quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Gestor corrupto foi denunciado pela própria Jerónimo Martins


Ricardo Santos Ferreira
 25 Set 2017

Denúncia foi feita pelo grupo português, que detetou irregularidades através do sistema de controlo interno. Gestor já reconheceu culpa.


Cristina Bernardo
O português que dirigia as operações da ARA, a empresa de retalho do grupo Jerónimo Martins na Colômbia, foi detido pelas autoridades colombianas e já se reconheceu culpado das acusações de corrupção e de coação para ato ilícito. A denúncia partiu da própria Jerónimo Martins, que detetou irregularidades através do sistema de controlo interno, alertou as autoridades colombianas e entregou-lhes toda a informação e documentação recolhida.

A Fiscalia General colombiana, que tem as funções do Ministério Público, revelou que a investigação feita determinou que Pedro Coelho pedia entre 50 e 80 milhões de pesos colombianos (entre cerca de 14.500 e 23.000 euros) a empresas de construção, em troca de lhes adjudicar contratos para a construção de lojas da rede ARA.

Além disso, o gestor português pediu a um construtor um salário de 20 milhões de pesos (cerca de 5.750 euros) para a sua mulher e a integração desta na folha de pagamentos da empresa, sem que tivesse de ir trabalhar.

Num comunicado interno, a que o Jornal Económico teve acesso, o presidente do conselho de administração da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos revelou que a denúncia foi feita pelo próprio grupo, depois de detectadas irregularidades através do sistema de controlo interno, e que Pedro Coelho foi "demitido com efeitos imediatos", a 19 de setembro, dia em que foi detido, depois de um "processo de investigação criminal".

"Este tipo de conduta, mesmo tratando-se de um caso isolado, não é tolerado por parte da empresa e vai contra os valores do grupo Jerónimo Martins", garante Pedro Soares dos Santos, sublinhando que "a empresa tem tolerância zero face a qualquer acto de corrupção e actuará sempre de forma firme e contundente".

Soares dos Santos agradece a ação das autoridades colombianas e avisa que o grupo se reserva o direito de processar Pedro Coelho, "por todos os eventuais danos reputacionais e de imagem" relacionados com este caso.

Pedro Jorge Marques Silvestre da Costa Coelho era colaborador do grupo Jerónimo Martins desde 1994 e estava na Colômbia há um ano. Antes, esteve três anos na Polónia, onde foi responsável pela gestão do segmento de perecíveis para todas as lojas. Fez carreira no grupo em Portugal e esteve, também, por três anos, ainda com a Jerónimo Martins, no Brasil. Antes de se juntar ao retalhista liderado pela família Soares dos Santos, esteve quatro anos na concorrente Modelo Continente.

Licenciado em Gestão pela Universidade Nova, Pedro Coelho também fez formação em universidades como o INSEAD e a Kellogg School of Management na Northwestern University.

Como medidas de coacção, o tribunal determinou que Pedro Coelho está impedido de sair da Colômbia e obrigado a apresentar-se quinzenalmente às autoridades.

O grupo Jerónimo Martins está a operar na Colômbia desde 2013, através da rede de lojas de retalho alimentar ARA. Atualmente, tem cerca de 220 lojas, mas espera abrir 150 no conjunto do ano. O objectivo é ter uma rede de 1.000 lojas em 2020.

Esta é a terceira geografia onde o grupo se instalou, depois de Portugal e da Polónia.

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