domingo, 18 de junho de 2017

Como lidar com os campos ao abandono?

Estado gasta 11 euros por hectare em prevenção de incêndios. Terrenos rurais pagam menos de um euro de impostos por hectare. 36% dos solos rústicos não tem qualquer exploração.

"O principal desafio do ordenamento do território é reduzir os danos causados pelo abandono de mais de um terço do solo rústico português", explica o investigador Pedro Bingre do Amaral. "O abandono tem custos", escreveu este professor do Politécnico de Coimbra, há três meses, numa comunicação promovida pelo Conselho Económico e Social.

O custo principal é mesmo o que agora está à vista de todos, depois da tragédia de Pedrógão Grande. Florestas e matos abandonados em regiões chuvosas, seja nos trópicos, seja no noroeste da Europa, têm uma "dinâmica ecológica" diferente, que permite restaurar espontaneamente a vegetação, e limitar os riscos de incêndio. Não é isso que se passa em Portugal, onde um terreno abandonado rapidamente se enche de vegetação "pirófila" (estevas, tojos ou urzes), de "alta inflamabilidade", explica Pedro Bingre. "Abandonar um terreno implica onerar o interesse público", resume o investigador.

Entre 2010 e 2015 arderam, em média, 127 mil hectares por ano, em Portugal. Cerca de metade estavam cobertos "apenas por matos". A maioria destes incêndios começam, precisamente, em zonas abandonadas, pondo em risco, depois, todo o tipo de florestas e mesmo populações. Com isso, "Portugal perde directa ou indirectamente em incêndios florestais perto de mil milhões de euros por ano", mostra Pedro Bingre. Trata-se de uma "situação calamitosa", que exigiria uma resposta eficaz.

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Por isso, o investigador tem defendido, há vários anos, uma alteração da legislação em várias frentes. Desde logo, lidando com uma realidade culturalmente enraizada: a do fraccionamento da propriedade. "Em 14 dos 18 distritos do Continente", explica, a área média não excede os 0,57 hectares, enquanto nos restantes quatro distritos essa média é de 10,85 hectares. E esta é uma realidade em agravamento constante, com a morte de proprietários que deixam em herança terrenos divididos por herdeiros que já abandonaram a terra ou não a pretendem utilizar economicamente. Muitos terrenos são, por isso, parte de "heranças jacentes", não reclamadas, que ficam num limbo legal, duplamente abandonadas. "Uma solução legal para este imbróglio poderia ser rever a tributação do património de modo a desincentivar o abandono, onerando sobre os proprietários os encargos da prevenção e combate aos incêndios", propõe Pedro Bingre.

Esta medida nunca foi tomada por uma razão fácil de entender: afectaria, calcula o investigador de Coimbra, boa parte dos 2,9 milhões de portugueses que são os proprietários de 8,4 milhões de hectares de solos rústicos, divididos em 11,6 milhões de parcelas. Actualmente, estes pagam de IMI, em média, 0,88 euros. Já o Estado, em 2016, gastou mais de 11 vezes esse valor, por hectare, em prevenção e combate a incêndios: 11,3 euros por hectare.

Por isso, Pedro Bingre defende que os Planos Directores Municipais passem a definir "um uso sílvicola básico e obrigatório" para todos os terrenos. E que os proprietários sejam integrados em "unidades de gestão" que explorem os terrenos ao abandono. Também as leis que regulam as sucessões deviam, defende o investigador, ser melhoradas para definir um prazo para as "heranças jacentes", findo o qual reverteriam para o Estado. Por fim, Pedro Bingre defende ainda que o valor patrimonial tributário dos terrenos passe a ser calculado "em função dos usos potenciais" e não pelo actual "coeficiente de localização", que em última análise agrava o desordenamento ao penalizar mais os terrenos cultivados e ao desonerar os abandonados. "O quadro jurídico da fiscalidade, da propriedade e das sucessões", conclui Pedro Bingre, tendem a "agravar fortemente o problema".

SIRESP. As polémicas do sistema de comunicações que falhou (outra vez)



O SIRESP, usado pelos bombeiros e por várias outras autoridades para comunicarem entre si, foi abaixo durante o incêndio. É o último problema de uma longa história de polémicas.


As chamas que destruíram vários hectares de floresta na zona de Pedrógão Grande destruíram as antenas de comunicações — e o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP), usado pelos bombeiros e por várias outras autoridades para comunicarem entre si, foi imediatamente abaixo. As equipas que no terreno combatiam as chamas só conseguiram assegurar a comunicação por vias alternativas e, segundo o primeiro-ministro, os meios não ficaram "comprometidos". O problema foi superado ainda durante a noite de sábado: a MEO colocou vários carros na rua equipados com antenas móveis que asseguraram a normalização da situação.

Desta vez, a falha ficou a dever-se a problemas externos ao próprio sistema, mas o SIRESP tem um historial de complicações e polémicas de longos anos e não é a primeira vez que falha — um sistema com que António Costa se cruzou enquanto ministro da Administração Interna.

António Costa relançou sistema

Quando foi chamado para o Governo de José Sócrates, António Costa encontrou um modelo de SIRESP – sistema que tinha sido implementado ainda no executivo de António Guterres – em que encontrava mais problemas que méritos.

O então ministro da Administração Interna contactou os parceiros de negócio – um conjunto de entidades sob comando da ex-Sociedade Lusa de Negócios, do Banco Português de Negócios de José Oliveira e Costa– e renegociou as condições do contrato em vigor, poupando mais de 52 milhões de euros ao valor (485,5 milhões de euros totais) que tinha sido acertado entre as empresas e o seu antecessor na pasta, o social-democrata Daniel Sanches. Na equipa que renegociou os termos do acordo com o consórcio estava já um nome que, mais recentemente, ganhou dimensão: Diogo Lacerda Machado, o "amigo pessoal" do primeiro-ministro que viria a ser contratado como consultor especial do chefe do Governo.

Quando chegou ao Governo, Costa pediu um parecer sobre o negócio à Procuradoria-Geral da República. Mas, apesar do tom crítico da análise ao documento e de ter declarado nulo o ato de adjudicação — parecer que daria ao então ministro respaldo para anular o concurso inicial e procurar novos interessados que não a SLN –, Costa optou por voltar-se para o mesmo consórcio e renegociar as condições do contrato original, abdicando de uma série de funcionalidades e reduzindo, com isso, o valor global do negócio.

Até ao final de 2014, escreveu o jornal i em fevereiro do ano passado, o SIRESP tinha custado aos cofres públicos 270 milhões de euros. O contrato – entretanto renegociado, de novo, pelo Governo –, tem, neste momento, mais quatro anos de vigência. Em poucos meses, depois de chegar à chefia do Governo, o primeiro-ministro conseguiu que todos os ministros envolvidos no dossier pusessem a sua assinatura na nova versão do contrato. Nesse momento, já o SIRESP acumulava problemas – os casos sucedem-se.

As falhas no SIRESP e as mortes de bombeiros

Um dos episódios mais graves em que a equação "SIRESP+falhas de operação" se verificou resultou na morte de dois bombeiros de Carregal do Sal. Foi em janeiro de 2014 que o Conselho Português da Proteção Civil (CPPC) deu a conhecer novos dados sobre os factos que estiveram na origem das duas mortes, nos incêndios do verão anterior. Na sequência da reportagem "Sem Rede", emitida na TVI dias antes, o presidente do organismo garantiu que, "se o sistema funcionasse, os gritos de um dos intervenientes para tentar alertar aquela equipa [de que faziam parte os dois bombeiros, um homem e uma mulher] não seriam gritos, seriam comunicações via rádio. E os meios aéreos também não tinham contacto, não tinham forma de alertar aquela equipa".

Dias antes, em comunicado, o CPPC referia que "o Conselho Português de Proteção Civil mantém contacto regular com diversos agentes de proteção civil e entidades cooperantes e sabe, de fonte segura, que não pode identificar, que a bombeira de Carregal do Sal, que perdeu a vida no verão passado, poderia estar viva se houvesse radiocomunicação de grupo que ligasse bombeiros, sapadores florestais e GIPS (Grupo de Intervenção Permanente da GNR)". No ano anterior a este caso, o então ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, tinha distribuído cerca de mil novos rádios com o sistema SIRESP a várias corporações de bombeiros do país. Equipamentos que deveriam "praticamente duplicar a capacidade de comunicação instalada nas corporações", disse o ministro.

Aquando da denúncia das falhas no sistema de comunicações, o CPPC dava conta de um outro episódio: "Foram ainda resgatados outros dois bombeiros noutra ocorrência no Caramulo, salvos devido à pronta intervenção de uma equipa do GIPS que se apercebeu da situação e, colocando as suas vidas em risco porque não tinham forma de comunicar com os bombeiros, não hesitaram em intervir para os salvar".

A reportagem da TVI ilustrou vários dos contextos em que o SIRESP falha. Por exemplo, dentro de um elevador; no interior de garagens subterrâneas; em localidades mais remotas do país, aquelas que são mais afetadas pelos incêndios. Onde um telemóvel comum funciona sem dificuldades, o sistema de comunicação dos bombeiros, polícias e INEM não tem rede. Essas falhas foram também ficando plasmadas em simulacros realizados nos últimos anos pelas autoridades de socorro.

Por exemplo, em agosto de 2013, no Chiado. Um simulacro a propósito dos 25 anos do incêndio naqueles armazéns de Lisboa e que juntou várias corporações de bombeiros voltou a expôr as fragilidades do sistema de comunicações. "Essa questão foi levantada", admitiu o então vereador Manuel Brito, com o pelouro da Proteção Civil. Os bombeiros que participaram no simulacro relataram dificuldades de comunicação num incêndio em meio urbano, em plena capital.

