sábado, 12 de janeiro de 2019

Funcionários da CoolFarm responsabilizam investidor pela falência da “Startup do Ano”


10/1/2019, 21:07

Funcionários afirmam que a "única causa do descalabro da CoolFarm e do seu projeto é a gestão ruinosa do investidor e administrador único". Rui Leitão lembra que teve um prejuízo de 1,5 milhões.

A CoolFarm foi fundada em 2014 por Eduardo Esteves, João Igor, Liliana Marques e Gonçalo Cabrita

Os colaboradores da CoolFarm responsabilizam o investidor e administrador único da empresa, Rui Leitão, pela insolvência da startup de agricultura tecnológica. Num comunicado enviado ao Observador, os cofundadores Gonçalo Cabrita (que era presidente executivo) e Eduardo Esteves, juntamente com outros seis funcionários, alegam que a "única causa do descalabro da CoolFarm e do seu projeto é a gestão ruinosa do investidor e administrador único" e que a estratégia da empresa foi a "definida" por ele, visto que tinha poderes de "administração de todos os negócios e interesses da sociedade".

O investidor foi o impulsionador do in/store dentro da CoolFarm (…) e sempre assumiu abertamente que não acreditava no software enquanto produto comerciável só por si, tendo-o afirmado à frente de diversos clientes. O investidor alega que acredita que a empresa teria sido mais viável se tivesse ficado pela ideia inicial do software, ideia dos promotores. No entanto, foi o próprio que empurrou a empresa na direção do in/store, bem como na da parceria com a outra empresa da qual também é sócio, a MTEX Solutions", afirmam.

As declarações surgem em reação à investigação do Observador "CoolFarm. De Startup do Ano à falência com perto de 1 milhão de euros em dívidas", publicada a 30 de novembro de 2018, na qual Rui Leitão — que através da Farben Consulting financiou a empresa em cerca de 1,5 milhões de euros e detinha 98% do seu capital social — afirmava que a equipa lhe tinha apresentado "um software para produção de plantas em estufa em hidroponia como estando semi-acabado na altura e duraria um ano e pouco [a ser comercializado]. Não estava acabado e o projeto sofreu vários atrasos, mas a Farben continuou a investir porque acreditou que o projeto chegaria a bom porto".

Os funcionários contestam as declarações e afirmam que o contrato de investimento assinado com o investidor "continha um cronograma claro, que contemplava o desenvolvimento integral do software e as diversas fases do investimento podendo, por conseguinte, a Farben Consulting sustar o investimento sempre que verificasse qualquer incumprimento ou atraso. Apesar disto, o investidor foi introduzindo novos projetos", dizem.

Ao Observador, Rui Leitão diz que não quer "alimentar polémicas" sobre o encerramento da empresa, acrescentando que "todas as informações relativas à atividade da CoolFarm foram devida e atempadamente prestadas em sede própria".

Acreditei no projeto apresentado pelos fundadores, nos números e metas que estes definiram, e assumi o risco de investir. Investi (muito) mais do que o inicialmente acordado e, ainda assim, a CoolFarm não se tornou economicamente viável. Lamento que os fundadores não tenham tido a capacidade de cumprir o plano de negócios que me foi apresentado, o que representou para mim, investidor, um prejuízo de mais de 1,5 milhões de euros", disse em resposta ao Observador.

A CoolFarm foi fundada em 2014 por Eduardo Esteves, João Igor, Gonçalo Cabrita e Liliana Marques. A ideia era desenvolver uma app que conseguisse controlar plantas à distância, através de um toque no telemóvel, mas transformou-se num software para controlar estufas sem ser precisa a intervenção do utilizador. Este software ainda deu origem a outro produto, o in/store, uma solução chave na mão para produção agrícola em estrutura vertical. Nem um nem outro tiveram sucesso. Em 2017, a startup de Coimbra foi considerada "Startup do Ano" no evento Ativar Portugal, da Microsoft Portugal, mas fechou em 2018 falida e a dever 972.759,41 euros a 32 credores.

Na documentação entregue ao Tribunal da Comarca de Santarém, no decorrer do processo de insolvência, o administrador escrevia que a "primeira e única venda in/store, ao cliente Data Solta", da qual resultou um prejuízo de mais de 60 mil euros, tinha sido "um fiasco", que tinha ficado "claro que os custos estimados para a produção das máquinas não eram de todo realistas" e que "para dar resposta às necessidades que um produto como o in/store exigia a nível de recursos humanos" teve de recorrer ao outsourcing. "O resultado foi um processo muito mais demorado e complexo do que o esperado, com custos incomportáveis, tendo em conta a estratégia de preços".

Sobre esta decisão, os funcionários e promotores da CoolFarm alegam que quem "liderou as negociações" com a empresa Data Solta foi Rui Leitão e que a produção das máquinas ficou a cargo da MTEX, empresa da qual o investidor também era sócio. "Só perto do processo de insolvência é que o investidor permitiu que fossem pedidos orçamentos a uma outra empresa, em alternativa à sua comparticipada MTEX Solutions", escrevem no comunicado. Os funcionários também alegam que a gestão da equipa de vendas da CoolFarm também estava a cargo de Rui Leitão "por sua própria iniciativa".

Ao Observador, Rui Leitão também tinha contado que contratou uma empresa externa para visitar o laboratório, "porque começou a ver que havia ali qualquer coisa" e que foi aí que percebeu que o in/store não conseguia produzir a quantidade de plantas que lhe tinha sido apresentada pela equipa. Mas os funcionários negam:

O que sucedeu foi que houve outra empresa, do ramo da agricultura vertical que, em abril de 2018, se interessou pela compra da CoolFarm. Foi neste âmbito que teve acesso aos laboratórios, ao projeto in/store, ao software, às contas e aos projetos Portugal 2020. A empresa atuou apenas como possível comprador, não tendo sido contratada pelo investidor da CoolFarm para a realização de qualquer auditoria. Esta empresa acabou por decidir não comprar a CoolFarm, ao que se supõe por se ter apercebido de potenciais irregularidades na instrução dos projetos Portugal 2020″, lê-se no comunicado.

O Observador tem tentado contactar a empresa que tentou comprar a CoolFarm, mas sem sucesso. De recordar que o desfecho da startup se deveu à "inesperada redução" do incentivo europeu que a empresa "tinha a legítima expectativa de receber": em vez dos 402 mil euros que esperava, recebeu 18.923,40 euros. Ao Observador, o IAPMEI explicou que a redução do incentivo estava relacionada com a ausência de esclarecimentos sobre algumas das despesas que foram apresentadas pela CoolFarm para suportar o valor total do projeto.

"A empresa apresentou o pedido de saldo final com uma execução reportada de 100%, sendo que a aceitação de parte das despesas apresentadas está dependente de esclarecimentos a prestar pela empresa", respondeu fonte oficial. A 30 de outubro de 2018, o Tribunal Judicial da Comarca de Santarém declarou a CoolFarm insolvente e nomeou-lhe um administrador de insolvência para fazer face ao milhão de euros que acumulou em dívidas.

Agricultores alertam para problemas de água que poderão resolver-se noTejo


A Confederação dos Agricultores de Portugal alertou hoje para problemas de água nas regiões do Oeste, Ribatejo e Setúbal que poderiam resolver-se com o aproveitamento da do Tejo, mas o projeto ficou fora do Plano Nacional de Investimentos 2030.


Lusa
11 Janeiro 2019 — 17:07

"As regiões do Oeste, Ribatejo e Setúbal sofrem pela falta de acesso à água e isso constitui um problema", afirmou à agência Lusa Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

No Oeste, "a principal região produtora de frutas e hortícolas e um dos motores da exportação de produtos agrícolas", o problema é ainda mais "premente, porque a água que existe já não é suficiente e é preciso garantir no futuro a continuidade da agricultura".

Para a CAP, "é fundamental que o Governo olhe para estas regiões como sendo regiões a precisar de um projeto para garantir água à agricultura e pôr-se a engenharia a pensar no assunto e começar-se a ter decisões", passem elas pelo 'Projeto Tejo', que prevê o aproveitamento de água do Rio Tejo, ou por outras soluções.

O presidente da CAP mostrou-se "preocupado" por o Projeto Tejo, estimado em 4,5 mil milhões de euros, não estar incluído no Plano Nacional de Investimentos (PNI) 2030, que foi hoje enviado ao Parlamento, considerando que "era necessário que o projeto estivesse nas intenções de investimento desde já".

Fonte oficial do Ministério da Agricultura confirmou que o Projeto Tejo não está incluído no PNI2030, que destina 750 milhões de euros a projetos de regadio no país.

O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, em declarações à Lusa, explicou que "não existe um projeto, mas uma ideia visionária de um projeto", motivo pelo qual não o pode incluir nos investimentos a beneficiar dos próximos fundos comunitários "sem que seja estudado".

Por outro lado, teria de ser decidido por todo o Governo por ser, "provavelmente, o maior projeto público que o país alguma vez fez".

O governante admitiu que é "uma ideia positiva ao partir da sociedade civil, que revela grande apetência pelo investimento no regadio e uma forte crença no futuro da agricultura portuguesa".

Nesse sentido, o Ministério da Agricultura "está a avaliá-lo tecnicamente e a proceder a estudos que permitam saber, em primeiro lugar, se há água" [no futuro] face às alterações climáticas e ao acordo com Espanha na gestão da bacia do Tejo, e depois "ver se o projeto tem viabilidade e os custos/benefícios".

Os promotores do Projeto Tejo estão a trabalhar na constituição de uma associação para vir a juntar privados, organismos do Estado e municípios, a pensar numa futura "parceria público-privada" que possa assegurar o investimento para o projeto que, além de poder vir a vender água aos agricultores, tem a ambição de tornar o Tejo navegável para atrair os turistas que visitam Lisboa.

A EDP e empresas ligadas ao Tejo poderão vir a estar entre os "potenciais parceiros" do investimento.

O Projeto Tejo prevê regar com águas do rio Tejo 300 mil hectares de terrenos agrícolas, dos quais 240 mil no Ribatejo, 40 mil no Oeste 20 mil em Setúbal.

Aprovados "todos os projetos" de regadio financiados em 278ME pelo PDR - ministro


O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, revelou hoje que "todos os projetos" de regadio financiados pelo Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), num total de 58, estão aprovados, envolvendo "um financiamento de 278 milhões de euros".

Lusa
11 Janeiro 2019 — 22:07

Segundo o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, estes projetos integram o Programa Nacional de Regadios, que é financiado através de fundos comunitários, do PDR, e com recurso ao Banco Europeu de Investimento (BEI) e ao Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB).

