sábado, 16 de setembro de 2017

Agricultor português exemplo para a Europa



Virgínia Alves 15.09.2017 / 10:07 

O produtor nacional José Palha foi o português escolhido pela ECPA (European Crop Protection Association), para um documentário 

O produtor nacional José Palha foi o português escolhido pela ECPA (European Crop Protection Association) para um documentário (ver vídeo) que será divulgado a 15 de setembro, sobre a produção agrícola moderna, com destaque para a sua opinião sobre as dificuldades na atualidade por quem se dedica por inteiro à agricultura. 

A associação europeia tem selecionado exemplos locais de boas práticas na agricultura, para ilustrar a sua campanha de sensibilização para os consumidores e sociedade civil em geral, que têm estado afastados da realidade agrícola. Para José Palha, "foi um enorme orgulho" e espera poder contribuir, com o seu exemplo e conhecimento prático, "para uma melhor compreensão sobre o papel indispensável da ciência no suporte a uma agricultura segura, moderna e capaz de responder às necessidades alimentares da população mundial". 

O produtor, que é a sexta geração a cultivar a terra da família, gere uma exploração fora de Lisboa, onde utiliza toda a tecnologia agrícola disponível para maximizar a sua produção. Agricultura de precisão é o foco das suas operações. Mapas de condutividade, imagens de satélite NDVI e sensores que medem a humidade do solo fazem parte das técnicas que utiliza. Agricultura de precisão "Existe muita tecnologia disponível hoje em dia, muito mais do que tinham as gerações antes de mim. 

Graças a essas tecnologias modernas podemos tomar decisões sobre a forma como vamos tratar as culturas, sabendo exatamente o que é necessário. Só irrigamos a cultura se o sensor que mede a humidade nos der essa indicação. Após uma leitura dos resultados das análises ao solo e verificação da condutividade elétrica, podemos ajustar e reduzir a aplicação de adubo. Não existem mais adivinhas nem suposições", afirma José Palha. A questão da eficiência para uma exploração que produz ervilhas, milho, girassóis para óleos alimentares e trigo para pão e massas, é fundamental. 

O produtor explicou ao Dinheiro Vivo que tentam ser mais eficientes a todos os níveis: ambiental, económico e produtivo. No nível ambiental, aplicando práticas agrícolas amigas do ambiente como a produção integrada, utilizando os recursos naturais da melhor forma possível, como por exemplo a utilização de sondas de humidade para usar apenas a água que a planta efetivamente precisa evitando desperdícios, e utilizando os fitofármacos apenas e só quando realmente se justifica a sua aplicação. No nível económico, porque o objetivo "é que a exploração seja rentável, pelo que utilizamos todas as técnicas ao nosso dispor para isso, como são a utilização de variedades mais produtivas ou a utilização de técnicas de agricultura de precisão para poupar nos fatores de produção". 

Finalmente, ao nível produtivo, refere que utilizam "as técnicas agronómicas mais eficientes" para ter um alto nível produtivo. Como um exemplo, em todas as culturas foram instalados sensores de humidade que estão conectados a um modem. A cada 15 minutos o sensor fornece leituras sobre o teor da humidade do solo. "Desta forma apenas regamos as plantas que precisam de água. Durante anos, na nossa região, os agricultores irrigavam com base no que viam, mas quando se irriga desta forma arriscamo-nos a utilizar muita água. A água é um recurso escasso que tem que ser salvaguardado", adiantou. 

Tecnologia mais simples 

Explicou ainda que não é só o facto de a água custar muito caro, mas a grande quantidade de energia que é usada para irrigar. "Utilizando o sensor reduzimos o gasto de energia e a utilização de água". E utilizar tecnologia para monitorar tem uma razão simples: "A tecnologia é cada vez mais fácil de usar e cada vez mais simples – e não é cara". Para José Palha, " a agricultura de precisão é o futuro" para se chegar a uma "intensificação sustentável" da produção e estas técnicas permitem corrigir os diversos problemas da cultura localmente. 

"Há alguns anos, quando uma parcela estava infestada de ervas, era aplicado um herbicida em toda a parcela, onde havia ervas e onde não havia, hoje, com a utilização de drones, e tratando as imagens com um software informático, podemos delimitar por GPS no terreno as zonas infestadas e aplicar herbicidas apenas nesses locais", explica. Outro exemplo é a realização de mapas de condutividade elétrica do solo, que delimita as diferentes manchas de tipos de solo diferentes, que são georeferenciadas e é colocada uma sonda de humidade em cada uma das zonas mais representativas, e, utilizando um sistema de rega "inteligente", permite aplicar diferentes quantidades de água em diferentes zonas da mesma parcela, de acordo com as necessidades das plantas que aí estão instaladas. 

Além disso, acrescenta, "estas tecnologias estão cada vez mais acessíveis, e, com as poupanças que se conseguem na utilização dos fatores de produção, em pouco tempo ficam amortizadas, com óbvios ganhos ambientais pela menor utilização dos recursos e dos fitofármacos". 

Uso de pesticidas 

Quanto ao uso de pesticidas, reforça que são aplicados "apenas e quando e onde a cultura mostra que eles são realmente necessários", embora considere o seu uso "indispensável para podermos alimentar uma população mundial em constante crescimento". Acrescenta: "Se não pudermos utilizar produtos para proteger as nossas plantas, as quebras de produção serão enormes. Ao mesmo tempo, tenho a convicção de que a sua utilização tem que ser correta, nas doses certas, na altura própria, e apenas quando são mesmo necessários, e só assim podemos alimentar a população e manter a biodiversidade e proteger os solos e a água, que no fundo são os nossos bens mais preciosos". 

Na entrevista à ECPA, revelou que há uma opinião pública urbana. "É sobre os agricultores em geral e também sobre o mundo rural. Hoje, a grande maioria da população está nos centros urbanos e demonstra ter pouco conhecimento sobre a agricultura e sobre o mundo rural em geral. Provavelmente, esta população não saberá que a Europa é a região do mundo com regras mais apertadas na utilização de fitofármacos, onde a segurança alimentar dos produtos aí produzidos é a melhor do mundo e, ainda assim, é perfeitamente natural comprar produtos importados do Brasil ou da Tailândia, onde as regras de produção são completamente diferentes, e onde são utilizados pesticidas proibidos na Europa". 

E dá um exemplo: "Este ano de 2017, quando temos uma seca terrível, quando grande parte do interior do país se debate com enormes problemas no abastecimento de água, ouvi hoje na rádio, que ainda bem que está calor porque ainda se pode ir a praia. Esta afirmação prova o total distanciamento da realidade do campo e do mundo rural".

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