quarta-feira, 3 de abril de 2019

Portugal Ventures investe 600 mil euros na Agri Marketplace


Mariana de Araújo Barbosa
2 Abril 2019

Plataforma que liga agricultores e produtores ao mercado global recebe o 4.º investimento do ano da gestora de capital de risco pública.


A plataforma Agri Marketplace, que liga diretamente agricultores e produtores ao mercado global, fechou uma ronda de investimento de 600 mil euros feita pela Portugal Ventures.

Este é o 4.º investimento do ano da gestora de capital de risco pública, depois das rondas anunciadas nas startups Shiptimize, Advertio e Logical Safety, no valor de meio milhão de euros cada uma. O financiamento é liderado pela Portugal Ventures mas conta ainda com a participação do fundo de investimento internacional Portinvest.

Portugal Ventures investe em menos startups. "Existimos para fazer unicórnios"

O investimento na Agri Marketplace é resultado da Call MVP, iniciativa lançada no último trimestre de 2018 e que recebeu 156 candidaturas de startups em early stage.

 

"Com este investimento a Agri Marketplace irá reforçar a sua presença nos mercados-alvo, através do reforço das suas equipas, a diferenciação da sua oferta, por via de uma clara aposta no contínuo desenvolvimento tecnológico da plataforma, criando novas funcionalidades que irão beneficiar os nossos clientes, atraindo novos mercados e utilizadores", detalha Tiago Pessoa, CEO da Agri Marketplace. A plataforma de negociação está, neste momento, focada no desenvolvimento do negócio em Portugal, Espanha, França e Itália, disponibilizando já nestes mercados, cereais (milho, cevada, arroz e trigo) e frutos secos (amêndoa, pistachos, avelãs e nozes), variedades que representam um volume de transações superior a 50 biliões de euros no mercado europeu.

Em 2019, com o investimento da Portugal Ventures, a empresa quer reforçar a sua atividade de internacionalização e expansão na Europa e nos Estados Unidos, tendo como foco a Califórnia, adianta a gestora de capital de risco em comunicado.

Criada por quatro sócios — os agricultores Filipe Núncio e Tiago Pessoa, com mais de 20 anos de experiência no setor agrícola, e José Magalhães e Luís Silva, com experiência nas áreas da gestão, finanças e IT –, a startup de Alcácer do Sal instalou-se recentemente na incubadora Taguspark, parceira da Portugal Ventures na sua rede de Ignition Partners Network.

A plataforma torna mais simples vender e comprar produtos agrícolas através de ferramentas de vendas, marketing, serviços de logística e inspeção de qualidade, ligando diretamente agricultores e organizações de produtores aos seus clientes e evitando a intermediação na cadeia de valor. Ao suprimir custos de intermediação tradicional, a Agri Marketplace é uma alternativa para potenciar o negócio agrícola, tendo registado, até ao momento, mais de 5 milhões de euros de transações online.

Portugal Ventures lança nova call especializada
Com o investimento na plataforma, a Portugal Ventures anuncia ainda a criação da Call Agrotech Economy, cujo objetivo é investir 2,5 milhões de euros em "inovação, eficiência e produtividade dos setores da agricultura, pesca e pecuária".

"O investimento na Agri Marketplace e na sua equipa de fundadores reforça a estratégia que a Portugal Ventures delineou para a captação de dealflow especializado", justifica Rita Marques, CEO da Portugal Ventures.

A nova call deverá estar disponível no início de maio e tem como objetivo investir até um milhão em cada projeto de tecnologias — hardware e software — assim como em produtos inovadores "que melhorem a eficiência e a produtividade das atividades agrícolas, agropecuárias e da agro-indústria".

Associação enganou inspectores do Ministério da Agricultura


Documentos entregues para provar a actividade da L'atitudes dizem quase exclusivamente respeito a acções realizadas por outra associação.

 José António CerejoJosé António Cerejo 1 de Abril de 2019, 7:07 Partilhar notícia

Câmara de Castelo Branco CARLA CARVALHO TOMÁS
No início de Outubro, quem passava no Largo de São João, em Castelo Banco, reparava necessariamente num edifício de dois pisos com as letras Adraces afixadas na fachada. O reclamo, de grandes dimensões, identificava as instalações do pólo local da Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro-Sul, cuja sede estava, e continua a estar, em Vila Velha de Ródão. Na fachada do prédio nada mais havia, a não ser uma caixa de correio.

Duas semanas depois, o anúncio da Adraces havia sido removido e, por cima da caixa de correio, tinham sido colocadas duas discretas placas de acrílico: uma tinha o logótipo da associacão L'Atitudes e a palavra "sede" na parte inferior; a outra identificava a presença de um Centro de Informação Europeia.


O Centro de Interpretação do Românico é "a unidade dentro da diversidade"
Por coincidência, ou não, as mudanças ocorridas na fachada do edifício antecederam a visita de uma equipa da Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT). A deslocação dos inspectores a Castelo Branco, comunicada à L'atitudes seis dias antes, como estabelecem as regras deste tipo de acções de controlo, destinava-se precisamente a verificar a conformidadade do destino dado aos 200 mil euros que a associação recebeu do Proder com os regulamentos em vigor.

Um dos principais tópicos do controlo consistia na confirmação do funcionamento, no local, da sede da L'atitudes e do chamado Centro de Apoio ao Desenvolvimento Socioeconómico e Cultural da Beira Interior Sul - serviço cuja criação pela associação, juntamente com a recuperação do edifício, foi a principal justificação da atribuição do subsídio.

Por outro lado, cabia à equipa da IGAMAOT verificar se os objectivos específicos que a associação se propunha atingir com a candidatura tinham sido cumpridos. Entre eles destacava-se a publicação de uma newsletter mensal, a promoção de um workshop temático por mês, a realização de seis acções de formação por ano e de outros tantos "eventos promocionais de sensibilização e cidadania".

Tudo bem, concluiu a IGAMAOT
Terminado o trabalho, os inspectores concluíram no seu relatório, em fins de Dezembro, que estava tudo bem, referindo nomeadamente que "a operação foi executada de acordo com o aprovado e contratado" e que "o beneficiário mantém os compromissos assumidos".

De acordo com a documentação recolhida pela equipa e consultada pelo PÚBLICO na IGAMAOT, ao abrigo da Lei de Acesso aos Documentos Administrativos (LADA), tudo parecia efectivamente correcto. Aquilo de que os inspectores não se aperceberam, até por causa da natureza deste género de acções de controlo e do tipo de verificações que lhe está associado, foi que os serviços existentes no edifício têm a ver apenas com o pólo local da Adraces e que a quase totalidade dos elementos que lhes foram disponibilizados se refere a acções desenvolvidas por essa entidade e não pela L'atitudes, a beneficiária do subsídio.

É o caso das newsletters entregues à IGAMAOT para provar que a L'atitudes estava a cumprir os objectivos assumidos no pedido de apoio. O mesmo sucede com um outro conjunto de documentos apresentados como resultado do trabalho da associação, mas que foram produzidos e difundidos pelo Centro de Informação Europeia - entidade que era gerida pela Adraces, com um financiamento da Comissão Europeia no valor de 30 mil euros por ano, e que foi extinta no dia 31 de Dezembro por decisão desta instituição.

As bases de dados de beneficiários cuja elaboração competia à L'atitudes e que foram fornecidas aos inspectores também não passam de listagens das pessoas e organizações às quais a Adraces envia as suas publicações.

Para tentar esclarecer a real actividade da L'atitudes, o PÚBLICO pediu à sua direcção que elencasse os principais projectos desenvolvidos e lhe facultasse o acesso aos seus relatórios de actividades. A resposta veio por escrito e diz que a associação considera "não serem atendíveis razões" para disponibilizar essa informação. O mesmo foi respondido, quanto ao pedido de identificação dos membros dos seus órgãos sociais.

Para justificar esta recusa, a associação alegou que não está abrangida pela LADA, uma vez que o que foi financiado por fundos públicos foi o "investimento" nas obras, e não as "actividades" da associação. No seu entender, a obrigação de revelar aqueles elementos só existiria se as suas "actividades" fossem maioritariamente financiadas por dinheiros públicos, o que, segundo afirma, não é o caso.

Fundador está na prisão
Apesar de se recusar a identificar os seus membros e respectivos cargos, a direcção identificou todos os sócios da L'atitudes. São eles, alem da associação Adraces, os seguintes autarcas e ex-autarcas eleitos pelo PS: Álvaro Rocha (ex-presidente da Câmara de Idanha-a-Nova), Armindo Jacinto (ex-vereador e actual presidente da mesma autarquia), Arnaldo Brás e João Carvalhinho (ex-vereadores da Câmara de Castelo Branco), Domingos Torrão (ex-presidente da Câmara de Penamacor), Joaquim Soares (ex-vereador de Idanha-a-Nova), Joaquim Morão (ex-presidente das câmaras de Castelo Branco e Idanha-a-Nova), Luís Correia (ex-vereador e actual presidente da Câmara de Castelo Branco), Luís Pereira (ex-vereador e actual presidente da Câmara de Vila Velha e Ródão) e Maria do Carmo Sequeira (ex-presidente da mesma autarquia).

Na lista dos sócios não consta, no entanto, o nome de António Realinho. Segundo João Carvalhinho, o fundador e primeiro vice-presidente da associação, "solicitou, há meses, a sua desvinculação" da condição de sócio. Este economista e empresário, que até ao Verão passado era vice-presidente e director-executivo da Adraces, actualmente presidida por Joaquim Morão, está desde Agosto a cumprir uma pena de quatro anos e meio de prisão efectiva a que foi condenado por burla e falsificação em negócios de uma da suas empresas, sem qualquer ligação à Adraces.

Em 2015 e 2016, conforme o PÚBLICO revelou em Março do ano passado, duas das suas empresas foram utilizadas pela Câmara de Lisboa para simular uma consulta ao mercado e viabilizar a contratação de Joaquim Morão como consultor do vereador Manuel Salgado.

Quanto aos actuais sócios da L'atitudes, dois deles - Domingos Torrão, agora desligado do PS, e um outro que pediu para não ser identificado - disseram ao PÚBLICO que não se recordam de alguma vez ter ouvido falar na L'Atitudes. Sobre as actividades da associação, usaram a mesma expressão: "Não faço a mínima ideia." O mesmo respondeu Manuel Eusébio, ex-vereador do PSD que participou na reunião de 2013 em que o subsídio camarário foi aprovado, e Carlos Almeida, o actual vereador desse partido que tem reclamado, repetidamente e em vão, a elaboração de um regulamento municipal de atribuição de subsídios.

Desconhecimento absoluto sobre a existência da associação foi o que revelaram igualmente numerosos residentes em Castelo Branco, entre as quais advogados e jornalistas e militantes de vários partidos.

