sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Agricultores do Alto Alentejo "apreensivos" por falta de chuva


Situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas. No final de Dezembro, Portugal continental estava em seca meteorológica fraca a sul do Tejo

LUSA 10 de Janeiro de 2019, 18:15 Partilhar notícia

A Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre mostrou-se esta quinta-feira "apreensiva" devido à falta de chuva na região, considerando que a situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas instaladas de Outono/Inverno.

"Estamos em pleno inverno e o mês de Dezembro não foi normal. Começa a preocupar-nos um bocadinho esta situação", afirmou a presidente da associação de agricultores, Fermelinda Carvalho, em declarações à agência Lusa.

Segundo relatou a responsável associativa, as pastagens naturais, "já nascidas", e as culturas de Outono/Inverno podem ficar "comprometidas" caso não chova nas próximas semanas.

"As culturas estão nascidas, umas maiores, outras mais pequenas, depende da época de sementeira de cada agricultor e de cada cultura, mas se não chover no mês de Janeiro pode ficar comprometido o desenvolvimento das searas e das pastagens", alertou. "A situação não é dramática, mas estamos apreensivos, porque não se perspectivam nos próximos dias tempos chuvosos, o que era bom", disse.

A presidente da associação de agricultores mostrou-se ainda preocupada com o futuro das reservas de água nas albufeiras, uma vez que esta altura do ano seria a época de armazenamento para garantir, depois, o abeberamento dos animais. "Nesta altura não há problemas de abeberamento, mas fazia falta chover a sério. Não está a ser em termos de precipitação um ano fantástico", sublinhou.

Com sementeiras de triticale e cevada no terreno, a agricultora Maria João Valentim também considerou que seria "importante" a chegada das chuvas aos seus campos situados nas zonas de Arronches e de Barbacena, no concelho de Elvas, distrito de Portalegre. "Tivemos um Outono bom, mas para estas culturas já seria necessário que chovesse", lamentou.

Seca meteorológica
Portugal continental estava no final de Dezembro em seca meteorológica fraca a sul do Tejo devido aos baixos valores de precipitação registados naquele mês, classificado como quente e muito seco, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

De acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) disponível no site do IPMA, a 31 de Dezembro, 53,3% do território estava na classe de seca fraca, 13,7% na classe normal e 33% na classe de chuva fraca. A 30 de Novembro, 9,8% do território estava na classe normal, 89,6% em chuva fraca e 0,6% em seca moderada. O IPMA classifica em nove classes o índice meteorológico de seca, que varia entre "chuva extrema" e "seca extrema".


Segundo o Boletim Climatológico do IPMA, o mês de Dezembro em Portugal Continental classificou-se como quente em relação à temperatura do ar e muito seco em relação à precipitação. O valor médio da temperatura média do ar (10,58 graus Celsius) foi superior ao normal, sendo o 3.º valor mais alto desde 2000.

O IPMA indica também que valores da temperatura média superiores aos registados a Dezembro de 2018 ocorreram em cerca de 20% dos anos, desde 1931. "O valor médio da temperatura máxima do ar, 15,21 graus, foi superior ao normal, sendo o 3.º valor mais alto desde 1931 (maiores valores em 2015 e 2016)".

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Países mudam métodos de criação de gado para reduzir emissões de carbono

Países mudam métodos de criação de gado para reduzir emissões de carbono

Cerca de 2000 explorações de gado bovino europeias vão mudar métodos de criação para reduzir em 15% a sua pegada carbónica nos próximos dez anos em França, Itália, Irlanda e Espanha.

O programa "Life Beef Carbon", que juntou hoje representantes europeus na capital espanhola, monitorizou as emissões de gases que provocam o efeito de estufa e concluiu que mais de 50% das emissões se devem ao processo digestivo dos animais nas explorações.

Rotação de pastos, substituição de palha por serrilha nas camas dos animais, impermeabilização das estrumeiras e alimentação diferenciada conforme a idade são algumas das técnicas que já se ensaiam em experiências piloto nas explorações que aderiram.

Um dos coordenadores do projeto, Jean Baptiste Dolle, afirmou que não é fácil reduzir as emissões de dióxido de carbono porque há várias fontes diferentes.

Uma das vertentes do projeto é a formação dos criadores, mostrando-lhes o papel que o seu setor tem nas emissões de gases poluentes com efeito de estufa.

"É urgente mudar relação do Estado com as associações de bombeiros e produtores florestais"

ENTREVISTA

O presidente do Observatório Técnico Independente diz que há medidas que estão a ser tomadas que estão pouco fundamentadas e pede cuidado para que não se "enfraqueçam" as entidades de Protecção Civil que existem.

 Liliana Valente
LILIANA VALENTE 9 de Janeiro de 2019, 8:30 

Francisco Rego é o presidente do Observatório Técnico Independente, composto por dez técnicos que avaliam o sistema de Protecção Civil a pedido do Parlamento. Numa breve conversa com o PÚBLICO conta as principais conclusões do primeiro relatório desta entidade e pede para que os agentes políticos usem mais as recomendações a que chegam.


O relatório sai numa altura em que o Governo ainda está a negociar a lei da Protecção Civil. Que recomendações espera que sejam ouvidas?
Esperamos que o que escrevemos possa ser reflectivo na legislação. O que é fundamental, é que mais do que a rapidez das leis, seja a solidez e a fundamentação que as justifique. 


No início do relatório é mostrado um diagrama com as diferentes estruturas que existem no sistema e depois avisam que há repetições, ineficiências e competições. Há alguma recomendação específica para este problema?

Sim, há uma necessidade de simplificação de estruturas e de procedimentos. Ao longo da história foram criadas muitas estruturas e não se pensou na lógica de as coordenar ou mesmo fundir, para poderem ser mais operacionais. É mais fácil criar do que reduzir e simplificar o sistema. Já no que é mais urgente modificar, são estas relações entre as entidades do Estado central e a sociedade civil, sobretudo as associações de bombeiros, na parte de protecção, socorro e combate, e as associações de produtores florestais, na parte da prevenção.

Era aí que deveria entrar a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (Agif) ou é mais uma das entidades que foi criada e introduziu complexidade ao sistema?
Essa é uma das questões centrais porque há um risco que a Agif em vez de simplificar, seja mais uma estrutura. Nós defendemos a necessidade de haver uma entidade coordenadora como a Agif, mas por outro lado apontamos para a necessidade de se ir transformando numa interagência, constituída pelas próprias entidades intervenientes.

Que funcione como elo de ligação?
Que seja de coordenação, mas que não pode com isso - e é esse o risco - esvaziar as entidades que depois terão de ser as mais operacionais. A ideia de uma interagência parece uma formulação mais consentânea de coordenar sem enfraquecer as outras entidades.



Dizem no relatório que está a canibalizar outras entidades?
Sim, há esse risco. É muito importante que se constitua um corpo próprio, significativo e nesta fase inicial parece-me justificado, não pode ir além, porque se arrisca com isto a enfraquecer outras entidades que precisam de ser robustecidas. Apostamos muitos na ideia de haver um reforço muito importante na formação dos agentes.

 dos concursos para comandantes, mas também para as mudanças na estrutura da Protecção Civil. Seria preferível deixar estas mudanças para depois do Verão?
Na questão da reorganização do sector operacional dos bombeiros e dos sapadores florestais devem ser pensados antes de serem alterados e é preciso - e julgo que é um passo essencial - que todos os agentes se sintam confortáveis. E para se sentirem confortáveis é preciso haver estudos base que não têm existido, não tem havido um investimento nessas fundamentações. São decisões e reacções que não são informadas.

Alguma em específico?
Estas alterações à Protecção Civil, com uma organização territorial que tem dado bastante discussão, e por outro lado há uma proposta de comando próprio dos bombeiros que não se percebe bem qual a fundamentação. Há de facto uma discussão que é muito difícil de se fazer sem ter dados técnicos. 

Ou seja, até ao Verão é muito difícil que isto tudo se encaixe?
Pois, e este é também o papel que o observatório gostava de ter, que não seja só observar platonicamente a situação. Gostávamos de contribuir para esta reflexão, para que o arrumar deste sistema seja muito mais cuidado e muito mais eficiente.


Vendas de carne com selo Porco.pt subiram para quase 13 ME em 2018

As vendas de carne com o selo de certificação Porco.pt subiram em 2018, atingindo quase 13 milhões de euros, foi hoje anunciado.


Lusa
07 Janeiro 2019 — 18:32

De acordo com os dados enviados pelos responsáveis pelo selo Porco.pt, em 2018 as vendas totalizaram 12,6 milhões de euros, que comparam com os 4,2 milhões de euros registados no ano anterior.

No ano em causa, foram comercializadas 8.867,52 toneladas de carne, enquanto em 2017 foram vendidas 2.883,12 toneladas.

No total, desde que os produtos com o selo Porco.pt, projeto que reconhece a carne de suíno 100% portuguesa, entraram no mercado, foram registados cerca de 17 milhões de euros em vendas.

Por sua vez, a linha 'premium', iniciativa de um grupo de 25 produtores nacionais que distingue carnes com características "superiores", já representa quase 40% das vendas totais.

Em 2018, o selo Porco.pt alcançou 500 explorações, 56 produtores aderentes e 20 unidades de abate e transformação.

Estes produtos são distribuídos em todo o território nacional, em cerca de 500 pontos de venda pertencentes a 12 empresas de distribuição.

O selo Porco.pt nasceu em 2017 para dar resposta ao cumprimento da obrigação legal, por parte da distribuição, de "rotular adequadamente o produto, nomeadamente no que respeita à sua origem".

Esta certificação tem ainda como um dos principais objetivos diferenciar a carne de porco produzida em Portugal da restante oferta disponível no mercado.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

As sementes que mudaram a forma como comemos


O projecto ReSeed, com financiamento europeu de 1,5 milhões de euros, vai estudar durante cinco anos o impacto da introdução de novas plantas e sementes na Península Ibérica entre 1750 e 1950.

