segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cigarrinhas são chave do combate à bactéria que ameaça agricultura

Um inseto conhecido como cigarrinha é o responsável pela propagação da bactéria Xylella fastidiosa, mas é também a solução para esta ameaça à agricultura, em estudo num projeto internacional que tem como parceiro português o Politécnico de Bragança.

 Cigarrinhas são chave do combate à bactéria que ameaça agricultura
© iStock

Desde a década de 1980 que a bactéria está identificada e tem provocado quebras avultadas nas videiras dos Estados Unidos da América, nos pomares de laranja da Baía do Brasil e nos olivais de Itália. Chegou à Europa em 2013 e, desde então, já foi detetada também em França, Holanda, Alemanha, Espanha e, no início de janeiro, em Portugal, em plantas de lavanda num jardim de um 'zoo' de Vila Nova de Gaia.

Em 2016, surgiu um projeto europeu com 39 parceiros, entre os quais o Instituto Politécnico de Bragança (IPB), que representa Portugal e que está a estudar os vetores, aqueles que propagam a bactéria que causa destruição em mais de 350 variedades de plantas agrícolas e ornamentais, como disse à Lusa José Alberto Pereira, o coordenador nacional.

No laboratório de bioagrotecnologia do IPB há uma equipa de três bolseiros e outros investigadores a estudarem a espécie de cigarrinha que mais preocupa nesta problemática e que é a cigarrinha das espumas.

Os sinais da presença deste inseto, como explicou o coordenador, são visíveis na primavera, sobretudo nas plantas rasteiras, nas quais se observa com frequência a presença de uma espuma entre as folhas.

Trata-se de um produto segregado pelas cigarrinhas, que se alimentam de vegetais.

Nem a espuma, nem as cigarrinhas são uma ameaça, a não ser que a planta de que o inseto se alimenta esteja infetada com a bactéria Xylella fastidiosa. Nesse caso, depois de ingerir a planta, se o inseto for alimentar-se de outra vai contaminá-la, num processo de contágio idêntico à transmissão de doenças humanas como a malária, propagada pela picada de um mosquito.

José Alberto Pereira explicou à Lusa que a bactéria passa para a planta e aloja-se no xilema (os vasos condutores da seiva), provocando a obstrução dos mesmos e matando a planta.

O ramo afetado seca e destruir a planta contaminada é atualmente a única solução.

"É impossível destruirmos as plantas todas, pelo que os investigadores procuram arranjar forma de atacar o mal por aquele que o propaga: o vetor", indicou.

Destruir o inseto, a cigarrinha, ou diminuir a população, provocando uma quebra no ciclo de reprodução, são algumas das possibilidades em estudo e que podem passar pela colocação de armadilhas idênticas às utilizadas para as moscas.

A luta biológica é a linha orientadora da investigação que ainda não aponta prazos para chegar à solução.

Os diferentes parceiros continuam a estudar os vetores no terreno, que no caso de Portugal abrange olival, vinha e amendoal de Trás-os-Montes até à região de Setúbal e irá avançar, este ano, para o estudo nas zonas de citrinos.

Até existir uma proposta de combate por parte da comunidade científica, a contenção da ameaça passa por procedimentos de cautela por parte de agricultores e comércio na aquisição de plantas e atenção à suspeita de possível contaminação, que deve ser comunicada às autoridades.

Além da importação de plantas contaminadas, a bactéria pode ser transportada por outras vias de mais difícil controlo, como explicou, nomeadamente nos contentores que chegam aos portos marítimos.

Na luta contra esta bactéria, o politécnico de Bragança está também a trabalhar com o INIAVE, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

Faz também parte de uma rede Ibero-americana criada recentemente para estudar esta ameaça internacional que pode colocar em risco extensas manchas de culturas com elevado valor económico.

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