Mas embora a L'atitudes se tenha recusado a facultar os seus relatórios de actividades e contas, o PÚBLICO obteve os de 2015, 2016 e 2017 junto da IGAMAOT. A conclusão é confrangedora: os três documentos são, em grande parte iguais e as actividades que a associação diz ter desenvolvido são quase sempre da exclusiva responsabilidade da Adraces.

Questionado sobre os apoios atribuídos à L'atitudes pela Câmara de Castelo Branco, o seu presidente afirmou que a cedência à associação de um imóvel, "devoluto e muito degradado (…) permitiu que, através do acesso a fundos comunitários, [ele] pudesse ser recuperado, valorizado e utilizado ao serviço da comunidade, mantendo-se na titularidade do município, tendo assim no caso vertente sido perseguido o interesse público municipal".

Luís Correia rejeita, por outro lado, a existência de quaisquer impedimentos legais para ele próprio e Joaquim Morão, tal como os vereadores Arnaldo Brás e João Carvalhinho, intervirem na aprovação dos apoios e subsídios à associação de que eram sócios.

Os autarcas em questão não estavam impedidos de intervir, afirma - contrariando o entendimento dos tribunais (ver texto à parte) -, porque "a câmara, ao deliberar como deliberou, fê-lo na prossecução do interesse público do município, contribuindo para a recuperação de um imóvel que era – e é – seu e [porque] o apoio monetário foi concedido a uma associação que, em termos estatutários, também prossegue o interesse geral da comunidade, inexistindo pois interesses contrapostos ou conflituantes capazes de pôr em causa o princípio da imparcialidade no exercício das suas funções de vereadores". 

Relativamente ao facto de o subsídio ter sido concedido para a execução das obras, quando, nos termos do contrato de cedência do edifício, cabia à associação "recuperar o imóvel e financiar a respectiva requalificação", Luís Correia também não vê aí qualquer problema. "A Associação L'atitudes foi, efectivamente, a entidade que procedeu à recuperação do imóvel e assegurou o financiamento da obra. O subsídio corresponde apenas a uma parte – minoritária – do investimento total", sustenta o autarca, que tem a correr contra si, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Castelo Branco, um processo em que o Ministério Público pede a perda do seu mandato por ter assinado, em representação do município, vários contratos de empreitada com o próprio pai. 

O PÚBLICO perguntou também a Joaquim Morão se não considerava ter violado o Estatuto dos Eleitos Locais e a legislação sobre impedimentos ao celebrar um contrato de comodato com uma associação de que era presidente e propor ao executivo municipal a concessão de um subsídio à mesma associação, mas não obteve resposta. A carta enviada para António Realinho a pedir uma entrevista, através do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, também não teve resposta.

Bio_lógico, vale mesmo a pena?


28.03.2019 às 12h20

Os produtos biológicos explodiram e levaram à criação de empresas de milhões que já em 2019 contam multiplicar por 10 o volume de negócios. O mercado que nasceu da venda direta, do porta a porta, dos cabazes ao domicílio, do online, já provou que está aí para ficar. Costuma comprar biológicos? Sabe como identificar um produto biológico? E já pensou se vale a pena comprar mais caro?

MANUELA VICÊNCIO / SIC

De uma economia paralela, de nicho, o mercado dos biológicos duplicou na última década. Em 2017, só na Europa, o mercado dos orgânicos bateu os 34,3 mil milhões de euros e já representa 37% do mercado mundial.

E a tendência é para crescer, ao ritmo das exigências dos consumidores. Prova de que, como na democracia, quem manda é o povo, neste caso, a clientela.


MATTHIAS RIETSCHEL

COMO É QUE PRODUTOS MAIS CAROS CRESCEM COMO COGUMELOS?
Chegam a ser 150% mais caros do que os produtos convencionais, mas os biológicos já provaram ser a exceção que confirma a regra: o preço não é a única matriz a ditar o mercado. Mas a lei da procura sim.

A economia que cresceu sozinha, sem gigantescas campanhas de publicidade ou complicados planos de marketing, provou que quem manda é o consumidor, que também consegue vergar o mercado.

Impulsionado por um punhado de agricultores de discurso radical, fervorosos ambientalistas e consumidores exigentes, o mercado dos biológicos foi fazendo caminho. Começou de mansinho, sem se dar muito por isso e, alimentado pelo medo das doenças e dos químicos que invadiram o mundo moderno, mudou o mercado. Para sempre.

Hoje, o mercado que era dos radicais, dos ambientalistas, dos freaks e dos doentes conquistou as grandes marcas, que já abrem zonas diferenciadas e lojas especializadas.


A economia que nasceu das micro e pequenas empresas (78% dos produtores biológicos têm 10 ou menos trabalhadores e 88% só produz bio) começa agora a ganhar dimensão.

Já em 2019, uma marca francesa de produtos biológicos, a JusteBio, anuncia a entrada no mercado português para implementar o granel orgânico em 100 lojas, através de investimento de 100 mil euros para alcançar vendas de um milhão de euros, ainda este ano.

A empresa que começou com 4,5 milhões de euros de volume de negócios em 2014 passou para 49 milhões de euros em 2018. Mais de 10 vezes mais em apenas quatro anos.

E em 2019 a empresa acredita que vai faturar 75 milhões de euros em França, Portugal, Bélgica, Suíça e Luxemburgo.

Este é apenas um exemplo do crescimento exponencial que o mercado dos biológicos assistiu em pouco mais de uma década.

Em Portugal praticamente todas as grandes superfícies têm zonas destacadas ou lojas especializadas em biológicos.

"TODOS TÊM INTERESSE EM PRODUZIR OU VENDER BIOLÓGICOS"
A Agrobio, a primeira associação de Agricultura Biológica, fundada em 1985, acompanhou de perto a evolução do mercado em Portugal. O presidente Jaime Ferreira explica que as grandes marcas também já estão rendidas ao mercado que deixou de ser nicho para ser um negócio de milhões.

"Todos têm interesse em produzir ou vender biológicos", disse numa entrevista à SIC Notícias.

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50% DOS BIOLÓGICOS TÊM DE SER IMPORTADOS
Para responder à procura, Portugal, como toda a UE, importa cerca de 50% dos produtos de agricultura biológica que consome. Com uma superfície agrícola de 270 mil hectares exclusivos aos biológicos, o Governo e o mercado já perceberam que há aqui uma janela de oportunidade e a aposta está feita.

"É tempo de perceber que o mercado está ansioso de ter este tipo de produção e a indústria também percebeu que tem aqui um nicho", referiu Miguel Freitas em declarações à Lusa, durante uma sessão pública sobre a Estratégia Nacional para a Agricultura Biológica em Idanha-a-Nova.

Nos últimos 15 anos a área agrícola reservada aos biológicos cresceu 20 vezes em Portugal. Em 2017 representava 7% da área cultivada, quase metade da média da UE que, entre 2014 e 2015, crescia cerca de 12% ao ano.

MERCADO DO LUMIAR: O PRIMEIRO BIOLÓGICO DE RAIZ
Um dos mercados mais antigos de Lisboa viu-se forçado a renovar para fazer face à falta de clientes.

Em 2018 reabriu de cara lavada como o primeiro mercado municipal com as várias valências Bio: frescos, mercearia, restaurante, padaria e até uma zona grossista inteiramente Bio.

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"TEMOS DE SABER IDENTIFICAR O QUE É UM PRODUTO BIOLÓGICO"
Como ter a certeza de que se está a consumir um produto biológico? Jaime Ferreira, presidente da Agrobio, explica que há um "sistema de controlo e de certificação", que começa logo quando o o agricultor se instala. Garante ainda que "o sistema está a funcionar". Basta o consumidor estar atento.

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Desde 2007 que a agricultura biológica está identificada e regulamentada na UE mas, no resto do mundo, há referências diferentes.

No Brasil e nos países de língua inglesa é mais conhecida por "agricultura orgânica" ; na vizinha Espanha ou na Dinamarca por "agricultura ecológica"e do outro lado do mundo, no Japão, por "agricultura natural".

Na União Europeia há apenas um símbolo oficial com diferentes tonalidades e referências.

Ao contrário da economia convencional - que pode ser fiscalizada apenas no produto final -, os biológicos não podem sequer começar a ser produzidos se não estiverem certificados logo na produção. E mesmo os transformados têm de ter certificação da matéria-prima.

A Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural concentra quase todo o processo em Portugal. É a entidade responsável pela transposição das diretrizes europeias e garante a implementação e fiscalização da produção biológica - desde o pedido para análise dos locais de cultivo à atribuição de licenças. Pode inclusive, em caso de suspeita, fiscalizar e retirar licenças de produção biológicas.

A ASAE, a Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica, é a entidade responsável por controlar os produtos nos pontos de venda, mas até lá tem de passar pelo crivo de uma série de agentes responsáveis pela certificação da produção: Direção-geral do Ambiente (analisa a qualidade do solo), Direcção-Geral da Agricultura (regula questões de mercado), por exemplo.

Há cerca de dois anos a ASAE criou finalmente um plano de controlo específico para avaliar e certificar o BIO.

O processo de certificação nasceu com a Agrobio, a associação independente criada em 1985, e acabou por ser a primeira e única certificadora do país, na altura sobretudo para guiar os agricultores e ajudar à produção.

Hoje já há 11 organismos de controlo independentes (que também são auditados) e certificados pelo Instituto Português da Acreditação e da Certificação (IPAC).


ARMANDO FRANCA

PESTICIDAS: É MESMO POSSÍVEL GARANTIR QUE BIOLÓGICOS NÃO TÊM QUÍMICOS?
Sem pesticidas sim, mas sem contaminação não.

Os biológicos não são produzidos em ilhas e, por isso, estão sujeitos à poluição atmosférica ou ambiental tais como os lençóis freáticos ou a a qualidade dos solos.

A legislação europeia de Agricultura Biológica inclui apenas uma lista restrita de pesticidas de origem natural: mineral, vegetal, animal ou microbiana, sem perigo para o ambiente e a saúde.

A produção biológica não pode usar pesticidas, mas tem outras armas para combater pragas ou prevenir ou combater doenças.

Isto faz-se desde logo na escolha das sementes (variedades resistentes a pragas e/ou doenças) mas também com a rotação dos cultivos (pousio), conjugação de espécies ou delimitação natural das culturas ou até a luta biológica como atrativos alimentares e/ou sexuais, o uso de feromonas para impedir o acasalamento de pragas (confusão sexual), métodos que não fazem qualquer recurso à aplicação de pesticidas.