"No que diz respeito à parte do PDR, neste momento, todos os projetos estão decididos", declarou Luís Capoulas Santos, que discursava em Viana do Alentejo, no distrito de Évora

A estes projetos de regadio, que são 58, para beneficiarem "uma área na ordem dos 43.600 hectares", corresponde "um financiamento de 278 milhões de euros", acrescentou.

A intervenção do ministro decorreu na sessão de lançamento do concurso para a construção do Bloco de Rega de Viana do Alentejo, integrado no Programa Nacional de Regadios e no âmbito do alargamento do empreendimento do Alqueva.

Na cerimónia, presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, o ministro da Agricultura precisou ainda que, dos 58 projetos de regadios aprovados, "quatro já estão concluídos, 19 estão em fase de projeto, um está em fase de avaliação de impacto ambiental, dois aguardam visto do Tribunal de Contas e outros 32 estão já em obra".

Quanto ao financiamento do Programa Nacional de Regadios através do BEI e do CEB, na ordem de "cerca de 280 milhões de euros", o Bloco de Rega de Viana do Alentejo foi "o quarto lançamento de um conjunto ainda indeterminado de projetos" previsto "lançar a muito curto prazo", disse.

Capoulas Santos referiu que o Programa Nacional de Regadios, que vai beneficiar 100 mil hectares distribuídos pelo país, envolve um investimento global de 560 milhões de euros, dos quais "222 milhões" destinados à área do Alqueva.

No Programa Nacional de Investimentos 2030 agora apresentado pelo Governo, destacou ainda o ministro, está "contemplada a segunda parte deste programa de regadios com uma dotação prevista de mais 750 milhões de euros".

O concurso do Bloco de Rega de Viana do Alentejo, hoje publicado em Diário da República, envolve um investimento de seis milhões de euros, devendo a empreitada estar concluída em 2021, segundo o Ministério da Agricultura.

Este novo bloco de rega vai beneficiar uma área de cerca de 4.600 hectares, sobretudo de grande propriedade, explicou o presidente da empresa gestora do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema, referindo que a obra poderá vir a ser consignada "em agosto" próximo.

O presidente da Câmara de Viana do Alentejo, Bernardino Bengalinha Pinto, congratulou-se, em declarações à agência Lusa, pelo avanço deste "investimento estruturante, que irá beneficiar os agricultores, mas também, transversalmente, toda a economia local".

O concelho, em termos agrícolas, é marcado atualmente pela "agricultura e pecuária extensivas", porque não existia água, referiu.

Por isso, quando o bloco de rega começar a funcionar, "os agricultores ficam mais tranquilos" e vai ser possível plantar novas culturas.

"Algumas até já estão implementadas", ainda que "com alguma escassez de água, mas depois esses investimentos ficam mais asseguradas", frisou.

Esta plataforma quer levar portugueses e turistas a pôr as mãos na terra


Como se criam caracoletas, cogumelos shitake ou morangueiros suspensos? Quem são os agricultores portugueses? Como se vive no campo? A Portugal Farm Experiences quer levar-nos a quintas agrícolas para conhecer produtores e experimentar pôr mãos ao trabalho.

MARA GONÇALVES 12 de Janeiro de 2019, 3:05 Partilhar notícia

Quando o portão da estufa se abre, não vemos mais do que couves, nabiças, trevos, alfaces. Uma comunhão de verdes viçosos em carreiros ordenados. É preciso apurar o olhar – e saber onde procurá-las. Por esta altura do ano, a maioria das caracoletas produzidas pela Vale Forno, uma quinta familiar localizada em Zibreira, concelho de Torres Novas, está em período de hibernação. Por isso, muitas estão armazenadas na arca frigorífica, onde a regulação da temperatura permite controlar a duração deste estágio. E as poucas que se passeiam pelas hortaliças estão mais quietas do que é habitual.

Aos poucos, vamos conseguindo detectar as carapaças mais gordas: a trepar pelos panos que delimitam os canteiros ou aninhadas nos tabuleiros de madeira. Mas Clara Tojo e a filha, Kelly Silva, mostram-nos que há também por ali dezenas de minúsculos caracóis bebés escondidos entre as folhas. "Nesta fase, chamam-se alevins", aponta Kelly. O pequeno molusco, ainda de casca translúcida, não ocupa mais do que alguns milímetros da palma da mão. São precisas entre três a quatro semanas para que chegue à fase adulta e mais alguns meses até estar pronto a ser colhido. Passa meio ano "desde que nascem até irem para o mercado", esclarece Clara.



Stéphanie quer tornar a taxidermia mais "contemporânea"
A família decidiu arrancar com a exploração de caracoletas helix aspersa maxima há cerca de cinco anos, por iniciativa do patriarca, Artur Silva. Construtor civil, quando o trabalho começou a rarear durante a crise económica, pôs-se a pesquisar alternativas. "Isto foi o que lhe chamou mais à atenção", recorda a mulher, Clara Tojo. "É uma empresa muito familiar. A gente é que faz tudo na escolha das caracoletas", conta. Nas alturas de maior trabalho, as filhas vêm dar uma ajuda. Há dois anos, a quinta, onde já cultivavam muitos produtos hortícolas e faziam criação de animais para consumo de casa, foi uma das primeiras a integrar a plataforma Portugal Farm Experiences. "Éramos vizinhos, mas não o conhecia", conta Clara. Fala de Estêvão Anacleto, ao nosso lado, fundador do projecto que nos trouxe até cá.

O site, um "género de Booking" especializado em experiências agrícolas, até começou por se chamar Campónio. A ideia era atrair ao campo os portugueses citadinos que já tinham perdido a ligação à terra. "Mas apercebemo-nos que o nosso cliente era maioritariamente estrangeiro e que a marca não vendia. Tínhamos de estar sempre a explicar o que queria dizer", conta o responsável para justificar a recente mudança de nome e de idioma. Há portugueses a reservar experiências na plataforma: famílias que querem mostrar às crianças que a alface não nasce no supermercado, chefs à procura do contacto directo com o produtor para saber mais sobre os ingredientes que utilizam na cozinha, emigrantes e agricultores – mais e menos experimentados – com vontade de apostar numa nova exploração.


Caracoletas na Quinta Vale Forno NUNO FERREIRA MONTEIRO
Mas a grande maioria são estrangeiros. Turistas que querem explorar Portugal para lá das principais cidades, que têm curiosidade "em ver como as coisas são produzidas" e vontade de "conhecer as pessoas autênticas do campo e de saber como elas vivem em Portugal". "Diria que 90% dos nossos clientes nunca viram nada a crescer na terra ou a ser produzido desta forma", estima Estêvão Anacleto. Clara assume que nas visitas à Vale Forno já apareceu de tudo: pessoas que nunca tinham visto caracóis, vivos ou no prato, que nunca tinham tocado ou provado ou que não gostavam e passaram a adorar. "Tivemos uma rapariga que se pôs a gritar: 'Meu Deus, que vai morder-me a mão'", conta Clara, entre risos. "Ia desmaiando, mas depois adorou tudo, incluindo a comida."

Shitake para o almoço
Actualmente, a plataforma disponibiliza 14 experiências em quintas diferentes. É possível visitar explorações de caracoletas, cogumelos, morangos em hidroponia, galinhas autóctones, vinhas, olivais, ervas aromáticas ou maçãs reineta, por exemplo. A esmagadora maioria das quintas está localizada nas regiões da Grande Lisboa e do Ribatejo, mas o objectivo é expandir. Muito e depressa. "Queremos atingir as 100 experiências até ao fim do ano", revela Estêvão Anacleto. A ideia é chegar a todo o país, incluindo ilhas. E, quem sabe, espreitar o mercado espanhol no próximo ano.

Para já, quase todas seguem o mesmo formato: visita guiada à quinta, explicação sobre os métodos produtivos, workshop, colheita e degustação de produtos. Privilegiando sempre o contacto directo com o próprio agricultor, que muitas vezes lidera toda a actividade. Em alguns casos, a refeição inclui pratos confeccionados com o ingrediente protagonista da visita. É o caso da quinta Vale Forno, onde a ementa feita por Clara pode incluir pataniscas, feijoada e folhados feitos com caracoletas. Depois, junta sempre uma fruta da época apanhada da horta, uns pastéis de nata, os "licorzinhos" que faz. "A gente tenta dar um bocadinho daquilo que a nossa zona tem", resume.


NUNO FERREIRA MONTEIRO
Desta vez, não provamos os petiscos. O almoço está marcado para a segunda quinta que visitamos. Por isso, o menu será integralmente composto por pratos feitos à base de cogumelos shitake: guisados, em folhados, omeletes e risotto. Gabriela Lopes assina o repasto mas é o marido, Manuel, que nos guia pela quinta. Militar de carreira, Manuel sentiu-se demasiado novo "para ir para o sofá" quando chegou à reforma. "Tinha de arranjar qualquer coisa que não houvesse cá" para iniciar um novo projecto e achou "graça a isto", conta. "Nem gostava de cogumelos." Mas Manuel é um homem "muito optimista", sempre de sorriso aberto e com uma energia de bicho-carpinteiro. O que não dava era para ficar quieto. Já plantou figos-lampos no terreno adjacente, fez mesas e cadeirões a partir de troncos – "Se me sentar aqui, fico o rei do cogumelo", ri-se – e está prestes a terminar a pequena casa que decidiu construir para os turistas que queiram pernoitar em plena horta.


Vamos ao telhado buscar a salada
Na estufa, há 150 toneladas de troncos de madeira dispostas em pequenas torres. E é com o peito alto de orgulho que Manuel conta como todos lhe "passaram pelas mãos". É dali que nascem os cogumelos, depois de "lhes dar um choque térmico" com água fria, na altura em que as "borbulhas" brancas começam a ameaçar romper a casca. Mas primeiro é necessário inocular os troncos com as cavilhas que comprou já impregnadas com o fungo, no único laboratório que ainda as produz em Portugal. Despachado, Manuel já tem tudo pronto sobre a mesa e, sem aviso, saltam pedaços de madeira pelo ar à medida que vai abrindo buracos nos troncos com um berbequim. O processo de inoculação é precisamente o primeiro momento em que os turistas são convidados a "pôr as mãos na massa", de berbequim em punho. Segue-se, depois, a colheita de alguns cogumelos na estufa – que no final poderão levar para casa. E o almoço.


