sábado, 4 de agosto de 2018

Moeda de troca? UE mais do que triplica importações de soja dos EUA

É a primeira acção pública após o encontro de Jean-Claude Juncker com Donald Trump: a Comissão Europeia começou a publicar um relatório bi-mensal sobre as importações de soja, que aumentaram 283%.

Tiago Varzim Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt
01 de agosto de 2018 às 15:06

"A União Europeia pode importar mais soja dos EUA e isto está a acontecer no momento em que falamos", disse hoje o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. É assim que Bruxelas se aproxima de Washington, após o encontro da semana passada com o presidente dos EUA, Donald Trump. 

A Comissão Europeia publicou esta quarta-feira, 1 de Agosto, o primeiro relatório bi-mensal sobre a evolução das importações de soja norte-americana. De acordo com os dados publicados, as compras de soja norte-americana realizadas pelos Estados-membros aumentaram 283% num ano. Os dados referem-se a Julho deste ano em comparação homóloga.

Este aumento permitiu que os EUA passem agora a representar 37% das importações de soja da UE. Há um ano esse peso era de apenas 9%, segundo os dados de Bruxelas. Ainda assim, o Brasil continua a ser o principal parceiro da UE na soja. No total foram importadas 360 mil toneladas de soja nos primeiros sete meses do ano. 

"A UE precisa de soja na Europa como uma fonte de proteína para alimentar os nossos animais, incluindo galinhas, porcos e gado, assim como para a produção de leite", explica o comunicado, uma vez que é incapaz de a produzir em "quantidades suficientes". De acordo com Bruxelas, "os preços norte-americanos da soja são actualmente os mais competitivos do mercado e, por isso, a opção de alimentação mais atractiva para os importadores europeus e os seus utilizadores".

Esta é a primeira acção pública depois de ambos os lados do Atlântico terem assinado um compromisso de entrar em negociações comerciais. Assim, estes dados podem ser interpretados como uma "moeda de troca" para Trump, que já ameaçou impor tarifas sobre o sector automóvel europeu. 

Juncker argumenta que "esta é uma situação de 'win-win' [ganhos mútuos] para os cidadãos europeus e norte-americanos". Uma ideia também defendida pelo comissário europeu para a agricultura, Phil Hogan, que revelou que a UE expressou a sua "vontade" de importar mais soja dos EUA. "Os agricultores europeus e norte-americanos têm muito a ganhar ao trabalharem em conjunto", disse Hogan. 

Na semana passada, os dois líderes acordaram que a cooperação futura entre a UE e os EUA não passaria pela agricultura, mas houve um compromisso para aumentar o comércio de soja. Esta semana começaram os trabalhos do Executive Working Group, um grupo bilateral, que está a trabalhar nestas questões, ao qual este relatório foi entregue.

Avaliado impacto de programas de financiamento nos agricultores de São Tomé

São Tomé 28 jul (Lusa) - O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) inicia na segunda-feira um inquérito para determinar o impacto na vida dos agricultores são-tomenses de dois programas de financiamento, no valor de 30 milhões de dólares, indica a instituição.

28 Julho 2018 — 13:48

Em causa está o Programa de Apoio Participativo a Agricultura Familiar (PAPAFPA), iniciado em 2001 e terminado em 2013, orçado em pouco mais de 16,6 milhões de dólares (14,2 milhões de euros) e o Programa de Apoio a Produção da Agricultura Comercial (PAPAC), que termina em 2019, financiado em 12,8 milhões de dólares (10 milhões de euros).

"Nós vamos percorrer todas as comunidades para entrevistar todas as pessoas, saber quem mora lá e quais sãos as suas atividades", disse aos jornalistas Pauline Mauclet, inquiridora contratada pelo FIDA.

Os inquéritos têm duas fases, sendo que a primeira arranca na próxima segunda-feira e tem a duração de três semanas e a segunda começa em setembro com previsão para 45 dias. Abrangem pelo menos 4.500 famílias e 147 comunidades agrícolas do país.

"É importante saber qual foi o impacto, do ponto de vista económico e social na vida dos agricultores de um projeto dessa amplitude, porque os dois projetos juntos têm um orçamento de 30 milhões de dólares (25,7 milhões de euros)", sublinhou Pauline Mauclet.

A inquiridora do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola explicou que o resultado deste inquérito "vai determinar a implementação pelo FIDA de projetos futuros em São Tomé e Príncipe".

Desde 2001, o FIDA tem feito várias intervenções nas comunidades agrícolas de São Tomé e Príncipe, pretendendo a instituição saber se valeu a pena o financiamento que vem sendo aplicado a nível da agricultura no arquipélago.

O presidente do Federação são-tomense de Pequenos Agricultores (FENAPA), Cosme Cabeça, considerou, por seu lado, que este inquérito "é bastante importante" por abranger "tanto os agricultores envolvidos nestes dois projetos como os que ficaram de fora".

Proteção Civil engana-se em SMS de alerta e manda ligar para a Glassdrive

Número sugerido remetia para uma empresa de reparação de vidros. Lapso foi entretanto corrigido. 02.08.18PARTILHE 587 1 1 / 6 Proteção Civil Pedro Noel da Luz 587 1 A autoridade Nacional da Proteção Civil enviou um alerta por mensagem a toda a população dos distritos de Faro e Beja devido ao risco máximo de incêndio nessas zonas. O SMS, por lapso, sugeria o número de telefone da Glassdrive, uma empresa de reparação de vidros a que as pessoas deveriam recorrer em caso de dúvida. "Risco extremo de incêndio rural nos distritos de Beja e Faro. Fique atento. Em caso de dúvida: 808246246 ou www.prociv.pt/ANPC", lê-se na mensagem. 

Tmax dia 2/8/2018

Os Verdes insistem na proibição de cultivo de transgénicos com projeto de lei

O Partido Ecologista os Verdes (PEV) volta à discussão da proibição do cultivo de organismos geneticamente modificados e apresentam um projeto de lei nesse sentido, realçando os riscos para a saúde e ambiente.

10 Julho 2018 — 17:20

Os Verdes consideram que "é de insistir na discussão de um projeto de lei que há já alguns anos o PEV traz à Assembleia da República, com o objetivo de se assumir a responsabilidade de impedir o cultivo de [Organismos Geneticamente Modificados] OGM em Portugal".

O projeto de lei entregue na Assembleia da República e hoje divulgado, pretende proibir o cultivo de OGM assim como a sua libertação deliberada no ambiente para qualquer fim.

A proibição proposta pelo PEV inclui a aquisição e a receção na exploração agrícola de sementes de variedades geneticamente modificadas, bem como as operações do processo de produção e armazenamento na exploração agrícola, e ainda a entrega, pelo agricultor, dos produtos vegetais produzidos nas instalações de comercialização ou transformação.

O diploma, assinado por Heloísa Apolónia e José Luís Ferreira, contempla uma exceção nas regras de proibição dirigida a ações controladas com fins de investigação científica ou medicinais.

No projeto de lei estão definidas coimas entre 10 mil e 300 mil euros, consoante o tipo de incumprimento e do incumpridor ser pessoas singular ou coletiva.

Para os ecologistas, a agricultura é um dos setores onde se pode promover a melhor compatibilização da atividade humana com a preservação ambiental, apostando, por exemplo, em práticas agrícolas menos intensivas, relocalizando a produção e aproximando-a dos consumidores, apoiando a agricultura familiar, incentivando a produção de alimentos mais saudáveis e com menos pesticidas ou "livrando o país de culturas transgénicas".

O PEV explica que as diferentes maiorias parlamentares assumiram sempre uma postura de "aceitação incondicional" da autorização europeia, referindo que não era possível proibir o que a União Europeia (UE) aceitara, argumento que este partido nunca aceitou, defendendo que Portugal devia seguir a opção tomada por países como Alemanha, Áustria, França ou Polónia.

Critica ainda a UE por não ter sido "respeitadora da vontade dos cidadãos quando determinou que a informação ao consumidor em geral, e as normas de rotulagem em particular, não teriam que se suportar num esclarecimento cabal sobre a presença de transgénicos nos alimentos" e preferiu "deixar a porta aberta à salvaguarda dos interesses das multinacionais do setor agroalimentar".

Os riscos que os transgénicos podem representar para a saúde e para o ambiente, "designadamente ao nível da perda de biodiversidade e de contaminações acidentais ou deliberadas, justificam a sua rejeição pela população" e mais de 70% dos cidadãos recusam consumir alimentos transgénicos e cerca de 95% não admitem prescindir do direito de poderem rejeitar este tipo de alimentos, acrescentam os Verdes.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Temperaturas já bateram recordes em oito estações meteorológicas


País em alerta máximo este fim-de-semana. Esperam-se dias quentes e com risco de incêndio elevado.

RITA MARQUES COSTA 2 de Agosto de 2018, 19:58 Partilhar notícia


Onze distritos do continente em alerta vermelho por causa do calor e dezenas de concelhos do Algarve e interior Norte e Centro de sobreaviso devido ao risco de incêndio. É o que nos reservam os próximos dias. Pelo menos até domingo. Esta quinta-feira já se bateram recordes de temperaturas em oito estações meteorológicas e Alvega, no distrito de Santarém, registou o valor mais alto de temperatura, 45,2ºC.

Na sexta-feira, as temperaturas mais elevadas são esperadas para os distritos de Évora e Castelo Branco. Entre os concelhos mais quentes estão Reguengos de Monsaraz (Évora) e Vila Velha de Ródão (Castelo Branco), onde os termómetros vão chegar aos 46 graus.

Quanto ao risco de incêndio para esta sexta-feira, o Algarve e Castelo Branco estão em alerta máximo. Durante a tarde de quinta-feira a Protecção Civil já estava no terreno a combater incêndios nestes distritos que mobilizaram várias centenas de bombeiros. Mesmo assim, a Protecção Civil algarvia disse que não vai activar o Plano Especial de Emergência para incêndios.


Região Centro preparada para aumentar resposta na área da Saúde por causa do calor

Durante o fim-de-semana não se prevê grande melhoria das condições e, em alguns locais, os termómetros podem chegar aos 48ºC. Os avisos motivados pela intensidade do calor mantêm-se pelo menos até sábado, às 21h, em Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Évora, Guarda, Lisboa, Portalegre, Santarém, Setúbal e Vila Real. Todos os outros permanecem sob alerta laranja, o segundo mais grave da escala.

domingo, 29 de julho de 2018

Portugal envia homens e aviões para combater fogos na Suécia


Suécia enfrenta vaga de incêndios

20 Julho 2018 às 14:16


Aviões portugueses de combate a incêndios viajam para a Suécia
Governo garante que país não fica desprotegido com ida de aviões para a Suécia

Portugal vai ajudar a Suécia a combater os graves incêndios florestais que atingem, nesta altura, aquele país do norte da Europa.