Quando nada funciona a agricultura biológica pode ainda recorrer a produtos fitofarmacêuticos de origem mineral, vegetal, animal ou microbiana, mas em número reduzido e de impacto ambiental, toxicológico e ecotoxicológico mínimo ou nulo.

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ESTUDO MOSTRA QUE PORTUGUESES PREFEREM BIOLÓGICOS MAS IGNORAM PESTICIDAS
Quase dois terços dos portugueses preferem consumir somente alimentos biológicos, mas apenas um quinto diz saber que a agricultura biológica também utiliza produtos fitofarmacêuticos ou pesticidas, concluiu um estudo realizado pelo Centro de Estudos Aplicados da Católica-Lisbon, School of Business & Economics em parceria com a Associação Nacional para a Indústria da Proteção das Plantas (ANIPLA) com o objetivo de saber mais sobre o conhecimento da população portuguesa relativamente à realidade da produção de alimentos.

Numa estrevista à Edição da Manhã, da SIC Notícias, Ricardo Reis, diretor do centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, diz que ainda há muita falta de informação sobre o uso de "pesticidas" nos biológicos e defende que "estes produtos funcionam como medicamentos".

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"A FRAUDE NA AGRICULTURA BIO NÃO VAI ALÉM DOS 4%"
Jaime Ferreira, da Agrobio, aponta a desconfiança dos consumidores como um dos maiores obstáculos à agricultura biológica. Publicações que põem em causa a quantidade de pesticidas nos produtos biológicos contribuíram para essa insegurança, mas o presidente da Agrobio prefere destacar as estatísticas da União Europeia que registaram entre 3% a 4% de fraude nos orgânicos. Sobretudo, porque assegura que a fiscalização é apertada.

Além disso, acrescenta ainda que "há uma estratégia para a agricultura biológica e que vai ser criado um portal que mostra as empresas certificadas e as que prevaricaram".

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TUDO COMEÇA E ACABA NA TERRA
Até 2030 a produção alimentar terá de aumentar 70% para colmatar o crescimento da população mundial.

A pressão sobre a economia é também uma bomba relógio para o ambiente e a agricultura do futuro volta-se para o sustentável: local, sazonal e bio.

Em Portugal já se pensa na criação de uma BIO Região, uma espécie de DOP - denominação de origem protegida para os biológicos. Idanha-a-Nova está na vanguarda do projeto, de base local e à semelhança (ainda que noutra proporção) do que já se faz noutros países.

A Dinamarca quer romper com todos os limites e criar uma agricultura totalmente biológica até 2020, após 25 anos de leis duras de proteção da natureza. O projeto não está só no papel como está em marcha numa estratégia do atual Governo para fornecer às escolas, cantinas e hospitais, pelo menos, 60% de alimentos de origem biológica.

Noventa e sete por cento dos dinamarqueses reconhecem o significado e a importância dos biológicos e defendem que num futuro próximo apenas nasçam apenas produtos orgânicos neste país nórdico.

VÁRIOS ESTUDOS DEMONSTRAM VANTAGENS DOS BIOLÓGICOS
Vários estudos recentes demonstram os efeitos dos químicos usados nos alimentos na saúde humana e já há médicos que recomendam dietas biológicas para determinados tipos de cancro.

Um outro estudo conclui que os produtos biológicos são bons para o ambiente, mas a vantagem nutritiva ainda está por provar.

"Temos boa evidência científica, que são produtos mais amigos do ambiente, mas do ponto de vista exclusivamente nutricional ainda não há muita informação que prove uma grande diferença entre os produtos da agricultura tradicional e da agricultura de produção biológica", afirmou o especialista em nutrição Pedro Graça e diretor da Faculdade de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.

Para o presidente da Associação Portuguesa de Agricultura Biológica (Agrobio), Jaime Ferreira, "a questão dos nutrientes é muito redutora".

"Eu posso tomar um comprimido com todos os nutrientes que hoje achamos suficientes para ser saudável e resolvia o assunto, só que sabemos que não é assim", disse.

Um outro estudo ainda refere que a produção industrial de alimentos vai matar cinco milhões até 2050.

"AS PESSOAS DEIXARAM DE SABER COMER?"
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MELHOR DO QUE O QUE TÊM, É O QUE NÃO TÊM
Grande parte das substâncias químicas usadas na alimentação são corantes e intensificadores de sabor, precisamente para dissimular os produtos produzidos de forma artificial. Cor e sabor só se conseguem respeitando os ciclos da natureza, o que leva tempo.

Está provado que o organismo humano tem necessidades diferenciadas ao logo do ano e da vida, com correspondência com o que produz a natureza em cada época do ano. Quem não sabe que deve comer laranjas no inverno (sabendo que também há laranjeiras de primavera) ou que os morangos sabem a verão. E já provou melão no inverno?

Biológicos ou não, o mais importante é consumir produtos da época, no pico da maturação, da qualidade e da quantidade. O mais natural possível, respeitando a natureza, inclusive a humana. E o melhor? É mais barato.

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DA PERA ROCHA AO BIOLÓGICO: COMO SE TRANSFORMAM 15 HECTARES DE TERRA
Luísa Ferreira de Almeida herdou a Quinta do Arneiro, considerada "quinta modelo de pera rocha do Oeste".

Da produção intensiva e clientela assegurada passou para os pequenos mercados de Lisboa e Cascais para conseguir escoar a produção. Hoje, lidera a venda de cabazes 100% Bio na zona de Lisboa.

A SIC foi perceber as principais diferenças entre produção biológica e a convencional.

terça-feira, 2 de abril de 2019

GNR multou Instituto de Conservação da Natureza por falta de limpeza da Mata de Leiria



Em causa estão "oito situações de falta de gestão de combustíveis na Mata Nacional de Leiria, denunciadas em setembro através da linha SOS Ambiente
Lusa
LUSA
A GNR multou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) por falta de limpeza da Mata Nacional de Leiria, informou o Comando Territorial de Leiria, notando que, até à data, é a primeira vez que o faz.

Em causa estiveram, segundo informação enviada à agência Lusa pelo comandante da unidade, "oito situações de falta de gestão de combustíveis na Mata Nacional de Leiria", denunciadas a 25 de setembro de 2018 através da linha SOS Ambiente.

"Na sequência da análise das denúncias reportadas e posterior deslocação ao terreno, entre 9 de outubro e 6 de novembro de 2018, procedeu-se ao levantamento de oito autos de notícia por contraordenação", acrescenta o Comando Territorial de Leiria da GNR.

Contactado pela agência Lusa, o ICNF reconhece ter sido notificado, mas apenas por quatro autos de contraordenação, "relativos a alegadas violações de normas do Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios".

O valor das contraordenações é ainda desconhecido, porque "os respetivos processos encontram-se em fase de instrução", acrescenta o ICNF.

A ação da GNR foi divulgada pelo "Jornal da Marinha Grande" na edição de 21 de março de 2019. Segundo a notícia, a denúncia foi feita em março de 2018 por um munícipe não identificado, que terá reportado - à autarquia da Marinha Grande, PSP, GNR e Autoridade de Proteção Civil - situações de deficiente manutenção de áreas não ardidas no incêndio de 2017, que consumiu 86% da Mata Nacional de Leiria.

De acordo com o ICNF, "todas as situações que terão motivado a instauração de contraordenações estão ultrapassadas".

Em causa, acrescenta o instituto, estavam "alegadas violações do n.º 2 do art.º 36 do Sistema de Defesa de Floresta Contra Incêndios", que obriga à remoção de materiais de áreas ardidas numa faixa mínima de 25 metros para cada lado das faixas de circulação rodoviária.

Além disso, o mesmo diploma obriga "à gestão de combustível numa faixa exterior de proteção de largura mínima não inferior a 100 metros nos aglomerados populacionais inseridos ou confinantes com espaços florestais", o que também não se verificava nos locais denunciados.

Para intervir nos locais alvo de denúncia, o ICNF informa que, ao abrigo do Código dos Contratos Públicos, procedeu à contratação de uma empresa, por não dispor de "meios suficientes para proceder à gestão de combustíveis na totalidade das áreas públicas".

"A escassez de mão-de-obra especializada e as condições meteorológicas, que impediram e dificultaram muito a circulação de máquinas nas zonas rurais, levaram a que muitos dos trabalhos de gestão de combustível não pudessem ter sido realizados dentro dos prazos contratados, tendo sido concluídos logo que possível", acrescenta o ICNF.

A GNR de Leiria avança que, na Mata Nacional de Leiria e até à data, estas foram primeiras situações em que autuou o ICNF.

Portugal é um dos três países europeus onde morrem mais pessoas em acidentes com tratores. O que é que se passa?


28.03.2019 às 23h11


Mais de 350 vítimas mortais em cinco anos é o total que resulta dos acidentes com tratores em Portugal. Os dados reportam-se ao intervalo entre 2013 e 2017, mas a cada semana somam-se novas mortes a um ritmo semelhante. Em causa estão, geralmente, capotamentos, envolvendo condutores com mais de 65 anos
Mafalda Ganhão
MAFALDA GANHÃO
Em Portugal morrem demasiadas pessoas por causa de acidentes com tratores. Só entre 2013 e 2017 foram registadas 358 vítimas mortais, curva estatística que não dá sinais de abrandamento e que tem colocado o país sistematicamente na terceira pior posição da União Europeia. Não há dados oficiais em relação a 2018, adianta a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), mas basta estar-se atento. Esta semana, por exemplo, foram noticiadas três mortes apenas desde sábado.

A mais recente aconteceu na terça-feira, em Perelhal, concelho de Barcelos, quando um rapaz de 12 anos ficou debaixo do trator que conduzia na via pública, depois de este ter capotado. O rapaz terá escapado à atenção da avó e saído sem autorização, um acidente atípico dentro da categoria, já que a maior parte das ocorrências envolve homens mais velhos, quase sempre acima dos 65 anos, e acontecem em contexto de trabalho agrícola.

"Na realidade, Portugal sempre teve uma sinistralidade muito alta neste domínio", disse ao Expresso Augusto Ferreira, coordenador técnico da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (Confagri). E várias causas concorrem para o problema, acrescentou.

IDADE, CANSAÇO E EXCESSO DE CONFIANÇA
Uma delas "é a idade avançada dos nossos agricultores", a que se alia a necessidade de as tarefas agrícolas "terem de ser realizadas em intervalos reduzidos de tempo", agravando o "cansaço físico", próprio de uma atividade já se si fisicamente exigente, explica Augusto Ferreira. As outras causas, continua, resultam de um certo "excesso de confiança" a operar máquinas "que, para todos os efeitos, são perigosas"; decorrem da "falta de formação"; e também do facto de em Portugal o próprio parque de tratores estar demasiado envelhecido.