Em 2008, um simulacro nos distritos de Santarém, Lisboa e Setúbal já tinha tocado na ferida. "Nos últimos três dias, apreendemos e foram detetadas algumas insuficiências" e "fragilidades" no funcionamento do SIRESP, afirmou Gil Martins, então comandante operacional nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Entre as falhas encontravam-se, já nesse momento, falhas de comunicação e de gestão de informação entre as entidades no terreno. "Tornou-se impossível, por esta via, a comunicação entre Proteção Civil e INEM. Esta foi a grande questão que precisa de ser melhorada", salientou o então comandante distrital de Operações e Proteção Civil, Rui Esteves.

Um negócio de milhões na mira do Ministério Público

O sistema já estava em funcionamento há vários anos quando, em 2005, o Ministério Público (MP) decidiu abrir um inquérito ao contrato de adjudicação do SIRESP, por suspeitas de tráfico de influências e participação económica em negócio. A investigação acabou arquivada, mas ficaram no ar suspeitas sobre a forma como o consórcio liderado pela ex-SLN, do grupo Banco Português de Negócios liderado por José Oliveira e Costa, conseguiu o contrato de quase 500 milhões de euros.

O contrato original foi assinado três dias depois das eleições que acabariam com o curto mandato de Pedro Santana Lopes como primeiro-ministro. Daniel Sanches, ex-procurador (e primeiro diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal), ex-diretor-adjunto da Polícia Judiciária, ex-dirigente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e ex-diretor do Serviço de Informações de Segurança saltou da esfera pública para administrador de empresas da SLN em 2000.

Três anos depois, de volta ao Estado como ministro da Administração Interna de Santana Lopes, Sanches entrega o contrato à mesma SLN de que tinha acabado de sair. Valor da adjudicação: 538,2 milhões de euros, verba cinco vezes superior àquela que precisaria de ter gasto caso tivesse optado por um modelo diferente de comunicações. Essa posição foi defendida por Almiro de Oliveira, presidente do grupo de trabalho que presidiu ao grupo que estudou este sistema de comunicações.

Apesar de o inquérito do MP — entregue ao procurador José Azevedo Maia — ter sido arquivado uma primeira vez, em março de 2008, Oliveira e Costa e a filha (administradora de uma empresa do grupo SLN) chegaram a ser constituídos arguidos. Daniel Sanches nunca foi ouvido pela Justiça e, segundo escreveu na altura o Correio da Manhã, negou à comissão de inquérito parlamentar ao caso BPN ter tido qualquer intervenção no projecto apresentado pelo consórcio liderado pela SLN.

No ano seguinte ao arquivamento, o processo é enviado ao DCIAP, para que fosse analisada uma eventual reabertura. Pouco antes, tinham sido apreendidos vários documentos ao homem forte do BPN, Oliveira e Costa, que poderiam constituir "factos novos" na investigação ao contrato milionário. Mas não houve nada de novo. O arquivamento de 2008 continuou a valer.

Há, no entanto, outro nome de relevo em toda esta novela: Manuel Dias Loureiro. O homem que Cavaco Silva tinha escolhido para o Ministério da Administração Interna já era, no momento em que o contrato entre o Estado e a SLN acertaram o negócio, administrador não executivo do grupo ligado ao BPN. Além de ter estado na administração de várias empresas, era, ao mesmo tempo, administrador em Portugal da tecnológica Ericsson, a empresa que fazia parte do consórcio para o SIRESP, precisamente como parceira tecnológica da SLN.

O negócio do sistema de comunicações haveria de cruzar-se, ainda, com o caso Portucale, um processo em que se investigava a declaração de "imprescindível utilidade pública", também nos últimos dias do Governo de Santana Lopes, a um terreno turístico em Benavente. Mas nunca chegou a levar qualquer dos seus protagonistas a sentar-se no banco dos réus.

OS BOMBEIROS PRECISAM DA NOSSA AJUDA


Exército pára exercício para combater fogos



Exército mobilizado para auxiliar nas operações
Foto: Miguel Vidal/Reuters


Parte dos militares do Exército que estão a apoiar os bombeiros no fogo de Pedrógão estavam a participar num exercício militar em Beja, que foi interrompido para aumentar a resposta às necessidades da Proteção Civil, segundo soube o JN.

O Estado-Maior do Exército confirmou a informação e adiantou que o exercício em causa era o Orion17, em Beja - o exercício anual que é o mais importante do ramo terrestre das Forças Armadas.

De acordo com a mesma fonte, a ordem partiu do tenente-general Faria Menezes, que, em comunicação do chefe do Exército, general Rovisco Duarte, mandou retirar um batalhão de pára-quedistas que estava no Orion17. Faria Menezes mandou a força regressar ao quartel de Tancos logo que a situação começou a perigar, para ficar pré-posicionado e em situação de alerta.

Foi esta medida que permitiu ao Exército conseguir responder de imediato quando a Proteção Civil pediu reforço de meios militares e ao mesmo tempo com garantias de uma reserva credível, a nível de homens e meios.

Investigadores da UTAD defendem aposta em "árvores bombeiras" para travar incêndios

Investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) dizem que Portugal deve apostar mais em "árvores bombeiras" para reflorestar o território porque são espécies que resistem e travam os incêndios. Esta solução permitirá, a longo prazo, limitar o flagelo dos incêndios, afirmam.

Investigadores da UTAD defendem aposta em "árvores bombeiras" para travar incêndios
Carlos Barroso/CM

24 de setembro de 2016 às 18:14

Os bidoeiros, carvalhos e castanheiros estão entre as principais "árvores bombeiras" porque são árvores folhosas que mantêm o ambiente "relativamente" húmido e abrigado do vento durante o verão, revelaram investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em comunicado enviado à Lusa.
 
"Durante o Verão estão verdes, por isso, ardem com mais dificuldade e, por outro lado, produzem uma folhada que ao acumular-se no solo é pouco inflamável e se decompõe com facilidade, ou seja, cai no Outono e quando chega o Verão grande parte decompõe-se", disse o investigador e também docente da universidade, Paulo Fernandes.
 
E explicou: "Não há ali muito alimento para o fogo e, frequentemente, os incêndios ou param por si só, extinguindo-se ao entrar nas manchas, ou ardem com pouquíssima intensidade sem causar danos às árvores".
 
Paulo Fernandes salientou que é "raríssimo" encontrar um fogo cuja origem ocorra numa área com estas espécies e, quando acontece, as árvores mantêm-se verdes.
 
As "árvores bombeiras" encontram-se sobretudo no norte e centro do país, frisou. "O problema que se levanta é o da qualidade do solo. Aquelas espécies são mais exigentes, requerem locais de solo mais fresco, de melhor qualidade é por isso que, normalmente, ocupam vales, zonas onde há mais solo e mais humidade", esclareceu.
 
O investigador da UTAD adiantou que para zonas com "piores" condições de solo há "sempre" espécies que embora ardam com maior facilidade conseguem recuperar, sendo o caso do sobreiro.
"No extremo temos aquelas espécies que ardem muito bem como, por exemplo, os eucaliptos e os pinheiros. A natureza da espécie impõe o fogo e com a acumulação de biomassa há sempre um potencial risco", explicou.
 
Para o especialista, uma das respostas assenta na "gestão de combustível", através da limpeza dos espaços mantendo o subcoberto livre de mato e eliminando parte da manta-morta. "Consegue-se limitar o efeito do fogo, mas à custa de trabalho, esforço de limpeza e intervenção", realçou.

Em atualização: Pedrógão Grande cercado pelas chamas. Ministra e Deputados não conseguem sair.

8/06/2017 20:03


Toda a cidade está cercada em chamas. Políticos e repórteres que se dirigiram ao local estão presos pelas várias frentes de incêndio

Apesar das comunicações estarem fracas, chega a informação que deputados e equipas de jornalistas estão encurralados pelas chamas em Pedrógão Grande. 

Entre os isolados, encontram-se Constança Urbano de Sousa, ministra da Administração Interna, e a vice-presidente do Partido Social Democrata, Teresa Morais. 

De norte a sul, "estamos rodeados pelo fogo". 

A evacuação por via área estará impossibilitada pela dimensão do fumo em torno de Pedrógrão. "Não consigo ver a minha mão à frente", conta um repórter de imagem. 

A A13 e o IC8 continuam encerrados. Por falta de contingente, Forças Armadas foram obrigadas a reforçar o combate às várias frentes ativas.

Especialista diz que incêndio em Pedrogão Grande é dos mais graves do mundo


Xavier Viegas destaca a "rápida propagação do fogo"
Especialista diz que incêndio em Pedrogão Grande é dos mais graves do mundo

Foto: Lusa

O especialista em incêndios florestais Xavier Viegas revelou hoje que terá sido a "rápida propagação" do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande que conduziu às várias mortes, fazendo deste um dos mais graves incêndios do mundo dos últimos anos.

O professor universitário acrescentou, ainda, que a falta de limpeza das florestas e da envolvente das casas, bem como as características do terreno, terão contribuído para a extensão deste incêndio com vários focos, apesar de se suspeitar que a causa foi uma trovoada seca.

"Tudo leva a crer que a propagação do fogo foi muito rápida, não tenho a certeza, mas a indicação que tenho é que terá havido vários focos de incêndio, não necessariamente por causa humana, há possibilidade de ter sido causado por uma trovoada seca e, quando isso acontece, pode haver vários focos ao mesmo tempo em diferentes lugares e aí torna-se extremamente difícil controlar todas as situações", explicou à Lusa.