Vão ser enviados dois aviões médios anfíbios e um módulo de combate a incêndios com capacidade de análise de comportamento de fogo e reconhecimento e avaliação, num total de 31 elementos e quatro veículos.

O Ministério da Administração Interna anunciou esta sexta-feira que o Governo português, através da Autoridade Nacional de Proteção Civil, acaba de comunicar ao Mecanismo Europeu de Proteção Civil a sua disponibilidade para enviar meios humanos e terrestres para apoiar a Suécia no combate aos graves incêndios florestais que atingem, nesta altura, aquele país do norte da Europa.

Na passada segunda-feira, a Suécia acionou o Mecanismo Europeu de Proteção civil devido aos vários incêndios que continuam a assolar todo o país. A Suécia regista já milhares de hectares de áreas queimadas, principalmente nas regiões de Jämtland, Gävleborg e Dalarna, em particular graças às temperaturas recorde que se têm feito sentir.

Portugal depende do exterior para comer


22.07.2018 às 10h00


 
Economia nacional tem um dos maiores défices da balança alimentar da Europa. Entre 2007 e 2017 melhorou, mas pouco. Passou de -€3878 milhões para -€3460 milhões. Há produtos, como os cereais, a carne ou o arroz, em que jamais seremos autossuficientes, mas nem tudo é mau. No azeite 
a produção já ultrapassou as necessidades de consumo, tal como no vinho

Vítor Andrade
VÍTOR ANDRADE
Imagine que, de um dia para o outro, deixava de comer bacalhau. Uma provação difícil de acomodar psicológica e fisicamente, pois não seria nada fácil acostumar o estômago à falta daquele velho e fiel amigo. A verdade é que, bastava Portugal não comprar bacalhau, que é totalmente importado, para que o fiel da balança alimentar portuguesa oscilasse mais de €500 milhões a favor da balança comercial portuguesa.

Mas isso não irá acontecer pois nunca iremos abdicar da companhia do nosso velho amigo, seja com grão, à lagareiro ou à Gomes de Sá. Por outro lado, poderemos facilmente dispensar uma parte da produção nacional de vinho, azeite, leite ou tomate pois, nestes produtos, já estamos num patamar de autossuficiência que nos permite não só consumir à vontade o que é nacional como ainda sobram quantidades para vendermos a outros países.


Em tom jocoso, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, diz mesmo que "é uma maçada termos de gastar €700 milhões na compra de cereais, todos os anos mas, como vendemos lá para fora mais ou menos o mesmo em vinho, uma coisa acaba por equilibrar a outra".

Mas o equilíbrio é apenas parcial, pois, segundo dados apurados pelo Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP), do Ministério da Agricultura, entre 2007 e 2017 o défice da balança alimentar até melhorou, embora continue negativo: passou de €3878 milhões para €3460 milhões. De igual forma, o grau de autoaprovisionamento nacional evoluiu positivamente, mas não tanto como alguns analistas gostariam: de 82,8%, em 2007, para 85,9%, no ano passado (ver gráfico).

NÃO É FÁCIL REDUZIR A DEPENDÊNCIA ALIMENTAR
"Com a crise houve uma pequena melhoria, pois houve uma contração no consumo e comprámos menos ao exterior. Agora, porém, já estamos a consumir mais, outra vez", nota Eduardo Diniz, diretor do GPP. Ou seja, não é fácil reduzir o grau de dependência alimentar.

Aquele responsável sublinha mesmo que "o nosso défice alimentar é dos maiores da Europa". Mas como prémio de consolação, segundo o ministro da Agricultura, é que "não há nenhum país com 100% de autossuficiência alimentar. O que há é alguns países — como França, Espanha ou Hungria — com superavits na sua balança comercial". Sobretudo porque produzem mais do que ninguém em determinados bens, como cereais.

Aliás, a Europa, no seu todo, tem um saldo alimentar positivo de €11 mil milhões, o que significa que vende mais do que compra.

Agora, com a inevitabilidade estatística (ou fisiológica) de comer de três em três horas — num país que produz 'um pouco' de quase tudo mas que, na verdade, só é excedentário em azeite, vinho, leite e hortícolas — é quase impossível, mesmo sem querer, acabar a consumir produtos das mais variadas origens. É que, embora possa afetar a balança comercial, não deixa de ser positivo para os consumidores poderem optar — em quantidade e qualidade — de uma oferta mais alargada de produtos.

Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), considera que Portugal até está no bom caminho e que o sector até está a produzir mais, tanto para consumo interno como para as exportações, "mas os nossos padrões de consumo atuais não se adaptam à produção que temos. Na fileira agroflorestal até temos um balanço positivo, mas no sector agrícola, por si só, não acredito que alguma vez possamos vir a atingir o autoaprovisionamento total".

FALTA UM PACTO DE REGIME PARA O USO DA ÁGUA
O dirigente da CAP acredita, porém, que é possível crescer sobretudo ao nível das culturas de estufa, e em especial no segmento dos frutos vermelhos, onde Portugal está cada vez mais competitivo a nível europeu. Mas "há uma lacuna em termos de política agrícola: a gestão do recurso 'água'. Precisamos urgentemente de um pacto de regime, que envolva todos os partidos em matéria de captação, armazenamento e utilização da água na agricultura".

CPLP/Cimeira: Cabo Verde pede "forte articulação" sobre segurança alimentar e nutricional


O ministro da Agricultura e Ambiente cabo-verdiano, Gilberto Silva, disse hoje que deve continuar a existir uma "forte articulação" na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para resolver os problemas ao nível da segurança alimentar e nutricional.


Lusa
10 Julho 2018 — 13:44

"Os problemas alimentares e nutricionais de cada país terão que ser resolvidos a nível de cada país, com ação governativa em cada um dos países, mas a nível da CPLP o que existe e deve continuar a existir é uma forte articulação, uma cooperação, troca de experiência, partilha de conhecimento e de estratégias que permitem ao nível de cada país atacar os problemas existentes de segurança alimentar e nutricional", disse Gilberto Silva.

O ministro cabo-verdiano falava em conferência de imprensa, na cidade da Praia, para anunciar a segunda reunião ordinária do Conselho da Segurança Alimentar e Nutricional (CONSAN) da CPLP, que se realiza na próxima segunda-feira, dia 16, na ilha do Sal.

O CONSAN, que reúne todos os ministros responsáveis pela segurança alimentar e nutricional da CPLP, acontece antes e à margem da XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da comunidade, marcado para os dias 17 e 18 também na ilha cabo-verdiana do Sal.

A partir de quinta-feira começam as reuniões técnicas e preparatórias do encontro e será realizado um fórum sobre a soberania alimentar das organizações da sociedade civil e outro sobre o papel do setor privado no desenvolvimento da CPLP e uma reunião do grupo de trabalho sobre agricultura familiar.

Segundo o governante cabo-verdiano, a segurança alimentar e nutricional é uma "área transversal", com vários setores envolvidos, pelo que exige "abordagens específicas" em cada país e em cada região e, no caso de Cabo Verde, em cada ilha e concelho.

"A segurança alimentar e nutricional a nível da CPLP é um tema bastante caro, creio que a nível político e também das estratégias se desenvolveu bastante e a CPLP é uma comunidade que engloba países dos quatro cantos do mundo, por conseguinte, temos bastante que partilhar com as demais regiões do mundo em matéria de política e estratégia", referiu o ministro.

Gilberto Silva disse um dos resultados da reunião será um "melhor entendimento e consenso" entre todas as partes envolvidas nas questões atuais ligadas à segurança alimentar e nutricional.

O CONSAN vai reunir diversos atores em matéria de segurança alimentar e nutricional, como ministros, parlamentares, autoridades locais, organizações da sociedade civil, representantes do setor privado e pesquisadores/investigadores de todos os Estados-membros da CPLP.

O evento contará com a presença de várias personalidades, incluindo o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, o presidente do Comité Mundial de Segurança Alimentar e Nutricional das Nações Unidas, Mario Arvelo, e o presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina.

Após a reunião ordinária na ilha do Sal, em que será aprovada a "Declaração de Santa Maria", Cabo Verde vai assumir presidência do CONSAN-CPLP durante os próximos dois anos, período em que vai coordenar todas as atividades e reuniões sobre o setor na comunidade lusófona.

O CONSAN é um mecanismo de cooperação de CPLP que constitui uma plataforma de coordenação das políticas e dos programas desenvolvidos nas áreas de segurança alimentar e nutricional e tem por objetivo promover a inter-setorialidade das políticas e estratégias.

A CPLP já dispõe também de uma Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional (ESAN), que visa o combate à fome, malnutrição e pobreza bem como a concretização progressiva do direito humano à alimentação adequada nos Estados-membros.

Clima húmido não afecta quantidade das colheitas mas compromete sabor


O volume da generalidade das colheitas em 2018 é "bom", apesar do tempo instável registado nos últimos meses, mas a qualidade dos produtos pode ser afectada pela falta de sol, disse à Lusa a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

LUSA 23 de Julho de 2018, 15:44 Partilhar notícia


"As colheitas deste ano, em geral, são boas, embora haja nuances. Há produções permanentes (frutas) com volumes de colheitas bastante assinaláveis, acima do normal, o mesmo acontece com o azeite. Também há que diferenciar o azeite produzido no olival [tradicional] do 'óleo de azeitona', mais produzido no olival superintensivo, que gosta e precisa de água", disse o dirigente da CNA, João Dinis, em resposta à Lusa.

De acordo com o responsável, apesar do volume de colheitas registar "boas quantidades", as produções mediterrâneas a céu aberto, como frutas e hortícolas, "também precisam de muito sol, que tem faltado este ano".

Por isso, "a qualidade, mais entendida até como o bom sabor, não é a melhor e [há] ainda produções desta época que se atrasam na sua maturação, [precisamente] pela falta de sol".

A agricultura familiar também tem sofrido com o clima mais húmido, que proporciona "o crescimento exagerado de ervas", atrasando "o trabalho das máquinas na colheita" e, consequentemente, aumentando os custos de produção.

Por sua vez, a vinha "apresenta-se com boas perspectivas", embora necessite de muitos tratamentos contra, por exemplo, pragas e doenças, "o que faz aumentar os custos de produção".

"Há culturas permanentes - para além da floresta - que sofreram bastante com os incêndios florestais. Arderam olivais, pomares, vinha e também apicultura e pecuária no geral, o que implica a redução destas produções nas regiões onde passaram os piores incêndios e que também provocaram perda de rendimentos", frisou.