Enquanto a comida não chega à mesa, Estêvão vai contando como nasceu a ideia de criar a Portugal Farm Experiences. A peça final surgiu através dos turistas que recebia nas unidades de alojamento local que a família abriu há três anos e que tantas vezes lhe perguntavam se "existiam actividades diferentes para fazer fora de Lisboa". Mas a ligação umbilical à agricultura sempre existiu. Neto e filho de agricultores, Estêvão viveu grande parte da infância no campo – "vim de Paris com nove anos para viver numa quinta em Bugalhos", a tal aldeia que faz de Clara e Estêvão "vizinhos" -, trabalhou vários anos como engenheiro do ambiente e leva seis como produtor, formador e empresário na área da hidroponia – "criei a marca GroHo, Growing Home, em que levámos um bocadinho o conceito que tínhamos instalado ali na quinta para a cidade e vendemos sistemas verticais de hortas para ter na cozinha ou na varanda".

Desde sempre que o empresário esteve "ligado à terra", mas confessa que não era lavoura o que queria para si. "Eu era aquele miúdo que perguntava sempre ao meu pai por que é que estava a ter aquele trabalho todo se podia ir ao supermercado comprar as mesmas coisas", recorda. "Ele respondia-me sempre: 'Um dia vais dar valor a isto'". Tantos anos depois, e ainda que "de forma indirecta", também Estêvão voltou a pôr as mãos na terra. Agora quer levar outros a fazer o mesmo.

Portugal Farm Experiences
Rua Fernando Palha, 43 - 2B – Lisboa
Tel.: 914 495 577
E-mail

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A seca e a escassez de água: um “novo normal”?


O que está em causa é uma preocupação crescente sobre as reais disponibilidades de água.

10 de Dezembro de 2018, 6:15 Partilhar notícia


O setor da Água esteve presente, nestes dias, na COP 24 (24.ª Conferência das Partes para a Ação Climática), numa Sessão Especial em que interveio o novo presidente eleito do Conselho Mundial da Água, Loic Fauchon, apresentando a nova estratégia da Organização para responder à chamada "crise da água", cuja implementação se focará nas seguintes áreas: Segurança Hídrica, Acesso à Água e Saneamento, Energia, Saúde e Educação, que o Conselho de Governadores, também recém-eleito, designou "The Five Fingers Alliance" (Aliança dos Cinco Dedos), afirmando assim a necessidade de uma intervenção integrada baseada neste "nexus" de estreita interligação.


Uma "casa com escala de cidade" que reinventa a arquitectura palaciana
De facto, o que está em causa é uma preocupação crescente sobre as reais disponibilidades de água, mais erráticas e incertas, tanto a nível global como regional, expressas em indicadores que nos informam que até 2050 as cidades disporão de menos de 2/3 da água que dispunham em 2015, mas que não abrandará o crescimento populacional, aumentando exponencialmente as necessidades de água.

Entretanto, a "escassez" estender-se-á à África Central, Ásia Oriental e piorará no Médio Oriente, Sahel, Sul da Europa e Bacia do Mediterrâneo, pelo que acompanho a formulação de que, independentemente da disponibilidade total e efetiva em água no Planeta, as secas tornar-se-ão um dos desafios mais complexos com que se defronta hoje a Humanidade (Miguel Miranda, presidente do IPMA).

A necessidade de ser mantida a qualidade das massas de água superficiais disponíveis agrava os cenários de escassez e incerteza quanto às disponibilidades, que se perfilam naquelas e outras regiões do Mundo, e o grande impacto na agricultura, com menores recursos para irrigação que no presente, em consequência da competição entre os seus diferentes usos.

A ação combinada da elevação do nível do mar, do aumento da temperatura média, da redução da precipitação e do aumento da frequência dos episódios meteorológicos extremos irá ter efeitos potencialmente devastadores nos recursos em água doce, nos serviços dos ecossistemas terrestres e marinhos e na segurança alimentar.

Os impactos mais negativos refletir-se-ão, obviamente, sobre os mais pobres, dependentes da agricultura alimentada pelas chuvas, e vivendo em zonas mais vulneráveis a inundações, águas contaminadas e falta de saneamento básico. Provocará mais migrações (refugiados da água) e mais conflitos locais e regionais, tendendo a alastrar a uma escala superior.

Os "custos da inação" são (e serão) sempre mais onerosos que os investimentos a realizar.

Só boas políticas, um novo pensamento e novos paradigmas poderão alterar/neutralizar estas tendências.

Assim, em países do Sul da Europa como Portugal, perante a necessidade de melhorar a gestão dos recursos hídricos em ambiente de "escassez" e "incerteza", reforça-se a urgente atenção à necessidade de adequada preparação do Estado, das Entidades Gestoras, do setor da Água, em geral, e dos cidadãos, para os fenómenos extremos que já defrontamos e que, evoluindo para situações de secas mais extensas e de maior intensidade, poderão vir a transformar a água em um "recurso raro".

Assumir também o papel incontornável do armazenamento e regularização de caudais no planeamento macro de recursos hídricos, como forma de reforçar o "valor da água" e garantir a "segurança hídrica" como fator de garantia das disponibilidades para os diferentes usos e promoção do desenvolvimento económico.

Torna-se urgente reavaliar todos os parâmetros de abordagem que concorrem para garantir a "resiliência" dos Sistemas de Abastecimento de Água, Drenagem e Saneamento de Águas Residuais, tão flagrantemente posta em causa na situação verificada no ano de 2017, em diversas regiões do país.

Estabelecer, portanto, como primordial objetivo estratégico garantir a "segurança hídrica" do país, com o indispensável enfoque nas Estruturas Regionais Públicas de Gestão de Recursos Hídricos, restaurando a Autoridade Nacional da Água como entidade autónoma.

Promover o envolvimento dos utilizadores nos processos de decisão e tornar a água uma preocupação de todos, promovendo a participação e a ação dos Decisores, Especialistas e Utilizadores, como defende o Conselho Mundial da Água.

Finalmente, tornar em permanência o seu planeamento, desenvolvimento e gestão parte integrante da agenda política.

Agricultores do Alto Alentejo "apreensivos" por falta de chuva


Situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas. No final de Dezembro, Portugal continental estava em seca meteorológica fraca a sul do Tejo

LUSA 10 de Janeiro de 2019, 18:15 Partilhar notícia

A Associação dos Agricultores do Distrito de Portalegre mostrou-se esta quinta-feira "apreensiva" devido à falta de chuva na região, considerando que a situação poderá comprometer o desenvolvimento das pastagens e das culturas instaladas de Outono/Inverno.

"Estamos em pleno inverno e o mês de Dezembro não foi normal. Começa a preocupar-nos um bocadinho esta situação", afirmou a presidente da associação de agricultores, Fermelinda Carvalho, em declarações à agência Lusa.

Segundo relatou a responsável associativa, as pastagens naturais, "já nascidas", e as culturas de Outono/Inverno podem ficar "comprometidas" caso não chova nas próximas semanas.

"As culturas estão nascidas, umas maiores, outras mais pequenas, depende da época de sementeira de cada agricultor e de cada cultura, mas se não chover no mês de Janeiro pode ficar comprometido o desenvolvimento das searas e das pastagens", alertou. "A situação não é dramática, mas estamos apreensivos, porque não se perspectivam nos próximos dias tempos chuvosos, o que era bom", disse.

A presidente da associação de agricultores mostrou-se ainda preocupada com o futuro das reservas de água nas albufeiras, uma vez que esta altura do ano seria a época de armazenamento para garantir, depois, o abeberamento dos animais. "Nesta altura não há problemas de abeberamento, mas fazia falta chover a sério. Não está a ser em termos de precipitação um ano fantástico", sublinhou.

Com sementeiras de triticale e cevada no terreno, a agricultora Maria João Valentim também considerou que seria "importante" a chegada das chuvas aos seus campos situados nas zonas de Arronches e de Barbacena, no concelho de Elvas, distrito de Portalegre. "Tivemos um Outono bom, mas para estas culturas já seria necessário que chovesse", lamentou.

Seca meteorológica
Portugal continental estava no final de Dezembro em seca meteorológica fraca a sul do Tejo devido aos baixos valores de precipitação registados naquele mês, classificado como quente e muito seco, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

De acordo com índice meteorológico de seca (PDSI) disponível no site do IPMA, a 31 de Dezembro, 53,3% do território estava na classe de seca fraca, 13,7% na classe normal e 33% na classe de chuva fraca. A 30 de Novembro, 9,8% do território estava na classe normal, 89,6% em chuva fraca e 0,6% em seca moderada. O IPMA classifica em nove classes o índice meteorológico de seca, que varia entre "chuva extrema" e "seca extrema".


Segundo o Boletim Climatológico do IPMA, o mês de Dezembro em Portugal Continental classificou-se como quente em relação à temperatura do ar e muito seco em relação à precipitação. O valor médio da temperatura média do ar (10,58 graus Celsius) foi superior ao normal, sendo o 3.º valor mais alto desde 2000.

O IPMA indica também que valores da temperatura média superiores aos registados a Dezembro de 2018 ocorreram em cerca de 20% dos anos, desde 1931. "O valor médio da temperatura máxima do ar, 15,21 graus, foi superior ao normal, sendo o 3.º valor mais alto desde 1931 (maiores valores em 2015 e 2016)".

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Países mudam métodos de criação de gado para reduzir emissões de carbono

Países mudam métodos de criação de gado para reduzir emissões de carbono

Cerca de 2000 explorações de gado bovino europeias vão mudar métodos de criação para reduzir em 15% a sua pegada carbónica nos próximos dez anos em França, Itália, Irlanda e Espanha.

O programa "Life Beef Carbon", que juntou hoje representantes europeus na capital espanhola, monitorizou as emissões de gases que provocam o efeito de estufa e concluiu que mais de 50% das emissões se devem ao processo digestivo dos animais nas explorações.

Rotação de pastos, substituição de palha por serrilha nas camas dos animais, impermeabilização das estrumeiras e alimentação diferenciada conforme a idade são algumas das técnicas que já se ensaiam em experiências piloto nas explorações que aderiram.

Um dos coordenadores do projeto, Jean Baptiste Dolle, afirmou que não é fácil reduzir as emissões de dióxido de carbono porque há várias fontes diferentes.

Uma das vertentes do projeto é a formação dos criadores, mostrando-lhes o papel que o seu setor tem nas emissões de gases poluentes com efeito de estufa.

"É urgente mudar relação do Estado com as associações de bombeiros e produtores florestais"

ENTREVISTA

O presidente do Observatório Técnico Independente diz que há medidas que estão a ser tomadas que estão pouco fundamentadas e pede cuidado para que não se "enfraqueçam" as entidades de Protecção Civil que existem.