Esta situação aliada à vegetação e ao "estado de secura muto grande" em que se encontra, e a um terreno "muito complicado", como é o circundante do IC8, com ravinas e desfiladeiros muito acentuados, "dá origem a comportamentos do fogo que facilmente surpreendem as pessoas".

Ainda a avaliar a dimensão da tragédia humana, Xavier Viegas adianta já que este é o incêndio "mais importante de que tem conhecimento".

"E, claramente, pela repercussão que está a ter, mesmo a nível internacional, penso que é um dos maiores incêndios, dos mais graves, dos últimos anos na Europa, se não no mundo", até mesmo pelo "número de vítimas, pela rapidez com que se desenvolveu e como estas vítimas foram causadas".

Para o especialista, este acontecimento deveria chamar a atenção para "muita coisa que é preciso fazer no nosso país para melhorar a segurança das pessoas e evitar que este tipo de acidentes ocorra".

Nesse sentido, Xavier Viegas e a sua equipa de investigação que trabalha no problema da segurança das pessoas vão "procurar estudar o mais possível aquilo que aconteceu para retirar destas circunstâncias todas as lições que for possível retirar", procurar "aprender com elas e, se possível, no futuro evitar que este tipo de acidentes ocorram".

Quanto às razões que justifiquem que tantas pessoas tenham sido apanhadas pelo incêndio dentro dos carros no IC8, o investigador reconheceu não saber explicar, até porque ainda não tem os dados todos, mas sublinha que, daquilo que se apercebe, a principal razão é que "tudo se passou muito depressa".

"A experiência que tenho destes terrenos é que o fogo se propaga com muita rapidez: de um momento para o outro. As pessoas podem pensar que estão em segurança, que há condições para passar e podem ser surpreendidas na curva". 

Outro aspeto importante é que nem sempre é fácil estar a cortar o acesso (nas estradas) a toda a gente, porque "há pessoas que residem por aqui, há casas por todo o lado e, infelizmente, pode sempre haver gente que de um momento para o outro pega no seu carro e se faz a estrada".

"Como digo, não sei quais as circunstancias aqui, mas ao que julgo saber houve várias outras vítimas para além deste aglomerado que houve aqui num dado ponto da estrada próximo de Castanheira de Pera, mas pode haver pessoas que se metem nos carros e sem as autoridades terem conhecimento", afirmou.

Independentemente da imprevisibilidade que este tipo de incêndios sempre acarreta, há uma série de fatores previsíveis e preveníveis, que passam por limpar as florestas, dar mais condições de proteção às casas, que as pessoas tenham mais cuidado na limpeza da envolvente das casas, para que possam estar seguras, ter indicações de quando podem e não podem, ou não devem, fazer-se à estrada, "porque há circunstancias em que, de facto, não é um meio seguro, quer para bombeiros quer para civis", considerou.

Partindo deste episódio, Xavier Viegas antevê um ano complicado, sobretudo se as condições meteorológicas persistirem, mas sublinhou que as pessoas podem fazer alguma diferença.

"Diria que, infelizmente, estamos no começo do período dos incêndios e não estamos a começar nada bem. Se as condições meteorológicas não mudarem é de esperar que tenhamos este tipo de situações. Agora o que pode e deve mudar é o comportamento das pessoas".

Autor: Lusa

Ministro da Agricultura convoca reunião para analisar medidas de apoio



Lusa 18 Jun, 2017, 17:54 | Economia

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Capoulas Santos, convocou uma reunião interna para avaliar possíveis medidas de apoio, no seguimento do incêndio de Pedrógão Grande, que já provocou pelo menos 61 mortos.

"Capoulas Santos esteve hoje no terreno, acompanhado pelo secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, e convocou já uma reunião interna para analisar a situação e abordar possíveis medidas de apoio, bem como a respetiva implementação, tendo em conta a evolução dos acontecimentos", segunda uma nota do Ministério hoje enviada à Lusa, sem indicar a data do encontro.

De acordo com o comunicado, o ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural "tem estado a acompanhar em permanência" a evolução do incêndio de Pedrógão Grande e manifestou pesar pela tragédia.

"O ministro lamenta profundamente as mortes dos cidadãos na sequência do incêndio e manifesta total solidariedade para com as famílias enlutadas, para com os municípios que estão a ser afetados por esta catástrofe e para com os bombeiros que combatem as chamas", diz ainda o comunicado do Ministério.

De acordo com a informação divulgada na página na Internet da ANPC, as chamas que deflagraram às 14:43 de sábado, em Pedrógão Grande, mobilizavam às 17:45 de hoje, mais de 830 operacionais, 260 veículos e dez meios aéreos.

O fogo deflagrou ao início da tarde de sábado numa área florestal em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, e alastrou-se aos municípios vizinhos de Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, obrigando a evacuar povoações ou deixando-as isoladas.

Segundo o último balanço feito hoje pelo secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, cerca das 13:00, o incêndio provocou pelo menos 61 mortos.

Agricultores pedem maior conciliação nas negociações



JORNAL I
17/06/2017 21:00

Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia são as regiões que mais recebem fundos de apoio à agricultura. 

Na semana que passou, tanto o Presidente francês, Emmanuel Macron, como o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, assinalaram que, se o Reino Unido quiser voltar atrás as portas da União Europeia (UE) estão abertas. Mas, lembram, essa é uma decisão britânica e quando as negociações começarem será difícil retroceder.

Além das dificuldades de negociação na questão da união aduaneira e no acesso ao mercado único, a agricultura é outro tema sensível.

Os maiores subsídios europeus à agricultura são para o País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia e a meio da semana o presidente da União de Agricultores Britânicos (UAB) defendeu que o governo inglês deverá procurar um tom mais conciliatório na estratégia de negociação do Brexit.

«O governo tem de perguntar-se a si mesmo se as eleições gerais lhe atribuíram um mandato para o Brexit que ambicionava. Diria que não», considerou a presidente da UAB. 

De acordo com Meurig Raymond, «está na altura de o governo britânico adotar uma postura mais consensual e colaborante para o Brexit na minha opinião, é a única saída». 

O responsável, citada pela agência Reuters, revelou que isto implica uma «posição mais conciliatória nas negociações, trabalhar numa melhor parceria com a UE para assegurar um resultado que seja benéfico para os dois lados».

De acordo com Meurig Raymond, a questão mais importante para o setor agrícola é assegurar um «comércio livre de tarifas e um acesso ao mercado único europeu sem fricções». 

Segundo o responsável, isto poderá acontecer através de um acordo aduaneiro sofisticado ou o Reino Unido continuar como membro da União Aduaneira.

Mudança de ministro

O ministro responsável pela agricultura mudou depois da eleição, como Michel Gove a substituir Andrea Leadsom. Gove já tinha sido ministro da Educação e também ministro da Justiça e é visto como um reformador. 

«Se ele vai ser um reformador não tenho bem a certeza mas agora temos um membro muito proeminente no Ministério do Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais», aponta Raymond. «É muito ambicioso, estou convencido que terá de defender bem a agricultura nos próximos meses e parece-me bem preparado».

O Brexit vai alterar o funcionamento económico da UE. O acordo que sair das negociações que deverão começar esta semana marcará o futuro europeu.

CNEMA faz balanço positivo da Feira Nacional da Agricultura, que hoje termina em Santarém



Lusa 18 Jun, 2017, 16:31 | Economia

O Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) fez um balanço positivo da 54.ª Feira Nacional da Agricultura, que hoje termina em Santarém, sublinhando a dimensão política e a afirmação do certame como "montra" do setor.

Em conferência de imprensa, o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e administrador do CNEMA, Luís Mira, sublinhou o "saldo positivo na participação de expositores e na área ocupada pelas empresas que apostaram no certame para a divulgação de produtos e serviços".

Referindo os "nove dias intensos na promoção da agricultura portuguesa e dos setores relacionados com este mercado, com grande satisfação dos expositores e dos visitantes", a organização apontou o aumento da área de exposição.

"A Feira afirmou-se, uma vez mais, como o principal evento deste mercado e a grande montra do setor agrícola em Portugal, no qual a inovação e a tecnologia estiveram em destaque", salientou.

O CNEMA realçou "o investimento das empresas que tornaram possível uma exposição cuidada", o que "revela a importância do certame para estabelecer contactos e negócios".

Esperando um ligeiro decréscimo no número de visitantes relativamente à edição de 2016 (cerca de 190.000 contra os 200.000 do ano passado, número recorde), a que não terão sido alheias as temperaturas anormalmente elevadas dos últimos dias, Luís Mira afirmou que o sucesso da feira mede-se principalmente pelo impacto económico nas empresas participantes e pela imagem que passa do setor.

Por outro lado, o certame voltou a ser espaço privilegiado para "a agenda política nacional com a presença de diversas individualidades, com natural destaque para a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa".

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, esteve presente em diversas iniciativas durante os nove dias de feira, ocasiões em que anunciou várias medidas para o setor, em particular para os cereais, produção que serviu de tema para o certame deste ano.

Luís Mira referiu ainda a constituição, durante o certame, da "Irrigants d`Europe", associação que reúne as principais associações europeias gestoras de água para a agricultura (de Portugal, que preside, de Espanha, de Itália e de França), que representam mais de 7,7 milhões, dos 10,2 milhões de hectares de regadio, existentes na Europa (75%).