Para João Dinis da CNA, o escoamento destes bens agro-alimentares continua a ser influenciado pela "'ditadura' comercial dos hipermercados, ficando o pequeno e médio produtor de base familiar sem acesso às prateleiras".

Municípios têm de incorporar orientações regionais para a floresta até 2020


O ministro da Agricultura vincou que as novas regras terão de ser transpostas para os PDM "por forma a que se passe a suceder aos espaços florestais aquilo que acontece nos espaços urbanos".

Municípios têm de incorporar orientações regionais para a floresta até 2020

14 de julho de 2018 às 21:36

Os municípios vão ter de incorporar as novas orientações para os Programas Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) até ao final de 2020, afirmou no sábado o ministro da Agricultura,Capoulas Santos.

O Governo aprovou hoje este sábado uma resolução do Conselho de Ministros que define uma nova orientação estratégica para os programas regionais, com a criação de uma segunda geração de PROF, que se traduz na passagem de 21 programas regionais para sete (Trás-os-Montes e Alto Douro, Entre Douro e Minho, Centro Litoral, Centro Interior, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve).


Segundo o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, os municípios vão ter de integrar nos seus planos directores municipais (PDM) as novas orientações contidas nos programas regionais, "até 31 de Dezembro de 2020". Para o membro do executivo, esta medida é "uma peça fundamental na reforma da floresta", resultado de um trabalho que começou há dois anos, envolvendo consórcios com universidades e empresas. "São um instrumento fundamental, já que o pilar básico desta reforma da floresta que estamos a executar é o ordenamento - definir o mosaico desta nova floresta", sublinhou, referindo que os novos PROF estabelecem "uma projecção até 2050 sobre aquilo que deve ser" a floresta no território nacional.


As regras, vincou, serão transpostas para os PDM "por forma a que se passe a suceder aos espaços florestais aquilo que acontece nos espaços urbanos". "A floresta não pode ser caótica, onde cada um planta o que quer sem nenhuma preocupação de ordenamento", defendeu.


Dos sete programas regionais, cinco já estão concluídos e vão entrar em execução nos próximos dias, sendo que dois (Centro Litoral e Centro Interior) deverão estar concluídos dentro de dois meses, "uma vez que se pretende neles incluir as consequências da enorme devastação ocorrida" em 2017, explicou.


De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, a passagem de 21 programas regionais para sete deve-se à necessidade de "promover ganhos de eficiência na sua implementação e a redução da complexidade administrativa para todos os agentes nela envolvidos".


No Conselho de Ministros Extraordinário, que decorreu este sábado na Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra, foi também aprovada a revisão Programa Nacional da Política Ordenamento do Território (PNPOT) e a criação do Programa de Valorização do Interior.

Insegurança alimentar em Cabo Verde afeta 30 mil pessoas. FAO aliviada por impacto da seca ser menor do que o previsto

15.07.2018 às 19h19


José Garziano da Silva, diretor geral da Organização para a Alimentação e Agricultura, temeu que 150 a 200 mil pessoas viessem a ser afetadas pela grande seca de 2017 em Cabo Verde. O país foi incluído foi lista de emergência alimentar, medida que faz parte da nova estratégia "antes prevenir do que remediar" da FAO

O diretor geral da FAO, José Graziano da Silva, estimou, este domingo, em cerca de 30 mil as pessoas cuja segurança alimentar será afetada pela seca em Cabo Verde, manifestando-se satisfeito por as previsões iniciais não se terem concretizado. "Tínhamos uma projeção que entre 150 e 200 mil pessoas seriam afetadas na sua segurança alimentar, mas felizmente isso não ocorreu. Os números que temos hoje são muito menores. Estamos a fazer uma avaliação agora, mas diria que nem um quinto dessa população está sob ameaça. Estamos a falar aproximadamente 30 mil pessoas, que é uma ordem de magnitude que estamos acostumados a trabalhar na região do Sahel", disse José Graziano da Silva.

O diretor geral da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) falava aos jornalistas, na cidade da Praia, à margem de uma cerimónia em que foi condecorado com a Medalha de Mérito da República de Cabo Verde pelo chefe de Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca. Cabo Verde foi incluido pela FAO na lista de países que poderia vir a precisar de ajuda alimentar de emergência, devido aos efeitos da seca e do mau ano agrícola que assolou o país em 2017, medida que Graziano da Silva adiantou ter sido de prevenção.

"No ano da seca, apoiámos Cabo Verde com oito milhões de dólares, 16 vezes mais do que o que costumávamos investir, por causa da magnitude do facto. Não é uma seca qualquer, é uma seca que só tem precedentes em 1947. O facto de termos listado Cabo Verde nos países que poderiam precisar de ajuda alimentar é uma prevenção que a FAO faz habitualmente quando há fenómenos dessa magnitude, excecionais. É para prevenir a nossa comunidade internacional, os nossos doadores de que os recursos estão a ser alocados, mas que mais poderão ser necessários", explicou.

José Graziano da Silva sublinhou que a "nova normalidade" na região do Sahel revela um regime de chuvas torrenciais e concentradas em poucos dias, alertando igualmente para o potencial de destruição destas chuvas. "As previsões são totalmente incertas. Não temos como fazer previsões dada a alteração que está a acontecer no clima. A FAO tem trabalhado com a ideia de que é melhor prevenir que remediar e, por isso, continuamos a procurar os investimentos, os recursos para fazer o possível para que, na hora em que as chuvas torrenciais vierem, estejamos preparados para isso, inclusive para captar parte dessa água para ser utilizada para futuro", disse.

O responsável da FAO destacou também a importância do exemplo de Cabo Verde no trabalho da organização, considerando que se trata de "um laboratório onde se está a demonstrar que prevenir é melhor que remediar". José Graziano da Silva vai participar à margem da XII Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que terá lugar de 17 a 18 de julho na ilha do Sal, na reunião do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSAN) daquela organização.

No âmbito da deslocação à cimeira da CPLP, José Graziano da Silva cumpre este domingo uma agenda de contactos com as autoridades cabo-verdianas e de visitas na ilha de Santiago, seguindo ao final do dia para a ilha do Sal. Durante a manhã assinou com o Governo cabo-verdiano um acordo de cooperação para promover maior resistência de pastores e agricultores aos períodos de seca.

António Barreto sobre a reforma agrária: “1975 é o meu grande desapontamento histórico”


"A minha causa no Alentejo era a defesa da liberdade e da democracia no país", garante António Barreto sobre as razões que o levaram a enfrentar o modelo colectivista do PCP na reforma agrária. Defensor, à época, da distribuição de terras, assume que já então teve dúvidas sobre se havia "condições sociais e culturais" para o fazer.


É uma referência na política e na sociologia em Portugal, um ancião de 75 anos que até já foi olhado como possível candidato a Presidente da República — hipótese que matou no ovo, antes que fermentasse —, mas ainda hoje, mais de quatro décadas passadas, continua a ter o seu nome associado à alteração legislativa que preparou, a "Lei Barreto", com a qual pretendia reorientar a reforma agrária introduzida em Portugal pelo PCP, logo após o 25 de Abril.



"Dentro do meu percurso de juventude de esquerda, a reforma agrária era uma questão prioritária", confessa ao PÚBLICO António Barreto, que entre 1963 e 1970 foi militante do PCP. "Para mim, reforma agrária era a expropriação pelo Estado das terras e a sua distribuição por quem as trabalha, os camponeses, os seareiros", explica. E reconhece: "1975 é o meu grande desapontamento histórico."

O PCP "tinha tomado conta de 15% do país", lembra Barreto, sublinhando que "o que houve em Portugal foi tirar as terras aos proprietários e dá-las aos comunistas, que, em vez de distribuírem, ainda concentraram mais a propriedade constituindo unidades colectivas de produção (UCP) que juntavam várias herdades, num modelo do tipo dos kolkhozes soviéticos".

Afirma mesmo que o modelo seguido pelo PCP para a ocupação das terras "não respeitou a lei" de 1974. E aponta o modelo directamente seguido. "Esteve cá, a seguir ao 25 de Abril, um ex-ministro da Agricultura de Salvador Allende, no Chile, Jacques Chounchol, que deixou um documento em que dizia como se fazia a reforma agrária. Era o modelo que o PCP seguiu. E que transpôs para cinco documentos, os quais eram o guia para a reforma agrária", frisa.

Pela liberdade e democracia

As suas convicções profundas sobre reforma agrária colidiam assim com a realidade do que se passou em Portugal. Por isso, impôs a Mário Soares condições para aceitar ser ministro da Agricultura (ver páginas seguintes). Mas garante: "O que me moveu na minha acção como ministro foi estar a lutar pela democracia, a minha causa no Alentejo era a defesa da liberdade e da democracia no país." Daí que, perante os que manifestavam dúvidas, dizendo que "o Alentejo era comunista, eles tinham 45% dos votos na Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ZIRA) e 55% em Beja e Évora", Barreto respondia: "O que me interessa é o meu país e a liberdade e a democracia em Portugal."

Logo quando tentou alterar o caminho da reforma agrária, assume hoje, teve dúvidas sobre se conseguiria atingir os seus objectivos. "Pensei muitas vezes: 'Estou a devolver terras, quando a minha ideia há dois anos era fazer uma reforma agrária'", afirma. E admite: "Não nego que já na altura me perguntava: 'Será que há gente para fazer a distribuição de terras ou já é tarde?'" E sublinha: "Então já duvidava que houvesse pequenos agricultores, rendeiros e seareiros com fome de terra, suspeitei que não havia condições sociais e culturais para voltar atrás. Perguntei-me se ainda era possível, se o ter havido a revolução não era impeditivo de se distribuírem terras."

O interesse pela agricultura não lhe advinha só do ideário político de esquerda da época, mas também da sua experiência profissional. Licenciado em Economia Social, pela Universidade de Genebra, em 1967, ficou como assistente naquela instituição, onde em 1984 se doutorou em Sociologia com uma tese precisamente sobre "Reforma agrária em Portugal", de que resultou a obra Anatomia de Uma Revolução — A Reforma Agrária em Portugal 1974-1976.

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Em simultâneo, entre 1968 e 1974, é assistente do director-geral do Instituto de Pesquisas das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social (UNRISD). "Nesses anos trabalhei primeiro num projecto sobre cooperativas de crédito e desenvolvimento agrário na América Latina e, depois, num estudo sobre revolução verde, ou seja, a introdução de novas variedades híbridas — não era transgénicos — para potenciar a produção de cereais, um projecto que ajudou a combater a fome na Índia e na China. A minha função era viajar pela América Latina e África e garantir que os métodos de comparação eram idênticos."