O técnico da Confagri toma por base o número de tratores registados para efeitos de atribuição de subsídios de gasóleo: "Dos cerca de 170 ou 180 mil listados, mais de 50% têm mais de vinte anos". Na prática, isto significa que não dispõem de estruturas de proteção, sejam elas arcos ou cabines, 'acessórios' que se tornaram obrigatórios para os tratores matriculados após janeiro de 1994.

RISCO DE MORTE OITO VEZES SUPERIOR
Geograficamente, os dados disponíveis mostram também que há características muito próprias a potenciar os acidentes. Grande parte destes acontecem em zonas de minifúndio - nos distritos de Bragança, Viseu, Guarda -, onde as parcelas pequenas levam a que os agricultores tentem explorar cada bocadinho de terreno livre, deixando vias de circulação mais estreitas que o recomendável para manobrar um trator, aumentando o risco.

Diz um documento da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) que os tratoristas, "em comparação com os condutores de veículos ligeiros, veem a probabilidade de morte ser aumentada em pelo menos 8 vezes". Falam novamente as estatísticas: "Dois em cada três capotamentos de trator são 'mortais' e 70% das vítimas resultam deste tipo de acidente", pode ler-se no mesmo artigo.

Augusto Ferreira lembra que estão em causa "máquinas de trabalho", com riscos específicos. Se se procurarem as suas características, encontra-se uma descrição esclarecedora, como a que consta no site Marketing Agrícola.pt, explicando que um trator tem "aproximadamente 65% do peso no eixo traseiro, distribuindo-se os restantes 35% pelo eixo dianteiro. É esta diferença de peso significativa entre os dois eixos que potencia o capotamento do veículo.

FORMAÇÃO ESPECÍFICA TORNOU-SE OBRIGATÓRIA
Numa tentativa de responder ao problema, e já depois de ter criado um grupo de trabalho para o efeito em Junho de 2017, o Governo publicou recentemente um despacho, tornando obrigatória a formação específica para os condutores de veículos agrícolas, deixando de ser suficiente ser-se portador de carta de condução ou licença.

"Os condutores de veículos agrícolas com carta de condução da categoria B que pretendam conduzir veículos agrícolas da categoria II e com carta de condução das categorias C e/ou D que pretendam conduzir veículos agrícolas das categorias II e III, dispõem de dois anos, após a data de entrada em vigor do presente despacho, para realizarem com aproveitamento a formação", estabelece o despacho publicado em fevereiro, o que coloca como prazo limite fevereiro de 2021.

Será suficiente? O técnico da Confagri acredita que "não chega", sublinhando a necessidade de ser renovado "com urgência" o parque nacional de tratores. O que, sendo no imediato difícil, pode justificar que se olhe para soluções como as que já foram adotadas noutros países, nomeadamente "o estabelecimento de parcerias com instituições que desenvolvam, a custos razoáveis, estruturas de segurança homologadas", que possam ser aplicadas aos veículos existentes.

Portugueses entre os maiores consumidores de frutas e legumes da UE


01.04.2019 às 11h47


81% da população portuguesa consome fruta todos os dias e 78% faz o mesmo em relação aos legumes. Média comunitária em ambos os casos é de 64%

Portugal é o segundo país da União Europeia (UE) onde a população mais come fruta diariamente, ocupando também o quarto lugar no que toca ao consumo diário de legumes, acima da média comunitária, foi anunciado esta segunda-feira.

Segundo dados divulgados pelo Eurostat, o gabinete de estatísticas da UE, 81% da população portuguesa consome fruta todos os dias em 2017 (dados mais recentes), sendo apenas ultrapassada por Itália, onde este consumo diário rondava os 85%.

No que toca ao consumo de legumes, Portugal fica em quarto lugar (com 78% da população a fazê-lo diariamente), apenas atrás da Irlanda (84%), Bélgica (84%) e Itália (80%). Em ambos os consumos, a média comunitária é de 64%.

Em sentido contrário, os países com menor consumo de fruta eram, em 2017, a Letónia (35%), a Bulgária e a Lituânia (ambos com 37%). Já a Hungria (30%), a Roménia (41%) e a Letónia (44%) eram os que menos comiam legumes.

Em toda a UE, uma em cada quatro pessoas (27%) comia fruta duas vezes por dia em 2017, enquanto 37% da população comunitária o fazia uma vez por dia e a restante 36% o fazia com menor frequência, pelo menos uma vez por semana.

Em menor número, 23% da população da UE comia vegetais duas vezes por dia nesse ano, enquanto 40% o fazia uma vez também diariamente.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Falta de água. Cristas acusa Governo de não ter soluções


Presidente do CDS diz que o executivo liderado por António Costa só vai "resolver situações quando elas já acontecem" em vez de tratar dos problemas de forma estrutural

22 Março 2019 — 20:07

Seca mantém-se apesar da chuva e já há a gado a "lamber a lama"
A líder do CDS-PP acusou esta sexta-feira o Governo de não ter soluções para resolver o problema estrutural da falta de água em diversas regiões do país, apesar dos sucessivos avisos do partido no parlamento para a urgência do problema.

"O ano passado assistimos Viseu a ser abastecida com camiões-cisterna. Este ano, perante esta dificuldade, o que vemos é o Governo também dizer que já tem esses camiões preparados. O Governo vai sempre a reboque", disse Assunção Cristas durante uma visita à barragem do Pego do Altar, em Alcácer do Sal, distrito de Setúbal, para assinalar o Dia Mundial da Água.

Segundo a presidente do CDS-PP, o executivo, liderado pelo socialista António Costa, "vai sempre resolver situações quando elas já acontecem".

"Não vemos o Governo empenhado em tratar estes problemas de forma estrutural, com uma visão a médio e longo prazos. O CDS tem-se empenhado, muitas vezes, no parlamento, a trazer essa visão, instando o Governo a que faça estudos sobre a armazenagem de água", acrescentou.

Manifestando grande preocupação com o problema da falta de água, Assunção Cristas afirmou que se tivesse de elencar dois assuntos estruturais da maior relevância para o país, provavelmente, um deles seria a água (o outro seria a demografia, realçando que "uma boa parte do território já está em seca moderada, uma parte pequena em seca severa".

Confrontar o ministro da agricultura
"A água é, de facto, uma questão estrutural, não apenas aqui para Alcácer do Sal, onde estamos, na barragem do Pego do Altar", declarou, após ouvir alguns agricultores da região defenderem a necessidade de se construírem pequenas barragens que iriam reforçar a capacidade de armazenamento de água para a produção de arroz, única cultura que é possível fazer naquela região alentejana, devido à salinidade dos solos.

Convicta de que o executivo não tem dado a devida atenção ao problema da falta de água, Assunção Cristas promete voltar a questionar o ministro da Agricultura, que acusa de ter perdido a oportunidade de resolver alguns destes problemas nos últimos quatro anos.

"O senhor ministro da Agricultura, há quatro anos, já podia ter preparado os planos para desenvolver, a sério, o regadio em várias zonas do país. E não só isso. Em conjunto com o ministro do Ambiente, poderia também ter escolhido as zonas do país onde precisamos de investimentos para barragens de dimensões diferentes, umas maiores, de fins múltiplos, outras mais pequenas", acrescentou.

Para Assunção Cristas, o Governo, "que está refém das esquerdas, o que tem é um acordo que lhe permite governar, mas onde a palavra barragem é simplesmente riscada e postergada de qualquer hipótese de desenvolvimento e de investimento", reiterando que o executivo "já vai atrasado muitos anos no estudo e no planeamento dos investimentos necessários um pouco por todo o país" e não apenas para o setor da agricultura.


Observatório diz que recuperação da produção agrícola levará anos


MOÇAMBIQUE 21-03-2019 19:00

Lusa
O diretor-executivo do Observatório do Meio Rural, João Mosca, admitiu hoje que a recuperação da produção agrícola do centro de Moçambique poderá levar vários anos, pelo que o país precisará de apoio internacional. O responsável daquela organização da sociedade civil moçambicana falava hoje à agência Lusa, em Maputo, sobre as consequências da passagem do ciclone Idai pelo centro de Moçambique.

«As populações perderam património pessoal e familiar e vai levar muitos anos para a economia repor essa capacidade», afirmou João Mosca. 

Apesar de ainda ser cedo para ter a dimensão dos prejuízos, a devastação causada pelo ciclone Idai é maior e a capacidade de produção e padrão de vida das populações foram destruídos, acrescentou João Mosca.

O diretor-executivo do Observatório do Meio Rural assinalou que as inundações e os ventos fortes destruíram grandes superfícies de produção agrícola e pecuária, atingindo empresas e famílias que se dedicam ao setor. «A situação é gravíssima, abrange uma superfície muito grande, com muita população, numa zona de produção, agrícola e pecuária», frisou.

A região centro de Moçambique é um importante centro de produção de cereais, açúcar, fruta e hortícolas e a destruição causada pelo ciclone Idai poderá encarecer os produtos.

«O que é importante é o que acontece depois das cheias, será preciso ver como é que aquele potencial produtivo pode ser recomposto e isso vai exigir muita concentração de meios», assinalou.

Mosca enfatizou que também será necessária capacidade institucional para a recuperação da capacidade produtiva do centro de Moçambique, principalmente na província de Sofala, para ajudar as populações a recuperarem o poder de geração de alimentos.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou hoje para o impacto negativo no abastecimento de cereais no país, devido ao Idai, assinalando que a região centro contribui com 40% a 50% de cereais produzidos em Moçambique.

«Apesar de os resultados da avaliação dos prejuízos não estarem ainda disponíveis, espera-se que a perda de culturas seja extensa nas áreas afetadas pelo ciclone Ida«", lê-se numa avaliação preliminar da FAO divulgada hoje em Maputo.

A produção de cereais no centro do país, prossegue o documento, poderá ficar abaixo da média dos últimos anos, refere aquela organização.

A FAO assegura que é esperado um agravamento do preço de produtos como milho, confirmando uma tendência que se já se verifica desde o início do ano.

terça-feira, 26 de março de 2019

Regantes de Campilhas e Alto Sado no Alentejo preveem “ano de calamidade”


25/3/2019, 15:35109

Com os níveis "tão baixos" nas bacias hidrográficas e "mais de 3.700 hectares sem água para cultivo", na campanha primavera/verão, os agricultores anteveem "o ano mais difícil de todos".

As barragens de Campilhas e Fonte Serne, no concelho de Santiago do Cacém apresentam um armazenamento de água de 16,3% e 33,8%, respetivamente
EDUARDO COSTA/LUSA

A Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado (ARBCAS) prevê "um ano de calamidade" na zona, em termos agrícolas, devido à falta de água em albufeiras de Santiago do Cacém e Ourique, no Alentejo.

