou-me a dizer que as vacas - muitas delas prenhas - iam morrer", recorda, entre risos. Duas horas depois, cansadas, pararam e no dia seguinte já estavam adaptadas à região, onde vagueiam por um extenso campo cercado de 25 hectares com pasto e feno à disposição e separadas de outras raças bovinas.

A oportunidade surgiu com uma parceria com o grupo espanhol Altube Garmendia, que também cria a raça na zona de Burgos e comercializa a respetiva carne. Começaram com 24 vacas e um touro e entretanto já nasceram muitos bezerros wagyu que depois seguem para Burgos onde estão até aos 36 meses até serem abatidos. Nesse processo intensivo de engorda em Espanha, passados esses primeiros meses em liberdade no campo alentejano, os animais "gozam" de "luxos" que ajudam à qualidade da carne, como massagens e música clássica que diminuem o stress do animal e torna a carne mais saborosa.

Não será à toa que a carne kobe é considerada a melhor do Mundo. "Trata-se de uma raça que teve menos cruzamentos sendo quase ancestral", explica Nuno Rosado. Um quilo de carne pode custar até 160 euros, dependendo do nível, que vai de um a dez. "Nos melhores restaurantes, de estrela Michelin, um bife pode custar 600 euros", conta o engenheiro agrónomo. Aliás foi também a pensar nisso que embarcaram nesta aventura onde foram pioneiros, conscientes que a afirmação seria pela qualidade e nunca pela quantidade.

Satisfeitos com o novo negócio, os agricultores já estão a aumentar a manada e querem que outros criadores do Alentejo e do país se "aventurem" na criação das wagyu. No futuro, tencionam avançar com a constituição de uma associação nacional que represente esta raça japonesa e neste momento estão a pensar num projeto que não envolva o intermediário espanhol.

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