Com essa "experiência de gabinete sobre agricultura de seis a sete anos", regressa a Portugal após o 25 de Abril, convencido de que "tinha de trabalhar na agricultura e na reforma agrária". Será, aliás, até 1982 investigador responsável no Gabinete de Estudos Rurais da Universidade Católica Portuguesa.

Adere ao PS ainda em 1974 e as circunstâncias político-partidárias levam-no a deputado eleito à Assembleia Constituinte e, depois, ao lugar de secretário de Estado do Comércio Externo no VI Governo provisório chefiado por Pinheiro de Azevedo. "Quando vou para secretário de Estado do Comércio Externo, é uma solução saída da Assembleia", admite. No I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, após a vitória do PS nas primeiras eleições legislativas, sobe a ministro do Comércio e Turismo (23/07/1976 a 25/03/1977) que acumulara temporariamente com a pasta da Agricultura e Pescas (05/11/1976 a 23/01/1978).

Cartelização acelerada

Durante mais de um ano procurou mudar a situação. Repôs a autoridade do Estado na ZIRA, libertou terras indevidamente ocupadas, mudou a lei (22/07/1977) e distribuiu ainda "15 propriedades", uma medida em que foi seguido por Sá Carneiro, líder do PSD, nos poucos meses que foi primeiro-ministro da Aliança Democrática, antes de morrer, que "distribuiu pouco mais de 20". E reconhece que "depois ninguém aplicou a lei, Sá Carneiro tentou, mas os governos da AD a seguir não. [Com a AD a Agricultura] teve três ministros — Álvaro Barreto, Basílio Horta e Cardoso e Cunha  — e [mudou-se] três vezes a lei e, cada vez mais, no sentido de uma agricultura com base na propriedade privada."

Hoje, olha para trás e recusa-se a considerar que a reforma agrária, apesar do seu modelo e dos excessos que combateu, não é responsável pela crise e quase morte da agricultura portuguesa após a adesão à Comunidade Económica Europeia.



O Alentejo não tinha condições para cultura de cereais. Tem para montado e para regadio com o Alqueva. A crise agrícola no Alentejo vinha dos anos 60, perdurou 30 anos. Hoje estamos num período de rejuvenescimento da agricultura em Portugal com um modelo completamente diferente", argumenta Barreto. Entende que a reforma agrária baseada em UCP e dirigida pelo PCP apenas reproduziu o modelo de agricultura adoptado pelo Estado Novo, esse, sim, o responsável pelo erro de modelo agrícola.

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"A produção de cereais era fomentada e subsidiada pelo Estado salazarista. Os preços no Estado Novo para o vinho e os cereais eram tabelados pelo Estado e a política usada penalizava os mais pobres, mas quem produzia mais ficava mais rico, porque tinha mais lucro com o preço tabelado", sublinha. E conclui: "Aquele modelo morreria de qualquer maneira, mesmo sem reforma agrária."

Mas há uma herança que atribui à reforma agrária: a da aceleração da cartelização do aparelho de Estado, ou seja, a colocação de militantes partidários no aparelho de Estado e na administração pública. "A cartelização acontece em todo o país, mas no Alentejo é mais rápido. Em Janeiro de 1975, com a criação dos centros regionais da Reforma Agrária, que tinha sede em Lisboa, mas existia nos distritos e nos concelhos, os lugares são preenchidos com funcionários políticos do PCP. Criam um ministério paralelo. Mas o sistema foi extensível à Segurança Social, ao Crédito Agrícola de Emergência, aos bancos, então nacionalizados. A esmagadora maioria eram militantes que eram transferidos dentro do Estado ou entravam na função pública. Foi uma organização minuciosamente montada."

“É uma lei farfalhuda” e, “sobretudo, não acaba com os comunistas”


Barreto foi ministro da Agricultura pouco mais de um ano, mas repôs a autoridade do Estado no Sul no Alentejo. Ao PÚBLICO recorda as condições em que aceitou a pasta, a oposição à nova lei da reforma agrária de Almeida Santos, o apoio de Henrique de Barros e as relações com Soares.

 São José Almeida
SÃO JOSÉ ALMEIDA 18 de Julho de 2018, 6:04 Partilhar notícia


Em Maio de 1977, é aprovada em Conselho de Ministros a proposta de alterações à legislação regulamentar da reforma agrária que ficou para a História como "Lei Barreto" e que foi votada pela Assembleia da República, a 22 de Julho.

"No Conselho de Ministros em que a nova lei foi debatida fiz uma exposição de três horas, em que terminei a perguntar: 'Suponhamos, se isto for aplicado, como será o Alentejo daqui a 50 anos?'", conta António Barreto ao PÚBLICO.

Aberto o debate, o ministro da Justiça, "Almeida Santos, pediu a palavra para dizer: 'Estou completamente desiludido e desapontado; é uma lei farfalhuda, não segue a tradição legislativa, tem demasiada literatura e, sobretudo, não acaba com os comunistas'", revela Barreto. Recorda: "Imediatamente a seguir, Henrique de Barros pede a palavra para dizer que pensava que seria o primeiro a falar por ser ministro de Estado, pela idade e porque era o seu tema. E afirmou: 'Esta lei é tudo por que lutei durante 50 anos.' Almeida Santos ficou enfiado."

Tudo começara em Novembro de 1976, quando Barreto se viu empurrado para acumular a pasta da Agricultura e Pescas com a do Comércio e Turismo, que ocupava desde Julho desse ano e que deixaria em Março seguinte, por doença, para se dedicar em exclusivo à tarefa de repor a ordem e a autoridade no Alentejo, alterando o rumo da reforma agrária.

Vivia-se o I Governo Constitucional, liderado por Mário Soares, Lopes Cardoso continuava ministro da Agricultura, pasta que ocupara já no VI Governo provisório, chefiado por Pinheiro de Azevedo, mas "havia uma grande pressão contra o estado de coisas", explica Barreto.

A mudança deu-se em poucas horas. "A tensão entre Lopes Cardoso e Soares foi em crescendo e uma manhã somos convocados por Soares para um conselho de ministros urgente. Quando chegámos, ninguém sabia para que era, mas era evidente que só podia haver um problema. Até que percebemos que faltava o ministro da Agricultura. Soares anuncia que Lopes Cardoso se tinha demitido por falta de condições políticas e diz que é preciso uma solução imediata e que vai para o seu gabinete para receber e ouvir os ministros um por um", relata Barreto, que ficou na sala a ver seguir-se o desfile dos seus pares a caminho da conversa com o primeiro-ministro.

"O primeiro foi Henrique de Barros", ministro de Estado e catedrático de Agronomia especialista em agricultura, "depois foi o Jorge Campinos", ministro sem pasta, "o Firmino Miguel", ministro da Defesa. "Quando saíam, não comentavam nada. Não tinha sido chamado e percebi que ia sobrar para mim. Fui o último e o Soares disse-me: 'Já percebeu que o quero a si.' Eu digo que sim, mas que me desse duas horas para eu ver em que condições podia aceitar", lembra.

O primeiro-ministro aceita dar o prazo pedido por Barreto que se põe em campo. "Fui almoçar à York House, onde na altura vivia, e fiz dois telefonemas. Um a António Campos, um socialista que era um homem da agricultura e que se opunha ao Lopes Cardoso, sendo defensor da pequena propriedade agrícola. Ele diz-me: 'Conte comigo'", recorda. E prossegue: "Liguei ao Carlos Portas, irmão de Nuno Portas, catedrático de Agronomia que eu tinha conhecido através de Eanes, quando este preparava a sua candidatura a Presidente e nos convidou para um almoço no Escorial para nos ouvir falar do sector. Foi aí que, de Carlos Portas, pela primeira vez ouvi o que se podia ou não fazer no Alentejo. A resposta dele ao meu telefonema foi de que me apoiava."

"[À hora combinada,] às três da tarde, fui ter com o Soares e levava um pequeno papelinho com as minhas condições. Disse-lhe que queria uma nova lei da reforma agrária, seguindo as ideias defendidas por Henrique de Barros, e que queria Carlos Portas e António Campos como secretários de Estado. Soares aceitou e até assinou o papelinho que eu levava com as condições, como garantia de que cumpriria."

ZIRA, "um Estado à parte"

Barreto vê-se assim, de repente, a ocupar a pasta para que de facto se tinha preparado e a abordar a matéria que o motivava política e pessoalmente. E mete mãos às tarefas com que se tinha comprometido, num momento em que a situação estava descontrolada no Alentejo e a autoridade do Estado não era exercida.

Essa situação de descontrolo vinha de trás. "No VI Governo, o PCP tinha só um ministro, Veiga de Oliveira [Equipamento Social e depois das Obras Públicas]. O PS e os independentes eram maioritários, Lopes Cardoso já era ministro da Agricultura, mas não conseguiu controlar a situação política e social [nos distritos abrangidos pela Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ZIRA) que incluía o Alentejo, o Norte do Algarve e o Sul de Castelo Branco, Santarém e Lisboa, que viviam] como um Estado à parte."

"Soares não queria mais ocupações e Lopes Cardoso tentou travar, mas tinha reserva moral em relação ao uso da força", afirma Barreto. Explicando "ele defendia um modelo para a agricultura que era ligeiramente diferente do colectivista; defendia que as terras, em vez de ocupadas, deviam ser expropriadas e distribuídas pelo Estado. Aliás, expropriou a Companhia Nacional das Lezírias".

Apesar de Lopes Cardoso discordar do modelo aplicado pelo PCP, "não fez nenhuma devolução de terras ocupadas ilegalmente, nem a devolução das áreas de reserva que a lei estabelecia que deviam ser devolvidas aos proprietários".

Além disso, "continuavam as ocupações, houve ocupações mesmo depois do 25 de Novembro". A situação era agravada em termos de impacto na economia, frisa Barreto, pelo facto de "estas serem feitas nas propriedades que atingiam mais pontos numa grelha de análise em que as benfeitorias — máquinas, pomares, etc. — valorizavam essa pontuação. Assim, eram as herdades mais modernizadas e mais rentáveis que eram ocupadas e não as abandonadas".

Outro problema "era o Crédito Agrícola de Emergência, que era uma forma de usar o dinheiro do Estado para pagar os ordenados aos trabalhadores, sem nenhuma fiscalização", diz. Adianta que "havia um sistema pago pelo Estado", em que as direcções das unidades colectivas de produção (UCP) "todas as semanas, numa folha, punham o nome dos trabalhadores e o pagamento e estes assinavam ou punham a impressão digital, iam com a folha ao banco e recebiam o dinheiro para os salários. Depois as delegações dos bancos mandavam para a sede em Lisboa e o Banco de Portugal pagava". Essa situação contribuía para que Lopes Cardoso estivesse sob pressão do ministro das Finanças, "Medina Carreira, e não apenas de Soares".