 Liliana Valente
LILIANA VALENTE 9 de Janeiro de 2019, 8:30 

Francisco Rego é o presidente do Observatório Técnico Independente, composto por dez técnicos que avaliam o sistema de Protecção Civil a pedido do Parlamento. Numa breve conversa com o PÚBLICO conta as principais conclusões do primeiro relatório desta entidade e pede para que os agentes políticos usem mais as recomendações a que chegam.


O relatório sai numa altura em que o Governo ainda está a negociar a lei da Protecção Civil. Que recomendações espera que sejam ouvidas?
Esperamos que o que escrevemos possa ser reflectivo na legislação. O que é fundamental, é que mais do que a rapidez das leis, seja a solidez e a fundamentação que as justifique. 


No início do relatório é mostrado um diagrama com as diferentes estruturas que existem no sistema e depois avisam que há repetições, ineficiências e competições. Há alguma recomendação específica para este problema?

Sim, há uma necessidade de simplificação de estruturas e de procedimentos. Ao longo da história foram criadas muitas estruturas e não se pensou na lógica de as coordenar ou mesmo fundir, para poderem ser mais operacionais. É mais fácil criar do que reduzir e simplificar o sistema. Já no que é mais urgente modificar, são estas relações entre as entidades do Estado central e a sociedade civil, sobretudo as associações de bombeiros, na parte de protecção, socorro e combate, e as associações de produtores florestais, na parte da prevenção.

Era aí que deveria entrar a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (Agif) ou é mais uma das entidades que foi criada e introduziu complexidade ao sistema?
Essa é uma das questões centrais porque há um risco que a Agif em vez de simplificar, seja mais uma estrutura. Nós defendemos a necessidade de haver uma entidade coordenadora como a Agif, mas por outro lado apontamos para a necessidade de se ir transformando numa interagência, constituída pelas próprias entidades intervenientes.

Que funcione como elo de ligação?
Que seja de coordenação, mas que não pode com isso - e é esse o risco - esvaziar as entidades que depois terão de ser as mais operacionais. A ideia de uma interagência parece uma formulação mais consentânea de coordenar sem enfraquecer as outras entidades.



Dizem no relatório que está a canibalizar outras entidades?
Sim, há esse risco. É muito importante que se constitua um corpo próprio, significativo e nesta fase inicial parece-me justificado, não pode ir além, porque se arrisca com isto a enfraquecer outras entidades que precisam de ser robustecidas. Apostamos muitos na ideia de haver um reforço muito importante na formação dos agentes.

 dos concursos para comandantes, mas também para as mudanças na estrutura da Protecção Civil. Seria preferível deixar estas mudanças para depois do Verão?
Na questão da reorganização do sector operacional dos bombeiros e dos sapadores florestais devem ser pensados antes de serem alterados e é preciso - e julgo que é um passo essencial - que todos os agentes se sintam confortáveis. E para se sentirem confortáveis é preciso haver estudos base que não têm existido, não tem havido um investimento nessas fundamentações. São decisões e reacções que não são informadas.

Alguma em específico?
Estas alterações à Protecção Civil, com uma organização territorial que tem dado bastante discussão, e por outro lado há uma proposta de comando próprio dos bombeiros que não se percebe bem qual a fundamentação. Há de facto uma discussão que é muito difícil de se fazer sem ter dados técnicos. 

Ou seja, até ao Verão é muito difícil que isto tudo se encaixe?
Pois, e este é também o papel que o observatório gostava de ter, que não seja só observar platonicamente a situação. Gostávamos de contribuir para esta reflexão, para que o arrumar deste sistema seja muito mais cuidado e muito mais eficiente.


Vendas de carne com selo Porco.pt subiram para quase 13 ME em 2018

As vendas de carne com o selo de certificação Porco.pt subiram em 2018, atingindo quase 13 milhões de euros, foi hoje anunciado.


Lusa
07 Janeiro 2019 — 18:32

De acordo com os dados enviados pelos responsáveis pelo selo Porco.pt, em 2018 as vendas totalizaram 12,6 milhões de euros, que comparam com os 4,2 milhões de euros registados no ano anterior.

No ano em causa, foram comercializadas 8.867,52 toneladas de carne, enquanto em 2017 foram vendidas 2.883,12 toneladas.

No total, desde que os produtos com o selo Porco.pt, projeto que reconhece a carne de suíno 100% portuguesa, entraram no mercado, foram registados cerca de 17 milhões de euros em vendas.

Por sua vez, a linha 'premium', iniciativa de um grupo de 25 produtores nacionais que distingue carnes com características "superiores", já representa quase 40% das vendas totais.

Em 2018, o selo Porco.pt alcançou 500 explorações, 56 produtores aderentes e 20 unidades de abate e transformação.

Estes produtos são distribuídos em todo o território nacional, em cerca de 500 pontos de venda pertencentes a 12 empresas de distribuição.

O selo Porco.pt nasceu em 2017 para dar resposta ao cumprimento da obrigação legal, por parte da distribuição, de "rotular adequadamente o produto, nomeadamente no que respeita à sua origem".

Esta certificação tem ainda como um dos principais objetivos diferenciar a carne de porco produzida em Portugal da restante oferta disponível no mercado.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

As sementes que mudaram a forma como comemos


O projecto ReSeed, com financiamento europeu de 1,5 milhões de euros, vai estudar durante cinco anos o impacto da introdução de novas plantas e sementes na Península Ibérica entre 1750 e 1950.

 Alexandra Prado Coelho
ALEXANDRA PRADO COELHO 26 de Dezembro de 2018, 8:05 Partilhar notícia


Nos finais do século XVIII, o Conde de Hoffmannsegg, botânico, entomologista e ornitólogo alemão, que viajava por Portugal na companhia de outro botânico e naturalista da mesma nacionalidade, Johann Link, constatou que, no Minho, a variedade de milho vindo das Américas (o Zea Mays) estava a substituir outros tipos de cereais, como o milho-miúdo, o trigo ou o centeio.


Os dois botânicos, que registaram as suas observações no livro Voyage en Portugal, fait depuis 1797 jusqu'en 1799 (na tradução francesa, a partir do original alemão), referem que antes da expansão desta nova variedade de milho grosso, que viria a tornar-se a dominante, os habitantes semeavam milhos locais nas encostas e reservavam as planícies para as pastagens. Com a popularidade crescente do milho grosso, começaram a ocupar também as planícies, o que levou à diminuição do gado e ao desaparecimento das outras variedades.

O relato de Hoffmannsegg e de Link, descrevendo uma modificação na paisagem agrícola e, pressupõe-se, nos hábitos alimentares, é uma das muitas fontes que irão ser exploradas pela equipa do projecto ReSeed, dirigido por Dulce Freire, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, e financiado com um 1,5 milhões de euros (para cinco anos) pelo Conselho Europeu para a Investigação da Comissão Europeia.

O objectivo é estudar a circulação e o cultivo de sementes na Península Ibérica entre 1750 e 1950. O foco não é tanto a chegada das plantas e sementes a Portugal e a Espanha, o que aconteceu em momentos anteriores, mas sim a forma como elas foram sendo introduzidas na agricultura e, consequentemente, na alimentação, e como é que se adaptaram às diferentes regiões ibéricas.

Para isso, explica Dulce Freire, vão ser cruzados dois tipos de fontes. "Vamos analisar um conjunto de documentos habitualmente utilizados pelos historiadores que estudam a economia, a sociedade, a política e as instituições, desde correspondência, relatórios, contratos, legislação, documentação dos cartórios dos mosteiros e outras instituições religiosas, até à contabilidade e documentos de organizações de assistência, ensino, etc. E vamos cruzá-los com documentos produzidos no âmbito de actividades científicas e académicas, sobretudo as relacionadas com a botânica, a agronomia e a biologia."

Entre estas últimas estarão publicações como as Floras publicadas desde o século XVIII, os "diários de campo" dos cientistas, os relatórios e artigos científicos que produziram, as memórias, "os milhares de cartas que trocaram com os pares e outros interessados nos temas que estudaram, colecções de herbário com exemplares de plantas que recolheram, colecções de jardins botânicos e de museus de história natural".

Projecto sobre história das sementes na Península Ibérica recebe 1,5 milhões de euros


A vantagem de olhar para estes dois tipos de fontes diferentes é poder enriquecer o "olhar mais geral das instituições com as preocupações de detalhe e rigor dos cientistas". E foram muitos os que desde o século XVIII passaram pela Península Ibérica em "viagens filosóficas". "Estão identificados mais de uma centena de naturalistas e botânicos que empreenderam este tipo de viagens até meados do século XX", afirma Dulce Freire. Alguns visitam apenas uma região, outros percorrem um país, outros ainda viajam por toda a península.

Na época, tudo o que dizia respeito às novidades da flora que chegavam de outras paragens despertava grande curiosidade e interesse. Um pouco antes do período abrangido pelo estudo do ReSeed, esteve na Península Ibérica (entre 1564 e 1565) um dos botânicos mais famosos do Renascimento, Charles L'Ecluse, mais conhecido pelo nome em latim de Carolus Clusius.

Para estar a par das novidades, Charles L'Ecluse criou uma rede de 300 correspondentes espalhados pela Europa, nomeadamente em Sevilha, de onde recebia notícias em primeira mão sobre as novas plantas e sementes vindas nos barcos chegados das Américas. E quando viajou por Portugal e Espanha, conta a investigadora do ICS, "identificou muitas espécies ainda desconhecidas para a ciência e desenhou algumas dezenas de plantas com interesse alimentar", das mediterrânicas, como a oliveira e o medronho, às "recentemente chegadas dos novos mundos, como a batata-doce e o feijão".

Mas estava longe de ser caso único. O botânico português Félix de Avelar Brotero, que no seu Flora Lusitânica identificou perto de 1800 espécies, é outra fonte, tal como H.M. Willkomm, que viajou pela Península Ibérica na segunda metade do século XIX, o russo Nicolai Vavilov, que fez o mesmo um pouco mais tarde, no início do século XX e que morreu tragicamente à fome nas prisões soviéticas depois de ter dedicado a vida ao estudo de formas de melhorar a produtividade dos cereais, ou os portugueses Júlio Henriques, professor da Universidade de Coimbra, e Gonçalo Sampaio, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, nos finais do século XIX, inícios do século XX.

"A Península Ibérica é, a partir do século XV, uma porta de entrada e um laboratório fabuloso de experiências a diversos níveis", frisa Dulce Freire. "Há vários protagonistas das experiências que estão a ser levadas a cabo, desde os agricultores anónimos aos membros da elite que recebem plantas que outros trazem nas viagens, passando pelos monges e outros membros da Igreja. Há experiências a acontecer nos hortos dos mosteiros e dos conventos, nas herdades e quintas das elites, mas também nas hortas. E muito do que está a acontecer suscita o interesse dos investigadores e cientistas de outros países."