As barragens de Campilhas e Fonte Serne, no concelho de Santiago do Cacém, distrito de Setúbal, apresentam um armazenamento de água de 16,3% e 33,8%, respetivamente, enquanto a de Monte da Rocha, em Ourique, no distrito de Beja, o armazenamento está nos 11,8 por cento.

Não temos qualquer reserva de água nas barragens de Campilhas, Fonte Serne e Monte da Rocha e apenas contamos com água proveniente de Alqueva, que vai regar uma pequena parte", afirmou esta segunda-feira à agência Lusa o vice-presidente da ARBCAS, Ilídio Martins.

Com os níveis "tão baixos" nas bacias hidrográficas e "mais de 3.700 hectares sem água para cultivo", na campanha primavera/verão, os agricultores anteveem "o ano mais difícil de todos".

Este vai ser mais um ano difícil, talvez o ano mais difícil de todos, porque temos água para regar 2.800 hectares, mas ficam 3.700 hectares de fora, sem qualquer acesso à água. Portanto, se não houver uma alteração de última hora, como no ano passado, estamos a ver que vai ser mesmo um ano de calamidade para muitos agricultores", alertou.


A chuva que caiu em março do ano passado permitiu "fazer uma campanha a 90 por cento" e apenas "uma pequena área" dos dois aproveitamentos hidroagrícolas de Campilhas e Fonte Serne, que fornecem o Vale de Campilhas e o Vale Diogo, no concelho de Santiago do Cacém, no litoral alentejano, "foi afetada".

"Este ano não é possível fazer qualquer área nestes dois aproveitamentos, não havendo perspetiva de qualquer tipo de produção, porque a única área que temos garantida, se não houver imprevistos no fornecimento de água da EDIA [Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva] será a zona do Alto Sado", acrescentou.

A albufeira do Monte da Rocha, que serve o aproveitamento agrícola do Alto Sado, nos concelhos de Santiago do Cacém e Ourique, "vai servir apenas 200 hectares de culturas permanentes e o abastecimento público".

"A restante área do Alto Sado, servida pela ligação a Alqueva, permitirá regar 2.800 hectares para as culturas de milho, olival e outras", disse.

Com um total de 6.500 hectares de área de cultivo, o responsável da associação de regantes disse manter "a esperança de que venha a ocorrer alguma precipitação" e, assim, alterar o atual cenário de seca, "que poderá comprometer as culturas de tomate e de arroz".

Esta semana, adiantou, a ARBCAS vai elaborar o plano de utilização da água referente à campanha primavera/verão para apresentar em assembleia geral, onde serão aprovadas as dotações e a sua distribuição por culturas e aproveitamentos, assim como os custos de cada operação.

"Ainda não decidimos que culturas vão ser feitas, ainda vamos atribuir dotações. Há um tarifário e as pessoas vão ser, de certa forma, livres de o fazer naquela zona onde existe água, mas atendendo ao tarifário não sei se haverá cultura do arroz", explicou.

"Nas zonas "onde não há água, não faremos nada. Naquelas em que há água ainda estamos a analisar a melhor forma de distribuição", referiu.

"Vamos começar a fazer o nosso trabalho que é gerir a pouca água que temos e vamos alertar e pedir ajuda ao Ministério [da Agricultura] para ter uma atenção com os nossos agricultores e ver o que se pode fazer para que não sejam desativadas as explorações agrícolas".

Água no Solo 25 Março

Traders recorrem a aplicações de streaming para negociar milho chinês


Os operadores de mercado estão a recorrer a aplicações de streaming para tentarem perceber como vão evoluir as reservas de milho e arroz, de forma a anteciparem a evolução dos preços no mercado bolsista.

17 de março de 2019 às 11:00
As aplicações de streaming conquistaram a China com vídeos curtos de adolescentes a dançar e a fazer brincadeiras estranhas. Agora, os operadores estão a usá-las para prever o futuro dos preços dos cereais.

Por exemplo, um agricultor da zona rural no nordeste do país usa o seu telefone para filmar caminhões em fila, prontos para carregar montes de milho dourado. A cerca de 3.200 quilómetros de distância, no seu escritório em Shenzhen, Honda Wei observa atentamente, examinando os comentários entusiasmados do produtor e as imagens dos campos à procura de pistas sobre a oferta e a procura.
 
"Isso dá-nos informações intuitivas sobre os mercados", disse Wei, de 33 anos, sobre a sua experiência na aplicação Kuaishou, uma plataforma de vídeos curtos financiada pela gigante da tecnologia Tencent Holdings. "Os traders estão à procura de correlações entre o sentimento dos agricultores e a flutuação dos preços futuros."

Com mais de 700 milhões de utilizadores combinados, as aplicações Kuaishou e Douyin, da Bytedance, oferecem uma enorme fonte potencial de informações no pouco transparente mercado chinês, onde os dados do governo nem sempre são os mais confiáveis ou eficientes. Recorrendo também a redes sociais, como a Weibo, os traders recolhem informações sobre plantações de safras, colheitas, reservas e vendas em tempo real, em vez de passarem horas a fazer pesquisas por telefone ou visitas presenciais, como era necessário antigamente.

Redes sociais

"A comunidade dos traders monitoriza os agricultores, que partilham o seu sentimento nas redes sociais", disse Zhang Yan, analista da Shanghai JC Intelligence, que acompanha utilizadores no Kuaishou.

Embora internacionalmente os operadores tenham usado o Twitter para rastrear oportunidades, reagindo a tudo, desde incêndios em refinarias e encalhamentos de navios até o sentimento do mercado acionista, isso não é uma opção na China, país onde a rede social com sede nos EUA está bloqueada.

Na sua avidez por dados, muitos operadores na China recorreram às aplicações de streaming, porque os agricultores começaram a filmar-se para estar em contato com outros e ajudar a melhorar a produtividade, gerir custos e maximizar os lucros. Mudanças no mercado interno de commodities contribuíram para esta tendência.

Em 2016, o país aboliu o seu programa de armazenamento de milho na região nordeste para deixar que o mercado definisse os preços. Em vez de comprar a produção, o governo agora concede subsídios aos agricultores para os incentivar a plantar. Os rendimentos na China são contidos pela restrição de variedades geneticamente modificadas e por limites às transferências de terras, o que contribui para a sensibilidade do mercado interno.

Os mistérios da produção e das reservas no principal comprador de "commodities" têm confundido operadores e analistas, agitando os mercados globais. O milho oscilou acentuadamente em novembro, quando o Departamento de Agricultura dos EUA revelou grandes mudanças nos números das reservas mundiais depois de a China ter ajustado as estatísticas da última década.

Isso tornou a disseminação e a coleta de informações nas redes sociais uma prática comum.

Em novembro, quando os preços de referência do milho na China atingiram o patamar mais alto em mais de três anos, traders com gigantes do setor - como Archer-Daniels-Midland, Cargill e Cofco - começaram a partilhar vídeos. Houve uma correlação entre os vídeos que mostravam os stocks dos agricultores e os movimentos reais dos preços, e isto bastou para estimular os operadores a instalar as aplicações. No mês passado, o contrato de futuros mais ativo da Dalian Commodity Exchange caiu 10% em relação ao pico e atingiu o ponto mais baixo desde julho.

Agricultores muito preocupados com a seca. Chuva nem vê-la


20 DE MARÇO DE 2019 - 07:12

A Comissão Permanente da Seca reúne-se esta quarta-feira para avaliar o problema, mas os agricultores dizem que não basta fazer balanços e que são precisas medidas urgentes a longo prazo para enfrentar o impacto das alterações climáticas.

Sem previsão de chuva até ao fim do mês e com as reservas de água em baixo, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) está preocupada com os efeitos na agricultura. Ouvido pela TSF, o presidente da CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, admite que a situação é muito complicada: "Estamos muito apreensivos. Vislumbra-se outra vez, infelizmente, um ano difícil. O país está outra vez a entrar num período de carência de água, não só nas barragens, mas também no solo."

Eduardo Oliveira e Sousa explica que o tempo seco e a falta de água estão a comprometer as culturas em todo o país, principalmente as plantas para a alimentação animal e as culturas de inverno, como o trigo e a cevada, mas também a campanha de primavera/ verão no que diz respeito a frutas, vinhas e culturas regadas, como o milho ou tomate.

Ouça a peça da jornalista Maria Miguel Cabo
O presidente da CAP lamenta que o problema se repita quase todos os anos e considera que é preciso encarar as alterações climáticas com um plano a longo prazo: "Há medidas que têm de ser estudadas para enfrentarmos estas alterações como sendo um padrão novo da meteorologia no nosso território, que vai obrigar a mudanças de culturas e calendários, para que o futuro não seja sempre esta agonia: 'Como é que vai ser o este ano? Vai ser bom? Vai ser mau?'", nota Eduardo Oliveira e Sousa.

A Confederação considera ainda que o Plano Nacional de Regadios, criado pelo Governo no ano passado, é insuficiente e sugere, por exemplo, a criação de instrumentos financeiros de ajuda e estudos aprofundados sobre o impacto da seca e a adoção de novas culturas.

A Comissão Permanente da Seca, que envolve diversos ministérios, vai reunir-se, esta quarta-feira, no Ministério da Agricultura. As previsões apontam para um abril seco e com pouca chuva.

Costa defende equilíbrio entre capacidade de produção e preservação do território


O primeiro-ministro, António Costa, considerou hoje que a agricultura intensiva nas zonas de Odemira e Aljezur é "um bom exemplo" do equilíbrio necessário entre a valorização da capacidade de produção e a preservação do território.


Lusa
19 Março 2019 — 19:09

A quetsão da agricultura intensiva foi levado ao debate quinzenal, que decorreu esta tarde na Assembleia da República, em Lisboa, pelo deputado único do PAN.

André Silva falou num "processo de destruição em curso do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina", provocado por um modelo agrícola que "recorre à utilização massiva de fertilizantes químicos e pesticidas", cujos "impactos na água, ar, solo e na biodiversidade são avassaladores".

"A zona de Odemira e de Aljezur é já conhecida como a Almería do Alentejo, tal é a quantidade de plástico das estufas que cobre esta região", notou o parlamentar, salientando que "o descontrolo é a norma", uma vez que "as autoridades não conseguem controlar a proliferação de estufas".

André Silva salientou que "a pressão na comunidade é crescente e os municípios não estão a conseguir dar respostas dignas à vaga de milhares de imigrantes", referindo a existência de "graves problemas no acesso aos cuidados médicos" e o facto de que "muitas pessoas vivem em condições desumanas e chocantes e sem que haja acompanhamento por parte das entidades competentes".

