segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Opinião. Inovar na gestão do Capital Natural António Rios de Amorim

 11.11.2017 / 07:00 

Deve ser feita uma aposta sem precedentes na floresta de sobro. Um projeto que deve ser abraçado por todos. 

 No território continental, o uso florestal do solo é dominante. Em Portugal, a floresta e o conjunto de empresas que compõem o setor florestal são da maior relevância para a economia do País: uma contribuição de cerca de 10% para as exportações nacionais e um Valor Acrescentado Bruto que representa 1,2% do PIB. Em termos sociais, estima-se que o setor empregue diretamente mais de 135 mil pessoas. 

É em contraciclo com este contexto favorável que acontecem os catastróficos incêndios de 2017 que, pela sua dimensão e alcance, marcarão inevitavelmente a história recente de Portugal. Destes, resultarão lastimáveis consequências sociais, ambientais e económicas, que ainda não conseguimos perceber em toda a sua plenitude. Enquanto Portugueses e participantes na fileira florestal, na Corticeira Amorim lamentamos profundamente o sucedido. Esperamos, no entanto, que seja o momento de olhar para a floresta nacional com um rigor nunca visto, com um pragmatismo inédito e com planos que não se delineiem debaixo de uma visão de curto prazo, mas que visem, acima de tudo, a recuperação da floresta nacional e a sua preservação, assegurando-se desta forma o bem-estar das populações. Neste âmbito, é importante realçar que o sobreiro é a principal espécie autóctone do país, ou seja, uma árvore perfeitamente adaptada às condições de clima e de solo de Portugal e uma espécie prioritária no combate às alterações climáticas. 

É que, de entre inúmeros benefícios ambientais, as florestas de sobro funcionam como sumidouros biológicos de CO2. Dado o seu crescimento lento – com um ciclo de vida que por vezes ultrapassa os 200 anos – os sobreiros são ainda um armazém relevante de dióxido de carbono, característica que se estende também aos produtos de cortiça e que se prolonga com a sua reciclagem. Com 736 mil hectares, Portugal é líder mundial da área de distribuição de sobreiro e também em termos de transformação industrial da cortiça. Este estatuto é ainda mais relevante numa época em que a conjuntura é benéfica para todo o setor. Assistimos nos últimos anos a crescimentos sucessivos das exportações portuguesas de cortiça, um percurso amplamente baseado no trajeto da Corticeira Amorim. Perante esta conjuntura, é nossa convicção que deve ser feita uma aposta sem precedentes na floresta de sobro. Um projeto que deve ser abraçado por todos. 

No que à Corticeira Amorim diz respeito – e mesmo sem deter propriedades -, a empresa vem antecipando a necessidade de se implementar um programa estruturado de apoio à floresta nacional de sobreiros com o intuito de assegurar a sua preservação e valorização. Consequentemente, pretende-se sustentar a produção contínua de cortiça de qualidade. Liderado pela empresa, o Projeto de Intervenção Florestal tem sido feito em parceria com os produtores florestais, com instituições de investigação, nacionais e internacionais, e com entidades públicas locais. 

Desde a sua génese, desenvolve-se em torno das principais linhas de orientação: a redução do primeiro ciclo de extração de cortiça, a sequenciação do genoma do sobreiro e o combate a pragas e a doenças. Esperamos que, dentro de uma década, os novos povoamentos de sobreiros deem origem a aproximadamente ¼ de toda a cortiça produzida no nosso país. Este é certamente um caminho para continuar, um caminho que cruza, de forma inédita, investigação científica, necessidades da floresta e combate às alterações climáticas e os ganhos serão evidentes para Portugal. O nosso país reforçará a sua liderança mundial, quer em termos de área de floresta de sobreiros, quer em termos de produção de cortiça, ao mesmo tempo que tomará medidas concretas para cumprir os compromissos de neutralidade carbónica, num exemplo paradigmático de desenvolvimento sustentável. 

António Rios de Amorim, Presidente e CEO da Corticeira Amorim

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