Um dos focos de interesse do projecto ReSeed é a diversidade agro-regional da Península Ibérica, onde se encontram diferentes tipos de clima e de paisagem. "Isso permite fazer vários testes. Uma planta que chega a Lisboa pode ser tão facilmente experimentada no Algarve como no Minho, porque é a mesma entidade política."

Pretende-se também perceber de que forma elas se disseminavam e os impactos que tiveram nas diferentes regiões. Um exemplo: os pimentos padrón chegaram da América Central trazidos, em finais do século XVI ou inícios do XVII, pelos missionários franciscanos do Convento de São Francisco de Herbón, uma paróquia do município de Padrón, na Galiza. Foram aí aclimatados e acabaram por se disseminar com o nome, hoje famoso, de pimentos padrón.

Em Espanha popularizaram-se, a partir da segunda metade do século XVIII, as Sociedades Económicas Amigas do País, como a Sociedade Bascongada de Amigos del País, no País Basco, a Sociedade de Amigos do País de Cádiz, a Real Sociedad Economica Matritense de Amigos del País ou a Real Sociedad de Amigos del País de Valencia.

"São criadas dezenas destas sociedades, muitas impulsionadas por nobres e membros do clero, que procuram implementar localmente um conjunto de inovações, algumas ligadas à agricultura, novos produtos, novas sementes, mais tarde fertilizantes, novas formas de cultivo." Existe também um boletim que é distribuído pelos párocos e lido nos púlpitos das igrejas abordando questões ligadas à agricultura.

Em Portugal, terá havido a intenção de criar algo de semelhante às Sociedades Amigas espanholas mas, segundo Dulce Freire, "Domenico Vandelli [o naturalista] que criou o primeiro jardim botânico da Ajuda, tenta fazê-lo na segunda metade do século XVIII, aparentemente com pouco sucesso".

E qual o interesse que um estudo como este tem para a actualidade? "Queremos perceber até que ponto práticas agrícolas e sementes do passado podem ser viáveis no presente e no futuro e contribuir para uma agricultura sustentável capaz de alimentar uma população mundial crescente." Isto passa por tentar identificar as plantas que fizeram sucesso na alimentação humana ou na agricultura de um determinado local e saber por que é que desapareceram.

Por outro lado, continua Dulce Freire, "é interessante perceber como é que esta dinâmica de introdução de novas plantas teve impacto na agro-biodiversidade". Quando, hoje, se fala em biodiversidade, pensa-se na agricultura da chamada "revolução verde", pós-II Guerra Mundial, mas o que aconteceu antes, nomeadamente essa chegada de sementes vindas de pontos diferentes do mundo, também teve impacto, fazendo desaparecer algumas variedades e tornando outras dominantes.

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As árvores ensinam-nos a viajar
Por enquanto, o ReSeed tem pouco mais de um mês de vida e está apenas a dar os primeiros passos. Durante os próximos cinco anos há muito trabalho a fazer, muitos documentos a estudar, muitos arquivos a visitar (a equipa irá a outros locais, como Paris ou Berlim, onde estão guardados materiais recolhidos durante missões na Península Ibérica).

No final, será organizada uma exposição para apresentar os resultados. Até lá, no site do projecto (e respectiva página de Facebook) vai ser possível acompanhar o trabalho, através de vídeos que pretendem mostrar os métodos seguidos pelos investigadores (que incluem também entrevistas para recolher testemunhos de pessoas "com experiência na agricultora pré-revolução verde") e ir descobrindo como é que as plantas do Novo Mundo mudaram, semente a semente, a agricultura e a alimentação no Velho Continente.

tp.ocilbup@cpa

Governo aprovou mais 37 projetos de reabilitação de regadios


Nuno Miguel Silva 06 Janeiro 2019, 15:24

Os 37 projetos agora aprovados pelo Ministério da Agricultura situam-se todos no distrito de Vila Real e vão beneficiar 1.630 hectares, num investimento superior a 4,7 milhões de euros.

Foram aprovados pelo Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural mais 37 projetos de reabilitação de regadios tradicionais.


Estes projetos situam-se todos no distrito de Vila Real, que vão beneficiar mais de 1.630 hectares, com um investimento público superior a 4,7 milhões de euros.

Trata-se de regadios integrados nos concelhos de Boticas, Chaves, Montalegre, Murça, Ribeira de Pena, Valpaços, Vila Pouca de Aguiar e Vila Real, que vão beneficiar 1.700 agricultores.

"Estes projetos de recuperação complementam o Programa Nacional de Regadios, que prevê um investimento global de 560 milhões de euros na criação e na reabilitação de mais cerca de 100 mil hectares de regadio até 2023, que vão gerar 10.500 postos de trabalho permanentes", destaca um comunicado do Ministério da Agricultura.

Capoulas Santos congratula-se com a aprovação destes projetos, considerando-os "uma aposta do Governo num pilar fundamental para o desenvolvimento da região", lembrando que se trata de "um instrumento essencial para a fixação das populações e para o apoio à agricultura familiar".

Segundo o referido comunicado do Ministério da Agricultura, "estes regadios fazem parte de um projeto mais amplo de valorização dos territórios e da atividade agrícola", sublinhando o ministro da Agricultura  que esta iniciativa vai tornar esta atividade "mais produtiva e mais competitiva, nomeadamente através do uso mais eficiente da água", uma vez que, no seu entender, "a sustentabilidade da atividade agrícola é também uma prioridade".

Capoulas Santos acrescenta ainda a necessidade de adaptação da agricultura portuguesa às alterações climáticas e de contribuir para os objetivos do Governo relativamente à estratégia de descarbonização, neste momento em discussão pública, considerando "urgente promover o uso eficiente do recurso água e a constituição de reservas para enfrentar tempos de escassez decorrentes das alterações climáticas".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Especial Vinhos 2018: Portugal é o terceiro país com maior diversidade de castas a nível mundial


Nuno Miguel Silva 01 Janeiro 2019, 10:00

Apesar do seu território exíguo, o nosso país já é o 11º produtor e o 8º maior exportador mundial de vinhos, segundo os dados de 2017.

É um dos segredos do sucesso crescente que os vinhos portugueses estão a ter no mercado interno (incluindo turistas) e na vertente externa (de que esses mesmos turistas passaram a ser um grande promotor).


Apesar de ter um território exíguo, Portugal beneficia do facto de alardear uma grande variedade de castas. Segundo os últimos cálculos, são cerca de 250 indígenas, o que dá praticamente uma casta para cada dia últil do ano. Ao fim-de-semana, os amantes do vinho podem satisfazer-se com as excelentes produções que cá se fazem a partir de inúmeras castas estrangeiras.

E o caminho não está todo percorrido, porque por esse país fora há muitas vinhas velhas cujas origens genéticas ainda não foram definidas.

É essa inestimável variedade, aliada às diferenciações de climas e de solos, parte essencial do famoso 'terroir', que tem instilado um crescendo de qualidade e nos permite ser reconhecidos entre os críticos e especialistas do setor à escala global como um país produtor de 'vinhos diferentes' com qualidade superior.

"A grande variedade de castas (…) permite produzir uma diversidade de vinhos, marcados por características únicas, o que potencia a sua competitividade em nichos de mercado, apreciadores de vinhos de excelência", destaca um estudo da Aicep, concluído em maio passado e intitulado 'Vinhos de Portugal – Reconhecimento Crescente no Mercado Internacional'.

Luís Castro Henriques, presidente do conselho de administração da Aicep, assinala nesse documento que "a diversidade de castas autóctones tem permitido produzir vinhos únicos e distintos e hoje os vinhos portugueses rivalizam com os melhores do mundo em termos de qualidade".

Mas os vinhos, como qualquer outro setor empresarial, também passam de forma inexorável pela fasquia da quantidade e da produtividade.

De acordo com as estatísticas da OIV – Organização Internacional da Vinha e do Vinho, e recorrendo a alguns dados do IVV – Instituto da Vinha e do Vinho, a Aicep chegou à conclusão que "2017 foi um ano de produção historicamente baixa na Europa Ocidental fruto das condições climatéricas adversas".

"Estima-se que a produção mundial de vinho, em 2017, tenha sido de 246,7 milhões de hectolitros [cada hectolitro equivale a 100 litros], menos 8,2% do que na campanha de 2016, sendo que esta última fora já inferior em cerca de 5% face a 2015", avança Iara Martins, especialista da fileira agroalimentar e de bebidas da instituição, no referido estudo da Aicep.

A mesma especialista da Aicep adianta que "no Velho Mundo, países como a França (36,7 milhões de hectolitros), Itália (33,5), e Espanha (33,5), apresentam valores muito baixos, enquanto a Alemanha (8,1) registou uma ligeira queda".

"Portugal, com uma produção de 6,6 milhões de hectolitros, Roménia (5,3), Hungria (2,9) e Áustria (2,4) foram os únicos países a conhecerem um aumento face a 2016", esclarece Iara Martins.

Nos países do Novo Mundo também se registaram comportamentos diversos: "enquanto a Austrália, com 13,9 milhões de hectolitros, a Argentina (11,8) e o Brasil (3,4) apresentam ligeiros acréscimos [de produção], os Estados Unidos da América (23,3) e a África do Sul (10,8) deram sinais de estabilidade, e o Chile (9,5) e a Nova Zelândia (2,9) registaram ligeiras quebras".

"Em resumo, Itália, França, Espanha e EUA são os quatro países que produziram cerca de metade de todo o vinho do mundo no ano passado. Portugal, apesar de ter explorações de pequena dimensão e uma área de vinha pequena por comparação a outros países, é o 11º produtor mundial de vinho, detendo 2% da produção mundial", assinala o estudo da Aicep.

E Iara Martins destaca que "(…) Portugal é o terceiro país a nível mundial com maior variedade de castas (250), possuindo 31 Denominações de Origem Protegida (DOP) e 14 de Indicação Geográfica (IG), que representam 89% da produção e que são encaradas como uma potencialidade".

"A nossa grande diversidade de castas assegura-nos não só um património inquestionavelmente rico, como uma diversidade que mais nenhum outro país possui", garante a especialista da Aicep.

Portugal é o 8º maior exportador mundial de vinhos

O estudo da instituição liderada por Luís Castro Henriques observa ainda que "Portugal é também o oitavo melhor exportador mundial de vinho, num 'ranking' liderado pela França, detendo 1% das exportações mundiais de vinho, com 747 milhões de dólares faturados [778,7 milhões de euros], a um preço médio de 3,51 dólares".