Apontando que "este é um problema nacional" e "um desafio ambiental e humanitário que carece de respostas por parte do Governo", o PAN propôs que o executivo "decrete uma moratória na instalação de novos abrigos e estufas nesta região até que se proceda ao aperfeiçoamento dos instrumentos de ordenamento e gestão ambiental e se garantam no território condições habitacionais e de infraestruturas de saúde e de ensino".

Em resposta, o primeiro-ministro considerou que este é "um bom exemplo" da necessidade de conjugar o "aumento da capacidade de produção nacional, da rentabilização e valorização" das capacidades de produção, com a "necessidade de preservar os equilíbrios sociais, ambientais, de ordenamento do território que a exploração intensiva do território" coloca.

É necessário "por um lado não desperdiçar o potencial de produção que o país tem, em segundo lugar assegurar a qualidade do ordenamento do território e preservar a qualidade ambiental, em terceiro lugar a proteção social de quem trabalha naquelas estufas, designadamente assegurando condições de habitação condigna e, finalmente, assegurar que aquele ecossistema produtivo é compatível com o conjunto de serviços sociais e equipamentos existentes no território, de forma a que haja um desenvolvimento harmonioso e não seja um desenvolvimento de uma destas vertentes, a vertente produtiva com sacrifício insuportável de todas as outras", referiu.

António Costa lembrou ainda que "foi constituído, em 2018, um grupo de trabalho sobre o rio Mira, para juntar as diferentes entidades da administração central com as da administração local por uma abordagem integrada aos desafios e oportunidades que se colocam no perímetro de rega".

Segundo o governante, "em dezembro foi apresentado o relatório final desse grupo de trabalho e, até ao final deste mês de março, serão tomadas as decisões para pôr em prática as conclusões do grupo de trabalho, tendo em vista responder à diversidade das necessidades".

Restrições de água no Alqueva travam novas plantações de olival


EDIA denuncia "utilização abusiva de recursos hídricos" e "sem a devida autorização". Crescem os riscos de culturas superintensivas num país com um clima cada vez mais quente e mais seco, alerta especialista


A gestão dos recursos hídricos na bacia do Guadiana e do Tejo conheceu, nas últimas semanas, uma alteração no paradigma que estava a ser seguido. Até então, a água era distribuída sem controlo rigoroso em Portugal e em Espanha. Cerca de sete mil agricultores beneficiam do sistema de regadio do Alqueva.

As restrições no acesso à água começaram em Fevereiro. A Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) está a notificar "todos os beneficiários e potenciais interessados" no fornecimento de água para rega "a título precário" (todos os agricultores que têm as suas explorações fora dos blocos de rega do empreendimento), que só serão aceites as propostas para a "instalação de culturas anuais", como é o caso das culturas de melão, trigo, feijão e batata. Ou seja, fica de fora a autorização de fornecimento de água a novas culturas permanentes que são de alto rendimento como o olival, amendoal, vinha e árvores de fruto.

Barragens vazias já obrigam a abastecimentos com auto-tanques no Alentejo

Foi para acautelar a garantia de água no futuro que a EDIA tomou esta decisão. O projecto do Alqueva tem área para regar 120 mil hectares, mas as plantações e o seu fornecimento continuavam a aumentar sem controlo. Qualquer interessado que pretenda investir em áreas localizadas fora das manchas de rega deverá sempre e previamente "obter autorização da EDIA".

Supremo espanhol anula plano
Em Espanha, o Supremo Tribunal, numa decisão tomada no passado dia 15 de Março, anulou "parcialmente" o Plano Hidrológico do Tejo, por "não cumprir os caudais mínimos" nos débitos transportados do Tejo para a barragem do rio Segura, calculados em cerca de 400 milhões de metros cúbicos anuais.

Na base deste modelo de regadio estão as culturas intensivas como acontece na bacia do Guadalquivir e na bacia do Guadiana, em território espanhol e português, onde os "olivais superintensivos são muito lucrativos", refere o presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), Filipe Duarte Santos, advertindo para o problema da salinização do solo. Na região espanhola da Extremadura, prossegue o investigador na área das alterações climáticas, "há imensa actividade agrícola que debita para o Alqueva muitos fertilizantes e os solos deixarão, no futuro, de ter a produção de agora".

A decisão tomada pela entidade gestora do sistema de rega do Alqueva vem reconhecer que existe, neste momento, "uma utilização abusiva de recursos hídricos" e "sem a devida autorização" fora dos blocos de rega.


A EDIA refere que o grau de optimização do sistema de rega atingiu uma dimensão (neste momento a taxa de adesão ao regadio atinge mais de 80% da área do empreendimento) que só era esperada "em fase mais madura da exploração das infra-estruturas" do projecto.


Filipe Duarte Santos defende uma "maior coordenação" entre Espanha e Portugal no que respeita aos recursos hídricos. Mas acima de tudo importa aferir em que medida a agricultura que "estamos a ter é compatível com a precipitação que temos" num contexto que exige uma "adaptação" a um clima que "é não só mais quente, mas também mais seco", frisa o presidente do CNADS.

As barragens erguidas nas bacias espanholas dos rios Tejo e Guadiana concentram no final do Inverno cerca de metade da sua capacidade máxima de armazenamento, enquanto na barragem do Alqueva, a sua reserva de água chega aos 80% da sua capacidade máxima, o que representa cerca de metade do volume que as 60 albufeiras públicas de norte a sul do país no final de Fevereiro.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Incêndios, abandono dos campos e cultivo intensivo provocaram a praga de javalis


Caçadores estão a recorrer a soluções mais drásticas como a "caça clandestina". Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo diz que prejuízos nas culturas já ultrapassam 1 milhão de euros pelo menos.

Carlos Dias 18 de Março de 2019, 7:00 Partilhar notícia

A acção do homem está a forçar os javalis a aproximarem-se dos espaços dominados pelo ser humano. Já vão à praia e frequentam a vizinhança das aldeias à procura de alimento que desapareceu dos seus habitats tradicionais.

As queixas e os protestos dos agricultores contra o aumento desmesurado das populações de javalis, multiplicam-se à medida que os estragos nas explorações agrícolas, sobretudo nas culturas de milho, se avolumam.  

A pressão que um número crescente de animais desta espécie cinegética causa no mundo rural, está a "empurrar" os agricultores para a aplicação de soluções "mais drásticas como o abate e a caça clandestina", adiantou ao PÚBLICO João Diniz, dirigente da Confederação Nacional de Agricultores (CNA).

O grande afluxo destes predadores para regiões longe do seu habitat tradicional deve-se, em primeiro lugar, às "consequências dos incêndios" que nos últimos anos flagelaram sobretudo a zona interior do centro e norte do país, "reduzindo substancialmente as áreas de alimento dos animais". Este constrangimento força a deslocação dos javalis para locais onde nunca foram observados, "junto a vilas e aldeias", assinala o dirigente da CNA.

Um levantamento feito durante uma semana pela Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), destaca que os estragos provocados pelos javalis, em 2018, em todo o território nacional, permitiu apurar que os prejuízos já ultrapassam 1 milhão de euros, em mais de 8000 hectares de cultura de milho.


Para além da destruição causada "em culturas, vinhas e pastagens", a Anpromis regista ainda a que se estendeu a "jardins e logradouros privados e públicos" e até áreas arrelvadas que foram "literalmente eliminados em poucas horas".

Situação de "descontrole"
A associação pede que as entidades governamentais actuem de forma "firme, célere e concertada", para debelar a actual situação de "descontrole que se vive em certas regiões do país, que penaliza muito seriamente os agricultores locais".

O aumento das populações desta espécie cinegética está igualmente associado ao abandono do interior do país. "Vejo cada vez menos gente nos campos ao mesmo tempo que aumentam as populações de javalis, raposas, texugos, saca-rabos, ginetas que atacam e aterrorizam os rebanhos de ovelhas" destaca José da Luz, dirigente da Associação de Agricultores do Campo Branco, que abrange os concelhos de Castro Verde, Mértola, Aljustrel e Ourique.

Perante ao aumento do número de javalis que algumas organizações admitem poder já ter ultrapassado os 100 mil animais, tem multiplicado a realização de montarias em todo o país. E a quantidade de exemplares abatidos surpreende os caçadores. Numa montaria realizada no Campo Branco foram mortos 25 animais, um número que José da Luz considera " muito elevado" comparando com abates anteriores e noutras montarias.

Em Arraiolos, numa montaria que decorreu recentemente, abateram-se 140 javalis, quando os seus organizadores não estavam à espera de metade. E no Ciborro, em Montemor-o-Novo,  foram abatidos cerca de 40 javalis, números "impressionantes que nunca estiveram nas contas de ninguém", adiantou ao PÚBLICO Jacinto Amaro, presidente da Federação Nacional de Caça (Fencaça).

A fuga deste tipo de predador em busca de alimento provocou a transumância da espécie das regiões de Trás-os-Montes, da zona centro e da Raia em direcção ao Ribatejo, Alto e Baixo Alentejo, fenómeno que explica "o aumento exponencial de animais" nestas regiões, esclarece Jacinto Amaro. Nos últimos dias tem sido relatada a presença de javalis nas praias do Portinho da Arrábida e dos Galapinhos, no concelho de Setúbal.

Não é a primeira vez que tal acontece. Em 2017, os banhistas foram surpreendidos pela presença deste predador em pleno areal das praias, banhando-se nas águas do oceano ou revolvendo a areia e os caixotes do lixo à procura de alimentos deixados pelas pessoas. Nos últimos quatro anos, foram abatidos, na serra da Arrábida, mais de 1600 javalis, por caçadores e moradores que viram as suas explorações agrícolas ameaçadas pelo excessivo número de animais. Mais de 2000 permanecerão no interior do parque natural.


"Estamos perante uma praga" refere Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA), salientando que o aumento no número de javalis está a ser exponenciado "pelo crescimento das áreas regadas" típicas do cultivo intensivo.

Nos campos de sequeiro "os bichos não se aguentam muito tempo". E o instinto leva-os a procurar territórios onde há água e comida como Francisco Palma constatou, há poucas semanas: "Quando ceifava uma seara de milho vi saírem para aí duas dezenas de javalis". O presidente da AABA salienta um outro pormenor que estará a potenciar o aumento e a concentração de javalis: sobretudo no Alentejo e nas zonas regadas por Alqueva, um número crescente de "zonas de caça foram ocupadas por culturas permanentes (olival, amendoal, vinha) e deixou de haver caça" potenciando desta forma o aumento da população de uma espécie cinegética. 

Com a nova agricultura regada "os javalis passaram a ter uma dieta alimentar melhorada o que lhes permite mais saúde e um aumento das crias. Enquanto há 20 anos uma fêmea alimentava duas crias, agora o seu número sobe para as seis ou sete. Qualquer seara de milho, trigo ou cevada, pode concentrar javalis dada a disponibilidade de alimento", realça Jacinto Amaro.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos ao Ministério da Agricultura e ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas mas até ao fecho da nossa edição não obtivemos resposta.