 Alexandra Prado Coelho
ALEXANDRA PRADO COELHO 26 de Dezembro de 2018, 8:05 Partilhar notícia


Nos finais do século XVIII, o Conde de Hoffmannsegg, botânico, entomologista e ornitólogo alemão, que viajava por Portugal na companhia de outro botânico e naturalista da mesma nacionalidade, Johann Link, constatou que, no Minho, a variedade de milho vindo das Américas (o Zea Mays) estava a substituir outros tipos de cereais, como o milho-miúdo, o trigo ou o centeio.


Os dois botânicos, que registaram as suas observações no livro Voyage en Portugal, fait depuis 1797 jusqu'en 1799 (na tradução francesa, a partir do original alemão), referem que antes da expansão desta nova variedade de milho grosso, que viria a tornar-se a dominante, os habitantes semeavam milhos locais nas encostas e reservavam as planícies para as pastagens. Com a popularidade crescente do milho grosso, começaram a ocupar também as planícies, o que levou à diminuição do gado e ao desaparecimento das outras variedades.

O relato de Hoffmannsegg e de Link, descrevendo uma modificação na paisagem agrícola e, pressupõe-se, nos hábitos alimentares, é uma das muitas fontes que irão ser exploradas pela equipa do projecto ReSeed, dirigido por Dulce Freire, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, e financiado com um 1,5 milhões de euros (para cinco anos) pelo Conselho Europeu para a Investigação da Comissão Europeia.

O objectivo é estudar a circulação e o cultivo de sementes na Península Ibérica entre 1750 e 1950. O foco não é tanto a chegada das plantas e sementes a Portugal e a Espanha, o que aconteceu em momentos anteriores, mas sim a forma como elas foram sendo introduzidas na agricultura e, consequentemente, na alimentação, e como é que se adaptaram às diferentes regiões ibéricas.

Para isso, explica Dulce Freire, vão ser cruzados dois tipos de fontes. "Vamos analisar um conjunto de documentos habitualmente utilizados pelos historiadores que estudam a economia, a sociedade, a política e as instituições, desde correspondência, relatórios, contratos, legislação, documentação dos cartórios dos mosteiros e outras instituições religiosas, até à contabilidade e documentos de organizações de assistência, ensino, etc. E vamos cruzá-los com documentos produzidos no âmbito de actividades científicas e académicas, sobretudo as relacionadas com a botânica, a agronomia e a biologia."

Entre estas últimas estarão publicações como as Floras publicadas desde o século XVIII, os "diários de campo" dos cientistas, os relatórios e artigos científicos que produziram, as memórias, "os milhares de cartas que trocaram com os pares e outros interessados nos temas que estudaram, colecções de herbário com exemplares de plantas que recolheram, colecções de jardins botânicos e de museus de história natural".

Projecto sobre história das sementes na Península Ibérica recebe 1,5 milhões de euros


A vantagem de olhar para estes dois tipos de fontes diferentes é poder enriquecer o "olhar mais geral das instituições com as preocupações de detalhe e rigor dos cientistas". E foram muitos os que desde o século XVIII passaram pela Península Ibérica em "viagens filosóficas". "Estão identificados mais de uma centena de naturalistas e botânicos que empreenderam este tipo de viagens até meados do século XX", afirma Dulce Freire. Alguns visitam apenas uma região, outros percorrem um país, outros ainda viajam por toda a península.

Na época, tudo o que dizia respeito às novidades da flora que chegavam de outras paragens despertava grande curiosidade e interesse. Um pouco antes do período abrangido pelo estudo do ReSeed, esteve na Península Ibérica (entre 1564 e 1565) um dos botânicos mais famosos do Renascimento, Charles L'Ecluse, mais conhecido pelo nome em latim de Carolus Clusius.

Para estar a par das novidades, Charles L'Ecluse criou uma rede de 300 correspondentes espalhados pela Europa, nomeadamente em Sevilha, de onde recebia notícias em primeira mão sobre as novas plantas e sementes vindas nos barcos chegados das Américas. E quando viajou por Portugal e Espanha, conta a investigadora do ICS, "identificou muitas espécies ainda desconhecidas para a ciência e desenhou algumas dezenas de plantas com interesse alimentar", das mediterrânicas, como a oliveira e o medronho, às "recentemente chegadas dos novos mundos, como a batata-doce e o feijão".

Mas estava longe de ser caso único. O botânico português Félix de Avelar Brotero, que no seu Flora Lusitânica identificou perto de 1800 espécies, é outra fonte, tal como H.M. Willkomm, que viajou pela Península Ibérica na segunda metade do século XIX, o russo Nicolai Vavilov, que fez o mesmo um pouco mais tarde, no início do século XX e que morreu tragicamente à fome nas prisões soviéticas depois de ter dedicado a vida ao estudo de formas de melhorar a produtividade dos cereais, ou os portugueses Júlio Henriques, professor da Universidade de Coimbra, e Gonçalo Sampaio, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, nos finais do século XIX, inícios do século XX.

"A Península Ibérica é, a partir do século XV, uma porta de entrada e um laboratório fabuloso de experiências a diversos níveis", frisa Dulce Freire. "Há vários protagonistas das experiências que estão a ser levadas a cabo, desde os agricultores anónimos aos membros da elite que recebem plantas que outros trazem nas viagens, passando pelos monges e outros membros da Igreja. Há experiências a acontecer nos hortos dos mosteiros e dos conventos, nas herdades e quintas das elites, mas também nas hortas. E muito do que está a acontecer suscita o interesse dos investigadores e cientistas de outros países."

Um dos focos de interesse do projecto ReSeed é a diversidade agro-regional da Península Ibérica, onde se encontram diferentes tipos de clima e de paisagem. "Isso permite fazer vários testes. Uma planta que chega a Lisboa pode ser tão facilmente experimentada no Algarve como no Minho, porque é a mesma entidade política."

Pretende-se também perceber de que forma elas se disseminavam e os impactos que tiveram nas diferentes regiões. Um exemplo: os pimentos padrón chegaram da América Central trazidos, em finais do século XVI ou inícios do XVII, pelos missionários franciscanos do Convento de São Francisco de Herbón, uma paróquia do município de Padrón, na Galiza. Foram aí aclimatados e acabaram por se disseminar com o nome, hoje famoso, de pimentos padrón.

Em Espanha popularizaram-se, a partir da segunda metade do século XVIII, as Sociedades Económicas Amigas do País, como a Sociedade Bascongada de Amigos del País, no País Basco, a Sociedade de Amigos do País de Cádiz, a Real Sociedad Economica Matritense de Amigos del País ou a Real Sociedad de Amigos del País de Valencia.

"São criadas dezenas destas sociedades, muitas impulsionadas por nobres e membros do clero, que procuram implementar localmente um conjunto de inovações, algumas ligadas à agricultura, novos produtos, novas sementes, mais tarde fertilizantes, novas formas de cultivo." Existe também um boletim que é distribuído pelos párocos e lido nos púlpitos das igrejas abordando questões ligadas à agricultura.

Em Portugal, terá havido a intenção de criar algo de semelhante às Sociedades Amigas espanholas mas, segundo Dulce Freire, "Domenico Vandelli [o naturalista] que criou o primeiro jardim botânico da Ajuda, tenta fazê-lo na segunda metade do século XVIII, aparentemente com pouco sucesso".

E qual o interesse que um estudo como este tem para a actualidade? "Queremos perceber até que ponto práticas agrícolas e sementes do passado podem ser viáveis no presente e no futuro e contribuir para uma agricultura sustentável capaz de alimentar uma população mundial crescente." Isto passa por tentar identificar as plantas que fizeram sucesso na alimentação humana ou na agricultura de um determinado local e saber por que é que desapareceram.

Por outro lado, continua Dulce Freire, "é interessante perceber como é que esta dinâmica de introdução de novas plantas teve impacto na agro-biodiversidade". Quando, hoje, se fala em biodiversidade, pensa-se na agricultura da chamada "revolução verde", pós-II Guerra Mundial, mas o que aconteceu antes, nomeadamente essa chegada de sementes vindas de pontos diferentes do mundo, também teve impacto, fazendo desaparecer algumas variedades e tornando outras dominantes.

Viagens filosóficas: Exposição em Coimbra leva-nos até ao fim do mundo vivo de setecentos
As árvores ensinam-nos a viajar
Por enquanto, o ReSeed tem pouco mais de um mês de vida e está apenas a dar os primeiros passos. Durante os próximos cinco anos há muito trabalho a fazer, muitos documentos a estudar, muitos arquivos a visitar (a equipa irá a outros locais, como Paris ou Berlim, onde estão guardados materiais recolhidos durante missões na Península Ibérica).

No final, será organizada uma exposição para apresentar os resultados. Até lá, no site do projecto (e respectiva página de Facebook) vai ser possível acompanhar o trabalho, através de vídeos que pretendem mostrar os métodos seguidos pelos investigadores (que incluem também entrevistas para recolher testemunhos de pessoas "com experiência na agricultora pré-revolução verde") e ir descobrindo como é que as plantas do Novo Mundo mudaram, semente a semente, a agricultura e a alimentação no Velho Continente.

tp.ocilbup@cpa

Governo aprovou mais 37 projetos de reabilitação de regadios


Nuno Miguel Silva 06 Janeiro 2019, 15:24

Os 37 projetos agora aprovados pelo Ministério da Agricultura situam-se todos no distrito de Vila Real e vão beneficiar 1.630 hectares, num investimento superior a 4,7 milhões de euros.

Foram aprovados pelo Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural mais 37 projetos de reabilitação de regadios tradicionais.


Estes projetos situam-se todos no distrito de Vila Real, que vão beneficiar mais de 1.630 hectares, com um investimento público superior a 4,7 milhões de euros.

Trata-se de regadios integrados nos concelhos de Boticas, Chaves, Montalegre, Murça, Ribeira de Pena, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, que vão beneficiar 1.700 agricultores.

"Estes projetos de recuperação complementam o Programa Nacional de Regadios, que prevê um investimento global de 560 milhões de euros na criação e na reabilitação de mais cerca de 100 mil hectares de regadio até 2023, que vão gerar 10.500 postos de trabalho permanentes", destaca um comunicado do Ministério da Agricultura.

Capoulas Santos congratula-se com a aprovação destes projetos, considerando-os "uma aposta do Governo num pilar fundamental para o desenvolvimento da região", lembrando que se trata de "um instrumento essencial para a fixação das populações e para o apoio à agricultura familiar".

