quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Floresta renasce. Maioria das casas continua por reconstruir



Nestes três meses dos incêndios de Pedrogão Grande foi a sociedade civil quem mais se mobilizou para ajudar  |  MARIA JOÃO GALA/GLOBAL IMAGENS

Em Pedrogão, fizeram-se pequenos arranjos, avança a reconstrução de algumas casas, mas há escombros para retirar e a maioria continua em ruínas, à espera da aplicação dos milhões angariados.

Passaram três meses, mas o incêndio que naquele 17 de junho engoliu vidas, destruiu casas e deixou um rasto de destruição está longe de ser completamente extinto. "Ainda arde cá dentro, por causa de tudo o que perdemos", diz ao DN Maria Silva, uma das habitantes que escapou ao fogo mas viu desaparecer a casa onde morava e perdeu vários amigos na estrada 236, quando tentavam alcançar o IC8 e escapar ao inferno.

O caminho para o interior norte do distrito de Leiria faz-se agora envolto nalgum verde, a contrastar com o castanho-negro do muito que ficou queimado. Ao longo do IC8, a partir do nó de Avelar (que naqueles dias de fogo foi o porto de abrigo de quem conseguiu escapar ao inferno das chamas) a força da natureza mostra-se a olhos vistos: os fetos tomaram conta dos terrenos florestais, e os eucaliptos - fonte de sustento que ironicamente se tornou fatal para aquelas populações - rebentam por toda a parte. Avançam de novo. Neste três meses foi a sociedade civil quem mais se mobilizou para ajudar, não apenas contribuindo monetariamente como indo ao terreno, fazendo o que pode. Há grupos de voluntários organizados que estão a reconstruir casas, a replantar terrenos. "A aplicação dos apoios que existem é muito pouco. Julgo que é residual", disse ao DN Dina Duarte, natural do Nodeirinho, a aldeia onde morreram 10 dos menos de 50 habitantes. "Basta ir ver o que está no terreno."

Na verdade, Dina sublinha que "é a sociedade civil a grande responsável por qualquer regeneração", nomeadamente no que respeita a plantas e árvores. Mas para além dos elementos físicos que se perderam, há o tão necessário apoio a quem ficou. E foi com esse espírito de comunidade que Dina Duarte e um conjunto de cidadãos afetados pelo incêndio criaram a Associação das Vítimas de Pedrogão Grande, oficialmente constituída a 8 de setembro, e que conta com cerca de 60 associados. A presidente, Nádia Piazza, perdeu o filho de cinco anos no incêndio. Dina não perdeu familiares diretos nem a casa, mas ficou sem muitos amigos. E tem dedicado muito do seu tempo a ajudar os outros, à sua volta. "Fomos distribuindo o pouco que ia chegando por todos, para chegar alguma coisa a cada um, também para combater este desânimo, esta frustração". Árvores, plantas, de tudo um pouco. "Mas a a sensação que se tem é que muito pouco foi reconstruído. É verdade que nem tudo estava legalizado, nem sempre se entregou toda a documentação necessária. E fez-se alguma coisa. Alertámos muito para o isolamento e neste momento andam algumas carrinhas no porta-a-porta com alguns serviços, um elemento da segurança social, um do ministério da agricultura e outro dos serviços de cartório notarial, para quem perdeu documentos".


Nos concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos arderam cerca de 500 casas. "A nossa expetativa é que quando as casas começarem a ser reconstruídas, que sejam bem alicerçadas, que respeitem as origens do xisto e o contributo que tem na nossa área geográfica, que sejam seguras no sentido de, se houver um novo fogo, não ardam. Houve algumas que não arderam e hoje já se percebe porquê. A madeira deve ser definitivamente preterida em função de outros elementos mais seguros", defende Dina Duarte. "Se vamos refazer, que se faça melhor. Que se comece a fazer um trabalho no terreno relativamente à reflorestação, independente do fundo que venha a ser aplicado. Aparentemente é muito dinheiro que aí vem, vamos tornar as aldeias e as estradas seguras".

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