sábado, 4 de agosto de 2018

Moeda de troca? UE mais do que triplica importações de soja dos EUA

É a primeira acção pública após o encontro de Jean-Claude Juncker com Donald Trump: a Comissão Europeia começou a publicar um relatório bi-mensal sobre as importações de soja, que aumentaram 283%.

Tiago Varzim Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt
01 de agosto de 2018 às 15:06

"A União Europeia pode importar mais soja dos EUA e isto está a acontecer no momento em que falamos", disse hoje o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. É assim que Bruxelas se aproxima de Washington, após o encontro da semana passada com o presidente dos EUA, Donald Trump. 

A Comissão Europeia publicou esta quarta-feira, 1 de Agosto, o primeiro relatório bi-mensal sobre a evolução das importações de soja norte-americana. De acordo com os dados publicados, as compras de soja norte-americana realizadas pelos Estados-membros aumentaram 283% num ano. Os dados referem-se a Julho deste ano em comparação homóloga.

Este aumento permitiu que os EUA passem agora a representar 37% das importações de soja da UE. Há um ano esse peso era de apenas 9%, segundo os dados de Bruxelas. Ainda assim, o Brasil continua a ser o principal parceiro da UE na soja. No total foram importadas 360 mil toneladas de soja nos primeiros sete meses do ano. 

"A UE precisa de soja na Europa como uma fonte de proteína para alimentar os nossos animais, incluindo galinhas, porcos e gado, assim como para a produção de leite", explica o comunicado, uma vez que é incapaz de a produzir em "quantidades suficientes". De acordo com Bruxelas, "os preços norte-americanos da soja são actualmente os mais competitivos do mercado e, por isso, a opção de alimentação mais atractiva para os importadores europeus e os seus utilizadores".

Esta é a primeira acção pública depois de ambos os lados do Atlântico terem assinado um compromisso de entrar em negociações comerciais. Assim, estes dados podem ser interpretados como uma "moeda de troca" para Trump, que já ameaçou impor tarifas sobre o sector automóvel europeu. 

Juncker argumenta que "esta é uma situação de 'win-win' [ganhos mútuos] para os cidadãos europeus e norte-americanos". Uma ideia também defendida pelo comissário europeu para a agricultura, Phil Hogan, que revelou que a UE expressou a sua "vontade" de importar mais soja dos EUA. "Os agricultores europeus e norte-americanos têm muito a ganhar ao trabalharem em conjunto", disse Hogan. 

Na semana passada, os dois líderes acordaram que a cooperação futura entre a UE e os EUA não passaria pela agricultura, mas houve um compromisso para aumentar o comércio de soja. Esta semana começaram os trabalhos do Executive Working Group, um grupo bilateral, que está a trabalhar nestas questões, ao qual este relatório foi entregue.

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