No balanço feito pelo CNEMA é referida ainda a passagem pela Feira de Santarém de vários secretários de Estado - da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira, das Florestas e Desenvolvimento Rural, Amândio Torres, Adjunto e do Comércio, Paulo Ferreira, e os secretários regionais dos Açores, João Pontes, e da Madeira, Humberto Vasconcelos.

O CNEMA destaca ainda as visitas de líderes partidários, como Pedro Passos Coelho (PSD), Assunção Cristas (CDS/PP) ou Catarina Martins (BE), dos eurodeputados Nuno Melo, Sofia Ribeiro e Cláudia Aguiar, de uma delegação do PCP, da Comissão de Agricultura e Mar, do secretário-geral da UGT, Carlos Silva, e do presidente do Conselho Económico e Social, António Correia de Campos.

Luís Mira anunciou que a edição de 2018, a 55.ª da Feira Nacional da Agricultura e a 65.ª da Feira do Ribatejo, terá como tema os "Azeites de Portugal".

PSD vai recomendar ao Governo criação da figura do provedor para o agricultor

16 jun 2017 17:37

O PSD vai apresentar um projeto de resolução que recomenda ao Governo a criação da figura de um Provedor para os produtores agrícolas, que funcione como "a voz dos agricultores" e faça a ponte com as instituições públicas.

 
A proposta foi anunciada na sequência da conferência "Como melhorar o posicionamento dos Agricultores na Cadeia Alimentar", promovida pela CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) na Feira Nacional de Santarém.

Em declarações à Lusa, o deputado e vice-presidente da bancada do PSD Nuno Serra justifica que esta figura poderia funcionar para a agricultura como o Provedor de Justiça neste setor.

"Queremos solidificar a importância do agricultor na cadeia alimentar, onde é muitas vezes o elo mais fraco", defendeu, exemplificando que o Provedor do Agricultor poderia defender os interesses dos produtores junto da grande distribuição e fortalecer as suas posições nas relações comerciais.

Por outro lado, Nuno Serra considerou que este provedor poderia funcionar como um facilitador na relação dos agricultores junto da administração pública.

À semelhança do Provedor de Justiça, explicou, um provedor do agricultor poderia ser alguém a quem os agricultores recorressem para esclarecer dúvidas burocráticas, colocarem questões sobre fundos comunitários e fazerem as suas reclamações.

"Uma entidade que funcione no fundo como um intermediador", resumiu, salientando que tal proposta dá corpo a recomendações da Comissão Europeia no sentido de valorizar o agricultor na cadeia alimentar.

A 54.ª Feira Nacional de Agricultura decorre em Santarém, no Centro Nacional de Exposições e Marcados Agrícolas (CNEMA), até domingo, tendo como tema os "Cereais de Portugal".

sábado, 17 de junho de 2017

"Temos de ir para onde nos querem e onde nos sentimos úteis"


Jovem cavaleiro tauromáquico fez carreira na Califórnia, é responsável por uma coudelaria e fala sobre como conciliar o sucesso na América com a saudade de casa

Antes de mais, um esclarecimento. Não leu mal. Esta reportagem é sobre a carreira de um jovem cavaleiro tauromáquico português na Califórnia. Sim, há touradas na Califórnia. Corridas de touros à portuguesa, organizadas por portugueses, com tudo aquilo a que têm direito, lide a cavalo e pegas, cavaleiros e forcados, mas com uma diferença fundamental - não há sangue na arena. Chamam-lhe bloodless bullfight, existem desde os anos 1970/1980, e esse foi um dos truques da comunidade portuguesa na costa oeste dos Estados Unidos para manter uma parte importante das suas tradições. O outro truque, ou neste caso uma imposição do legislador, obriga a que as touradas nunca aconteçam como espetáculos isolados, mas antes como parte de um qualquer evento religioso.

Mas como é que não há sangue na arena? A palavra-chave é: velcro. O sistema de fixação inventado por um engenheiro suíço no final dos anos 1940 foi a solução para contornar a legislação, rígida, e o lóbi de defesa dos direitos dos animais, muito ativo na Califórnia. Cola-se um grande quadrado de velcro ao cachaço do touro, e nos ferros substitui-se as pontas por um outro pedaço de velcro. Resulta. A emoção e a coreografia mantêm-se e no final podem sempre dizer: "Nenhum animal foi ferido durante o espetáculo."

Paulo Jorge Ferreira nasceu há 34 anos em Vila Franca de Xira, mas cresceu uns quilómetros mais a norte, na Azambuja. É território da festa brava e a paixão pelas touradas, sobretudo pelos cavalos, apareceu cedo. "Montei a cavalo, pela primeira vez, com os campinos. Os meus pais tinham um restaurante na Azambuja e muitas vezes os campinos passavam lá para tomar algo e, como sabiam que adorava touros e cavalos, muitas vezes levavam-me à garupa para os ir ver a trabalhar com o gado. Mais tarde, os meus pais compraram-me uma égua, e foi aí que o gosto se intensificou mais."

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Encontrei Paulo Jorge Ferreira no rancho dos irmãos Martins, em Hilmar, no vale de São Joaquim, onde é responsável pela coudelaria - 14 cavalos de lide num total de 22, todos puros-sangues lusitanos. Montava tranquilamente o Chibanga (o cavalo negro das fotos) num picadeiro coberto. Paulo chegou à Califórnia há 12 anos. Tinha 21, três de cavaleiro profissional e pouco para apresentar como resultado da sua carreira nas praças portuguesas. "Quando vim para aqui, tive de pedir cem dólares ao meu pai para ter algum dinheiro quando aqui chegasse. Ou seja, ao fim de tourear sete anos em Portugal, três como profissional, não tinha conseguido juntar dinheiro nenhum, não tinha um tostão. Hoje, ao fim de 12 anos de trabalho aqui, tenho um empreendimento muito razoável em Portugal, o que me permite ir para lá e viver desses rendimentos." Apesar do sucesso, Paulo tem andado a pensar no regresso a casa - já há de explicar porquê -, mas a América deu-lhe o sonho. "Os Estados Unidos são um mundo completamente à parte de Portugal. Na minha atividade, isto é um país com apenas 40 anos de história de tauromaquia, sem um mínimo de tradição. Foi a comunidade açoriana que trouxe para aqui essa tradição. A questão é que os preços, o que se paga aqui, é tudo completamente à parte do que se pratica em Portugal." Salários, cachês das corridas, tudo é diferente. A Califórnia permitiu-lhe cumprir um projeto de criança, mesmo que tenha sido em nome da família Martins. "Portugal passa por uma crise muito grande. Eu, como muitos, tive de emigrar à procura de um futuro melhor. Em boa hora o fiz, porque aqui na Califórnia consegui realizar o meu sonho. Não exatamente aquilo que sonhei toda a minha vida, ter os meus cavalos, ter a minha coudelaria, ter as minhas próprias infraestruturas, mas há 12 anos conheci esta família, que me abriu as portas, que me trata como um filho, e consegui fazer para eles aquilo que sempre sonhei fazer para mim. Tem sido bastante positivo."

Paulo chegou à Califórnia convidado por aficionados portugueses que gostaram de o ver tourear nas corridas da RTP, transmitidas para os Estados Unidos via RTPi. "Tirei a alternativa numa corrida da RTP Norte, na Póvoa de Varzim, em 2002. Nessa tarde, ganhei o prémio para melhor lide a cavalo. Repeti as corridas da RTP Norte mais três anos, e foram essas corridas que na altura eram transmitidas para a América que me abriram as portas para estar aqui hoje." Veio para fazer umas corridas e ficou. "Gostaram do meu trabalho numa dessas corridas, chamaram-me. Surgiu a oportunidade, primeiro para vir cá tourear e depois para vir como equitador da coudelaria. Aceitei logo desde o primeiro momento e tem sido muito bom ver o crescimento da coudelaria, ano após ano, e também participar no crescimento da tauromaquia na Califórnia." A chegada à América, conta, foi triunfal. "Entraram em contacto comigo para que viesse fazer a minha apresentação na Califórnia, e assim foi, em outubro de 2005, na feira de Thorthon. Foi uma apresentação triunfal. Tanto que antes de regressar a Portugal trazia na mala já seis corridas contratadas para o ano seguinte." Daí surgiu o convite para gerir a coudelaria dos irmãos Martins. A família acolheu-o, quase o adotou, mas esse porto de abrigo numa zona rural do vale de São Joaquim não tornou a mudança menos complicada. "A adaptação foi muito difícil. Não conhecia ninguém, não falava inglês, a própria comida é muito diferente. Mas esta família fez de tudo o que era possível para eu me integrar. E ainda hoje fazem tudo por mim. É a minha segunda família." Da primeira família, da mãe, lembra uma teimosia com o inglês da escola e confessa que quando chegou à América acabou por dar-lhe razão. Não falava uma palavra. "Nada. Quando andava na escola, lembro-me de dizer à minha mãe "não sei para que é que ando a aprender inglês se nunca na minha vida vou para Inglaterra". Mal eu adivinhava que viria para aqui e que era o que mais precisava de aprender inglês naquela turma."