Açores e Madeira assinam texto sobre Política Agrícola Comum no pós-2020


AGÊNCIA LUSA / AÇORES / 19 MAR 2019 / 14:14 H.

 Açores e Madeira assinam texto sobre Política Agrícola Comum no pós-2020

Os Governos dos Açores e da Madeira assinarão "em breve" uma declaração conjunta com "propostas concretas para a reforma da Política Agrícola Comum (PAC)" no pós-2020, com o intuito de "responder aos desafios da agricultura nas Regiões Ultraperiféricas".

De acordo com uma nota enviada à imprensa pelo executivo açoriano, o texto será também assinado pelo executivo das Canárias e surgirá após "contactos estreitos e muito produtivos para articular e definir uma posição comum sobre a reforma da PAC, tanto mais que estão em causa matérias com implicações comuns nas três Regiões Ultraperiféricas (RUP)".

Os secretários regionais da Agricultura dos executivos dos Açores e da Madeira, João Ponte e Humberto Vasconcelos, estiveram hoje reunidos em Lisboa com o vice-conselheiro do setor primário do Governo das Canárias, Abel Morales, e todos pedem que a dotação orçamental do programa POSEI "se mantenha ao nível atual" e possa, inclusivamente, "ser ajustada para responder a desafios atuais e futuros das produções agrícolas nas RUP".

"Quando a Comissão Europeia prevê um corte de 3,9% nos fundos do POSEI não tem em consideração as especificidades das RUP. Diminuir o financiamento implicará reduzir as produções, com o perigo acrescido de promover o abandono das explorações, dada a dificuldade de os produtores alcançarem um nível de competitividade similar ao da agricultura continental", frisou o governante açoriano, citado em nota de imprensa do seu gabinete.

Quanto ao corte de 15% no segundo pilar da PAC, proposto pela Comissão Europeia, João Ponte diz que se trata de "algo preocupante", dada a importância deste financiamento para a implementação de medidas de caráter ambiental e de investimento, que contribuem para a melhoria da competitividade do setor e para a proteção do ambiente.

As RUP, precisou ainda, devem ter planos estratégicos próprios e distintos dos nacionais, que proporcionem programas de desenvolvimento rural específicos para as regiões, "contemplando um conjunto de medidas que vão ao encontro das reais necessidades e das suas especificidades".

Depois de um Sobreiro Assobiador, uma azinheira secular do Monte Barbeiro: a corrida à árvore europeia do ano


19.03.2019 às 18h40
 
A copa desta azinheira com mais de 150 anos estende-se por 487 metros quadrados e 23 metros de diâmetro

D.R.

A azinheira secular do Monte Barbeiro concorreu com 15 outras espécies de árvores da Europa à oitava edição do concurso Árvore Europeia do Ano, organizado pela Associação Europeia para a Parceria Ambiental. O vencedor do ano passado foi o Sobreiro Assobiador de águas de Mouro, em Palmela. O deste ano será revelado depois das 20 horas em Bruxelas


À sombra de uma azinheira dá sempre vontade de estar, sobretudo numa tarde quente de verão no coração do Alentejo. E sob a copa da "Azinheira Secular do Monte Barbeiro" o prazer é ainda maior. Debaixo dos seus ramos e folhas, que formam uma majestosa copa de 487 metros quadrados e 23 metros de diâmetro, "contempla-se a vastidão da planície envolvente e respira-se a sua tranquilidade", descrevem. E pelos seus braços longos e resilientes, a poucos metros do chão, dá vontade de ser criança e trepar.

Classificada como a Árvore Portuguesa do Ano, pelas suas "características invulgares", este 'Quercus Rotundifolia Lam' disputava esta terça-feira o prémio de Árvore Europeia de 2019 com 15 exemplares de diferentes espécies com as idades e formas mais variadas e erguidas nos locais mais diversos de 15 países europeus. A vencedora é a que tiver a melhor história para contar. E esta majestosa azinheira terá muitas ao longo dos seus mais de 150 anos.

Odemira já mal respira sob o plástico das estufas


A ocupação do concelho por culturas intensivas está a exercer pressão, não só sobre os recursos naturais, mas também sobre as infra-estruturas, incapazes de dar resposta a tantos migrantes.

Carlos Dias  17 de Março de 2019, 7:51

Passados que estão 30 anos do início da implantação do modelo agrícola projectado pelo empresário francês Thierry Roussel, o debate sobre o impacto ambiental e social das culturas em estufa, no concelho de Odemira, mantém-se. Movimentos cívicos, associações de defesa do ambiente, o cidadão comum e a autarquia persistem em manifestar publicamente a sua preocupação pelas consequências que são manifestas na preservação da biodiversidade no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (PNSACV) e na comunidade local. A pressão é crescente e o concelho não está a conseguir dar resposta à vaga de imigrantes, assim como receia as consequências deste modelo agrícola na água, ar, solo e biodiversidade.

Entre 1988 e 1994, Thierry Roussel cobriu de plástico 550 hectares para a produção em estufa de frutos vermelhos e de outras hortícolas, recorrendo à utilização maciça de fertilizantes químicos e pesticidas. O resultado final deste modelo agrícola, que foi apresentado como inovador e que prometia trazer trabalho e riqueza à população local, acabou por deixar um passivo ambiental que foi difícil de superar. Além disso, foram despedidos cerca de 600 trabalhadores quando a empresa faliu e ficou por cobrar uma dívida de milhões de euros ao erário público. O fantasma desta experiência agrícola, instalada no Perímetro de Rega do Mira (PRM), prevalece no presente, mas com outros protagonistas.

Nos dias de hoje, o receio de ver o concelho de Odemira transformado na Almería (zona espanhola de agricultura intensiva) do Alentejo permanece, como ficou patente na reunião da Assembleia Municipal (AM) extraordinária de Odemira, realizada no final do ano, para debater um ponto único na ordem de trabalhos: "Actividade agrícola na área do perímetro de rega do Mira e no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.


A acta desta reunião, recentemente aprovada e a que o PÚBLICO teve acesso, é um extenso repositório de preocupações quanto aos impactos que a ocupação do território de Odemira com base na produção em estufa causa no ambiente do PNSACV e na qualidade de vida das pessoas que ali residem.

O presidente da Câmara de Odemira, José Alberto Guerreiro (PS), começou o debate enumerando os constrangimentos que mais se acentuam na comunidade: "O território não tem capacidade para acompanhar as exigências da nova agricultura na oferta de habitação aos imigrantes, de infra-estruturas, de desenvolvimento social, de articulação cultural, de aumento populacional em tão curto espaço temporal."

ICNF não sabe qual a área ocupada por estufas e túneis no Sudoeste Alentejano
ICNF não sabe qual a área ocupada por estufas e túneis no Sudoeste Alentejano
E destacou que a situação pode descambar para o insustentável se os agricultores continuarem a pretender trazer para o território "mais pessoas" sem que sejam "criadas condições para que possam permanecer". Referindo-se aos problemas relacionados com a saúde, lembrou que o acesso aos cuidados médicos "já se torna difícil para a população residente". E, no actual quadro de dificuldades, o aumento no fluxo de migrantes "irá agudizar o problema", adverte o autarca, dando como exemplo o elevado número de "processos de aborto no Centro de Saúde de Odemira, maioritariamente de cidadãs migrantes".

A pressão sobre as infra-estruturas potenciada pela cada vez maior população migrante estende-se à educação. As escolas do concelho "não estão adaptadas para receber tantas crianças e jovens, com outras nacionalidades, línguas, culturas e currículos diferentes", sublinhou o autarca, realçando as "dificuldades de integração" de milhares de pessoas, o que coloca a nu um "claro problema social que urge resolver". No Plano Municipal para a Integração de Imigrantes no Município de Odemira reconhece-se um outro problema: "Pouco se conhece sobre a imigração a nível local. Sabemos que existe, mas não a conseguimos quantificar."

Na faixa do território de Odemira onde incidem as culturas intensivas em estufas, abrigos, estufins ou túneis elevados e ao ar livre, "já existem cerca de 16.000 habitantes", alertou José Alberto Guerreiro, preocupado com a pressão das empresas agrícolas para contratar mais imigrantes, superando "os limites actuais de residentes."

As preocupações expressas pelo presidente da Câmara de Odemira foram corroboradas por Francisco Lampreia, presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes que manifestou na AM a sua discordância em relação à posição da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA) por pretender alargar a área de produção "de 1600 hectares para 3600 hectares". Se vier a consumar-se um tal propósito, "aumentará quase para o triplo também a necessidade de mão-de-obra". As consequências do descontrolo populacional já se revelam em Milfontes, onde "é impossível encontrar habitações para alugar" porque as casas encontram-se "ocupadas por migrantes", em condições por vezes chocantes, e sem que haja "fiscalização por parte das entidades" competentes, critica o autarca.

Pressão sobre o ambiente
Também o Relatório do Grupo de Trabalho do Mira (GTM), constituído em Agosto de 2018, para avaliar a compatibilização da actividade agrícola no Perímetro de Rega do Mira com a biodiversidade, os recursos hídricos, a gestão do território e o ordenamento do PNSACV, revela o mesmo tipo de preocupações.

Plásticos das estufas e químicos cobrem o Sudoeste e não há nada que o impeça
Plásticos das estufas e químicos cobrem o Sudoeste e não há nada que o impeça
Essa avaliação conclui que ocupação actual, com todo o tipo de culturas cobertas no PRM, foi "estimada" em cerca de 1200 hectares, cerca de um terço face à potencial área de 30% daquele perímetro de rega que está destinada às culturas intensivas — 3600 hectares nos 12.000 que ocupa a zona agrícola do Mira.

Esta realidade, prossegue o relatório, "representa hoje a existência entre 6000 a 8000 trabalhadores agrícolas no concelho de Odemira", na sua esmagadora maioria imigrantes. Tomando em linha de conta a pretensão da AHSA, o GTM adverte para a necessidade de "estabilizar regras, que salvaguardem a compatibilização dos valores naturais com a actividade agrícola", frisando que os "efeitos territoriais e sociológicos não podem ser ignorados".

Colocando como eventual limiar teórico de 10 trabalhadores agrícolas por hectare, para assegurar a actividade agrícola em 3600 hectares de área coberta terão de ir para Odemira um total de 36.000 imigrantes, "número que manifestamente o território não comporta", conclui o relatório do GTM. 