Segundo o referido comunicado do Ministério da Agricultura, "estes regadios fazem parte de um projeto mais amplo de valorização dos territórios e da atividade agrícola", sublinhando o ministro da Agricultura  que esta iniciativa vai tornar esta atividade "mais produtiva e mais competitiva, nomeadamente através do uso mais eficiente da água", uma vez que, no seu entender, "a sustentabilidade da atividade agrícola é também uma prioridade".

Capoulas Santos acrescenta ainda a necessidade de adaptação da agricultura portuguesa às alterações climáticas e de contribuir para os objetivos do Governo relativamente à estratégia de descarbonização, neste momento em discussão pública, considerando "urgente promover o uso eficiente do recurso água e a constituição de reservas para enfrentar tempos de escassez decorrentes das alterações climáticas".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Especial Vinhos 2018: Portugal é o terceiro país com maior diversidade de castas a nível mundial


Nuno Miguel Silva 01 Janeiro 2019, 10:00

Apesar do seu território exíguo, o nosso país já é o 11º produtor e o 8º maior exportador mundial de vinhos, segundo os dados de 2017.

É um dos segredos do sucesso crescente que os vinhos portugueses estão a ter no mercado interno (incluindo turistas) e na vertente externa (de que esses mesmos turistas passaram a ser um grande promotor).


Apesar de ter um território exíguo, Portugal beneficia do facto de alardear uma grande variedade de castas. Segundo os últimos cálculos, são cerca de 250 indígenas, o que dá praticamente uma casta para cada dia últil do ano. Ao fim-de-semana, os amantes do vinho podem satisfazer-se com as excelentes produções que cá se fazem a partir de inúmeras castas estrangeiras.

E o caminho não está todo percorrido, porque por esse país fora há muitas vinhas velhas cujas origens genéticas ainda não foram definidas.

É essa inestimável variedade, aliada às diferenciações de climas e de solos, parte essencial do famoso 'terroir', que tem instilado um crescendo de qualidade e nos permite ser reconhecidos entre os críticos e especialistas do setor à escala global como um país produtor de 'vinhos diferentes' com qualidade superior.

"A grande variedade de castas (…) permite produzir uma diversidade de vinhos, marcados por características únicas, o que potencia a sua competitividade em nichos de mercado, apreciadores de vinhos de excelência", destaca um estudo da Aicep, concluído em maio passado e intitulado 'Vinhos de Portugal – Reconhecimento Crescente no Mercado Internacional'.

Luís Castro Henriques, presidente do conselho de administração da Aicep, assinala nesse documento que "a diversidade de castas autóctones tem permitido produzir vinhos únicos e distintos e hoje os vinhos portugueses rivalizam com os melhores do mundo em termos de qualidade".

Mas os vinhos, como qualquer outro setor empresarial, também passam de forma inexorável pela fasquia da quantidade e da produtividade.

De acordo com as estatísticas da OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho, e recorrendo a alguns dados do IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, a Aicep chegou à conclusão que "2017 foi um ano de produção historicamente baixa na Europa Ocidental fruto das condições climatéricas adversas".

"Estima-se que a produção mundial de vinho, em 2017, tenha sido de 246,7 milhões de hectolitros [cada hectolitro equivale a 100 litros], menos 8,2% do que na campanha de 2016, sendo que esta última fora já inferior em cerca de 5% face a 2015", avança Iara Martins, especialista da fileira agroalimentar e de bebidas da instituição, no referido estudo da Aicep.

A mesma especialista da Aicep adianta que "no Velho Mundo, países como a França (36,7 milhões de hectolitros), Itália (33,5), e Espanha (33,5), apresentam valores muito baixos, enquanto a Alemanha (8,1) registou uma ligeira queda".

"Portugal, com uma produção de 6,6 milhões de hectolitros, Roménia (5,3), Hungria (2,9) e Áustria (2,4) foram os únicos países a conhecerem um aumento face a 2016", esclarece Iara Martins.

Nos países do Novo Mundo também se registaram comportamentos diversos: "enquanto a Austrália, com 13,9 milhões de hectolitros, a Argentina (11,8) e o Brasil (3,4) apresentam ligeiros acréscimos [de produção], os Estados Unidos da América (23,3) e a África do Sul (10,8) deram sinais de estabilidade, e o Chile (9,5) e a Nova Zelândia (2,9) registaram ligeiras quebras".

"Em resumo, Itália, França, Espanha e EUA são os quatro países que produziram cerca de metade de todo o vinho do mundo no ano passado. Portugal, apesar de ter explorações de pequena dimensão e uma área de vinha pequena por comparação a outros países, é o 11º produtor mundial de vinho, detendo 2% da produção mundial", assinala o estudo da Aicep.

E Iara Martins destaca que "(…) Portugal é o terceiro país a nível mundial com maior variedade de castas (250), possuindo 31 Denominações de Origem Protegida (DOP) e 14 de Indicação Geográfica (IG), que representam 89% da produção e que são encaradas como uma potencialidade".

"A nossa grande diversidade de castas assegura-nos não só um património inquestionavelmente rico, como uma diversidade que mais nenhum outro país possui", garante a especialista da Aicep.

Portugal é o 8º maior exportador mundial de vinhos

O estudo da instituição liderada por Luís Castro Henriques observa ainda que "Portugal é também o oitavo melhor exportador mundial de vinho, num 'ranking' liderado pela França, detendo 1% das exportações mundiais de vinho, com 747 milhões de dólares faturados [778,7 milhões de euros], a um preço médio de 3,51 dólares".

"O país sobe, assim, para sétimo no 'ranking' do preço médio por garrafa, mas o vinho português continua, em muitos dos casos, a estar posicionado num segmento com preço baixo e sem espaço de prateleira", alerta o estudo da Aicep.

Este documento revela que, em 2017, o mercado nacional representou cerca de 2,48 milhões de hectolitros, o que correspondeu a um volume de negócios de cerca de 746 milhões de euros. "Em comparação com o ano anterior, 2017 apresentou um crescimento de 3,2% em volume e de 5,2% em valor", frisa este documento, demonstrando que o lento caminho de subida do preço médio por garrafa dos vinhos portugueses, mesmo no mercado interno, continua a fazer-se.

Vinhos tranquilos dominam exportações para 145 países

Na frente externa, "em 2017, as exportações portuguesas de vinho destinaram-se a 145 países, dos quais [a] França foi principal cliente, com uma quota de 14,1% nas nossas exportações totais deste produto, seguindo-se o Reino Unido (10,2%) e os EUA (10,1%)".

O estudo da Aicep salienta "(…) os aumentos das vendas para Angola (39,9%), Brasil (53%), China (24,1%) e Espanha (15,8%)".

"Por categorias de produto, constata-se que é fundamentalmente o vinho de mesa (vinho tranquilo) que sustenta o crescimento global do setor, apresentando uma taxa de crescimento (DO-Denominação de Origem + IG – Indicação Geográfica '+ Vinho) de 13,1%. Dos 55 milhões de euros de acréscimo das exportações totais, 50 milhões devem-se aos vinhos ditos tranquilos", nota o estudo da Aicep.

 

-Área de vinha plantada (em Portugal Continental) em 2016: 190.456 hectares, menos 47.606 hectares do que em 2000. Destacam-se as Beiras, com 25,2% da área; o Douro, com 22,5%; e o Alentejo, com 12,3% (a região onde a área de vinha mais cresceu, com mais 7.252 hectares do que em 2000);

-Regiões com produção mais significativa (2017/2018): Douro, com 21% do total (1,4 milhões de hectolitros); Lisboa, com 19% (1,2 milhões de hectolitros), Minho, com 15% (974 mil hectolitros); e Alentejo, com 14% (957 mil hectolitros);

-Número de empresas (2016): 1.296 (INE). O número de empresas a operar neste setor tem vindo a aumentar de forma sistemática entre 2012 (850 empresas) e 2016 (11,%, em média, por ano);

-Número de empresas exportadoras de vinho (2016): Portugal registou 1.296 empresas exportadoras de vinho neste ano, das quais as cinco principais representaram 36,7% das exportações totais;

-Número de empregados (2016): 9.538. O número de trabalhadores aumentou de forma consistente entre 2012 (8.573 empregados) e 2016 (2,7%, em média, ao ano). Os maiores crescimentos anuais ocorreram em 2013 e em 2014;

-Dimensão das empresas (2016): 82,6% das empresas tinham menos de 10 trabalhadores, 15,4% contavam com 10 a 49 colaboradores; 1,9% tinham entre 50 e 249 e apenas 0,2% empregavam 250 ou mais trabalhadores;

-Faturação global do setor (2016): seis mil milhões de euros. O volume de negócios do setor aumentou em todos os anos do período 2012-2016; subida de faturação de 4%, em média, ao ano;

-VAB – Valor Acrescentado Bruto do setor (2016): 378 milhões de euros. Mais 62 milhões de euros do que em 2012; o VAB cresceu em todos os anos do período 2012-2016, crescimento de 4,7%, em média, ao ano;

-FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo (vulgo, investimento, entre 2012 e 2016): O investimento produtivo acumulado entre 2012 e 2016 somou 409 milhões de euros;

– Peso do setor do vinho na economia (2016): O setor do vinho respondia por 1,4% do emprego em Portugal, por 1,9% do número de empresas e do VAB e por 2% do volume de negócios e do investimento produtivo na indústria transformadora;

– Aumento de qualidade dos vinhos (2000/2017): Em 2000/2001, dos 6,7 milhões de hectolitros produzidos, 3,26 milhões de hectolitros foram DOP (48,6%) e 1,342 milhões foram IGP. Na campanha 2016/17, dos 6,7 milhões de hectolitros, 3,586 milhões foram DOP (53,5%) e 1,901 milhões foram IGP (28,4%);

-Previsões para a campanha 2017/2018: Na altura em que foi concluído o estudo da Aicep, os dados provisórios apontavam para uma produção de 6,7 milhões de hectolitros de vinho, um volume muito próximo do verificado em 2000, mas superior em 682 mil hectolitros ao da campanha de 2016/17.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta


As condições climatéricas e algumas doenças vão ditar desempenhos diferentes na produção agrícola. Há menos batatas e mais azeite. O vinho, tal como já tinha sido revelado, deverá registar a menor produção dos últimos 20 anos.