"O país sobe, assim, para sétimo no 'ranking' do preço médio por garrafa, mas o vinho português continua, em muitos dos casos, a estar posicionado num segmento com preço baixo e sem espaço de prateleira", alerta o estudo da Aicep.

Este documento revela que, em 2017, o mercado nacional representou cerca de 2,48 milhões de hectolitros, o que correspondeu a um volume de negócios de cerca de 746 milhões de euros. "Em comparação com o ano anterior, 2017 apresentou um crescimento de 3,2% em volume e de 5,2% em valor", frisa este documento, demonstrando que o lento caminho de subida do preço médio por garrafa dos vinhos portugueses, mesmo no mercado interno, continua a fazer-se.

Vinhos tranquilos dominam exportações para 145 países

Na frente externa, "em 2017, as exportações portuguesas de vinho destinaram-se a 145 países, dos quais [a] França foi principal cliente, com uma quota de 14,1% nas nossas exportações totais deste produto, seguindo-se o Reino Unido (10,2%) e os EUA (10,1%)".

O estudo da Aicep salienta "(…) os aumentos das vendas para Angola (39,9%), Brasil (53%), China (24,1%) e Espanha (15,8%)".

"Por categorias de produto, constata-se que é fundamentalmente o vinho de mesa (vinho tranquilo) que sustenta o crescimento global do setor, apresentando uma taxa de crescimento (DO-Denominação de Origem + IG – Indicação Geográfica '+ Vinho) de 13,1%. Dos 55 milhões de euros de acréscimo das exportações totais, 50 milhões devem-se aos vinhos ditos tranquilos", nota o estudo da Aicep.

 

-Área de vinha plantada (em Portugal Continental) em 2016: 190.456 hectares, menos 47.606 hectares do que em 2000. Destacam-se as Beiras, com 25,2% da área; o Douro, com 22,5%; e o Alentejo, com 12,3% (a região onde a área de vinha mais cresceu, com mais 7.252 hectares do que em 2000);

-Regiões com produção mais significativa (2017/2018): Douro, com 21% do total (1,4 milhões de hectolitros); Lisboa, com 19% (1,2 milhões de hectolitros), Minho, com 15% (974 mil hectolitros); e Alentejo, com 14% (957 mil hectolitros);

-Número de empresas (2016): 1.296 (INE). O número de empresas a operar neste setor tem vindo a aumentar de forma sistemática entre 2012 (850 empresas) e 2016 (11,%, em média, por ano);

-Número de empresas exportadoras de vinho (2016): Portugal registou 1.296 empresas exportadoras de vinho neste ano, das quais as cinco principais representaram 36,7% das exportações totais;

-Número de empregados (2016): 9.538. O número de trabalhadores aumentou de forma consistente entre 2012 (8.573 empregados) e 2016 (2,7%, em média, ao ano). Os maiores crescimentos anuais ocorreram em 2013 e em 2014;

-Dimensão das empresas (2016): 82,6% das empresas tinham menos de 10 trabalhadores, 15,4% contavam com 10 a 49 colaboradores; 1,9% tinham entre 50 e 249 e apenas 0,2% empregavam 250 ou mais trabalhadores;

-Faturação global do setor (2016): seis mil milhões de euros. O volume de negócios do setor aumentou em todos os anos do período 2012-2016; subida de faturação de 4%, em média, ao ano;

-VAB – Valor Acrescentado Bruto do setor (2016): 378 milhões de euros. Mais 62 milhões de euros do que em 2012; o VAB cresceu em todos os anos do período 2012-2016, crescimento de 4,7%, em média, ao ano;

-FBCF – Formação Bruta de Capital Fixo (vulgo, investimento, entre 2012 e 2016): O investimento produtivo acumulado entre 2012 e 2016 somou 409 milhões de euros;

– Peso do setor do vinho na economia (2016): O setor do vinho respondia por 1,4% do emprego em Portugal, por 1,9% do número de empresas e do VAB e por 2% do volume de negócios e do investimento produtivo na indústria transformadora;

– Aumento de qualidade dos vinhos (2000/2017): Em 2000/2001, dos 6,7 milhões de hectolitros produzidos, 3,26 milhões de hectolitros foram DOP (48,6%) e 1,342 milhões foram IGP. Na campanha 2016/17, dos 6,7 milhões de hectolitros, 3,586 milhões foram DOP (53,5%) e 1,901 milhões foram IGP (28,4%);

-Previsões para a campanha 2017/2018: Na altura em que foi concluído o estudo da Aicep, os dados provisórios apontavam para uma produção de 6,7 milhões de hectolitros de vinho, um volume muito próximo do verificado em 2000, mas superior em 682 mil hectolitros ao da campanha de 2016/17.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta


As condições climatéricas e algumas doenças vão ditar desempenhos diferentes na produção agrícola. Há menos batatas e mais azeite. O vinho, tal como já tinha sido revelado, deverá registar a menor produção dos últimos 20 anos.

Produção de batata deverá cair 15% enquanto a do azeite aumenta 
Rui Miguel Pedrosa

Sara  Antunes Sara Antunes saraantunes@negocios.pt
13 de dezembro de 2018 às 13:37

A produção agrícola vai ter desempenhos distintos consoante os produtos, num ano marcado por um aumento do rendimento agrícola. Haverá menos batata, e o preço deverá subir na mesma proporção, mas mais azeite e uma quebra pronunciada da produção de vinho.

A conclusão geral aponta para que, "em 2018, a produção vegetal tenha aumentado 0,9% em valor" mas o volume terá diminuído 3,1%, revela o Instituto Nacional de Estatística (INE). Já os preços deverão ter aumentado 4,1%.

Destaque para a quebra de 15% do volume de produção da batata, "devido a doenças (nomeadamente míldio) e diminuição da área originada pelo encharcamento dos solos", explica o INE. Este desempenho deverá provocar um aumento de 14,7% dos preços no produto, acrescenta a mesma fonte.

O vinho também deverá registar uma queda aparatosa (20%), tal como já tinha sido revelado anteriormente. As previsões apontam mesmo para "a menor produção de vinho em quantidade dos últimos vinte anos", confirmando assim as previsões divulgadas em Novembro.

Do lado oposto está o azeite, cujo volume de produção deverá crescer 8,7%. Apesar do maior volume, é previsto um aumento de preços no produtor de 0,3%.

O INE destaca ainda a produção do leite, que deverá contar com um aumento de 1,3%, enquanto se prevê que o preço cresça 3,4%.

Rendimento da atividade agrícola deve aumentar 0,6 por cento em 2018

2018 - 12:06

O rendimento da atividade agrícola em Portugal deverá aumentar 0,6 por cento em 2018, face a 2017, após um crescimento de 5,4 por cento no ano passado, segundo a primeira estimativa das contas económicas da agricultura hoje divulgada pelo INE.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), esta evolução estimada "resulta fundamentalmente da combinação de um aumento de 3,5 por cento perspetivado para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) com um decréscimo de 2,9 por cento dos outros subsídios à produção".

"A evolução nominal prevista para o VAB resulta do efeito conjugado do acréscimo da produção do ramo agrícola (+1,6 por cento), mais acentuado do que o do consumo intermédio (+0,4 por cento)", refere o INE.

Contudo, acrescenta, "em termos reais, estima-se uma diminuição do VAB (-1,5 por cento), refletindo uma redução mais pronunciada do volume da produção comparativamente com a do consumo intermédio (-1,2 por cento e -1,0 por cento, respetivamente)".

O aumento nominal da produção do ramo agrícola em 2018 resultou de acréscimos quer da produção vegetal (+0,9 por cento), quer da produção animal (+2,2 por cento), tendo-se registado, em termos globais, um decréscimo do volume (-1,2 por cento) e um aumento dos preços de base (+2,8 por cento).

Já os preços no produtor e os subsídios ao produto aumentaram 2,9 por cento e 0,9 por cento, respetivamente.

Em 2018, o consumo intermédio deverá apresentar um "ligeiro acréscimo" em valor (+0,4 por cento), em resultado de uma diminuição em volume (-1,0 por cento) e de um aumento de preços (+1,4 por cento), devendo-se esta evolução "sobretudo ao aumento dos alimentos para animais (+2,4 por cento), da energia (+1,3 por cento) e dos adubos e corretivos do solo (+7,5 por cento)".

"Estima-se que o consumo de alimentos para animais tenha aumentado em volume (+2,0 por cento), com aumentos nos alimentos simples e compostos", reporta o INE, acrescentando que "o aumento da produção pecuária, em particular de bovinos, conduziu a um consumo mais elevado de alimentos para animais".

Já o preço dos alimentos para animais deverá ter sido este ano "ligeiramente superior" ao de 2017 (+0,3 por cento), refletindo o aumento de preço dos alimentos compostos (+1,8 por cento).

Segundo o instituto estatístico, a importância relativa do ramo agrícola na economia nacional deverá manter-se em 2018 nos 1,7 por cento, estimando-se também que o volume de mão-de-obra agrícola se mantenha em valores próximos do ano passado (+0,3 por cento).

Numa comparação internacional, o INE reporta que, entre os triénios 2000-2002 e 2015-2017, o peso do VAB do ramo agrícola no VAB nacional "decresceu na generalidade dos Estados membros e na União Europeia a 27, mantendo-se Portugal acima da média europeia (1,6 por cento versus 1,3 por cento)".

Já o rendimento da atividade agrícola em Portugal evoluiu, entre os triénios de 2001-2003 e 2015-2017, "de forma menos favorável do que a média dos Estados-membros (+30,9 por cento versus +42,6 por cento), ultrapassando, no entanto, países mediterrânicos como França, Espanha, Itália e Grécia".

Em 31 de janeiro de 2019 o INE irá disponibilizar uma segunda estimativa das contas económicas da agricultura.

Nem as vacas voam, nem a economia avança


Sofia Afonso Ferreira, Fundadora do Democracia21 14 Dezembro 2018, 00:08

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional, e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe.
O Governo decidiu reduzir o número de bovinos para metade até 2050, com vista a diminuir a emissão de dióxido de carbono e gases equivalentes (CO2eq). A proposta integra o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, apresentado em Lisboa e na Cimeira do Clima da ONU na Polónia (COP24) pelo ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. Uma medida positiva? Errado. Por vários factores que não foram equacionados.