Nuno Simões, presidente da AHSA, reagiu a estas chamadas de atenção, com uma pergunta: "Fará sentido limitar, directa ou indirectamente, o acesso de pessoas que venham para o território realizar trabalho, contribuir para o desenvolvimento e para a criação de riqueza, bem como para a qualidade de vida das pessoas que cá estão?". E comentando as conclusões do grupo de trabalho e o teor das intervenções críticas que iam sendo feitas no decorrer da assembleia municipal, o presidente da AHSA assumiu que os associados da organização a que preside, "não concordam com os limites que venham a ser impostos" à contratação de imigrantes, considerando que as entidades públicas "tinham de ser mais ambiciosas" na promoção e desenvolvimento das culturas baseadas dos frutos vermelhos (framboesas, mirtilos e amoras).

Referiu ainda que tinha consciência de que não se devia transformar o concelho de Odemira "numa Almería", mas também "não concorda que se restrinja a actividade agrícola numa zona onde existem os melhores valores agrícolas do mundo para a prática de culturas modernas".


Na resposta, o presidente da câmara disse que os representantes da AHSA se "contradizem" quando referem que não pretendem transformar o concelho numa "Almería" mas "solicitam o alargamento da área de ocupação da actividade agrícola."

Receios com a poluição
Outra das críticas feitas por José Alberto Guerreiro visava as preocupações da autarquia pela ausência de monitorização da água, do solo e do ar, conforme estabelece o Plano de Ordenamento do PNSACV. Valentina Calixto directora de departamento do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) reconheceu ter havido "um conjunto de obrigações que não foram cumpridas por parte de várias entidades, incluindo o ICNF". E acrescentou um outro dado: Não entendia o porquê "de ainda não se ter efectuado a cartografia necessária dos habitats e das espécies a salvaguardar quando esta deveria ter sido concluída há vinte e cinco anos". Relembrou ainda que os actuais produtores de culturas intensivas "estavam a fazer o que já tinha sido efectuado há muitos anos por Thierry Roussel", frisando que o ICNF constatou que a partir do ano de 2015 a "pressão da ocupação do território (no PNSACV) foi muito significativa".

O autarca de Odemira, em função do cenário descrito e do seu contacto diário como o modelo cultural que estava a ser questionado, disse ter "dúvidas" que aquele tipo de agricultura "fosse sustentável" no futuro, sublinhando que "a procura dos produtos variava muito". Daí que não concorde que no concelho de Odemira "venham a existir doze mil hectares de estufas" apesar de reconhecer que as condições do território são "as melhores do mundo" para a produção de berries (frutos vermelhos). Contudo, esta mais-valia não deveria implicar que fosse necessário "evacuar a população para se fazer apenas produção."


Empresa holandesa só emprega trabalhadores portugueses nas suas estufas em Odemira
Um estudo sobre os "Efeitos económicos da hortofruticultura no Perímetro de Rega do Mira", elaborado por João Confraria investigador do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, apresentado em 2017, refere que a produção em Odemira, com destaque para os pequenos frutos, ascendeu, em 2015, aos quase 100 milhões de euros. E que o efeito total, directo e indirecto, no Valor Acrescentado Bruto (VAB) nacional foi de 71 milhões de euros.

Com o esperado aumento das exportações, prevê-se que a produção hortofrutícola no PRM atinja, dentro de cinco anos, os cerca de 200 milhões de euros. No entanto, João Confraria reconhece que em Odemira "pode estar-se perante uma situação de incompatibilidade de objectivos" entre a política agrícola e a política ambiental, admitindo que o problema "não tem solução fácil."

Galinhas lavadas com cloro? Hormonas no gado? Não, obrigado, diz o Reino Unido


07.03.2019 às 23h46

 
PAULA BRONSTEIN/GETTY

Embaixador dos EUA no Reino Unido chama "museu da agricultura" aos métodos e padrões europeus na matéria
LUÍS M. FARIA
O embaixador dos EUA na capital britânica, Woody Johnson, voltou a defender os métodos agrícolas do seu país em relação aos da União Europeia e do Reino Unido. Perante a resistência a certas práticas americanas que tornam difícil consumir determinados produtos na Europa, Johnson insistiu, numa entrevista à BBC, que qualquer acordo comercial pós-Brexit entre os dois países tem de incluir as questões agrícolas.

Em causa estão práticas como a utilização de hormonas no gado e a lavagem de carcaças de galinha com produtos de cloro. O ex-ministro da Agricultura britânica, George Eustice (que se demitiu em protesto contra o curso que as negociações sobre o Brexit estão a tomar), explicou que, "se os americanos querem ter acesso privilegiado ao mercado britânico, têm de aprender a cumprir a lei britânica e os padrões britânicos. Ou então podem dizer adeus a qualquer acordo comercial e voltar para o fim da fila".

Devolvendo a Johnson as críticas sobre a incapacidade de adotar métodos modernos, o ex-ministro explicou que a agricultura norte-americana, em muitos aspetos, permanece retrógrada, e que as suas prioridades nem sempre correspondem às europeias.

"No tribunal da opinião pública, se a escolha é entre os interesses comerciais dos bancos ou o bem-estar das galinhas, as galinhas vencerão sempre", disse. Acrescentou que nos EUA "há uma resistência geral a reconhecer sequer a existência de sensibilidade nos animais das quintas, o que é extraordinário".

Pela sua parte, o embaixador garante que os agricultores do seu país se preocupam tanto com os animais como os seus congéneres no Reino Unido. Na semana passada, garantiu a superioridade da agricultura norte-americana no "Daily Telegraph", um dos maiores jornais britânicos.

"Nos Estamos Unidos, temos uma perspetiva mais ampla", justificou. "Não é sustentável que o mundo todo siga a abordagem 'museu da agricultura' da União Europeia. Temos de olhar para o futuro da agricultura, não para o passado". E sugeriu que a UE usava os seus padrões alegadamente mais exigentes com o objetivo real de criar barreiras aos produtos americanos.

O facto de ter acabado de se saber que o défice comercial americano atingiu o nível mais elevado dos últimos dez anos poderá enfraquecer a posição americana. Reduzir esse défice foi uma promessa central da campanha de Donald Trump. Se o efeito das guerras comerciais que o Presidente dos Estados Unidos lançou tem sido exatamente o oposto - ou, no mínimo, se Trump não conseguiu minorar esse efeito - a eficácia da estratégia parece ficar em causa. E, afinal, os agricultores são um dos principais blocos de apoiantes do atual Presidente.

terça-feira, 19 de março de 2019

Vários setores procuram especialistas

Calçado, têxteis, metalurgia, engenharias ou agricultura procuram colaboradores qualificados.

Organizações e empresas ficam a ganhar quando contratam mestres e pós-graduados, passando a dispor de técnicos e gestores melhor preparados profissionalmente. "Tendo em conta que uma grande maioria das empresas portuguesas (PME) ainda são geridas por quadros sem qualificação universitária, o recrutamento de um colaborador com níveis de formação superior tende a constituir um upgrade significativo", afirma Amândio da Fonseca, chairman do Grupo Egor, especialista em recrutamento, seleção, formação e muito mais, no mercado nacional.

As atividades que mais estão a apostar ou a procurar colaboradores mestres ou pós-graduados são os setores que, nos últimos anos, "ultrapassaram a crise" e, em muitos casos, se tornaram referências de desenvolvimento: calçado, têxteis, metalurgia, agricultura, sistemas de informação, retalho e não só. "São a demonstração clara de que a aposta na inovação se faz sobretudo através da qualificação das pessoas".

Maior fluidez

Por sua vez, Marisa Duarte, responsável da S&You, uma marca do Grupo Synergie Portugal, multinacional de recursos humanos, refere que, usualmente, ao contratar um profissional com determinado nível académico, "o encontro entre o know how técnico, académico, teórico e prático e as funções exigidas para determinada vaga não só será mais fácil como fluído". Ainda assim - acrescenta a coordenadora de Recrutamento Especializado da S&You - este tipo de conhecimento também poderá ser adquirido "através da experiência que não implica um nível de ensino superior mais avançado". "Contudo, considera-se o primeiro emprego e a especialização em determinadas matérias, cuja informação teórica continua a ser uma base de extrema importância no cumprimento de todos os processos e tarefas".

Sobre os setores de atividade que mais recrutam mestres ou pós-graduados, de forma transversal, indica as "engenharias que, pela sua especificidade, minuciosidade e pelo conhecimento singular de cada procedimento, exigem maior à vontade na matéria em conhecimento teórico por parte dos profissionais procurados".

Parlamento Europeu sem consenso sobre relações comerciais entre UE e EUA


O Parlamento Europeu rejeitou hoje uma recomendação que previa o início das negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos para futuras trocas comerciais, sob "certas condições", não havendo um consenso entre os eurodeputados sobre o assunto.

14 Março 2019 — 17:08

Em causa estava um relatório da comissão parlamentar de Comércio Internacional, que vincava que o início das conversações era "do interesse dos cidadãos e das empresas europeias" por permitir "atenuar as atuais tensões nas relações comerciais entre a UE e os EUA", mas que apenas equacionava um acordo comercial se os Estados Unidos aceitassem algumas exigências.

O documento foi rejeitado na sessão plenária, que decorreu em Estrasburgo, França, com 223 votos contra, 198 a favor e 37 abstenções, não permitindo uma posição do Parlamento Europeu sobre o assunto.

No relatório, os eurodeputados daquela comissão parlamentar exigiam que "os EUA levantassem as tarifas sobre alumínio e aço", bem como que houvesse "um processo de consulta abrangente à sociedade civil e uma avaliação de impacto de sustentabilidade".

Pediam também "mais clareza sobre as regras de origem" dos produtos, observando que a União Europeia (UE) "insiste em incluir tarifas de carros e automóveis nas negociações e em excluir a agricultura".

Os eurodeputados alertavam ainda que "as negociações seriam suspensas se os EUA decidirem aplicar outra tarifa".

Esta era uma posição relativa ao anteprojeto apresentado pela Comissão Europeia em meados de janeiro passado e que irá ser proposto aos Estados Unidos, ainda sem data definida.

O documento de Bruxelas visa a eliminação das tarifas aplicadas aos produtos industriais, sem contar com a área agrícola, e a redução das barreiras, no que toca ao cumprimento de requisitos técnicos, para trocas comerciais entre os dois continentes.

Sem o consenso de hoje, a assembleia europeia terá de debater uma nova posição.

Também o Conselho da UE (onde estão representados os Estados-membros) terá de se pronunciar.

A Comissão Europeia só poderá avançar nas negociações com os EUA depois destes passos.

No final de julho do ano passado, reunidos em Washington, os presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgaram uma série de medidas na agricultura, indústria e energia, para apaziguar o conflito comercial, mas os respetivos anúncios foram globalmente vagos.