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta 
Rui Miguel Pedrosa

Sara  Antunes Sara Antunes saraantunes@negocios.pt
13 de dezembro de 2018 às 13:37

A produção agrícola vai ter desempenhos distintos consoante os produtos, num ano marcado por um aumento do rendimento agrícola. Haverá menos batata, e o preço deverá subir na mesma proporção, mas mais azeite e uma quebra pronunciada da produção de vinho.

A conclusão geral aponta para que, "em 2018, a produção vegetal tenha aumentado 0,9% em valor" mas o volume terá diminuído 3,1%, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Já os preços deverão ter aumentado 4,1%.

Destaque para a quebra de 15% do volume de produção da batata, "devido a doenças (nomeadamente míldio) e diminuição da área originada pelo encharcamento dos solos", explica o INE. Este desempenho deverá provocar um aumento de 14,7% dos preços no produto, acrescenta a mesma fonte.

O vinho também deverá registar uma queda aparatosa (20%), tal como já tinha sido revelado anteriormente. As previsões apontam mesmo para "a menor produção de vinho em quantidade dos últimos vinte anos", confirmando assim as previsões divulgadas em Novembro.

Do lado oposto está o azeite, cujo volume de produção deverá crescer 8,7%. Apesar do maior volume, é previsto um aumento de preços no produtor de 0,3%.

O INE destaca ainda a produção do leite, que deverá contar com um aumento de 1,3%, enquanto se prevê que o preço cresça 3,4%.

Rendimento da atividade agrícola deve aumentar 0,6 por cento em 2018

2018 - 12:06

O rendimento da atividade agrícola em Portugal deverá aumentar 0,6 por cento em 2018, face a 2017, após um crescimento de 5,4 por cento no ano passado, segundo a primeira estimativa das contas económicas da agricultura hoje divulgada pelo INE.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta evolução estimada "resulta fundamentalmente da combinação de um aumento de 3,5 por cento perspetivado para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) com um decréscimo de 2,9 por cento dos outros subsídios à produção".

"A evolução nominal prevista para o VAB resulta do efeito conjugado do acréscimo da produção do ramo agrícola (+1,6 por cento), mais acentuado do que o do consumo intermédio (+0,4 por cento)", refere o INE.

Contudo, acrescenta, "em termos reais, estima-se uma diminuição do VAB (-1,5 por cento), refletindo uma redução mais pronunciada do volume da produção comparativamente com a do consumo intermédio (-1,2 por cento e -1,0 por cento, respetivamente)".

O aumento nominal da produção do ramo agrícola em 2018 resultou de acréscimos quer da produção vegetal (+0,9 por cento), quer da produção animal (+2,2 por cento), tendo-se registado, em termos globais, um decréscimo do volume (-1,2 por cento) e um aumento dos preços de base (+2,8 por cento).

Já os preços no produtor e os subsídios ao produto aumentaram 2,9 por cento e 0,9 por cento, respetivamente.

Em 2018, o consumo intermédio deverá apresentar um "ligeiro acréscimo" em valor (+0,4 por cento), em resultado de uma diminuição em volume (-1,0 por cento) e de um aumento de preços (+1,4 por cento), devendo-se esta evolução "sobretudo ao aumento dos alimentos para animais (+2,4 por cento), da energia (+1,3 por cento) e dos adubos e corretivos do solo (+7,5 por cento)".

"Estima-se que o consumo de alimentos para animais tenha aumentado em volume (+2,0 por cento), com aumentos nos alimentos simples e compostos", reporta o INE, acrescentando que "o aumento da produção pecuária, em particular de bovinos, conduziu a um consumo mais elevado de alimentos para animais".

Já o preço dos alimentos para animais deverá ter sido este ano "ligeiramente superior" ao de 2017 (+0,3 por cento), refletindo o aumento de preço dos alimentos compostos (+1,8 por cento).

Segundo o instituto estatístico, a importância relativa do ramo agrícola na economia nacional deverá manter-se em 2018 nos 1,7 por cento, estimando-se também que o volume de mão-de-obra agrícola se mantenha em valores próximos do ano passado (+0,3 por cento).

Numa comparação internacional, o INE reporta que, entre os triénios 2000-2002 e 2015-2017, o peso do VAB do ramo agrícola no VAB nacional "decresceu na generalidade dos Estados membros e na União Europeia a 27, mantendo-se Portugal acima da média europeia (1,6 por cento versus 1,3 por cento)".

Já o rendimento da atividade agrícola em Portugal evoluiu, entre os triénios de 2001-2003 e 2015-2017, "de forma menos favorável do que a média dos Estados-membros (+30,9 por cento versus +42,6 por cento), ultrapassando, no entanto, países mediterrânicos como França, Espanha, Itália e Grécia".

Em 31 de janeiro de 2019 o INE irá disponibilizar uma segunda estimativa das contas económicas da agricultura.

Nem as vacas voam, nem a economia avança


Sofia Afonso Ferreira, Fundadora do Democracia21 14 Dezembro 2018, 00:08

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional, e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe.
O Governo decidiu reduzir o número de bovinos para metade até 2050, com vista a diminuir a emissão de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq). A proposta integra o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, apresentado em Lisboa e na Cimeira do Clima da ONU na Polónia (COP24) pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. Uma medida positiva? Errado. Por vários factores que não foram equacionados.

Vamos deixar de consumir carne? Não. O ministro responde a essa questão: a solução encontrada pelo Governo, "num quadro de maior liberalização mundial", é passarmos a importar a carne, nomeadamente do Brasil e Argentina. Uma decisão positiva para os portugueses, segundo o ministro – "a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos". E como se reduz o gado? Com o fim dos subsídios, os produtores entram em falência, o número de vacas diminui.

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe. Zonas importantes de produção de carne e produtos lácteos, como os Açores, vão ter a sua economia abalada de forma irremediável.

À partida os números de vários estudos são alarmantes e levam-nos a concordar com a medida, por cada quilo de bife produzido em sistema semi-intensivo no país são emitidos 27kg de CO2eq. Mas para tal muito se deve à ingestão da ração dada ao gado e aos fertilizantes nas pastagens, entre outros factores.

Um erro comum nesta linha de pensamento é não contabilizar o impacto das medidas de compensação para substituir o produto. Se removessem os animais da agricultura e da dieta dos EUA, um dos países que mais consome produtos animais, as emissões de gases de efeito de estufa seriam reduzidas apenas em 2,6%, devido à necessidade de substituir o estrume por fertilizantes sintéticos e à produção de produtos industriais com os naturais custos associados, para além do gado reciclar alimentos não comestíveis e subprodutos de processamento de fibras, convertendo-os em alimentos comestíveis para humanos e animais de estimação. Resumindo, o problema é apenas substituído por outro, não é solucionado.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, é possível reduzir em 30% o impacto ambiental da criação animal alterando a forma como se cria e alimenta os animais, na gestão do estrume e na redução da aplicação de fertilizantes sintéticos na produção ou acrescento da alga Asparagopsis taxiformis na ração, recorrendo a novas técnicas que poderão eventualmente reduzir a emissão de metano entre 80 e 99%.

Afinal, aniquilar o gado não tem o impacto que os ambientalistas e o ministro da Agricultura defendem. Infelizmente, num país que vai fechar o ano com 47 pré-avisos de greve de diversos e importantes sectores, o gado não faz greve.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Farmacêutica quer investir €16 milhões para produzir canábis em Campo Maior



13:32 por Lusa 0
Empresa com capitais canadianos e israelitas está interessada numa exploração de canábis para fins medicinais.
 
Uma empresa de capitais canadianos e israelitas prevê investir 16 milhões de euros em Campo Maior, no Alto Alentejo, numa exploração de canábis para fins medicinais, revelou hoje à agência Lusa o presidente do município.

"O projeto nasceu há nove meses e a empresa fez testes agrícolas nos terrenos e foram superados", disse Ricardo Pinheiro, indicando que "já foram realizadas várias reuniões com o Governo e que se aguarda o licenciamento" da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

Segundo o autarca, o projeto da empresa Sababa Portugal vai arrancar numa área de quatro hectares e prevê, nos próximos cinco anos, um investimento de 16 milhões de euros, devendo criar, numa primeira fase, 50 postos de trabalho.


 Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Ricardo Pinheiro adiantou que o projeto será depois completado com a instalação de um centro de extração de óleo de canábis naquela vila do distrito de Portalegre, não estando ainda definido o montante que deverá implicar.

"Estamos a falar de uma transformação agroindustrial, embora o fabrico do medicamento possa não ficar em Campo Maior", frisou.

Ricardo Pinheiro sublinhou que a empresa tem desenvolvido uma "intensa investigação", ao longo dos últimos anos, e que conta com uma "grande experiência" no estudo e aplicação de canábis medicinal.

Com o avanço deste projeto em terras alentejanas, autarca considerou que o solo da região poderá ser no futuro "rentabilizado de uma forma totalmente diferente" do habitual, tornando-se numa "janela de oportunidade".

A utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base de canábis foi aprovada pelo parlamento em 15 de junho, na sequência da apresentação de projetos de lei do Bloco de Esquerda e do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN).

A lei foi depois promulgada pelo Presidente da República em 10 de julho. 

O quadro legal para utilização de canábis na preparação de medicamentos foi aprovado no dia 13 deste mês em Conselho de Ministros.

O documento explica que a regulamentação teve por base os programas já existentes em países como Dinamarca, Holanda e Itália. 

De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, o Governo aprovou um decreto-lei que "estabelece o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais, nomeadamente a sua prescrição e a sua dispensa em farmácia". 

A regulamentação, acrescenta, foi baseada numa "análise pormenorizada dos Programas de Canábis Medicinal já existentes em outros Estados-membros da União Europeia, nomeadamente na Dinamarca, Holanda e Itália, bem como a avaliação da sua exequibilidade na realidade nacional".

Alqueva vai ter unidades para transformar subprodutos agrícolas em fertilizante


A empresa do Alqueva vai criar uma rede de unidades para recolha e posterior transformação de subprodutos orgânicos que sobram de culturas agrícolas em fertilizante para aplicação nos solos na área do empreendimento, foi hoje anunciado.