Havia ainda o problema da cortiça, que tinha implicações também na economia, nas finanças públicas e na autoridade do Estado. "Segundo a lei, o rendimento da cortiça devia ser distribuído em partes proporcionais entre o Estado, uma espécie de imposto, o antigo proprietário, os distribuidores, os transportadores e os trabalhadores", lembra Barreto. E denuncia: "Tinha havido acordos paralelos entre as UCP e os comerciantes e os industriais de cortiça. E a cortiça era transportada, sem guias, em rotas diferentes, pelo interior, e o seu transporte não era fiscalizado. Os industriais compravam mais barato e as UCP ficavam com o dinheiro."

Outra razão que tornava urgente a mudança da situação teve que ver com a ZIRA, na qual se vivia "uma economia à parte e não havia segurança pública exercida pelas forças de segurança como a GNR. Lopes Cardoso tinha de acabar com a ZIRA e não o fez", sustenta Barreto.

Repor a autoridade

Assim, como ministro, primeiro tinha de repor a autoridade do Estado na ZIRA, acabar com o Crédito Agrícola de Emergência, devolver as reservas previstas na lei aos antigos proprietários e devolver também as terras indevidamente ocupadas.

Reuniu-se com o ministro da Administração Interna, Costa Brás, e com o da Defesa, Firmino Miguel, e, claro, com o Presidente da República, Ramalho Eanes, que apoiou em absoluto as decisões do ministro da Agricultura, reconhece o próprio. Algumas reuniões envolveram também as chefias militares e as da GNR.

"O meu plano era fazer demonstração de força do Estado sem gestos violência e não podia morrer ninguém", assume Barreto. "Criou-se um sistema com a GNR e os Comandos, um sistema a que o PCP chamava 'aparato fascista', que envolveu 200 soldados da GNR. Ninguém sabia que não havia balas reais, só de borracha e de madeira. Só houve feridos ligeiros, apesar de o PCP empolar a questão e O Diário fazer primeiras páginas com feridos graves", conta, recordando uma solução gizada em acordo com Eanes e já por si revelada a Maria de Fátima Bonifácio na obra António Barreto. Política e Pensamento.

"Tive o apoio absoluto de Mário Soares em relação à reposição da autoridade do Estado. E em tudo, até ao momento da aprovação da lei; a partir daí, senti que Soares tinha receio de não ter entendimento à esquerda", diz o antigo ministro da Agricultura.

"A nova lei da reforma agrária foi aprovada pelo PS e pelo PSD, mas Sá Carneiro saiu da sala e não votou. Falei com ele no Parlamento. Ele disse-me que a lei era boa, mas não a votava para não ficar ao serviço do PS, não aceitava ser muleta do PS. E disse-me: 'Ou vou para o governo, ou não voto", revela Barreto. Observa que "Soares não queria um acordo político com o PSD, nem que este partido fosse para o governo e sabia que tinha de aprovar a seguir as Grandes Opções do Plano e o Orçamento do Estado e quis garantir o apoio do PCP".


É a essa razão que Barreto atribui o facto de "várias vezes" Soares lhe ter pedido "para abrandar o ritmo da intervenção". O ministro garante que nunca aceitou fazê-lo. "A duas ou três semanas da queda do Governo no Parlamento, ele pediu-me para negociar com o PCP. Eu disse que não podia, depois do que eles tinham dito sobre mim", conta, revelando que perante a insistência do primeiro-ministro recebeu uma delegação comunista no ministério. "No fundo o que exigiam era a negação das decisões e da estratégia aprovada, incluindo da lei. Recusei", sublinha.

E admite que a sua relação com Mário Soares ficou por muito tempo abalada. "Soares achava que eu estava feito com Eanes. Só voltámos a ter uma relação forte no MASP — Movimento de Apoio de Soares à Presidência em 1985."

"Tragam apenas fotografias e nunca plantas quando vão de férias"


24 DE JULHO DE 2018 - 08:30

Agricultura pede todo o cuidado a quem vai de férias para a Europa. Bactéria que já destruiu plantações em Itália, França e Espanha assusta agricultores e especialistas.

Nunca foi detetada em Portugal, mas assusta agricultores e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) que desde março analisa obrigatoriamente todas as plantações em Portugal de seis espécies como oliveiras e amendoeiras para despistar a bactéria xylella fastidiosa.

Com um plano de contingência ativo, Ana Paula Carvalho, responsável pela sanidade vegetal na DGAV, admite que estão preocupados pois os efeitos são devastadores nas culturas e a única forma de a travar é arrancando as plantações.

A primeira vez que a xylella foi detetada foi em Itália em 2013, podendo afetar mais de 300 espécies vegetais: oliveiras e amendoeiras, sobretudo, mas também árvores de fruto, espécies florestais e até ornamentais.

Desde 2013 já houve dois focos em França e sobretudo nas espanholas ilhas Baleares, bem como em Almeria e, mais recentemente, em abril deste ano, perto de Madrid, afetando sobretudo olival e culturas muito importantes em países como Portugal.

Com a progressiva aproximação do território português, Ana Paula Carvalho adianta que todo o cuidado é pouco pois os efeitos podem ser muito graves e faz um apelo aos turistas: "Tragam apenas fotografias e nunca plantas".

Ouça o resumo da conversa do jornalista Nuno Guedes com quem avalia a saúde das plantas em Portugal.
A especialista sublinha que tudo está controlado e é preciso serenidade, mas com tantas espécies vegetais afetadas por esta xylella fastidiosa é um risco trazer para território nacional qualquer planta, recordando que as ilhas Baleares estão todas declaradas como endémicas desta praga.

Se a bactéria chegar a Portugal a solução terá de ser destruir as plantas afetadas, bem como todas à volta num raio de 100 metros com fortes prejuízos para a agricultura, o ambiente e a paisagem.

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) também admite que a xylella fastidiosa preocupa e acrescenta que é fundamental que quem trabalha no campo perceba que não pode esconder das autoridades qualquer sinal que detete da doença: "É muito pior esconder do que atuar de imediato. A detecção precoce é fundamental para travar a bactéria", conclui Eduardo Oliveira e Sousa.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Produção de cereais

15.07.2018 às 20h00

Portugal está cada vez mais dependente de outros países para pôr pão na mesa. Há 100 anos que não se semeavam tão poucos cereais. O Governo e os agricultores querem inverter essa tendência e esta quinta-feira foi aprovada em Conselho de Ministros a Estratégia Nacional para os Cereais. Porém, com uma certeza: Portugal nunca será autossuficiente neste sector

Sempre que come um papo-seco (ou uma carcaça, consoante a zona do país) provavelmente está longe de imaginar que apenas 6% do que acabou de ingerir é produzido em Portugal.

Mas é exatamente esse o grau de autoaprovisionamento nacional para o trigo que serve de base ao fabrico do dito papo-seco. Curiosamente, nesta matéria, o país está pior que há 10 anos, quando a produção nacional de cereais garantia 14% do trigo panificável.
A boa notícia é que, para a produção de cereais em geral, Portugal apresenta um grau de autossuficiência da ordem dos 20,5%, embora abaixo do registado em 2007, que se situava nos 24,3%.

"Isto de viver num país que tem de andar a importar pão revolta-me profundamente, mas agora estamos a assistir a uma mudança de atitude perante o sector, o que acaba por ser um sinal de esperança", dizia há poucos dias ao Expresso Fernando Carpinteiro Albino, gestor da marca Cereais do Alentejo e, também ele, um dos resistentes nesta área de atividade, com uma sementeira da ordem dos 1000 hectares na zona de Elvas.

Ao falar de "esperança", Carpinteiro Albino referia-se à Estratégia Nacional para a Promoção da Produção Cerealífera, que o Governo e as associações do sector tinham acabado de publicar. O que o gestor alentejano não sabia era que este dia 12 de julho o documento seria aprovado em Conselho de Ministros.

Portugal nunca será um grande produtor de cereais
Mas foi isso que aconteceu e Capoulas Santos, ministro da Agricultura, mostra-se confiante na recuperação do sector. "Temos a perfeita noção de que Portugal nunca será um grande produtor de cereais e que jamais se aproximará das quantidades necessárias para o consumo próprio (o que significa estar dependente das importações) mas também sabemos que é possível fazer muito mais", sublinha o ministro.
Em comunicado emitido no final do Conselho de Ministros desta quinta-feira, pode ler-se que, "considerando o potencial da produção cerealífera em termos territoriais, prevê-se com esta Estratégia atingir, num horizonte de 5 anos, um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos".

No mesmo documento o Governo diz ainda que pretende, deste modo, "contribuir para um sector mais forte e mais eficiente, com maior capacidade de resistência à volatilidade dos mercados, com maior capacidade de oferta de um produto de elevada qualidade e mais adaptado às alterações climáticas".

PRODUÇÃO EM MÍNIMOS DE 100 ANOS
Portugal nunca foi autossuficiente em cereais, sempre teve de comprar a maioria do que consome para se alimentar. Como se isso não bastasse, há já cinco anos consecutivos que Portugal regista uma diminuição da área semeada de cereais, prevendo-se que na campanha em curso se atinja um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos — desde que existem registos sistemáticos, compilados pelo Instituto Nacional de Estatística.

No caso do trigo, como já foi dito, Portugal apenas produz 6% das suas necessidades anuais. A compra a terceiros é cada vez mais uma opção inevitável para conseguir alimentar o país.

A superfície cultivada com cereais ocupava, no final dos anos 80, cerca de 900 mil hectares, aproximadamente 10% do território nacional. Essa área tem vindo gradualmente a diminuir, a maior parte convertida em pastagens, sendo, em 2016, de 257 mil hectares. A produção também diminuiu, embora de modo menos pronunciado: de 1,65 milhões de toneladas para 1,1 milhões no mesmo período, segundo dados apurados pelas associações do sector.

HISTORICAMENTE DEPENDENTES DAS IMPORTAÇÕES
No documento da Estratégia Nacional para os Cereais, esta quinta-feira aprovada, pode ler-se que "Portugal é, historicamente, dependente da importação de cereais, mas, se os níveis de autoaprovisionamento eram de 60% em 1989, a diminuição da produção e o aumento das necessidades conduziram a um valor atual particularmente baixo (cerca de 20% em 2017), constituindo uma singularidade no contexto europeu e mundial".