A cada passo da conversa, Paulo Jorge Ferreira lembra as diferenças entre Portugal e a América. Aqui, na Califórnia, viu o trabalho recompensado. "Na vida, sem vontade, sem trabalho, sem humildade, nada se consegue. Foi com essa vontade e com esse crer que eu vim para aqui, para poder ter alguma coisa na vida. Andei em Portugal a lutar durante seis ou sete anos e não consegui." Mas, se está a cumprir sonhos e objetivos, porquê o regresso a casa, à Azambuja? "Quero voltar porque, como se diz, o dinheiro não é tudo na vida. Ajuda e resolve muitos problemas, mas não é tudo. Já são 12 anos longe da família, longe dos meus pais. Não quero chegar um dia a Portugal e já não os ter ao meu lado. Não quero ficar com esses remorsos para o resto da vida. Penso que com o que já tenho lá, com o que construí entretanto, com os rendimentos que possuo, consigo fazer a minha vida lá e estar ao pé da minha família." Paulo responde com o coração e confessa-se dividido. "Posso dizer que estou com o meu coração partido ao meio, dividido. Sei que quando chegar a Portugal vou sentir saudades destas pessoas todas aqui, das grandes amizades que fiz aqui, e estou aqui com saudades da minha família, dos meus amigos, das minhas tradições de lá também..." Não é uma gestão fácil, a da distância e das emoções.

Paulo chegou aos EUA com 21 anos. Pergunto que conselhos daria a outros jovens cavaleiros que queiram fazer o mesmo percurso, escolhas semelhantes. "Para uma pessoa fazer aquilo de que gosta e com que sempre sonhou, temos de ir para onde nos querem e onde nos sentimos úteis." O cavaleiro lembra as palavras do mestre Manuel Jorge de Oliveira. Foi na casa dele que passou sete anos, a montar a cavalo todos os dias, e foi com "o mestre" que aprendeu tudo o que sabe sobre cavalos e corridas. "Quando estava em sua casa a aprender, ele dizia-me muitas vezes que as oportunidades eram como um comboio, só passam uma vez e ou nós apanhamos e entramos ou se o perdemos será muito difícil. Sempre tive isso em consideração e é com essa mentalidade que ando na vida e com essa intuição que caminho todos os dias." Daí o conselho a quem está agora a dar os primeiros passos na tauromaquia equestre: "Nós nunca sabemos quando passa o comboio e a que horas passa, mas ele passa nas nossas vidas pelo menos uma vez e temos de estar preparados para entrar logo, sem receio e sem hesitações".

* em Hilmar

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Criada petição para promover a agricultura junto dos jovens


Empresário lembra que nova vaga de jovens agricultores têm sido fundamental para começar a inverter um dos males da nossa agricultura - o excessivo envelhecimento dos agricultores portugueses.

15:19 - 12/06/17

      
José Martino, empresário agrícola e blogger, acaba de lançar uma petição que visa obter mais apoios para os jovens que queiram investir numa carreira na agricultura. 

Em 'Agricultura Portuguesa - Jovens Agricultores', o também dirigente associativo reivindica o reforço da "dotação orçamental dos concursos já abertos e que não têm dinheiro disponível para apoiar os projetos aprovados, bem como nos concursos a abrir ao longo da legislatura", lembrando ainda que a "agricultura portuguesa tem vindo nos últimos anos a ser um dos setores da economia nacional com desempenhos mais positivos ao nível das exportações e substituição de importações".

José Martino pretende que a petição seja discutida e votada na Assembleia da República como recomendação ao Governo para colocar os fundos financeiros necessários aos concursos abertos e a abrir, de 1.ª instalação de jovens agricultores e respetivos apoios aos investimento".

Degelo ameaça cofre que guarda sementes fundamentais para a Humanidade


13 Junho 2017 às 17:56

A camada de gelo permanente que envolve o Cofre Mundial de Sementes começou a derreter e inundou o túnel de acesso à galeria onde estão guardadas sementes fundamentais para o futuro da Humanidade.

Cravado 130 metros no coração de uma montanha no arquipélago de Svalbard, na Noruega, o cofre foi construído no Ártico para conservar as mais preciosas sementes alimentares do mundo.

Recentemente, o corredor de acesso às galerias onde estão guardadas as sementes foi inundado por água proveniente do degelo de neves permanentes.

O incidente não causou estragos entre as sementes, mas destruiu a reputação do cofre, que se acreditava ser à prova de acidentes e um lugar seguro para preservar as sementes mais preciosas para a humanidade, que podem ser fundamentais para recuperar a vida na terra, em caso de guerra nuclear ou desastre global.

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Para garantir que o cofre se mantém seguro, o governo norueguês destinou 37 milhões de coroas (cerca de quatro milhões de euros) para obras de remodelação.

"Na base destes melhoramentos técnicos está a conclusão de que a camada de gelo permanente não se manteve estável como previsto", explicou o governo norueguês, que é proprietário do cofre.

"Um grupo de estudo vai avaliar as possíveis soluções para contrariar o aumento dos volumes de água resultantes do clima mais húmido ameno que se regista em Svalbard", acrescentou o governo norueguês, em comunicado.

Uma das soluções passa por construir um novo túnel de acesso à zona onde estão as sementes. Ao contrário do atual, que desce para o interior da montanha, os técnicos ponderam fazer um que suba para o coração do cofre, para as galerias onde estão armazenados quase um milhão de sacos de sementes, de cada variedade importante para a humanidade.

Construído em 2008, bem fundo na camada de gelo permanente, com a expectativa de "superar o teste do tempo" e de proteger as sementes contra o desafio colocado por "mudanças naturais ou promovidas pelo homem", o cofre custou cerca de oito milhões de euros.

Antes de começarem as obras de fundo, algumas alterações vão ser já postas em prática. Uma central de transformação, que produz calor para as instalações, vai ser mudada para fora do túnel e uma parede à prova de água vai reforçar a segurança das galerias onde estão as sementes.

O governo norueguês pretende, também, fazer já valas de escoamento de água no interior da parede da montanha acima das galerias onde estão depositadas as sementes.

"Estas medidas são parte de um plano a longo termo para reforçar a segurança do cofre de sementes, baseada numa visão mais cautelosa", explica o comunicado do governo norueguês.

O cofre era suposto funcionar sem necessidade de intervenção humana, mantendo as sementes preservadas as 18 graus negativos. Foi construído em Svalbard com a presunção de que a camada de gelo permanente nunca iria derreter, preservando, assim, as sementes necessárias para restabelecer a vida na terra, em caso de uma catástrofe.

Ministro da Agricultura considera Brexit "oportunidade histórica" para "refundação" da Europa


Lusa 16 Jun, 2017, 17:52 | Economia

O ministro da Agricultura disse hoje, em Santarém, que a saída do Reino Unido da União Europeia constitui "uma oportunidade histórica" para uma "refundação" que regresse às origens do projeto europeu.

Luís Capoulas Santos falava no encerramento do seminário "como melhorar o posicionamento dos agricultores na cadeia alimentar", organizado pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) no âmbito da 54.ª Feira Nacional da Agricultura, que decorre no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, até domingo.

Sublinhando o consenso generalizado de que "é necessário melhorar a posição dos agricultores" numa cadeia que envolve ainda a transformação e a distribuição, por ser reconhecida como sendo "a mais frágil, desproporcionada e desequilibrada", o ministro defendeu uma ação no quadro regulador comunitário.

"É necessário revisitar as regras de mercado e da política da concorrência. E acho que neste momento a Europa vive um momento particularmente feliz para o efeito. Nós estamos com a questão do Brexit -- que ainda ninguém percebeu muito bem como é que isto vai acabar --, mas temos aqui uma oportunidade histórica, única, de transformar em oportunidade uma dificuldade", afirmou.

Para Capoulas Santos, com a saída do Reino Unido "acontece uma certa refundação da Europa" que poderá permitir uma "revisitação às regras da concorrência, ir às origens da fundação do projeto europeu e criar um conjunto de regras que permitam, quando existe uma parte fraca, que haja uma intervenção do Estado que possa acudir a seu favor".

O ministro reconheceu como "muito positivo" o posicionamento do atual comissário europeu da agricultura, o irlandês Phil Hogan, "muito em linha com a posição do Parlamento Europeu" e dos membros do Conselho da Agricultura.

"As condições estão reunidas. Apenas é necessário passar das palavras aos atos", declarou.

Num debate em que se voltou a falar muito da pressão da grande distribuição para o esmagamento dos preços na produção - embora num tom muito menos "tenso" do que há cinco anos, revelando que foi feito um trabalho de conciliação, como frisou José Diogo Albuquerque, ex-secretário de Estado da Agricultura e que moderou a mesa -, o ministro saudou os "esforços sinceros" feitos por todas as partes.

Contudo, frisou, a "questão magna" é "não apenas melhorar a posição dos agricultores na cadeia", mas "criar condições para que os agricultores tenham melhores rendimentos", condição essencial para uma agricultura "próspera", que garanta "o autoabastecimento que cada Estado membro tem o dever de promover para si próprio", mas também para o mercado único e para o mercado global.

Reconhecendo o "esforço" das grandes superfícies -- que exemplificou com a "ajuda" no momento das crises do leite e da carne de porco -, Capoulas Santos referiu o "somatório" de iniciativas sobre esta matéria, mas alertou para o "muitíssimo forte" e "bem organizado" lóbi da grande distribuição, com poder para "condicionar as decisões".

"Estamos condenados a entender-nos, mas, muitas vezes, o entendimento, quando há desequilíbrio, tem que ser reequilibrado por uma intervenção do poder político", afirmou.

Nas conclusões do seminário, a eurodeputada Sofia Ribeiro, do grupo do Partido Popular Europeu, afirmou que a Europa está "empenhada em criar legislação europeia" para um "quadro comum regulatório", defendido por vários dos intervenientes.

A criação de um observatório para monitorização, sugerida durante o debate, terá, no entender da eurodeputada, que ser acompanhada por uma fiscalização que proteja "o elo mais fraco na cadeia de distribuição, que é sempre o agricultor".