Lusa
17 Dezembro 2018 — 13:26

A rede será criada no âmbito do projeto URSA - Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva, que já está em curso com a primeira unidade experimental, situada no concelho de Serpa, no distrito de Beja, explicou a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

Segundo a EDIA, num comunicado enviado à agência Lusa, a criação da primeira unidade do projeto já tem financiamento aprovado pelo Fundo Ambiental Português, através do programa Apoiar a Transição para uma Economia Circular, e está a ser desenvolvida pela empresa em parceria com o Instituto de Soldadura e Qualidade.

As unidades da rede irão recolher subprodutos orgânicos de origem agrícola junto de agricultores da área de influência do Alqueva para os transformarem em fertilizante orgânico através do processo de compostagem.

O fertilizante orgânico produzido será depois entregue aos agricultores que doarem subprodutos orgânicos para ser aplicado no solo.

De acordo com a EDIA, a aplicação de fertilizante orgânico vai permitir reabilitar gradualmente as diversas funções ambientais do solo, aumentar a resiliência do território perante as alterações climáticas e promover a qualidade da água e a sustentabilidade económica e ambiental do regadio do Alqueva.

O projeto tem uma estrutura "assente" no uso eficiente de recursos, na proteção do solo e da água e na valorização de subprodutos, "contribuindo para acelerar a transição para a economia circular, através de uma agricultura em linha com os princípios deste novo paradigma", explicou a EDIA.

Segundo a empresa, o projeto URSA foi distinguido, no dia 07 deste mês, com o 1.º lugar do Prémio Economia Circular nas Empresas do Baixo Alentejo e Litoral.

O prémio é promovido pela Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.

Mais de metade de Portugal em risco de desertificação extrema


Jéssica Sousa 18 Dezembro 2018, 17:36


Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. Conclusão não é benéfica para o território nacional.

Mais de metade de Portugal continental corre o risco extremo de desertificação, mas a resposta a este risco "não está a ser eficaz e eficiente", segundo um relatório do Tribunal de Contas Europeu.

Num relatório especial para o Parlamento Europeu, o Tribunal de Contas aponta para os efeitos nefastos da agricultura intensiva e da insistência em políticas desajustadas para o país como a insistência no regadio num país onde a água vai ser cada vez mais escassa, explica o comunicado enviado às redações esta terça feira.

Segundo o estudo, Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. A conclusão: "Embora a desertificação e a degradação dos solos representem uma ameaça crescente, as medidas tomadas para combater a desertificação carecem de coerência e não existe uma visão harmonizada".

No caso concreto de Portugal, o Tribunal de Contas Europeu critica a falta de sustentabilidade dos projetos.

O Tribunal refere ainda que o "Programa de Ação Nacional" de combate à desertificação, supostamente atualizado em 2014, ainda não foi publicado, e mesmo os projetos nacionais que apresentam resultados positivos não são replicados ou minimamente integrados numa visão estratégica para combater esta grave ameaça.

Este relatório reforça o que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e outras organizações de ambiente têm vindo a dizer: "esta não é uma questão para a biodiversidade, é uma ameaça grave para o nosso futuro com implicações a todos os níveis: do desaparecimento de espécies e habitats à perda de solo, falta da água, e problemas de saúde pública", lê-se no documento.

"É preciso procurar verdadeiras soluções para evitar que grande parte do nosso país se torne num deserto – soluções que passam por práticas verdadeiramente responsáveis e sustentáveis, não pela insistência em medidas de curto prazo e desajustadas como o regadio e a agricultura intensiva." diz Joaquim Teodósio, Coordenador do Departamento Terrestre da SPEA.

Para a SPEA, Portugal tem de abandonar as monoculturas florestais e agrícolas intensivas. "Tem de abandonar igualmente os regadios intensivos, que geram receitas milionárias para os investidores nos primeiros anos, mas não trazem emprego, nem qualidade de vida, e geram destruição e um passivo ambiental que será pago pelas gerações futuras. O nosso país tem de investir na floresta nativa, na agricultura diversificada, no pastoreio extensivo, nas variedades de plantas e nas raças de gado nativas, e valorizar a biodiversidade e o carácter único da sua paisagem. Só assim será possível gerar emprego e rendimento económico no mundo rural nos anos próximos e no futuro", conclui.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quando a pegada é grande, talvez o sapato esteja muito largo

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

António Cláudio Heitor
19/12/2018, 0:25243

Porque razão tratam o Mundo Rural com selvagem e fora da lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar e extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Que a agricultura, a pecuária e a silvicultura têm uma pegada parece-me óbvio, o que não posso aceitar é que nos forcem a usar um sapato vários números acima das nossas necessidades.

Não sou daqueles que afirma que tudo está bem e que as alterações são uma invenção. Mas também não pertenço ao grupo dos que vaticinam a catástrofe se não regressarmos a modos de vida de outras eras. Muito menos pertenço ao grupo dos que, armados com varinhas mágicas, procuram na floresta escura e sombria os ogres, os basiliscos e os dragões que ameaçam a "Terra Média".

Que algo está em mudança parece-me claro. Mas os agricultores e proprietários florestais desde sempre conviveram com a incerteza climatérica e adaptaram-se. Fizeram-no porque assim teve de ser e não por imposição cega de alguns.

Aliás o simples facto de não reconhecer essa capacidade de adaptação dos agricultores e proprietários diz muito sobre os reais objectivos dessa "irmandade do anel" que procura salvar o mundo desses malvados que o estragam só para produzir alimentos.

E para perceber isso basta perguntar a um agricultor quantas vezes não atrasou a sementeira, com consequências severas na produção, por falta de chuva na altura certa. Ou a um produtor pecuário quantas vezes não teve de comprar feno devido aos maus anos de pastagem. A um proprietário florestal quantas árvores viu morrer repentinamente devido a secas severas. Ou mesmo a um gestor cinegético quantos ninhos perdeu nas trovoadas primaveris. Ou a um fruticultor quantas vezes viu a floração estragada por fenómenos climatéricos extremos.

E o que fizeram todos eles? Procuraram, procuram e continuarão a procurar formas de atenuar esses efeitos, mantendo a actividade e melhorando e eficiência da gestão dos diversos recursos. Ou seja, continuando a produzir alimentos de qualidade, seguros e gastando os recursos de forma mais eficiente. Será sempre um trabalho contínuo com avanços e recuos, mas será feito.

Poderia continuar a dar exemplos, mas infelizmente os advogados da "pegada" não estão interessados nesses bons exemplos. E a prova está na forma como ultimamente se referem aos agricultores, aos proprietários rurais e às suas actividades. Sempre como se estivessem perante "os bandidos" que vivem constantemente à margem da lei.

Começou com os animais e a necessidade urgente em assegurar um estatuto adequado, pois os animais estão em risco devido à forma como são criados e tratados. Tudo serviu para comprovar essa necessidade e é claro que, à cabeça desses relatos, surgiram centenas casos relacionados com a tauromaquia e a cinegética, demonstrando a necessidade de acabar com essas actividades e costumes.

Mas os autores desses relatos conhecem as actividades que acusam? Conhecem a fundo a forma como são geridas as explorações onde tais actividades se praticam? Reconhecem a evolução no maneio dos animais e dos seus habitats? Não me parece. É fácil reconhecer a culpa e os erros dos outros. Não custa tanto acabar com tradições e costumes que não conhecemos e que não são os nossos.

É claro que um Verão como o de 2017 deu a estes grupos ânimo para mais uma catadupa de intervenções a favor do "bem comum". O eucalipto precisa de ser erradicado a bem da nação e dos passeios de fim-de-semana dos defensores da nostalgia depressiva urbana. E na verdade a bola de neve cresceu tanto que até gente importante arregaçou as mangas e foi para o campo arrancar árvores. Seriam acácias? Não me pareceu até porque essas provavelmente não são tão perigosas, visto que poucos se queixam delas.

Pelo meio temos as famosas limpezas obrigatórias de milhares de hectares de faixas, feita quanto mais cedo melhor pois assim dá-se oportunidade para que cresça mais uma vez antes do fim da Primavera. E se não for feita há que "castigar e punir" esses infractores que tanto mal fazem à nação e ao Mundo.

Agora junta-se a tal pegada de carbono e a necessidade de reconverter o campo e o Mundo Rural para uma coisa que não "tenha tantas emissões". E para tal é fundamental diminuir a área agrícola e a quantidade de animais. O que será a seguir? Deixarmos de produzir para não emitir? Transformarmos o nosso campo nas paisagens pristinas dos contos de fadas, se possível sem gente a incomodar os passeios de Verão dos defensores do bem comum?

Recentemente por ocasião da apresentação de um livro e ao ouvir as palavras da jornalista que nos meus tempos de juventude me relatava ao domingo à noite as vitórias (e as derrotas) do meu clube, não pude deixar de notar no estranho país em que nos estamos a tornar.

Por um lado estava numa sala a ouvir falar de amizade, cumplicidade, civismo, respeito pelos outros, respeito pelos animais e prazer em desfrutar o os produtos e paisagens do nosso Mundo Rural. Por outro recordei tudo o que se disse sobre todos os agricultores, proprietários e gente do campo nos últimos anos. Até sugeriram que precisaríamos de ser mais "civilizados".

Ora algo não está certo. Se cada vez mais turistas no visitam e mais prémios recebemos o que vêm cá fazer? Serão os portugueses bandidos? Serão os nossos produtos maus e pouco seguros? Serão as nossas paisagens assim tão feias?

Não me parece. Se cada vez são mais os que atestam a excelência da nossa gastronomia, das nossas paisagens, dos nossos costumes e da nossa maneira pacata de viver a vida, porque razão insistem em nos apelidar de "pouco civilizados"? Porque razão nos tratam como bandidos que não respeitam a lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Talvez para satisfazer vontades de um eleitorado mais urbano. Ou para tentar que não reparemos noutras actividades extrativas, essas sim com um impacto bem visível. Talvez porque seja mais fácil castigar um sector que conta pouco para as contas políticas do orçamento de estado. Talvez por ser um sector que não dá tantas audiências.