Os produtores de cereais garantem que, apesar de tudo, existem elementos positivos a aproveitar e a potenciar como é o caso da capacidade de organização da produção, "com qualificações técnicas elevadas, dos vários aproveitamentos que podem ser dados aos cereais, da elevada qualidade sanitária da produção nacional, da existência de unidades industriais instaladas em Portugal com capacidade para escoar a produção e do investimento em tecnologias relacionadas com a agricultura de precisão".

PLANTAR CEREAIS COMO 'TAMPÃO' CONTRA INCÊNDIOS
Confiantes no seu desempenho, asseguram ainda que o setor está igualmente bem posicionado para contribuir para a manutenção da atividade agrícola em todo o território, "com evidentes benefícios ao nível do fomento do desenvolvimento económico, da paisagem e da promoção e preservação da biodiversidade, bem como para a preservação de áreas agrícolas regadas no seio de manchas florestais, criando zonas de descontinuidade que contrariem a progressão dos incêndios".
Outra área de oportunidade relaciona-se com a maior valorização, por parte do consumidor, da 'Origem Portugal', "observando-se uma tendência crescente da indústria, distribuição e consumidores por compras de proximidade e com rastreabilidade definida", notam ainda os produtores. E é neste contexto que surgem novos mercados de que são exemplos o milho pipoca, o milho para broa, o pão de cereais regionais ou os cereais com baixos teores em pesticidas.

OLIVAL 'ROUBA' 30 MIL HECTARES ÀS SEARAS
Por fim, segundo os agricultores, o Plano Nacional de Regadios, recentemente apresentado pelo Governo, acaba por ser um forte impulso e cria condições para a expansão da cultura de cereais.

Há que recordar, porém, que foi a água (de Alqueva) que acabou por ditar a sentença de morte de muita da produção cerealífera daquele que era conhecido como o 'celeiro de Portugal' — o Baixo Alentejo. Devido à disponibilidade do regadio de Alqueva, nos últimos dez anos a zona de Ferreira, Beja e Serpa viu 30 mil hectares de terra migrarem do cereal de sequeiro para o olival regado.
Portugal perdeu na produção de cereais mas acabou por ganhar, com esta transição, um nível de autossuficiência da ordem dos 104,1% (2017) no azeite, contra apenas 63,8%, há dez anos.

Empresas já podem produzir e vender vinagre de vinho do Porto

O Instituto do Vinhos do Douro e do Porto aprovou a nova categoria de produto reclamada pelo sector e já registou a marca colectiva, assegurando a análise quantitativa e qualitativa do produto e a aprovação dos rótulos.

António  Larguesa António Larguesa alarguesa@negocios.pt
24 de julho de 2018 às 11:50

Era uma exigência antiga dos comerciantes e produtores engarrafadores de vinho do Porto e acaba de ter luz verde oficial por parte do Estado. O Instituto do Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) anunciou esta terça-feira, 24 de Julho, ter efectuado o registo da marca colectiva "Vinagre de Vinho do Porto".

Tendo em conta "o potencial qualitativo do vinagre elaborado exclusivamente a partir de vinho do Porto" e após "vários meses de estudos, pesquisas de mercado e avaliação da metodologia a seguir", o instituto público decidiu avançar com este registo e oficializar a nova categoria de vinagre, que já era permitida noutras reputadas regiões demarcadas europeias, como Champanhe ou Jerez.

Quem quiser produzir e vender este produto deve firmar um protocolo com o IVDP, que alerta que o uso desta marca registada está sujeita às regras do Código da Propriedade Industrial. Incluindo a prévia certificação do vinho do Porto, a análise quantitativa e qualitativa do vinagre produzido ou a aprovação dos rótulos por parte deste organismo certificador e promotor das Denominações de Origem Porto e Douro e Indicação Geográfica Duriense, integrado no Ministério da Agricultura.

O Vinagre de Vinho do Porto surge do interesse do sector em apresentar um produto premium proveniente do vinho do Porto.
MANUEL CABRAL, PRESIDENTE DO IVDP

Citado numa nota de imprensa, o presidente do IVDP frisa que este vinagre de vinho do Porto "surge do interesse do sector, que aprovou a medida por unanimidade, em apresentar um roduto 'premium' proveniente do vinho do Porto", cuja produção total vai cair em 2018 após seis aumentos anuais consecutivos por decisão do chamado conselho interprofissional, que junta representantes da produção e do comércio.

Prestes a abandonar o cargo, que ocupa desde 2011, Manuel Cabral argumenta ainda que "a experimentação já desenvolvida e a procura de novos produtos de elevada qualidade, que possam acrescentar valor ao sector vitivinícola, fazem parte do posicionamento do IVDP que salvaguarda sempre a imagem de prestígio internacional de que beneficia a Denominação de Origem Protegida Porto". 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Procuram-se voluntários para testar contaminação por glifosato


Em Portugal é permitida a utilização do glifosato na agricultura


Zulay Costa
15 Julho 2018 às 14:37


A Plataforma Transgénicos Fora está a promover, até dia 21, a recolha de amostras de urina para testar o nível de contaminação por glifosato, um herbicida considerado potencialmente cancerígeno e utilizado em Portugal.

Análises realizadas em 2016, noutra ação daquela plataforma, revelaram "níveis de contaminação 20 vezes superiores à média de outros países da União Europeia (UE)", refere Margarida Silva, uma das coordenadoras do grupo.

As análises serão enviadas para um laboratório em Bremen, na Alemanha, e os resultados deverão ser conhecidos até final de setembro. Cada análise custa 73,20 euros, a que acrescem cinco euros para custos de envio. "É caro, mas a Plataforma não tem como suportar os custos", por isso, apela a que as pessoas façam um esforço ou se juntem em grupos, associações, bairros e comunidades, para suportar as despesas de mandar testar uma amostra de cada região. Para já estão inscritas 23 pessoas, mas a Plataforma Transgénicos Fora gostaria de chegar às 50, tocando todas as regiões do continente e arquipélagos.

A intenção é conseguir "um grupo alargado e o mais representativo possível do país, para termos uma espécie de mapa da contaminação em Portugal" e, dessa forma, a comprovarem-se elevados valores de contaminação, "exigir junto de autarquias e governo que o uso de glifosato seja drasticamente reduzido e progressivamente substituído por alternativas que não prejudiquem a saúde e o ambiente", explica Margarida Silva. Este será, diz, "o primeiro estudo científico sobre um problema invisível e silencioso de saúde pública".

Em 2016, a Plataforma Transgénicos Fora conseguiu reunir donativos para pagar as análises. Na ocasião foram analisados 26 voluntários (22 da região do Porto e quatro de Tomar). Os resultados acusaram uma contaminação 20 vezes superior à média de outros países da UE, mas não se encontraram explicações para os valores. "Ninguém sabe porque estamos tão contaminados, pode ser dos alimentos, da água ou outra coisa. Mas também não parece haver pressa e interesse em saber", estranha Margarida Silva.

Os interessados em participar devem preencher o formulário online. O resultado de cada análise será comunicado individualmente, juntamente com uma explicação e sugestões de descontaminação.

Pesticida para agricultura é legal

O glifosato é um pesticida que pode ser utilizado legalmente na agricultura e também para pulverizar passeios e arruamentos, se outras ações se revelarem infrutíferas para eliminar as ervas. Já foi, no entanto, proibido junto a escolas e outros espaços considerados sensíveis.

Em 2015 foi classificado como "carcinogéneo provável para o ser humano e carcinogéneo provado para animais de laboratório" pela International Agency for Research on Cancer, entidade que integra a Organização Mundial de Saúde. No entanto, há quem questione o estudo.

A discussão sobre o seu uso é longa. Em novembro de 2017, a licença do uso do glifosato foi renovada por mais cinco anos na União Europeia. Portugal absteve-se na discussão.

A Plataforma Transgénicos Fora e outros ambientalistas dizem que Portugal é o país europeu que mais utiliza glifosato. Um estudo realizado há poucos anos e publicado na revista académica "Science of the Total Environment" encontrou níveis elevados de glifosato em amostras de solos agrícolas em Portugal. 53% das 17 amostras tinham o herbicida, valores que ultrapassam largamente o segundo país mais contaminado (a França).

Os campos da morte

Maxwell Gomera | Edward Mabaya
15 de julho de 2018 às 14:00

Por todo o mundo em desenvolvimento, os agricultores estão a expandir áreas de cultivo numa busca interminável por solo fértil. Nesse processo, importantes habitats de vida selvagem estão a ser destruídos a um ritmo alarmante.


No passado dia 3 de Abril, o Reino Unido anunciou uma proibição de venda de marfim que se tornou "uma das mais rígidas do mundo". Ao restringir o comércio de marfim, o Reino Unido juntou-se a outros países – incluindo a China e os Estados Unidos – que recorrem a mecanismos de mercado dissuasores para desencorajar a caça furtiva e proteger uma espécie em vias de extinção. Tal como referiu o ministro britânico do Ambiente, Michael Gove, o objectivo é "proteger os elefantes para as gerações futuras".

Estes são, sem dúvida, gestos louváveis ao serviço de um objectivo nobre. Mas acabar com a venda de marfim, por si só, não irá reverter a diminuição nas populações de elefantes. Com efeito, a maior ameaça com que se deparam esta e muitas outras espécies reside numa actividade humana bastante mais comum: a agricultura.

Por todo o mundo em desenvolvimento, os agricultores estão a expandir áreas de cultivo numa busca interminável por solo fértil. Nesse processo, importantes habitats de vida selvagem estão a ser destruídos a um ritmo alarmante. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), se a actual tendência se mantiver, em 2050 o solo cultivável de todo o mundo terá aumentado em cerca de 70 milhões de hectares e grande parte das novas terras aráveis estará localizada em zonas que estão actualmente florestadas. O risco é maior na América do Sul e na África Subsaariana, onde o crescimento da população e a procura de alimentos afectarão mais intensamente as zonas de floresta tropical.

A pobreza está na raiz desta crise ecológica, mas as más práticas agrícolas perpetuam o ciclo da fome e da perda de habitats. Em África, por exemplo, o rendimento persistentemente baixo das culturas – muitas vezes correspondem a apenas 20% das médias globais – está relacionado com a fraca qualidade das sementes, a indisponibilidade de fertilizantes e a falta de irrigação. À medida que a saúde dos solos se vai deteriorando e a produção agrícola vai diminuindo, muitos agricultores não vêem outra alternativa a não ser procurar novos terrenos de cultivo.

Felizmente, existe uma forma de acabar com este ciclo vicioso. Estudos recentes revelam que a tecnologia e melhores práticas agrícolas podem aumentar a produtividade agrícola, ao mesmo tempo que reduzem a perda de habitats e protegem a vida selvagem. Esta abordagem, conhecida como "intensificação sustentável", visa impulsionar a produção das terras existentes recorrendo a técnicas como a gestão integrada de colheitas e o controlo avançado de pragas. Se aplicada amplamente, a intensificação sustentável pode até mesmo reduzir o a quantidade total de terras actualmente cultivadas.