Sofia Ribeiro alertou, contudo, que a negociação não pode ficar "presa" à regulação do preço, mas terá que incluir questões como o acrescentar valor aos produtos e a transmissão dessa informação ao consumidor, não apenas através da rotulagem mas também com a criação de sistemas de rastreabilidade que permitam aferir de onde provêm e com que critério de qualidade são produzidos.

Por outro lado, sublinhou a importância do "reforço" do peso dos agricultores nos acordos de comércio globais internacionais, garantindo, "no mínimo, condições de equidade" aos produtores nacionais relativamente aos produtos que entram de outros países.

O debate contou ainda com a participação da presidente do grupo de trabalho da cadeia COPA-COGECA, Elaine Farrel, do eurodeputado Nuno Melo e dos deputados Pedro do Carmo (PS) e Nuno Serra (PSD).

Feira Nacional de Agricultura palco da assinatura de constituição da Irrigants d’Europe


 
A 54ª Feira Nacional de Agricultura / 64ª Feira do Ribatejo, evento que decorre até 18 de junho de 2017, no Centro Nacional de Exposiçõe em Santarém, e que tem os "Cereais de Portugal" como tema central, foi  palco da assinatura  de constituição da IRRIGANTS d'EUROPE.
 
A IRRIGANTS d'EUROPE é a primeira associação na Europa que tem como objetivo defender o sector da agricultura de regadio e resulta da união das maiores Associações Gestoras de Água para a Agricultura dos Estados Membros da União Europeia onde o regadio é mais expressivo, nomeadamente:

ANBI - Associazione Nazionale Consorzi di Gestione e Tutela del Territorio e Acque Irriga (Itália)
FENACORE - Federación Nacional de las Comunidades de Regantes de España (Espanha)
Irrigants d'France  (França) 
FENAREG - Federação Nacional de Regantes de Portugal (Portugal)
A  IRRIGANTS d'EUROPE tem como objetivos:
 
a)      reunir o setor de agricultura de regadio ao nível europeu,
b)      dar uma única voz à agricultura de regadio junto das instituições europeias.
c)      manter atividades destinadas a promover e representar a agricultura de regadio e a gestão da água no setor agrícola a nível europeu e internacional,

d)      promover e realizar a cooperação no regadio e na utilização e gestão da água no sector agrícola

e)      Promover atividades para destacar os benefícios e as externalidades positivas produzidas pelo regadio para o meio ambiente e para toda a sociedade
f)       Incentivar e permitir a comunicação a todos os níveis acerca da importância da agricultura de regadio
 
Nesta cerimónia de constituição foi apresentada e entregue a "Declaração de Santarém" ao Sr. Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Dr. Luís Capoulas Santos, na presença do Eng. Eduardo Oliveira e Sousa, Presidente da CAP e anfitrião da iniciativa.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Marcelo saúda produtores que fizeram “viragem” na agricultura portuguesa

13/6/2017, 21:33118

O Presidente da República saudou, em Santarém, os produtores portugueses, que "fizeram a viragem de um setor que muita gente dizia que estava morto, estava velho e já não tinha futuro".

O Presidente da República saudou esta terça-feira, em Santarém, os produtores portugueses, que "fizeram a viragem de um setor que muita gente dizia que estava morto, estava velho e já não tinha futuro".

Numa demorada visita à 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo, que decorre até domingo em Santarém, Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou o "grande sucesso" do certame e felicitou "todos aqueles que no país trabalham na agricultura" e na pecuária e que mudaram por completo a imagem do setor.

"Não está velho, não está morto e tem futuro", disse, referindo a "juventude" e as "novas iniciativas" presentes nos vários stands que hoje visitou.

Para o Presidente da República, a visita à Feira de Santarém foi "longa", mas "muito reconfortante".

O Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), que organiza o certame, espera mais de 200.000 visitantes e 40.000 profissionais ao longo dos nove dias da feira, tendo agendados mais de 30 seminários e iniciativas para profissionais.

Concursos e provas nacionais de várias raças de animais e a presença dos produtos vencedores dos concursos nacionais promovidos pelo CNEMA — pão, broas, empadas, gelados, folares, doçaria conventual e tradicional, enchidos, licores, carnes, ervas aromáticas, azeitonas, azeites, vinagres, mel, vinhos -, "permitem o contacto direto do consumidor com o que de melhor se faz no setor", afirma a organização.

No Salão Prazer de Provar, Marcelo teve a oportunidade de degustar produtos de "grande qualidade" provenientes de todo o país, enquanto distribuía beijos e abraços e posava para dezenas de 'selfies', seguindo depois para uma visita ao espaço exterior do CNEMA, onde se encontram máquinas e equipamentos agrícolas e dezenas de animais, com destaque para o cavalo.

Agricultura: o futuro já começou

Impõe-se agora olhar a agricultura portuguesa no horizonte de uma década, no contexto da negociação da nova Política Agrícola Comum.

13 de Junho de 2017, 6:52 Partilhar notícia

Quando o atual Governo iniciou funções, em novembro de 2015, o principal desafio consistia em "arrumar a casa", isto é, recuperar o atraso da execução do principal instrumento de política do Ministério da Agricultura, o Programa de Desenvolvimento Rural – PDR2020, que tinha conhecido uma taxa de execução de 0% em 2014 e de 12% em 2015, e garantir os pagamentos do I Pilar da PAC a tempo e horas. Paralelamente, foi necessário acudir a dois setores há longos meses em crise profunda, os setores do leite e dos suínos, e de pôr mãos à obra para reformar a floresta, que vinha desde há década e meia a perder área a um ritmo médio de dez mil hectares por ano.

Os outros dois principais desafios consistiam em encontrar financiamento para ampliar o regadio de Alqueva, que o Governo anterior havia já dado por concluído, e prosseguir o ritmo de internacionalização do setor, para aumentar as exportações e substituir importações.

Um ano e meio depois, o PDR2020 está a ser concretizado a bom ritmo, tendo a execução financeira atingido os 100% em 2016, ano em que se bateu o recorde de projetos aprovados (13.160, contra 8769 em 2013, até então o melhor ano), e Portugal tornou-se no 4.º Estado da União Europeia com melhor execução dos programas de desenvolvimento rural.

Por outro lado, os pagamentos do I Pilar da PAC colocaram Portugal, em 2016, no 1.º lugar do ranking dos 28 Estados-membros da União Europeia quanto à maior percentagem de pagamentos efetuados.

Os setores do leite e dos suínos assistiram ao afastamento do espectro da crise e iniciaram a recuperação. A reforma da floresta avançou. Dos 12 diplomas iniciais, sete foram já promulgados pelo Senhor Presidente da República e os outros cinco aguardam decisão parlamentar, que se espera possa ocorrer até ao final da presente Sessão Legislativa.

As negociações com o BEI – Banco Europeu de Investimento para o financiamento do Programa Nacional de Regadios, abrangendo cerca de 90.000 hectares de regadios, incluindo mais 50.000 em Alqueva, decorrem a bom ritmo, estando os concursos públicos para as obras dos novos blocos de rega preparados para lançamento logo que haja luz verde da entidade financiadora, o que deverá ocorrer, provavelmente, no Outono.

As exportações cresceram ao maior ritmo anual de sempre, mais 20% no primeiro trimestre de 2017 face ao período homólogo anterior, tendo sido abertos 30 novos mercados e encontrando-se em negociação outros 55 para mais 199 produtos de origem animal e vegetal.

Virada esta página, impõe-se agora procurar novas fontes de financiamento que permitam dar resposta à elevada apetência para investir na agricultura, um interesse empresarial traduzido pelo elevado número de candidaturas apresentadas ao PDR 2020; e olhar a agricultura portuguesa no horizonte de uma década, no contexto da negociação da nova Política Agrícola Comum (PAC) para o período 2021/2027, cujo início está marcado já para outubro próximo.

Portugal foi um dos três Estados-membros da União Europeia que sinalizaram já a sua posição face ao futuro da PAC. Os outros foram a França e, mais recentemente, a Espanha. Através do documento de orientação apresentado no Conselho de Ministros da Agricultura da UE, de março último, Portugal procurou definir a sua posição face à arquitetura e aos instrumentos da futura PAC e à integração no seu seio dos sensíveis temas do ambiente, das alterações climáticas, da saúde, da nutrição, da alimentação animal, do investimento, da gestão de risco, da inovação e da investigação, assim como a especial abordagem que devem merecer as questões dos jovens agricultores e da pequena agricultura familiar.

O período negocial que se avizinha exigirá partilha de informação e participação ativa do mundo agrícola e rural na formulação da estratégia negocial e da posição portuguesa. Para além das iniciativas que serão levadas a cabo junto da sociedade civil e no plano parlamentar europeu e nacional, acaba de ser publicado no Diário da República o despacho que cria a Comissão de Aconselhamento do Ministro, que funcionará durante o longo e complexo processo que agora se inicia, e que conta com a disponibilidade e o empenho de dezena e meia dos melhores especialistas portugueses nesta temática, assim como das principais organizações agrícolas nacionais.

O bom momento que o setor agrícola atravessa, apesar dos constrangimentos climatéricos conhecidos, terá de ser projetado no futuro através de uma visão clara sobre a agricultura que queremos, alicerçada na participação e no continuado esforço dos agricultores e na conjugação de vontades que os diversos atores políticos saibam fazer confluir numa estratégia nacional para a agricultura portuguesa, tão consensualizada quanto possível. O Governo está disponível e tudo fará para que assim seja.

terça-feira, 13 de junho de 2017

CAP apresenta plataforma eletrónica para consulta de preços dos hortofrutícolas


A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) apresentou hoje, na Feira Nacional da Agricultura, em Santarém, uma plataforma eletrónica que permite consultar os preços de mais de uma centena de frutas e hortícolas provenientes de 11 mercados europeus.