Ou seja, tenho de concluir que é mais fácil arranjar um sapato excessivamente largo para o pé do Mundo Rural, pois assim compensamos o sapato apertado dos outros sectores e actividades.

Técnico florestal

Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019

Produtores de leite pretendem que o preço mínimo para o leite suba para 37 cêntimos por quilo em 2019, um valor que, dizem, se aproxima do custo de produção.
Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019
Reuters

27 de dezembro de 2018 às 15:27
A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) defendeu esta quinta-feira que o preço mínimo do leite pago aos produtores deve ascender a 37 cêntimos em 2019, aproximando-se do custo de produção, para colmatar as dificuldades do sector. 

"Desafiámos a indústria a transformar e a valorizar mais o leite para reduzir importações [...]. E desafiámos a distribuição a seguir o exemplo que adoptou na França e negociar com a indústria transformadora para assegurar aos produtores um preço mínimo de 37 cêntimos", disse, em comunicado, a direção da Aprolep. 

De acordo com os dados do Observatório Europeu do Leite, avançados pela associação, em Outubro, o preço médio do leite fixou-se em 31,1 cêntimos por quilo, cinco cêntimos abaixo do preço médio na União Europeia, enquanto o custo de produção mantém-se superior a 37 cêntimos. 

Os produtores desafiaram também o Governo a "avaliar o resultado da rotulagem da origem do leite para verificar porque não chegou ainda valor acrescentado aos produtores e a bater-se a nível europeu por um mercado responsável que impeça futuras crises de excesso de produção". 

Em causa está o aumento da procura do leite, as ajudas da Política Agrícola Comum (PAC) que não compensam a diferença entre o preço e custo de produção, a perda de produtores e a "falta de visão e falta de ambição" no sector. 

"Assistimos [em 2018] à implementação da rotulagem da origem do leite, mas ainda não vimos o resultado dessa opção no rendimento dos agricultores. Sentimos um aumento da procura de leite por parte das grandes superfícies comerciais que procuram garantir o abastecimento regular das suas lojas com leite nacional, respondendo assim à preferência dos consumidores, mas continuámos durante todo o ano com preços abaixo dos custos de produção e da média europeia", afirmou. 

A Aprolep indicou ainda que, face às dificuldades do sector, os agricultores têm adiado investimentos e não retiram "um salário digno e compensador do trabalho necessário para o cultivo dos campos" e para o cuidado dos animais. 

"A cada ano que passa Portugal perde produtores. Em Agosto já só éramos 4.578, menos 200 que [no período homólogo]. O abandono é mais significativo no continente, onde o número de produtores passou a ser inferior ao número de produtores açorianos desde Fevereiro", acrescentou. 

Segundo a Aprolep, as famílias que resistem têm "cada vez mais dificuldade" em encontrar mão-de-obra para trabalhar no sector e "a situação irá agravar-se à medida que os salários sobem, muito justamente, enquanto o preço do leite ao produtor continua injustamente congelado". 

Em 12 de Dezembro, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, vincou, no parlamento, que o preço do leite pago ao produtor manteve-se estável até Outubro, podendo aumentar com a abertura de novos mercados.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A agricultura biológica é pior para o planeta


Por ZAP - 20 Dezembro, 2018
Yen Strandqvist / Chalmers University of Technology


Os alimentos cultivados organicamente têm um impacto climático maior do que os alimentos cultivados convencionalmente, devido à necessidade de maiores áreas de terra para cultivar.

A agricultura biológica, ou agricultura orgânica, tem como principal objetivo maximizar o "natural" e minimizar a interferência química quando os alimentos são produzidos, mas será mesmo a melhor opção para o meio ambiente?

Uma equipa internacional de cientistas defende agora que, como as culturas orgânicas produzem muito menos, porque não são usados fertilizantes para impulsionar as colheitas, é necessária muita mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos biológicos que as culturas convencionais.

A equipa de especialistas concluiu ainda que os alimentos biológicos têm um impacto maior no clima do que os alimentos convencionais devido às emissões extras de dióxido de carbono produzidas pelo desmatamento exigido como resultado de uma produção orgânica menos eficiente.

Stefan Wirsenius, um dos autores do estudo publicado recentemente na Nature, afirmou que "o maior uso da terra na agricultura biológica leva indiretamente a maiores emissões de dióxido de carbono, graças ao desmatamento".

Para o estudo, os cientistas concentraram-se na produção de ervilhas e trigo orgânicos na Suécia. A equipa descobriu que as ervilhas cultivadas de forma biológica têm um impacto 50% maior no clima do que as cultivadas através de métodos convencionais. Para outros alimentos, depararam-se com uma diferença ainda maior, com o trigo a ter um impacto de 70%.

"Este é um grande descuido", afirma o cientista, adiantando que, "como mostra o nosso estudo, este efeito pode ser muito maior do que os efeitos dos gases com efeito de estufa".

Os cientistas salvaguardam que é também provável que haja um efeito indireto para a carne orgânica e produtos lácteos, dado que esses animais são alimentados com alimentos orgânicos, cultivados em fazendas que ocupam mais espaço. Mas, como não foi estudado, ainda não passa de uma hipótese.

Com este estudo, os cientistas não estão a sugerir que a agricultura biológica deva ser posta de lado. Em vez disso, acreditam que o seu uso deve ser cuidadosamente considerado.

"Alimentos orgânicos tem várias vantagens em comparação com os alimentos produzidos por métodos convencionais. Mas quando se trata do impacto climático, o nosso estudo mostra que a comida orgânica é uma alternativa muito pior", adianta Wirsenius.

ZAP // ScienceAlert

O bacon provoca cancro? Chefe de agência da ONU defende os seus estudos


Conclusões de Christopher Wild têm merecido críticas por ligar a carne processada e o glifosato ao cancro. O diretor da agência de pesquisa sobre o cancro diz que tem havido mal-entendidos e aponta o dedo aos críticos.

DN
26 Dezembro 2018 — 10:19

O chefe da agência da ONU que provocou protestos, e foi mesmo ridicularizado por alguns setores, quando declarou que o bacon, a carne vermelha e o herbicida glifosato provocam o cancro, veio defender o seu trabalho, negando que essas conclusões sejam desajustadas e insistindo na independência do seu trabalho.

De saída do cargo, Christopher Wild defendeu afincadamente as decisões e a transparência da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC), e passou ao ataque - falou nos interesses dos seus críticos, muitos dos quais são de corporações multinacionais.

Wild, um cientista britânico que está no comando da IARC há dez anos, admitiu agora numa entrevista ao Guardian que pode haver necessidade de explicar melhor ao público o que tem procurado com os seus estudos: evidências científicas sobre o que, de telemóveis (provavelmente) a café (sem provas), causa cancro. Reconheceu que o seu trabalho às vezes é mal compreendido.


"O público mudou. Se recuar 10 a 15 anos, a audiência dos estudos era profissional - agências reguladoras, cientistas, legisladores de diferentes tipos. Agora há tanto interesse no cancro e nas suas causas que há um público mais geral", disse.

Em reação à notícia de que carne processada era cancerígena, Wild diz que "não houve especulação". "O nosso papel é sintetizar as evidências. Analisamos se algo tem potencial para causar cancro em algumas circunstâncias ". O cientista confessa que ficou surpreendido com a polémica causada pelas suas conclusões desde 2015. "A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito."

"A ciência era cristalina. Colocamos um pouco de ênfase na relação entre quantidades ingeridas e efeito"

A IARC trabalhou com a Organização Mundial de Saúde no desenho de uma estratégia de comunicação. "No entanto, não estávamos preparados para a escala de resposta e de interesse nisso", disse Wild. "Isso levou a muitas discussões internas e com nossos colegas da OMS sobre como podemos coordenar melhor a avaliação científica e depois os conselhos sobre saúde pública".

Mas há um mal-entendido geral do sistema de classificação da IARC, reconhece. O tabaco, a radiação ultravioleta e o álcool são todos cancerígenos de grau 1, o que não surpreende ninguém, porque se ligam respetivamente a cancros de pulmão, pele e fígado (e outros). Assim é o bacon processado e outras carnes processadas. Isso não significa que todos sejam igualmente perigosos.

A IARC diz que 50 gramas de carne processada por dia aumenta o risco de cancro colorretal em 18%. Isso ainda não é alto se a pessoa tiver um risco inicial muito baixo. Fumar, por outro lado, mata metade daqueles que o fazem.

Sobre a carne vermelha e a processada, Wild diz que "muitas das agências de notícias disseram que é sobre moderação de consumo e não dizem para não comer carne vermelha ou carne processada. Mas a parte que falta e que temos de ser nós a fazer, junto com a OMS, é uma diretriz sobre o que isso significa para o público. Foi aí que sentimos que precisávamos de trabalhar juntos, muito mais de perto, no processo de planeamento. "

No caso do glifosato, houve reações muito negativas aos estudos de Wild. Desde a avaliação, divulgada em março de 2015, Wild aponta que "a agência tem estado sujeita a esforços coordenados e sem precedentes para minar a avaliação, o programa e a organização. Esses esforços têm deliberadamente e repetidamente deturpado o trabalho da agência. Os ataques foram em grande parte da indústria agroquímica e dos meios de comunicação associados ".

Emirados Árabes Unidos investem 174 MEuro em centros tecnológicos agrários em Angola


Os Emirados Árabes Unidos (EAU) vão investir 200 milhões de dólares (174 milhões de euros) em 18 centros tecnológicos agrários em Angola, indicou hoje o Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) angolano.


Lusa
21 Dezembro 2018 — 19:48

Segundo o diretor do IDA, David Tunga, a decisão consta de um memorando de entendimento assinado hoje em Luanda, entre a instituição tutelada pelo Ministério da Agricultura e Florestas angolano, e o diretor de gabinete do Governo dos EAU, xeque Ahmed Dalmjook Al Maktoum.

O investimento, a ser executado em cerca de cinco a sete anos nas 18 províncias angolanas, visa capacitar quadros do setor da Agricultura e Florestas e camponeses em técnicas de produção, processamento e comercialização dos bens agrícolas.

Numa primeira fase, sublinhou David Tunga, será implementado nas províncias do Bié, Huambo, Luanda e Bengo, avançando posteriormente para as restantes.


