sábado, 20 de abril de 2019

Centro formação em agricultura sustentável e permacultura na ilha timorense de Ataúro


Díli, 09 abr 2019 (Lusa) -- A ilha timorense de Ataúro, a norte da capital Díli, contará a partir desta semana com um novo centro de formação em agricultura sustentável e permacultura que quer colmatar parte das carências com que vive a comunidade local.


Lusa
09 Abril 2019 — 06:51

Fernando Madeira, um dos quatro coordenadores do projeto, explicou à Lusa que a iniciativa partiu da vontade de criar um centro de formação em agricultura sustentável e permacultura em Ataúro, onde a comunidade local vive com carências de todo o tipo, incluindo formação.

"É uma zona isolada, sem eletricidade, com dificuldade de acesso a água, do lado de lá de Ataúro onde a população nem sequer tem acesso a escolas secundárias", explicou à Lusa Fernando Madeira, da organização naTerra, promotora da iniciativa.

"Quisemos colmatar as lacunas que se sentem na zona onde as crianças não conseguem ir além da primária. Assim criamos oportunidades de capacitação profissional a estes jovens", frisou.

O centro dará formação em áreas tão variadas como língua, carpintaria, pescas e, naturalmente, agricultura sustentável e permacultura, com um jardim que permite "mostrar as várias técnicas" e que ajudará a tornar o próprio centro "autossuficiente a nível alimentar".

O projeto, que começou há cerca de dois anos e meio, tem envolvido a comunidade local, que ajudou a identificar o melhor local para o projeto bem como a construir as infraestruturas, que incluem acomodação para 30 participantes e salas de aulas.

A iniciativa é da associação sem fins lucrativos naTerra, que desenvolveu em Timor-Leste vários projetos de educação para o desenvolvimento sustentável.

Localizada a cerca de 30 quilómetros de Díli, a ilha de Ataúro vive com limitações de acesso a informação e educação, explica Fernando Madeira, notando que os estudantes só têm acesso a escola primária, tendo depois que abandonar a ilha.

"As alternativas passam pela agricultura tradicional de subsistência e a pesca, que podem ser melhoradas com a introdução de novas técnicas agrícolas e piscatórias", referiu.

Madeira explicou que, para este projeto, a naTerra tem estado a trabalhar com o Governo de Timor-Leste, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e a Conservação Internacional.

O projeto foi financiado com apoio do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (conhecido pela sigla IBSA), criado em junho de 2003 como espaço de cooperação sul-sul, para promover iniciativas de desenvolvimento em vários pontos do mundo.

A iniciativa tem entre os seus parceiros a Embaixada de Portugal em Díli, a organização timorense PERMATIL e a cooperação alemã GIZ, bem como a participação de voluntários dos programas MOVE (de Portugal), Avi e European Voluntary Service.

Membro da Rede Global de EcoVilas (GEN), o naTerra nasceu há 10 anos "com a intenção de apoiar o desenvolvimento sustentável em Timor-Leste apoiando-se nos antigos conhecimentos das comunidades locais".

Inicialmente sediada em Baucau, a naTerra construiu um centro de práticas de permacultura e de agricultura sustentável para pesquisa, propagação de plantas e sementes, e um viveiro comunitário de árvores frutíferas.

Atualmente tem um banco de sementes, em Baucau e em Díli, com mais de 130 variedades locais de plantas e árvores catalogadas, tendo participado em várias ações de formação a quadros locais com vários parceiros.

Desde 2011, a naTerra recebe voluntários de todo o mundo que atuam áreas como educação ambiental, permacultura, veterinária, captação e armazenamento de água da chuva, promovendo a economia local, bancos de sementes e desenvolvimento comunitário.

A nova fase do projeto será procurar financiamento e parcerias para os próximos dois anos de atividade sendo que o objetivo é que o centro seja autossustentável a partir de 2012 com iniciativas como Cursos Certificados, Turismo Ético e Venda de Produtos.

O objetivo é igualmente ligar o centro a outros centros de formação agrícola, incluindo a Universidade Nacional Timor Lorosa'e (UNTL), oferecendo estágios práticos, uma das questões em que se continuam a sentir carências no país.

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