Não se trata de um objectivo impossível. Nos últimos 25 anos, os agricultores de mais de 20 países de todo o mundo melhoraram a segurança alimentar, ao mesmo tempo que mantiveram ou aumentaram o coberto florestal. Segundo um estudo, entre 1965 e 2004 os agricultores dos países em desenvolvimento que plantaram sementes de elevada qualidade conseguiram reduzir os terrenos aráveis em perto de 30 milhões de hectares – uma área que é praticamente do tamanho de Itália. Estes ganhos poderiam ser ainda mais expressivos se os pequenos agricultores tivessem acesso a equipamento moderno, a uma melhor recolha e análise de dados, e a mais financiamento.

Os críticos argumentam que o aumento da produtividade das pequenas explorações agrícolas pode ser contraproducente, especialmente se isso incentivar os agricultores mais pobres a expandirem as suas áreas cultiváveis na esperança de aumentarem os lucros. Para evitar este cenário, as estratégias de intensificação devem fazer-se acompanhar por um sólido planeamento de conservação.

Ao mesmo tempo, contudo, não se pode simplesmente pedir aos agricultores dos países em desenvolvimento que deixem de usar os recursos não-agrícolas adjacentes aos seus terrenos. Muitas pessoas que vivem nas comunidades pobres dependem dos produtos florestais para terem combustível e materiais de construção, pelo que as políticas governamentais que proíbam o uso desses recursos sem oferecerem alternativas adequadas estarão provavelmente condenadas ao fracasso. Em vez disso, a abordagem ideal para a conservação nos países em desenvolvimento deverá associar o apoio agrícola e económico a limites rígidos à expansão das terras de cultivo.

Isso está longe de ser o que hoje acontece. Em todo o mundo, são investidos milhares de milhões de dólares anualmente na tentativa de resolução da degradação ambiental e da pobreza; muitos dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estão de algum modo relacionados com estas duas preocupações. E, ainda assim, a maioria dos programas destinados a lidarem com estes problemas operam isoladamente. Isto é um erro: as soluções para a insegurança alimentar e para a perda de habitats devem estar mais bem integradas se quisermos que estes problemas sejam resolvidos.

Ninguém duvida que medidas bem intencionadas como a proibição do comércio de marfim possam reduzir o impacto ecológico da actividade humana. Mas, neste momento, a agricultura – a actividade com mais responsabilidade nos danos ao bem-estar de muitas espécies – não está a conseguir atrair a devida atenção dos decisores políticos. Enquanto isso não mudar, é bem provável que as estratégias governamentais de protecção da vida selvagem "para as gerações futuras" não sejam suficientes.

Maxwell Gomera é director do Departamento de Biodiversidade e Ecossistemas no Programa do Ambiente das Nações Unidas. Edward Mabaya é investigador senior na Universidade de Cornell.

Municípios têm de incorporar orientações regionais para a floresta até 2020

"A floresta não pode ser caótica, onde cada um planta o que quer sem nenhuma preocupação de ordenamento", defendeu o ministro da agricultura. 


Os municípios vão ter de incorporar as novas orientações para os Programas Regionais de Ordenamento Florestal (PROF) até ao final de 2020, afirmou este sábado o ministro da Agricultura, Capoulas Santos. O Governo aprovou este sábado a resolução do Conselho de Ministros que define uma nova orientação estratégica para os programas regionais, com a criação de uma segunda geração de PROF, que se traduz na passagem de 21 programas regionais para sete (Trás-os-Montes e Alto Douro, Entre Douro e Minho, Centro Litoral, Centro Interior, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve). Segundo o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, os municípios vão ter de integrar nos seus planos diretores municipais (PDM) as novas orientações contidas nos programas regionais, "até 31 de dezembro de 2020". Para o membro do executivo, esta medida é "uma peça fundamental na reforma da floresta", resultado de um trabalho que começou há dois anos, envolvendo consórcios com universidades e empresas. "São um instrumento fundamental, já que o pilar básico desta reforma da floresta que estamos a executar é o ordenamento - definir o mosaico desta nova floresta", sublinhou, referindo que os novos PROF estabelecem "uma projeção até 2050 sobre aquilo que deve ser" a floresta no território nacional. As regras, vincou, serão transpostas para os PDM "por forma a que se passe a suceder aos espaços florestais aquilo que acontece nos espaços urbanos".

Municípios vão passar a ter regras sobre o que plantam e onde plantam


14 jul, 2018 - 09:22 • Isabel Pacheco

Um passo "gigantesco" para a reforma da floresta, considera o ministro da Agricultura.

 
Os municípios vão passar ter regras sobre o que plantam e onde plantam. São os planos regionais de reordenamento florestal, com regras em tudo semelhantes às do urbanismo, mas para a floresta. A medida deverá ser aprovada pelo Conselho de Ministros extraordinário dedicado à revitalização do interior e à reforma da Floresta, que decorre este sábado, na Pampilhosa da Serra.

O objetivo é "redesenhar" o mapa das florestas em Portugal. "Ninguém poderá plantar o que quer, onde quer. Naturalmente as decisões sobre esta matéria nunca ficarão ao arbítrio de cada município", afirma à Renascença o ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

Os planos regionais de reordenamento florestal são as "'macro-regras' que depois os municípios, no plano intermunicipal, vão aplicar. Vão determinar as regras de aplicação de cada espécie, onde deve ser plantada, quais as dimensões máximas, etc.", explica o ministro.

Um passo "gigantesco" para a reforma da floresta, sublinha Capoulas Santos, que terá de ser dado por todos os municípios até 2020. "Passaremos do desordenamento total ou quase total, que infelizmente existe há muitas décadas, para um ordenamento progressivo. O primeiro passo vai ser esta macro-orientação que o governo vai decidir. De seguida, até 31 dezembro de 2020, todos os municípios têm de ter integradas nos seus planos municipais regras consonantes com estas orientações".


Dos sete programas regionais de ordenamento florestal, cinco deverão entrar já em vigor - os restantes dois em outubro. "Foi necessário conceder mais algum tempo para a conclusão de dois deles, os da região centro litoral e centro interior, que ficarão concluídos depois da consulta pública, até ao final de setembro deste ano", explica o ministro da Agricultura.

A partir de outubro, ficam então definidas as regras, que os municípios deverão incorporar nos seus planos municipais. O prazo máximo que têm para o fazer é 31 de dezembro de 2020.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Agricultura: Presidente da CAP critica discurso redutor sobre uso da água

O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) criticou hoje o "discurso redutor" do ministro do Ambiente relativamente ao uso da água na agricultura e pediu ao ministro da Agricultura uma "política agrícola para a água".

17:02 - 10/07/18 POR LUSA
 
Eduardo Oliveira e Sousa falava durante o Dia de Campo InovMilho, na Estação Experimental António Teixeira, em Coruche, durante o qual foi inaugurado um Centro de Formação para produtores e técnicos e apresentada a Agenda de Inovação para as Culturas do Milho e Sorgo na presença do ministro da Agricultura, Capoulas Santos.

Realçando o facto de esta estação se encontrar no Vale do Sorraia, "no cerne do regadio", com elevado contributo para a economia do país e a fixação de populações, o presidente da CAP afirmou ter ouvido "com espanto" o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, afirmar que "se pretende diminuir os títulos de utilização, diminuir as suas autorizações, dando a entender que se está a usar água a mais".

"E sobre mais barragens? Nem pensar, governem-se com o que há. Foram as palavras que ouvi. Querem mais regadio? Reguem com menos água. Senhor ministro, este discurso redutor tem de ser contrariado, a começar pelo seu. O regadio, como aqui se vê, é a única forma de enfrentarmos as alterações climáticas e permanecermos nos campos", afirmou, dirigindo-se a Capoulas Santos.

O presidente da CAP referiu ainda que "já começaram os rumores, através do Ministério do Ambiente ou da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), de que o custo de utilização" de águas recicladas "será cobrado aos agricultores e que será até obrigatório o seu uso, caso ela seja uma alternativa mesmo que outra origem esteja disponível e a preço mais reduzido".

"Espero não ter ouvido bem. Mais não digo porque mais não sei", declarou.

Oliveira e Sousa pediu "ação" e que o Estado dê a conhecer a visão que tem para a água e a agricultura, quais as estratégias, por regiões e por culturas e para criação de mais reservas, considerando o plano nacional do regadio "curto".

"Precisamos de uma política agrícola interna, de uma política agrícola para a água, políticas que têm de vir de si", afirmou, dirigindo-se ao ministro da Agricultura.

Na resposta, Capoulas Santos comprometeu-se a "transmitir o recado" a Matos Fernandes e pediu que, a par da ambição de "desejar muito e mais", haja também o reconhecimento sobre o que tem sido feito.

Em concreto, apontou o financiamento adicional conseguido para o plano nacional de regadio, de 540 milhões de euros para projetos a concretizar até 2022, dos quais estão já aprovados 300 milhões de euros, em 95.000 hectares de regadio, "entre beneficiações e novos", com a criação de 10.000 postos de trabalho.

"Portanto, senhor presidente da CAP, estamos a fazer alguma coisa, certamente menos do que desejaríamos, mas não vislumbro qualquer outro momento da nossa história recente em que, em quatro anos, se tenham feito quase 100.000 hectares de regadio", afirmou.

"Nunca se executou tanta beneficiação de regadio e queremos ir mais longe", frisou, referindo as negociações em curso para o próximo quadro comunitário de apoio.

O InovMilho - Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo, foi criado em 2015, envolvendo 34 entidades parceiras comprometidas em implementar uma estratégia de desenvolvimento e inovação destas culturas, depois de em 2013 ter sido assinado o protocolo de revitalização da Estação Experimental António Teixeira, pela Anpromis (Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo) e o INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária).

O diretor do INIAV, Nuno Canada, afirmou que um dos objetivos da estratégia para o setor é aumentar o grau de autoaprovisonamento de cereais dos atuais 23% para 38% em cinco anos, sendo que, no milho, o objetivo é passar dos 35% para os 50%, reduzindo a dependência externa, criando valor na fileira e viabilizando a atividade agrícola em todo o território nacional.

Atrasos no pagamento do prémio para jovens agricultores devem-se a "imbróglio jurídico" - IFAP


O presidente do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP) defendeu hoje que os atrasos verificados no pagamento do prémio para os jovens agricultores, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural, se devem a um "imbróglio jurídico".