Todos os centros tecnológicos vão ter laboratórios para análises aos solos das diferentes províncias, a fim de aferir a necessidade ou não de nutrientes, uma vez que vai existir uma estrutura de processamento de mistura de fertilizantes para satisfazer cada região.

Segundo David Tunga, cada província terá um centro principal e, em função disso, surgirão centros pequenos, a nível municipal.

Na primeira fase da implementação do projeto, acrescentou, a gestão ficará sob responsabilidade dos investidores, "de forma a recuperar o investimento feito", disse.

Depois da consolidação, prosseguiu David Tunga, o projeto será entregue ao Governo de Angola para gestão autónoma.

David Tunga explicou que, com o projeto, se pretende alcançar o máximo de famílias em cada província, com base no número de camponeses nelas existentes.

Por sua vez, Ahmed Dalmjook Al Maktoum disse que quer avançar com os projectos "rapidamente", de forma a aumentar a produção e dar apoio ao setor agrícola de Angola.

"Congratulamo-nos com o Governo de Angola e perspetivamos outras oportunidades de investimentos internacionais, uma vez que há maior credibilização no mercado angolano", manifestou o governante dos EAU.

Valor da produção agrícola em Portugal sobe acima da média da UE


Segundo o gabinete estatístico da UE, as contas económicas da agricultura mostram que a produção nos 28 Estados-membros se fixou em 432,6 mil milhões de euros

LUSA 16 de Novembro de 2018, 12:17 Partilhar notícia

DANIEL ROCHA
O valor da produção agrícola em Portugal aumentou 7%, para os 7,5 mil milhões de euros em 2017 face ao ano anterior, acima da média da União Europeia (6,2%), segundo o Eurostat.

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Considerando as componentes da produção agrícola, a produção vegetal nacional aumentou 9% face a 2016, a produção animal 4,5%, os serviços agrícolas 2,2% e as actividades secundárias inseparáveis 4,4%.

O valor da produção agrícola aumentou em quase todos os Estados-membros, com especial relevo para a Estónia (18,2%), a Irlanda (13,6%), a Roménia (13,2%), o Reino Unido (12,6%) e a Polónia (11,1%).

A Eslovénia (com um decréscimo de 4,7%) e Malta (com uma diminuição de 3,1%) viram o valor da produção agrícola recuar de 2016 para 2017 e na Croácia e Eslováquia manteve-se estável.

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Entre os Estados-membros com maior produção agrícola total, o indicador progrediu 8,6% na Alemanha, 4,5% em Espanha, 3,2% em França e 2,2% em Itália.

Segundo o gabinete estatístico da UE, as contas económicas da agricultura mostram que a produção nos 28 Estados-membros se fixou em 432,6 mil milhões de euros a preços de base de 2017, um aumento de 6,2% face a 2016.

A França é o país com maior peso na produção agrícola (72,6 mil milhões de euros, 17% do total da UE), seguindo-se a Alemanha (56,2 mil milhões de euros, 13%), a Itália (55,1 mil milhões de euros, 13%), a Espanha (50,6 mil milhões de euros, 12%), o Reino Unido (31,8 mil milhões de euros, 7%), a Holanda (28,9 mil milhões de euros, 7%), a Polónia (24,9 mil milhões de euros, 6%) e a Roménia (17,7 mil milhões de euros, 4% da UE).

Agricultura. Solos em Portugal já não são o que eram


CAROLINA BRÁS
27/10/2018 14:47

Picos de calor e seca extrema, chuva repentina e fora de época e rajadas de vento que destroem tudo por onde passam. O clima em Portugal está a mudar o setor agrícola é um dos que mais sofre com esta alteração. O i falou com responsáveis de algumas associações de produtores e com o secretário geral da Confederação dos Agricultores de Portugal para perceber quais as consequências destas mudanças  

O clima em Portugal já não é o que era e as mudanças estão à vista. Este ano assistimos ao setembro mais quente desde 1931, depois de junho ter sido o segundo mais chuvoso do século e de julho ter sido o mais frio. Em outubro, Portugal recebeu a visita da tempestade Leslie com chuvas e rajadas de ventos fortes. A instabilidade, variabilidade e imprevisibilidade do clima é agora um dos maiores desafios para os agricultores que pretendem continuar competitivos e com capacidade para responder a ameaças nas diversas culturas. 

Para Luís Mira, secretário geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), uma das soluções para contornar as alterações climatéricas terá de passar por um mudança de culturas e de hábitos agrícolas em Portugal. "A questão vai afetar todo o país. Obviamente mais o centro, que neste momento já tem menos chuva, mas no norte também vai aumentar muito a temperatura", explica ao i que, no entanto, recusa alarmismos porque, como explicou, a falta de condições para algumas culturas é o suficiente para serem criadas outras, como o amendoal que se produz cada vez mais no Alentejo. 

"Nós fazíamos culturas que não era possível fazer em Inglaterra, mas daqui a 50 anos vai ser possível fazer as culturas em Inglaterra que nós fazíamos aqui e nós passaremos a fazer outras. É isto que as alterações também vem dar", explica. 

Uma realidade que para o presidente da Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC), José Palha está muito presente nos agricultores de cereais uma vez que já existem trabalhos em conjunto com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) para estudar quais as culturas mais produtivas no norte de África que possam ser adaptadas às nossas condições que "são cada vez mais parecidas

O que é certo é que os dados meteorológicos já são conhecidos: além do calor, aquele que foi o setembro mais quente desde que há memória levou também ao aumento da área em seca meteorológica em todo o país. No final do mês, 91,6% encontrava-se em seca fraca e 6,8% em seca moderada. Uma situação que pode afetar mais produções agrícolas do que outras. Uma das zonas que poderá ser mais penalizada será a região Oeste. "A zona oeste corre o risco de, no futuro, não ter baixas temperatura no inverno e isso impede a fruta de frutificar, o que é complicado porque água ainda se consegue arranjar, temperaturas baixas não" explicou ao i o secretário geral da CAP. 

"Em janeiro tivemos recordes de temperaturas mínimas, em setembro recordes de temperaturas mais altas e em outubro rajadas de ventos fortíssimas. É uma situação complicada para a agricultura", diz Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha que conta também que já "a seca do ano passado, depois as chuvas tardias, alteraram os ciclos das estruturas".

Os agricultores de vários setores contactados pelo i estão preocupados com estas alterações, até porque os picos climáticos sentidos em Portugal são o que mais prejudicam as produções. "Temos anos com muita chuva e outros com pouca. Os períodos de seca são gravíssimos porque quando chove nunca é suficiente" e "há zonas do país que não estão preparadas para este tipo de alteração", confessou João Coimbra diretor da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sogro (ANPROMIS). 

Segundo Jorge Soares, presidente da Associação de Produtores de Maça de Alcobaça, "as culturas mais afetadas foram a macieira e a pereira" e as consequências foram significativas. "Um percentual de frutos queimados pelo sol, um percentual de frutos cozidos pelo excesso de temperatura e um percentual de perdas em crescimento e em quantidade". 

Produtos beneficiados Mas esta instabilidade no clima não é má para todas as produções. Há algumas culturas que beneficiaram do clima que se fez sentir este ano. "Para os cereais foi um ano extraordinário porque [...] as culturas tiveram um desenvolvimento ótimo e a maior vantagem foram as temperaturas baixas na primavera como aquelas chuvas. Tivemos um ano de produção muito bom, ao contrário do que aconteceu o ano passado", contou José Palha, presidente da ANPOC. Ainda assim, admite que "a enorme variabilidade do tempo" é uma preocupação.

José Palha destacou o abandono de terrenos como uma das consequências do clima, uma preocupação que não é partilhada por Luís Mira ao explicar que "a terra que é boa não se abandona", mas acrescenta "o que acontece é que as terras não são todas iguais e que as abandonadas não têm é mais capacidade produtiva".

 Além da seca, a passagem do furacão Leslie trouxe também algumas dores de cabeça a alguns agricultores uma vez que "é uma atividade ao ar livre e está sempre sujeita ao impacto positivo ou negativo das condições climáticas" como referiu Mariana Matos, secretária geral da Associação do Azeite de Portugal.

"O que é facto é que ainda agora assistimos a um furacão que destruiu as culturas todas no vale do Mondego, destruiu tudo por onde passou e deixou um rasto de destruição. Estas alterações climáticas deixam de estar num campo de impossibilidade ou de inexistência e é aí que está o problema", afirmou Luís Mira.

Portugal terá de devolver quase 2 milhões de euros em ajudas agrícolas


6/12/2018, 11:09

Bruxelas considerou indevidas ajudas a agricultores nos Açores no valor de quase 2 milhões de euros por não cumprirem regras da UE, tendo identificado falhas em controlos administrativos.

Portugal declarou despesas na medida "Desenvolvimento Rural, investimentos FEADER -- beneficiários privados", as quais Bruxelas considerou indevidas
ANTONIO JOSE/LUSA

Portugal vai ter de reaver quase dois milhões de euros de ajudas a agricultores nos Açores que Bruxelas considerou indevidas, segundo um acórdão esta quinta-feira proferido pelo Tribunal Geral da União Europeia (TGUE).

O TGUE negou esta quinta-feira provimento ao recurso de Portugal de uma decisão da Comissão Europeia que identificou falhas em controlos administrativos e considerou ter havido financiamento de despesas agrícolas que não cumpriram as regras da UE.


A Comissão Europeia tinha notificado as autoridades portuguesas, em 2013, sobre deficiências verificadas nos controlos feitos a despesas declaradas por Portugal na medida "Desenvolvimento Rural, investimentos FEADER — beneficiários privados" nos exercícios contabilísticos de 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, no âmbito do Prorural — Programa de Desenvolvimento Rural da Região Autónoma dos Açores 2007-2013.

Em novembro de 2016, Bruxelas decidiu que Portugal teria que reaver 1.990.810,3 euros de despesas declaradas por ter considerado não ter sido possível "avaliar devidamente a razoabilidade dos custos apresentados por três beneficiários do apoio relativo à competitividade dos setores agrícola e florestal que diz respeito a medidas destinadas a reestruturar e desenvolver o potencial físico e a promover a inovação através do aumento do valor dos produtos agrícolas e florestais".