Vamos deixar de consumir carne? Não. O ministro responde a essa questão: a solução encontrada pelo Governo, "num quadro de maior liberalização mundial", é passarmos a importar a carne, nomeadamente do Brasil e Argentina. Uma decisão positiva para os portugueses, segundo o ministro – "a carne de vaca vai chegar a Portugal a preços mais competitivos". E como se reduz o gado? Com o fim dos subsídios, os produtores entram em falência, o número de vacas diminui.

Esta decisão é um ataque ao mundo rural e aos produtores de carne e derivados, à economia nacional e ineficaz quanto ao objectivo a que se propõe. Zonas importantes de produção de carne e produtos lácteos, como os Açores, vão ter a sua economia abalada de forma irremediável.

À partida os números de vários estudos são alarmantes e levam-nos a concordar com a medida, por cada quilo de bife produzido em sistema semi-intensivo no país são emitidos 27kg de CO2eq. Mas para tal muito se deve à ingestão da ração dada ao gado e aos fertilizantes nas pastagens, entre outros factores.

Um erro comum nesta linha de pensamento é não contabilizar o impacto das medidas de compensação para substituir o produto. Se removessem os animais da agricultura e da dieta dos EUA, um dos países que mais consome produtos animais, as emissões de gases de efeito de estufa seriam reduzidas apenas em 2,6%, devido à necessidade de substituir o estrume por fertilizantes sintéticos e à produção de produtos industriais com os naturais custos associados, para além do gado reciclar alimentos não comestíveis e subprodutos de processamento de fibras, convertendo-os em alimentos comestíveis para humanos e animais de estimação. Resumindo, o problema é apenas substituído por outro, não é solucionado.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, é possível reduzir em 30% o impacto ambiental da criação animal alterando a forma como se cria e alimenta os animais, na gestão do estrume e na redução da aplicação de fertilizantes sintéticos na produção ou acrescento da alga Asparagopsis taxiformis na ração, recorrendo a novas técnicas que poderão eventualmente reduzir a emissão de metano entre 80 e 99%.

Afinal, aniquilar o gado não tem o impacto que os ambientalistas e o ministro da Agricultura defendem. Infelizmente, num país que vai fechar o ano com 47 pré-avisos de greve de diversos e importantes sectores, o gado não faz greve.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Farmacêutica quer investir €16 milhões para produzir canábis em Campo Maior



13:32 por Lusa 0
Empresa com capitais canadianos e israelitas está interessada numa exploração de canábis para fins medicinais.
 
Uma empresa de capitais canadianos e israelitas prevê investir 16 milhões de euros em Campo Maior, no Alto Alentejo, numa exploração de canábis para fins medicinais, revelou hoje à agência Lusa o presidente do município.

"O projeto nasceu há nove meses e a empresa fez testes agrícolas nos terrenos e foram superados", disse Ricardo Pinheiro, indicando que "já foram realizadas várias reuniões com o Governo e que se aguarda o licenciamento" da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

Segundo o autarca, o projeto da empresa Sababa Portugal vai arrancar numa área de quatro hectares e prevê, nos próximos cinco anos, um investimento de 16 milhões de euros, devendo criar, numa primeira fase, 50 postos de trabalho.


 Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Bloco de Esquerda propõe venda de canábis em lojas licenciadas Ricardo Pinheiro adiantou que o projeto será depois completado com a instalação de um centro de extração de óleo de canábis naquela vila do distrito de Portalegre, não estando ainda definido o montante que deverá implicar.

"Estamos a falar de uma transformação agroindustrial, embora o fabrico do medicamento possa não ficar em Campo Maior", frisou.

Ricardo Pinheiro sublinhou que a empresa tem desenvolvido uma "intensa investigação", ao longo dos últimos anos, e que conta com uma "grande experiência" no estudo e aplicação de canábis medicinal.

Com o avanço deste projeto em terras alentejanas, autarca considerou que o solo da região poderá ser no futuro "rentabilizado de uma forma totalmente diferente" do habitual, tornando-se numa "janela de oportunidade".

A utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base de canábis foi aprovada pelo parlamento em 15 de junho, na sequência da apresentação de projetos de lei do Bloco de Esquerda e do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN).

A lei foi depois promulgada pelo Presidente da República em 10 de julho. 

O quadro legal para utilização de canábis na preparação de medicamentos foi aprovado no dia 13 deste mês em Conselho de Ministros.

O documento explica que a regulamentação teve por base os programas já existentes em países como Dinamarca, Holanda e Itália. 

De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, o Governo aprovou um decreto-lei que "estabelece o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da canábis para fins medicinais, nomeadamente a sua prescrição e a sua dispensa em farmácia". 

A regulamentação, acrescenta, foi baseada numa "análise pormenorizada dos Programas de Canábis Medicinal já existentes em outros Estados-membros da União Europeia, nomeadamente na Dinamarca, Holanda e Itália, bem como a avaliação da sua exequibilidade na realidade nacional".

Alqueva vai ter unidades para transformar subprodutos agrícolas em fertilizante


A empresa do Alqueva vai criar uma rede de unidades para recolha e posterior transformação de subprodutos orgânicos que sobram de culturas agrícolas em fertilizante para aplicação nos solos na área do empreendimento, foi hoje anunciado.


Lusa
17 Dezembro 2018 — 13:26

A rede será criada no âmbito do projeto URSA - Unidades de Recirculação de Subprodutos de Alqueva, que já está em curso com a primeira unidade experimental, situada no concelho de Serpa, no distrito de Beja, explicou a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

Segundo a EDIA, num comunicado enviado à agência Lusa, a criação da primeira unidade do projeto já tem financiamento aprovado pelo Fundo Ambiental Português, através do programa Apoiar a Transição para uma Economia Circular, e está a ser desenvolvida pela empresa em parceria com o Instituto de Soldadura e Qualidade.

As unidades da rede irão recolher subprodutos orgânicos de origem agrícola junto de agricultores da área de influência do Alqueva para os transformarem em fertilizante orgânico através do processo de compostagem.

O fertilizante orgânico produzido será depois entregue aos agricultores que doarem subprodutos orgânicos para ser aplicado no solo.

De acordo com a EDIA, a aplicação de fertilizante orgânico vai permitir reabilitar gradualmente as diversas funções ambientais do solo, aumentar a resiliência do território perante as alterações climáticas e promover a qualidade da água e a sustentabilidade económica e ambiental do regadio do Alqueva.

O projeto tem uma estrutura "assente" no uso eficiente de recursos, na proteção do solo e da água e na valorização de subprodutos, "contribuindo para acelerar a transição para a economia circular, através de uma agricultura em linha com os princípios deste novo paradigma", explicou a EDIA.

Segundo a empresa, o projeto URSA foi distinguido, no dia 07 deste mês, com o 1.º lugar do Prémio Economia Circular nas Empresas do Baixo Alentejo e Litoral.

O prémio é promovido pela Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.

Mais de metade de Portugal em risco de desertificação extrema


Jéssica Sousa 18 Dezembro 2018, 17:36


Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. Conclusão não é benéfica para o território nacional.

Mais de metade de Portugal continental corre o risco extremo de desertificação, mas a resposta a este risco "não está a ser eficaz e eficiente", segundo um relatório do Tribunal de Contas Europeu.

Num relatório especial para o Parlamento Europeu, o Tribunal de Contas aponta para os efeitos nefastos da agricultura intensiva e da insistência em políticas desajustadas para o país como a insistência no regadio num país onde a água vai ser cada vez mais escassa, explica o comunicado enviado às redações esta terça feira.

Segundo o estudo, Portugal foi um de oito países membros da União Europeia visitados por uma auditoria do Tribunal de Contas Europeu para avaliar a resposta da UE ao risco crescente de degradação e desertificação dos solos. A conclusão: "Embora a desertificação e a degradação dos solos representem uma ameaça crescente, as medidas tomadas para combater a desertificação carecem de coerência e não existe uma visão harmonizada".

No caso concreto de Portugal, o Tribunal de Contas Europeu critica a falta de sustentabilidade dos projetos.

O Tribunal refere ainda que o "Programa de Ação Nacional" de combate à desertificação, supostamente atualizado em 2014, ainda não foi publicado, e mesmo os projetos nacionais que apresentam resultados positivos não são replicados ou minimamente integrados numa visão estratégica para combater esta grave ameaça.

Este relatório reforça o que a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e outras organizações de ambiente têm vindo a dizer: "esta não é uma questão para a biodiversidade, é uma ameaça grave para o nosso futuro com implicações a todos os níveis: do desaparecimento de espécies e habitats à perda de solo, falta da água, e problemas de saúde pública", lê-se no documento.

"É preciso procurar verdadeiras soluções para evitar que grande parte do nosso país se torne num deserto – soluções que passam por práticas verdadeiramente responsáveis e sustentáveis, não pela insistência em medidas de curto prazo e desajustadas como o regadio e a agricultura intensiva." diz Joaquim Teodósio, Coordenador do Departamento Terrestre da SPEA.

Para a SPEA, Portugal tem de abandonar as monoculturas florestais e agrícolas intensivas. "Tem de abandonar igualmente os regadios intensivos, que geram receitas milionárias para os investidores nos primeiros anos, mas não trazem emprego, nem qualidade de vida, e geram destruição e um passivo ambiental que será pago pelas gerações futuras. O nosso país tem de investir na floresta nativa, na agricultura diversificada, no pastoreio extensivo, nas variedades de plantas e nas raças de gado nativas, e valorizar a biodiversidade e o carácter único da sua paisagem. Só assim será possível gerar emprego e rendimento económico no mundo rural nos anos próximos e no futuro", conclui.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Quando a pegada é grande, talvez o sapato esteja muito largo

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

António Cláudio Heitor
19/12/2018, 0:25243

Porque razão tratam o Mundo Rural com selvagem e fora da lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar e extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Que a agricultura, a pecuária e a silvicultura têm uma pegada parece-me óbvio, o que não posso aceitar é que nos forcem a usar um sapato vários números acima das nossas necessidades.

Não sou daqueles que afirma que tudo está bem e que as alterações são uma invenção. Mas também não pertenço ao grupo dos que vaticinam a catástrofe se não regressarmos a modos de vida de outras eras. Muito menos pertenço ao grupo dos que, armados com varinhas mágicas, procuram na floresta escura e sombria os ogres, os basiliscos e os dragões que ameaçam a "Terra Média".

Que algo está em mudança parece-me claro. Mas os agricultores e proprietários florestais desde sempre conviveram com a incerteza climatérica e adaptaram-se. Fizeram-no porque assim teve de ser e não por imposição cega de alguns.