Luís Mira, secretário-geral da CAP, disse à Lusa que a plataforma -- acessível em agrimarkets.cap.pt - é "importante para quem vai fazer um negócio de venda ter uma referência do preço que está ser praticado" e também para analisar as tendências ao tomar uma decisão para um futuro investimento.

Sublinhando que a plataforma é "de fácil acesso" e "muito intuitiva", e para já gratuita, Luís Mira afirmou que ela vem preencher uma lacuna, sendo "muito importante" para os que estão no mercado hortofrutícola.

"Na sua consulta é possível fazer gráficos, automaticamente, sobre a evolução do preço, as variações, e a comparação entre os vários mercados europeus que estão na plataforma" -- espanhol, francês, alemão e, dentro de cada país, várias regiões --, permitindo "perceber quais são as variações que se estão a verificar", afirmou.


A apresentação da plataforma antecedeu a realização de um jantar de homenagem ao anterior presidente da CAP, João Machado.

A 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo tem agendados cerca de 30 seminários e colóquios técnicos, denominados "Conversas de Agricultura", iniciativa que na edição de 2016 envolveu mais de 6.000 pessoas.

Esperando mais de 200.000 visitantes e 40.000 profissionais ao longo dos nove dias do certame, a Feira de Santarém, organizada pelo Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), tem este ano por tema os cereais.

Cristas acusa Ministro da Agricultura de ignorância em relação a comissão interministerial


A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, acusou hoje o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, de ignorância e falta de competência por ter anunciado a criação de uma comissão interministerial que já estava criada desde 2012.

"É lamentável que o ministro [da Agricultura] queira atirar areia para os olhos das pessoas, não resolvendo os problemas em tempo, arrastando-os e fingindo que está agora a criar uma comissão", afirmou hoje Assunção Cristas, assegurando que "essa comissão interministerial está criada desde 2012.

Em causa está uma Resolução do Conselho de Ministros que, na quarta-feira, dia 07, criou a Comissão Interministerial de Acompanhamento da Seca, coordenada pelos ministros do Ambiente e Agricultura e integrando também os ministros das Finanças, da Administração Interna, da Administração Local, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, da Saúde, da Economia e do Mar.

Uma medida que deixou a presidente do CDS-PP "perplexa" e que Assunção Cristas considera mostrar "a ignorância e a falta de competência do ministro [Capoulas Santos] já que, além de a comissão interministerial estar "criada desde 2012" tem "medidas preparadas que só precisam da aprovação política para poderem ser postas em prática".


"As medidas estão estudas, quem tem que aprovar é o Governo, que tem que saber se consegue pôr verbas para apoiar os agricultores ou se as suas prioridades são outras" afirmou Cristas durante uma visita à Feira Nacional de Agricultura, em Santarém.

Mas, acrescentou " lamentavelmente o que sentimos é que a agricultura não é, nunca foi e não está a ser também uma prioridade para o Governo das esquerdas unidas e para o PS em particular".

Recordando que, durante o seu primeiro mandato como ministra da Agricultura, em 2011/2012, o país foi afetado por "uma seca muito profunda", Cristas lembrou que "nesta altura já estavam 45 milhões de euros à disposição dos agricultores, em várias medidas".

Daí a presidente do CDS-PP considerar "o Ministério [da Agricultura] muito parado ", numa altura "de dificuldades, em que os agricultores precisam de ajudas para as suas tesourarias, para poderem avançar e precisam de alívio em várias medidas onde, de facto, o Governo pode ter intervenção".

Assunção Cristas, que falava aos jornalistas à margem de uma visita Feira Nacional de Agricultura, recusou responder a perguntas sobre a atualidade nacional alegando só falar de agricultura.

A 54ª Feira Nacional de Agricultura decorre em Santarém, no Centro Nacional de Exposições e Marcados Agrícolas (CNEMA), até ao dia 18, tendo como tema os "Cereais de Portugal".

Passos Coelho realça papel da agricultura para acrescentar valor às exportações


O presidente do PSD realçou hoje, em Santarém, o papel da agricultura na redução das importações incorporadas em produtos que o país exporta, contribuindo para a introdução de valor acrescentado nas exportações portuguesas.

Numa visita à 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo, que começou sábado no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, onde decorre até dia 18, Pedro Passos Coelho disse que a agricultura pode "acrescentar mais valor" à produção e, sobretudo, às exportações, frisando que o país precisa, nos próximos anos, de crescer muito nas exportações "com mais valor acrescentado".

"A minha perspetiva era que pudéssemos chegar a 2020 com cerca de 50% do Produto Interno Bruto em exportações portuguesas, mas mais importante do que ter metade do produto exportado é ter metade do produto com mais valor acrescentado, quer dizer com menos importações metidas nos produtos que exportamos, porque isso significaria que mais valor fica, mais rendimento fica em Portugal, e é isso que nos interessa", afirmou.

Para o líder social-democrata, a agricultura, seja primária seja transformada, pode representar "um impulso muito grande" para introduzir cada vez mais valor acrescentado no que o país pode exportar.


"Agora para isso é preciso que algumas condições se vão verificando", disse, sublinhando que na visita à feira encontra "uma boa oportunidade para poder ouvir as pessoas que trabalham nesta área", conhecendo as suas expectativas e propostas, para "saber em que medida é que os poderes públicos podem ajudar a que esta atividade possa ainda crescer mais e acrescentar valor".

Passos Coelho afirmou que a feira que se realiza em Santarém há mais de meio século é "um marco importante" de um setor que "cresceu muito ao longo dos últimos anos" e que "foi muito importante para o crescimento da economia" nacional.

O CNEMA espera mais de 200.000 visitantes e 40.000 profissionais ao longo dos nove dias do certame, tendo agendados mais de 30 seminários e iniciativas para profissionais, que trarão a Santarém especialistas nacionais e estrangeiros e vários responsáveis políticos, portugueses e europeus.

Concursos e provas nacionais de várias raças de animais e a presença dos produtos vencedores dos concursos nacionais promovidos pelo CNEMA -- pão, broas, empadas, gelados, folares, doçaria conventual e tradicional, enchidos, licores, carnes, ervas aromáticas, azeitonas, azeites, vinagres, mel, vinhos -, "permitem o contacto direto do consumidor com o que de melhor se faz no setor", afirma a organização.

Produtos de "grande qualidade" são dados a degustar no Salão Prazer de Provar e nas "provas na cozinha", estendendo-se a oferta do que de melhor se produz em Portugal ao espaço onde se concentram os restaurantes de carnes autóctones e as tasquinhas de associações e coletividades da região.

O cartaz de espetáculos abriu sábado com a atuação de Richie Campbell, estando marcados concertos de David Antunes (quarta-feira), Ana Moura (sexta-feira) e Ana Carolina (sábado), e atuações de vários DJ, além de manifestações típicas do Ribatejo.

João Machado, ex-líder da CAP, recebeu Medalha de Honra da Agricultura em jantar de homenagem


O ex-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal João Machado recebeu hoje a Medalha de Honra da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural durante um jantar de homenagem, na Feira Nacional da Agricultura, que decorre em Santarém até domingo.

Criada em 1999 para "reconhecer publicamente e distinguir pessoas ou organizações que, de forma particularmente dedicada e empenhada, através da sua ação continuada, contribuem ou contribuíram para o desenvolvimento e valorização do mundo rural", a medalha foi entregue a João Machado pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos.

No despacho que determina a distinção, Capoulas Santos refere o mérito de João Machado "enquanto personalidade de indiscutível relevância para o desenvolvimento da agricultura nacional", facto reconhecido com a atribuição da Grã-Cruz da Ordem de Mérito Agrícola, em 2006, pelo Presidente da República.

"Personalidade marcante da agricultura portuguesa nas últimas décadas, João Machado foi, enquanto dirigente do setor, um parceiro ativo na defesa dos agricultores e da agricultura nacional, que muito contribuiu para dignificar o papel social desta atividade empresarial, bem como das suas entidades representativas", afirma.

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O ministro refere ainda o papel do ex-dirigente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) como "porta-voz de reivindicações setoriais e promotor do associativismo agrícola", bem como "na defesa dos interesses nacionais a nível europeu".

Presidente da CAP nos últimos 18 anos, João Machado decidiu não concorrer à eleição dos órgãos sociais para o triénio 2017 a 2020, realizada no passado dia 19 de abril, tendo sido substituído no cargo por Eduardo Oliveira e Sousa.

Governo quer estratégia e plano de ação para recuperar produção de cereais - ministro


O ministro da Agricultura anunciou hoje, em Santarém, a criação de um grupo de trabalho para delinear "uma estratégia e um plano de ação para a recuperação da produção de cereais em Portugal".

Luís Capoulas Santos falava aos jornalistas no final de uma visita que marcou a inauguração da 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo, que decorre até dia 18 no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, com os cereais como tema dominante.

Declarando-se "satisfeito" com a escolha de um setor que o Governo quer "agarrar e recuperar", o ministro afirmou haver "um conjunto de constrangimentos naturais, que é necessário ultrapassar", pois o país tem "condições para trabalhar para nichos de mercado de qualidade, de forma muito interessante".

Capoulas Santos afirmou que assinou já o despacho para criação do grupo de trabalho, no qual participará pessoalmente juntamente com representantes do seu Ministério e das principais organizações do setor, como a Associação Nacional de Produtores de Cereais (ANPOC) e a Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), e que será constituído dez dias depois da publicação em Diário da República.