Portugal recorreu desta decisão e, esta quinta-feira, o TGUE negou provimento ao recurso, considerando que "a Comissão verificou, corretamente, que os pagamentos anteriores a 12 de setembro de 2011 que tinha identificado numa carta de setembro de 2014 eram suscetíveis de serem excluídos do financiamento da União". Por outro lado, o acórdão salientou que Bruxelas "apresentou provas de dúvida séria e razoável" sobre os controlos feitos pelas autoridades portuguesas.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Alterações climáticas e esgotamento dos solos enfraquecem sistemas alimentares


SOCIEDADE 28.11.2018 às 10h11

 
Nuno Botelho

De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas
As Nações Unidas consideram que alimentar um planeta faminto é cada vez mais difícil, porque as mudanças climáticas e o esgotamento dos solos e outros recursos estão a enfraquecer os sistemas alimentares.

Um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado hoje diz que são necessárias melhores políticas para alcançar a "fome zero", acrescentando que o aumento da população exige o fornecimento de alimentos mais nutritivos a preços acessíveis.

Mas, prossegue o documento, o aumento da produção agrícola é difícil, tendo em conta o "estado frágil da base de recursos naturais", uma vez que os seres humanos ultrapassaram a capacidade de carga da Terra em termos de solos, água e alterações climáticas.

Cerca de 820 milhões de pessoas estão desnutridas, refere o relatório, divulgado pela FAO e o Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares no início de uma conferência global destinada a acelerar os esforços para alcançar a fome zero em todo o mundo.

A segurança alimentar continua fraca para muitos milhões de pessoas que não têm acesso a dietas acessíveis e adequadamente nutritivas por uma variedade de razões, sendo a mais comum a pobreza.

De acordo com o relatório, a segurança alimentar está igualmente ameaçada por conflitos civis e outro tipo de disputas.

No Iémen, onde milhares de civis morreram em ataques aéreos perpetrados por uma coligação liderada pela Arábia Saudita, o grupo de ajuda 'Save the Children' diz que 85 mil crianças menores de cinco anos podem ter morrido de fome ou de doenças durante a guerra.

No Afeganistão, as secas severas e os conflitos desalojaram mais de 250 mil pessoas, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, observou que o número de pessoas famintas e subnutridas no mundo subiu para níveis de há uma década.

"Depois de décadas de ganhos no combate à fome, este é um sério revés e a FAO e as agências irmãs da ONU, juntamente com governos membros e outros parceiros, estão muito preocupadas", disse Graziano da Silva, numa mensagem de vídeo transmitida durante a conferência.

A fome ainda é mais severa na África, mas o maior número de pessoas subnutridas vive na região da Ásia-Pacífico, segundo o relatório, que defende que melhores políticas públicas e a tecnologia são as chaves para melhorar a situação.

A FAO estima que a procura global por alimentos crescerá 50% entre 2013 e 2050. Os agricultores podem expandir o uso da terra para ajudar a compensar parte da diferença, mas essa opção é restrita em lugares como a Ásia e o Pacífico e a urbanização está a consumir ainda mais terras do que aquelas que poderiam ter sido usadas para agricultura.

Aumentar a produção agrícola além dos níveis sustentáveis pode causar danos permanentes aos ecossistemas, segundo o relatório, que sublinha a erosão do solo, a poluição com cobertura de plástico, os pesticidas e fertilizantes e a perda de biodiversidade.

De acordo com o documento, a China destrói 12 milhões de toneladas de sementes contaminadas por ano, com uma perda de quase 2,6 biliões de dólares.

Lusa

O Porto é o “rato” que come o queijo do Douro


A desgraça do Douro reside nos preços miseráveis que são pagos pelas uvas e pelos vinhos. Os durienses vivem, essencialmente, das uvas e do vinho e, se o que recebem não dá para pagar as despesas, é normal que emigrem em busca de uma vida melhor.

1 de Dezembro de 2018, 2:54 Partilhar notícia

Álvaro Domingues publicou no passado domingo, no PÚBLICO, um extraordinário ensaio: "Desemparados- Para uma geografia emocional do interior". Um zoom hiper-realista sobre os chamados "territórios de baixa densidade". Devia ser de leitura obrigatória, para se perceber como chegámos até aqui, com uma grande parte do país a penar por ter calhado "no lado errado do mapa".

Apenas uma citação: "O ciclo vicioso — emigração, envelhecimento, quebra da natalidade, despovoamento, escassez de oferta de emprego —, deixou a maioria do país em estado de coma. A rapidez do processo provocou um certo atordoamento. Chega a haver escolas novas para alunos que não há; sem os serviços de apoio aos idosos que são cada vez mais, e mais fragilizados e ainda mais idosos. O paradoxo é que mesmo onde há investimentos agrícolas fortes — Douro Vinhateiro, perímetros de rega do Mira e do Alqueva —, a saída de população continua e o emprego não aparece."

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O paradoxo do Douro, sempre o paradoxo, o mesmo que durante muito tempo se explicava com a figura do rato e do queijo, como lembrava num debate recente António Magalhães, o responsável pela viticultura da Taylor's e das outras empresas do grupo Fladgate Partnership. O queijo era a riqueza do Douro, o seu vinho; o rato era o "inglês", o comerciante que comprava e vendia o vinho e só ia ao Douro na vindima.

Ainda há quem insista que a culpa de o Douro ser uma região rica habitada por pobres e velhos continua a ser do papão "inglês". Não faço parte desse grupo. Houve um tempo, quando a região vivia só do vinho do Porto e o negócio era dominado por famílias britânicas, em que esse chavão podia fazer algum sentido. Eram elas que tinham o poder de definir os preços. Foi, basicamente, para combater esse poder que nasceu a Casa do Douro. Ao intervir no mercado, comprando os vinhos que não se vendiam, evitava assim uma maior degradação dos preços. Mas um dia a Casa do Douro quis ser ela própria o "rato" e passar também a produzir e a vender vinho, através da Real Companha Velha. Comprou 40% da empresa, pelos quais pagou 9,6 milhões de contos, nunca retirou qualquer dividendo e acabou com a língua de fora, asfixiada em dívidas. A gula dá nisto. A propósito: o que é feito desses 40% da Real Companhia Velha?

Há uns 30 anos, a região passou a fazer vinho tranquilo. O negócio diversificou-se, entraram novos operadores e deu-se o boom do turismo. Mesmo assim, o paradoxo continua imutável. Mas, agora, já não podemos culpar só o "inglês". Dos cinco grandes colossos do negócio do vinho no Douro, dois são ingleses (Symington e Fladgate Partnership), um é francês (Gran Cruz), outro é venezuelano (Sogevinus) e outro é português (Sogrape). 

Tenho uma tese sobre o paradoxo do Douro. Na minha opinião, o "rato" morou sempre no Porto e falou sempre várias línguas, português incluído. Para o Douro (como para Trás-os-Montes), o centralismo do Porto é muito pior do que o centralismo de Lisboa. A tutela dos vinhos do Douro e Porto nunca esteve verdadeiramente em Lisboa. Na capital ninguém percebe nada de vinho. O negócio foi sempre tutelado a partir do Porto. Ainda hoje. É o eixo Porto-Gaia, com o seu directório, que decide os destinos do Douro e que avaliza as escolhas políticas. O "rato" anda entre a Ribeira (um pouco mais acima, na verdade) e o cais de Gaia.

A desgraça do Douro reside nos preços miseráveis que são pagos pelas uvas e pelos vinhos. Os durienses vivem, essencialmente, das uvas e do vinho e, se o que recebem não dá para pagar as despesas, é normal que emigrem em busca de uma vida melhor. Não há explicação possível para se continuar a pagar 30 ou 40 cêntimos por cada quilo de uvas produzidas na região, quando, por exemplo, se paga mais de um euro por cada quilo de uvas de Alvarinho em Monção-Melgaço. O custo real de produção de um quilo de uvas no Douro, que é uma região de montanha, anda entre os 70 e os 90 cêntimos. Para não terem prejuízo, era este o valor que os agricultores deviam receber. Mas deviam receber mais, porque não basta trabalhar para não ter prejuízo. Quem tem uma vinha, herdada ou comprada, devia poder ganhar dinheiro com ela e, dessa forma, ter uma vida digna e poder pagar justamente aos assalariados. As grandes empresas não vendem vinho apenas para pagar as despesas. Vendem para ganhar dinheiro. Um agricultor que ganha dinheiro é um emigrante a menos e mais uma fonte de mão-de-obra para a região.


De quem é a culpa dos preços baixos? Do mercado, respondem sempre as grandes empresas, como se o mercado fosse uma coisa abstracta, como se elas próprias não influenciassem o mercado. Se há um desfasamento entre a oferta e a procura, então resolva-se esse desfasamento. Não é possível impor preços administrativos, mas pode-se introduzir mecanismos que ajudem a corrigir os preços. E é sempre possível ser-se mais justo e generoso e, com o exemplo, influenciar o mercado.


O mercado tem as costas largas, mas não foi o mercado que, por exemplo, levou o IVDP, há uns anos, a diminuir a quantidade de "benefício" por hectare (autorização para produzir vinho do Porto) às vinhas com as letras mais baixas. A medida, tomada em nome da qualidade e sem qualquer contrapartida para os atingidos, beneficiou sobretudo os proprietários das quintas maiores, situadas junto ao rio, e acelerou ainda mais a desertificação e a pobreza das aldeias dos altos, que foram sempre as principais fornecedoras de mão-de-obra da região.

Foi o "rato" do Porto. O mesmo "rato" que colocou Manuel Cabral como presidente do IVDP e que, através dele, foi revertendo a regionalização deste instituto, centralizando-o de novo no Porto. É admissível que não haja uma feirinha, um Wine Day, uma coisinha chique tipo sunset party no Douro, o local onde se produz o vinho, e se continue a investir fortunas apenas no Porto? (Ah, este ano fizeram uma regata!) Os turistas estão no Porto e, se os turistas comprarem vinho, quem ganha, são os durienses, contra-argumenta o directório do Porto-Gaia. É um patusco, este "rato". Sempre a zombar.