Aliás o simples facto de não reconhecer essa capacidade de adaptação dos agricultores e proprietários diz muito sobre os reais objectivos dessa "irmandade do anel" que procura salvar o mundo desses malvados que o estragam só para produzir alimentos.

E para perceber isso basta perguntar a um agricultor quantas vezes não atrasou a sementeira, com consequências severas na produção, por falta de chuva na altura certa. Ou a um produtor pecuário quantas vezes não teve de comprar feno devido aos maus anos de pastagem. A um proprietário florestal quantas árvores viu morrer repentinamente devido a secas severas. Ou mesmo a um gestor cinegético quantos ninhos perdeu nas trovoadas primaveris. Ou a um fruticultor quantas vezes viu a floração estragada por fenómenos climatéricos extremos.

E o que fizeram todos eles? Procuraram, procuram e continuarão a procurar formas de atenuar esses efeitos, mantendo a actividade e melhorando e eficiência da gestão dos diversos recursos. Ou seja, continuando a produzir alimentos de qualidade, seguros e gastando os recursos de forma mais eficiente. Será sempre um trabalho contínuo com avanços e recuos, mas será feito.

Poderia continuar a dar exemplos, mas infelizmente os advogados da "pegada" não estão interessados nesses bons exemplos. E a prova está na forma como ultimamente se referem aos agricultores, aos proprietários rurais e às suas actividades. Sempre como se estivessem perante "os bandidos" que vivem constantemente à margem da lei.

Começou com os animais e a necessidade urgente em assegurar um estatuto adequado, pois os animais estão em risco devido à forma como são criados e tratados. Tudo serviu para comprovar essa necessidade e é claro que, à cabeça desses relatos, surgiram centenas casos relacionados com a tauromaquia e a cinegética, demonstrando a necessidade de acabar com essas actividades e costumes.

Mas os autores desses relatos conhecem as actividades que acusam? Conhecem a fundo a forma como são geridas as explorações onde tais actividades se praticam? Reconhecem a evolução no maneio dos animais e dos seus habitats? Não me parece. É fácil reconhecer a culpa e os erros dos outros. Não custa tanto acabar com tradições e costumes que não conhecemos e que não são os nossos.

É claro que um Verão como o de 2017 deu a estes grupos ânimo para mais uma catadupa de intervenções a favor do "bem comum". O eucalipto precisa de ser erradicado a bem da nação e dos passeios de fim-de-semana dos defensores da nostalgia depressiva urbana. E na verdade a bola de neve cresceu tanto que até gente importante arregaçou as mangas e foi para o campo arrancar árvores. Seriam acácias? Não me pareceu até porque essas provavelmente não são tão perigosas, visto que poucos se queixam delas.

Pelo meio temos as famosas limpezas obrigatórias de milhares de hectares de faixas, feita quanto mais cedo melhor pois assim dá-se oportunidade para que cresça mais uma vez antes do fim da Primavera. E se não for feita há que "castigar e punir" esses infractores que tanto mal fazem à nação e ao Mundo.

Agora junta-se a tal pegada de carbono e a necessidade de reconverter o campo e o Mundo Rural para uma coisa que não "tenha tantas emissões". E para tal é fundamental diminuir a área agrícola e a quantidade de animais. O que será a seguir? Deixarmos de produzir para não emitir? Transformarmos o nosso campo nas paisagens pristinas dos contos de fadas, se possível sem gente a incomodar os passeios de Verão dos defensores do bem comum?

Recentemente por ocasião da apresentação de um livro e ao ouvir as palavras da jornalista que nos meus tempos de juventude me relatava ao domingo à noite as vitórias (e as derrotas) do meu clube, não pude deixar de notar no estranho país em que nos estamos a tornar.

Por um lado estava numa sala a ouvir falar de amizade, cumplicidade, civismo, respeito pelos outros, respeito pelos animais e prazer em desfrutar o os produtos e paisagens do nosso Mundo Rural. Por outro recordei tudo o que se disse sobre todos os agricultores, proprietários e gente do campo nos últimos anos. Até sugeriram que precisaríamos de ser mais "civilizados".

Ora algo não está certo. Se cada vez mais turistas no visitam e mais prémios recebemos o que vêm cá fazer? Serão os portugueses bandidos? Serão os nossos produtos maus e pouco seguros? Serão as nossas paisagens assim tão feias?

Não me parece. Se cada vez são mais os que atestam a excelência da nossa gastronomia, das nossas paisagens, dos nossos costumes e da nossa maneira pacata de viver a vida, porque razão insistem em nos apelidar de "pouco civilizados"? Porque razão nos tratam como bandidos que não respeitam a lei? Porque razão perseguem as actividades rurais e tudo fazem para terminar extinguir modos de vida e desrespeitam os nossos valores?

Talvez para satisfazer vontades de um eleitorado mais urbano. Ou para tentar que não reparemos noutras actividades extrativas, essas sim com um impacto bem visível. Talvez porque seja mais fácil castigar um sector que conta pouco para as contas políticas do orçamento de estado. Talvez por ser um sector que não dá tantas audiências.

Ou seja, tenho de concluir que é mais fácil arranjar um sapato excessivamente largo para o pé do Mundo Rural, pois assim compensamos o sapato apertado dos outros sectores e actividades.

Técnico florestal

Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019

Produtores de leite pretendem que o preço mínimo para o leite suba para 37 cêntimos por quilo em 2019, um valor que, dizem, se aproxima do custo de produção.
Produtores querem que preço mínimo do leite ascenda a 37 cêntimos em 2019
Reuters

27 de dezembro de 2018 às 15:27
A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) defendeu esta quinta-feira que o preço mínimo do leite pago aos produtores deve ascender a 37 cêntimos em 2019, aproximando-se do custo de produção, para colmatar as dificuldades do sector. 

"Desafiámos a indústria a transformar e a valorizar mais o leite para reduzir importações [...]. E desafiámos a distribuição a seguir o exemplo que adoptou na França e negociar com a indústria transformadora para assegurar aos produtores um preço mínimo de 37 cêntimos", disse, em comunicado, a direção da Aprolep. 

De acordo com os dados do Observatório Europeu do Leite, avançados pela associação, em Outubro, o preço médio do leite fixou-se em 31,1 cêntimos por quilo, cinco cêntimos abaixo do preço médio na União Europeia, enquanto o custo de produção mantém-se superior a 37 cêntimos. 

Os produtores desafiaram também o Governo a "avaliar o resultado da rotulagem da origem do leite para verificar porque não chegou ainda valor acrescentado aos produtores e a bater-se a nível europeu por um mercado responsável que impeça futuras crises de excesso de produção". 

Em causa está o aumento da procura do leite, as ajudas da Política Agrícola Comum (PAC) que não compensam a diferença entre o preço e custo de produção, a perda de produtores e a "falta de visão e falta de ambição" no sector. 

"Assistimos [em 2018] à implementação da rotulagem da origem do leite, mas ainda não vimos o resultado dessa opção no rendimento dos agricultores. Sentimos um aumento da procura de leite por parte das grandes superfícies comerciais que procuram garantir o abastecimento regular das suas lojas com leite nacional, respondendo assim à preferência dos consumidores, mas continuámos durante todo o ano com preços abaixo dos custos de produção e da média europeia", afirmou. 

A Aprolep indicou ainda que, face às dificuldades do sector, os agricultores têm adiado investimentos e não retiram "um salário digno e compensador do trabalho necessário para o cultivo dos campos" e para o cuidado dos animais. 

"A cada ano que passa Portugal perde produtores. Em Agosto já só éramos 4.578, menos 200 que [no período homólogo]. O abandono é mais significativo no continente, onde o número de produtores passou a ser inferior ao número de produtores açorianos desde Fevereiro", acrescentou. 

Segundo a Aprolep, as famílias que resistem têm "cada vez mais dificuldade" em encontrar mão-de-obra para trabalhar no sector e "a situação irá agravar-se à medida que os salários sobem, muito justamente, enquanto o preço do leite ao produtor continua injustamente congelado". 

Em 12 de Dezembro, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, vincou, no parlamento, que o preço do leite pago ao produtor manteve-se estável até Outubro, podendo aumentar com a abertura de novos mercados.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A agricultura biológica é pior para o planeta


Por ZAP - 20 Dezembro, 2018
Yen Strandqvist / Chalmers University of Technology


Os alimentos cultivados organicamente têm um impacto climático maior do que os alimentos cultivados convencionalmente, devido à necessidade de maiores áreas de terra para cultivar.

A agricultura biológica, ou agricultura orgânica, tem como principal objetivo maximizar o "natural" e minimizar a interferência química quando os alimentos são produzidos, mas será mesmo a melhor opção para o meio ambiente?

Uma equipa internacional de cientistas defende agora que, como as culturas orgânicas produzem muito menos, porque não são usados fertilizantes para impulsionar as colheitas, é necessária muita mais terra para produzir a mesma quantidade de alimentos biológicos que as culturas convencionais.

A equipa de especialistas concluiu ainda que os alimentos biológicos têm um impacto maior no clima do que os alimentos convencionais devido às emissões extras de dióxido de carbono produzidas pelo desmatamento exigido como resultado de uma produção orgânica menos eficiente.

Stefan Wirsenius, um dos autores do estudo publicado recentemente na Nature, afirmou que "o maior uso da terra na agricultura biológica leva indiretamente a maiores emissões de dióxido de carbono, graças ao desmatamento".

Para o estudo, os cientistas concentraram-se na produção de ervilhas e trigo orgânicos na Suécia. A equipa descobriu que as ervilhas cultivadas de forma biológica têm um impacto 50% maior no clima do que as cultivadas através de métodos convencionais. Para outros alimentos, depararam-se com uma diferença ainda maior, com o trigo a ter um impacto de 70%.

"Este é um grande descuido", afirma o cientista, adiantando que, "como mostra o nosso estudo, este efeito pode ser muito maior do que os efeitos dos gases com efeito de estufa".

Os cientistas salvaguardam que é também provável que haja um efeito indireto para a carne orgânica e produtos lácteos, dado que esses animais são alimentados com alimentos orgânicos, cultivados em fazendas que ocupam mais espaço. Mas, como não foi estudado, ainda não passa de uma hipótese.

Com este estudo, os cientistas não estão a sugerir que a agricultura biológica deva ser posta de lado. Em vez disso, acreditam que o seu uso deve ser cuidadosamente considerado.

"Alimentos orgânicos tem várias vantagens em comparação com os alimentos produzidos por métodos convencionais. Mas quando se trata do impacto climático, o nosso estudo mostra que a comida orgânica é uma alternativa muito pior", adianta Wirsenius.

ZAP // ScienceAlert