10 Julho 2018 — 18:50

"No PRODER [Programa de Desenvolvimento Rural em vigor até 2013] as regras e a burocracia levaram a um plano de ação específico [...] e foi criado um imbróglio jurídico, que levou a que a maioria dos jovens que chegavam ao fim dos processos, não os conseguissem concluir", disse Pedro Ribeiro, durante uma audição Parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar.

De acordo com o responsável, foi necessário retirar, no início deste ano, uma grelha específica para o prémio, que estava dependente do jovem agricultor cumprir ou não os investimentos a que se tinha proposto.

O jovem agricultor "não vai assumir compromissos de caráter económico que não estão na sua mão. Procedemos à alteração da portaria e tivemos de reformular o programa informático, o que levou a atrasos nos processos", explicou.

O presidente do conselho diretivo do IFAP disse ainda que, devido à complexidade dos processos, o instituto tem pedidos de pagamento do PRODER que já têm entre 300 e 500 dias.

"São processos burocráticos que demoram uma infinidade de tempo e que só não foram deitados ao chão, porque não seguimos os decretos e portarias [que definiam os prazos do processo]", concluiu.

Tempestade comercial atira índice agrícola para mínimo histórico

A escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, que atingem directamente muitas matérias-primas, está a penalizar este sector. O subíndice da Bloomberg para a agricultura está no nível mais baixo de sempre.

11 de julho de 2018 às 21:52

O anúncio, por parte dos EUA, de novas tarifas alfandegárias sobre produtos chineses que entrem no país – desta vez no equivalente a 200 mil milhões de dólares, valor que se junta aos primeiros 50 mil milhões anunciados em Junho – levou a que a China respondesse na mesma moeda.

Resultado: com muitas matérias-primas no meio desta guerra, alvo de tarifas comerciais de parte a parte, crescem os receios de que a procura dessas "commodities" diminua. É o caso do petróleo, que levou os preços do "ouro negro" a afundarem hoje nos principais mercados.

Em Londres, o Brent do Mar do Norte, que serve de referência às importações europeias, segue a cair 5,92% para 74,19 dólares por barril, depois de já ter estado a afundar mais de 7%. No mercado nova-iorquino, o "benchmark" West Texas Intermediate recua 4,32% para 70,91 dólares, tendo estado já a perder mais de 5%.

Mas, no reino das matérias-primas, além do subsector da energia também o dos produtos agrícolas está a ser fortemente penalizado. A China, por exemplo, impôs tarifas adicionais sobre o principal produto agrícola que os EUA exportam para aquele país: a soja. Já a Administração Trump decidiu taxar adicionalmente produtos como aço e alumínio.

Assim, o "castigo" de Trump está a fazer ricochete, uma vez que muitas "commodities" que os EUA exportam para Pequim estão a ser apanhadas nesta guerra. Hoje, os preços do trigo caíram perto de 4%, ao passo que os do algodão, café, soja e milho recuam cerca de 2% e mais.

Com esta guerra, o subíndice da Bloomberg para a agricultura atingiu, também hoje, um mínimo histórico, sendo um sector que os investidores vão continuar a acompanhar de perto – e para o qual não se esperam dias felizes num futuro próximo.

Portugal vai duplicar produção de cereais


12 DE JULHO DE 2018 - 09:31

Governo acertou com produtores estratégia para país ficar menos dependente dos cereais vindos do estrangeiro.


O Ministério da Agricultura leva, esta quinta-feira, a Conselho de Ministros uma estratégia para aumentar a autossuficiência portuguesa de cereais, quase duplicando a produção nacional nos próximos cinco anos.

Nas últimas décadas, o país tem perdido capacidade de produção de cereais, estando altamente dependente do estrangeiro, algo que preocupa o Governo e vários especialistas.

A estratégia que vai agora ser aprovada pelo Conselho de Ministros foi acertada no último ano em reuniões com os produtores, num grupo de trabalho.

Fonte do ministério adianta à TSF que a meta é levar os níveis de produção atuais, que apenas chegam para cobrir 23% dos cereais que os portugueses consomem, para 40% de autossuficiência em cinco anos, ou seja, até 2023.

Recorde-se que, em fevereiro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) avisou que Portugal devia ter, em 2018, pelo quinto ano consecutivo, uma diminuição de área cultivada de cereais, prevendo-se que seja mesmo a menor produção dos últimos 100 anos, ou seja, desde que existem registos históricos.

Em declarações à TSF, o ministro da Agricultura, Florestas e do Desenvolvimento, Luís Capoulas Santos, revelou que o Governo tem cerca de 20 medidas preparadas para aumentar a produção.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, entrevistado pelo jornalista Miguel Videira
"Existe um apoio que é um pagamento por hectare que é igual para todas as culturas e para todos os agricultores. Uma das medidas que estamos a equacionar é introduzir um pagamento direcionado para os cereais e adequar os custos energéticos da produção", exemplifica Capoulas Santos.

Há uma “epidemia escondida” na carne de frango em todo o mundo


JORNAL I
23/07/2018 19:10


De acordo com um estudo norte-americano, há uma "epidemia escondida" na carne de frango há várias décadas. Ao que tudo indica, este tipo de carne tem sido contagiada por suplementos antibióticos que perdem efeito na proteção de bactérias que infetam o organismo.

O estudo revela que a utilização de antibióticos em demasia na produção de carnes que se destinam ao consumo humano retira as propriedades para combater, de forma eficaz, as bactérias que se tornam "resistentes".

Quem lançou o alerta foi a jornalista norte-americana Maryn McKenna no seu livro intitulado "Plucked! The Truth About Chicken", que foi publicado há cerca de um ano, sendo que o livro resulta de uma investigação sobre a utilização de antibióticos na indústria agro-alimentar. O estudo diz respeito ao frango que é produzido nos Estados Unidos e no Reino Unido, mas ainda assim o alerta serve para todo o mundo.

No livro, a autora explica que as bactérias se tornam resistentes ao tratamento antibiótico e continuam a multiplicar-se dentro do organismo do ser humano que consome este tipo de carne.

Em algumas partes do livro, publicadas no jornal britânico The Guardian, pode ler-se que em 2017, "quase todos os animais, em muitas partes do globo, são criados com recurso a doses diárias de antibióticos, num total de 63.151 toneladas de antibióticos por ano".

Portanto, em consequência disso, o preço dos frangos diminuiu drasticamente, tornando-se no tipo de carne mais consumido nos Estados Unidos.

Segundo vários dados investigados pela jornalista, a resistência a antibióticos é responsável por cerca de 700.000 mortes todos os anos em todo o mundo, uma vez que cerca de 25.000 europeus, 23.000 norte-americanos e cerca de 63.000 bebés na Índia morrem, todos os anos, devido a esta mesma "epidemia escondida".

Além disso, a autora do livro refere ainda na sua publicação que a resistência a antibióticos causa inúmeras doenças, que até 2050 poderão custar à economia mundial cerca de 100 biliões de dólares.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Governo atualiza zonas de intervenção prioritárias para controlo de doença na vinha


O Governo atualizou a lista de freguesias que fazem parte das zonas de intervenção prioritárias (ZIP) para a proteção e erradicação da doença flavescência dourada, que afeta a vinha, segundo um despacho publicado hoje em Diário da República.


Lusa
16 Julho 2018 — 14:40

"Em resultado dos trabalhos de prospeção entretanto desenvolvidos em 2017, de acordo com o plano nacional para o controlo da doença, verificou-se a necessidade de atualização das listas, pelo que se impõe proceder à publicação de novo despacho com a listagem das freguesias que constituem as zonas de intervenção prioritária", lê-se no diploma.

Desta forma, as ZIP da Região Norte abrangem freguesias que fazem parte dos municípios de Melgaço, Monção, Valença, Amarante, Amares, Arcos de Valdevez, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Baixo, Celorico de Baixo, Esposende, Fafe, Felgueiras, Guimarães, Lousada, Maia, Mondim de Baixo, Paços de Ferreira, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Póvoa de Lanhoso, Ribeira da Pena e Santo Tirso.

Fazem ainda parte das ZIP da Região Norte freguesias dos municípios de Terras de Bouro, Valongo, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão, Via Verde, Vizela, Castelo de Paiva, Cinfães, Marco de Canaveses, Paredes, Penafiel, Vila Real, Santa Marta de Penaguião e São João da Pesqueira.

Por sua vez, fazem parte das ZIP da Região Centro freguesias dos municípios de Mealhada, Anadia e Cantanhede.

Da mesma forma, o Governo atualizou a listagem das freguesias onde foi detetada a presença do inseto 'Scaphoideus Titanus Ball', responsável pela flavescência dourada.

Na Região Norte, encontram-se freguesias dos concelhos de Alijó, Amarante, Amares, Armamar, Arcos de Valdevez, Arouca, Baião, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Baixo, Caminha, Castelo de Paiva, Celorico de Basto, Chaves, Cinfães, Esposende, Fafe, Felgueiras, Gondomar, Guimarães, Lamego, Lousada, Maia, Marco de Canavezes, Matosinhos, Melgaço, Mesão Frio, Monção, Mondim de Bastos, Murça, Oliveira de Azeméis, Paços de Ferreira, Paredes, Paredes de Coura, Penafiel, Peso da Régua, Ponte da Barca e Ponte de Lima.

Fazem igualmente parte da listagem, na Região Norte, freguesias dos concelhos de Póvoa de Lanhoso, Póvoa de Varzim, Resende, Ribeira de Pena, Sabrosa, Santo Tirso, Santa Maria de Penaguião, Terras de Bouro, Trofa, Valença, Vale de Cambra, Valongo, Viana do Castelo, Vieira do Minho, Vila do Conde, Vila Nova de Cerdeira, Vila Nova de Famalicão, Vila Real, Vila Verde e Vizela.

Na Região Centro, verificou-se a presença do inseto em causa em freguesias dos concelhos de Anadia, Cantanhede, Coimbra, Mangualde, Mealhada, Nelas, Pinhel, São Pedro do Sul, Tondela, Viseu e Vizela.

Já na Região Autónoma da Madeira, encontram-se freguesias dos concelhos de Machico, Porto Moniz, Santana e São Vicente.

De acordo com o despacho, as zonas definidas correspondem a "áreas do território nacional constituídas pelas freguesias onde são detetas cepas contaminadas com o fitoplasma de quarentena 'Flavescence dorée phytoplasma' e pelas respetivas freguesias limítrofes e não limítrofes que foram abrangidas pelo perímetro definido em informação obtida através do sistema de informação da Vinha e do Vinho".

A listagem completa das freguesias afetadas pela doença ou onde foi detetada a presença do inseto está disponível na página do Diário da República Eletrónico (DRE).