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Esse grupo terá um prazo de três meses para apresentação de um primeiro documento de trabalho, que entrará em execução depois de ser aprovado em Conselho de Ministros, adiantou.

Capoulas Santos lembrou que a maior parte da área agrícola nacional, em particular nas zonas tradicionais de produção de cereais, elemento básico da alimentação dos portugueses, é de sequeiro, sendo necessário "encontrar alternativas rentáveis".

O objetivo, disse, é elaborar uma "estratégia nacional para a recuperação da produção de cereais em Portugal e um plano de ação associado".

"Não é apenas definir linhas orientadoras e diretrizes gerais, é vê-las em medidas concretas, calendarizadas e quantificadas", frisou.

Capoulas Santos, que visitou demoradamente a Feira Nacional da Agricultura -- certame que este ano recebe os visitantes com uma mostra de campos de cultura de cereais instalada no largo de acesso à entrada principal do recinto -, declarou-se "muitíssimo otimista" depois da troca de impressões com os expositores, em particular os de máquinas e equipamentos.

"O ambiente que hoje se vive nada tem a ver com o que se vivia há um ano. No ano passado fui confrontado com uma série de queixas, com um clima de desmoralização, e agora, pelo contrário, as empresas estão a vender mais, a exportar mais, e existe um clima de confiança em que acreditam no futuro".

O ministro mostrou-se agradado com o "aspeto, a dimensão e a qualidade" da feira, considerando que isso "reflete um pouco o que se passa com o setor em Portugal", pois "está a crescer, a bater recordes de exportação".

Esperando mais de 200.000 visitantes e 40.000 profissionais ao longo dos nove dias do certame, a organização da FNA apostou na melhoria das condições de acolhimento, disponibilizando um novo parque de estacionamento para mais 1.200 viaturas e mais zonas de sombreamento.

As "Conversas de Agricultura", com mais de 30 seminários e iniciativas para profissionais, trarão a Santarém especialistas nacionais e estrangeiros e vários responsáveis políticos, portugueses e europeus.

Concursos e provas nacionais de várias raças de animais e a presença dos produtos vencedores dos concursos nacionais promovidos pelo CNEMA -- pão, broas, empadas, gelados, folares, doçaria conventual e tradicional, enchidos, licores, carnes, ervas aromáticas, azeitonas, azeites, vinagres, mel, vinhos -, são elementos de atração, pois "permitem o contacto direto do consumidor com o que de melhor se faz no setor".

Produtos de "grande qualidade" são dados a degustar no Salão Prazer de Provar e nas "provas na cozinha", estendendo-se a oferta do que de melhor se produz em Portugal ao espaço onde se concentram os restaurantes de carnes autóctones e as tasquinhas de associações e coletividades da região.

O cartaz de espetáculos abre hoje à noite com a atuação de Richie Campbell, estando marcados concertos de David Antunes, Ana Moura e Ana Carolina.

Governo vai antecipar pagamentos da Política Agrícola Comum para aliviar produtores

10 jun 2017 19:53

O ministro da Agricultura anunciou hoje, em Santarém, a antecipação dos pagamentos do primeiro e do segundo pilares da Política Agrícola Comum (PAC), relativos à produção agrícola e ao desenvolvimento rural, "para melhorar a situação de tesouraria" dos produtores.

 
Capoulas Santos, que hoje inaugurou a 54.ª Feira Nacional da Agricultura/64.ª Feira do Ribatejo, que decorre no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, até dia 18, afirmou que, no caso do segundo pilar, os agricultores vão receber, "com pelo menos três meses de antecedência, os pagamentos a que têm direito este ano, por forma a melhorar a situação de tesouraria".

"Podemos adiantar 75% dos pagamentos do segundo pilar da PAC, o que significa pagamentos que atingirão valores na ordem dos 300, 400 milhões de euros", disse, acrescentando que no caso do primeiro pilar da PAC, vai propor no Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia, em julho, que o adiantamento passe de 50% para 70%, "ou seja, outros 600 milhões de euros".

"Trata-se de ajudar a tesouraria dos agricultores, em particular dos produtores pecuários, que são aqueles que serão os primeiros afetados" numa situação de seca, dada a necessidade de alimentação animal e de abeberamento.

Por outro lado, afirmou que o Governo está a equacionar alargar o âmbito geográfico da medida tomada em outubro para nove municípios do Baixo Alentejo, "os que mais cedo sentiram as consequências de um ano anormal do ponto de vista hidrológico".

"À medida que a situação for alastrando, iremos alargando a outras áreas geográficas o mesmo tipo de medidas. Isto é, apoios financeiros para fazer perfurações, para os efetivos pecuários que não têm água para dar de beber aos animais e também para equipamentos para transporte de água onde não seja possível fazer captações de profundidade", declarou.

Capoulas Santos afirmou que as estas medidas se poderão seguir outras, "à medida das necessidades", uma vez que "é mais que provável" que o país irá enfrentar um período de seca.

"Estamos numa fase em que os indicadores do Instituto do Mar e da Atmosfera indiciam essa possibilidade. Não está ainda técnica e cientificamente comprovada, ainda que não tenha nenhumas dúvidas de que vamos estar confrontados com uma situação de seca nos próximos meses", acrescentou.

Capoulas Santos afirmou que o Governo está a abordar o assunto "com muito pragmatismo", ironizando com a frase da sua antecessora, que, "perante situação idêntica, decidiu que a solução era rezar e pedir a Deus que ajudasse a resolver o problema".

Segundo o ministro, desde há várias semanas que está a ser feito um levantamento da situação com diversas regiões agrárias, tendo sido elencado "todo o leque de medidas possíveis e qual o momento adequado para o lançamento de cada uma delas".

Tendo em conta que "há medidas que dependem exclusivamente do Ministério da Agricultura, outras de Bruxelas e outras de outros ministérios", foi esta semana publicada no Diário da República uma resolução do Conselho de Ministros que criou um grupo interministerial para, "consoante a dimensão que o problema vier a assumir, ir adotando sucessivamente as medidas" consideradas mais adequadas, afirmou.

Ministro da Agricultura aconselha Cristas a tomar chá de tília, "bom para os nervos"


12 jun 2017 20:12


O ministro da Agricultura aconselhou hoje, em Santarém, a sua antecessora, Assunção Cristas, a tomar chá de tília, "que é bom para os nervos", lamentando que esta o tenha "insultado" ao chamar-lhe "incompetente e ignorante".

 
Luís Capoulas Santos, que hoje encerrou o seminário "Cooperar para Exportar", promovido pelas Caixas de Crédito Agrícola e pelo Portugal Fresh, no âmbito da Feira Nacional da Agricultura, que decorre até domingo em Santarém, reagia a declarações feitas domingo, numa visita a este certame, pela presidente do CDS-PP e ex-detentora da pasta da Agricultura no Governo PSD/CDS.

"Quem vê o mundo a fugir debaixo dos pés e tem muita dificuldade em compreender a nova situação política só pode recorrer ao insulto", afirmou, recomendando a Assunção Cristas que "seja um pouco mais ponderada", pois tem a "obrigação de cumprir os mínimos em termos de boas maneiras".

"Até sugeri que tomasse chá de tília, que é bom para os nervos, porque aparentemente o que ela tem estado a tomar nos últimos tempos é chá de urtigas, e esse azedume acaba por transparecer de uma forma que não se justifica e não tenciono alimentar polémicas deste tipo", acrescentou.

Numa visita à Feira Nacional da Agricultura, no domingo, Assunção Cristas acusou Capoulas Santos de ignorância e falta de competência por ter anunciado a criação de uma comissão interministerial que já estava criada desde 2012, querendo "atirar areia para os olhos das pessoas".

"O que a doutora Assunção Cristas fez foi um insulto, ela chamou-me incompetente e ignorante porque o Governo aprovou há poucos dias uma Resolução do Conselho de Ministros criando uma comissão interministerial para avaliar a situação de seca e decidir sobre eventuais medidas a adotar e ela considera que o Governo ao ter feito isto cometeu uma heresia porque já em 2012 a senhora ministra na altura teria criado uma comissão idêntica", disse.

Capoulas Santos frisou que essa comissão foi criada "para responder aos problemas de 2012" e "até de forma tardia", já que, quando foi aprovada a Resolução, em março de 2012, "já o país tinha 47% da sua área em seca severa e tinha 53% em seca extrema", quando, neste momento, o país "tem 23% da sua área em seca fraca e 71% em seca moderada".

"Quer dizer que a doutora Cristas, aparentemente, acha que o Governo deveria adotar, numa situação que não tem nada a ver com aquela de 2012, as medidas que ela eventualmente terá adotado, como se houvesse um receituário que se aplica com cinco anos de antecedência", disse, sublinhando que as medidas devem ser adotadas consoante a evolução de um fenómeno que é "progressivo e que vai tendo diversas consequências".

Por outro lado, afirmou, a Resolução de 2012 "falava de organismos que hoje já não existem e falava de ministérios que hoje já não existem".

Como exemplo apontou o facto de a comissão ser então presidida por Assunção Cristas enquanto ministra da Agricultura e do Ambiente, "áreas que estão agora separadas", pelo que "não faria sentido dizer que a coordenação da atual equipa interministerial era presidida pela ministra de um ministério que já deixou de existir".

Para o ministro, a declaração da líder centrista "é todo um conjunto de absurdos" que o levam a concluir que Cristas "não tem nada para criticar porque de facto a situação da agricultura está melhor".

Capoulas Santos apontou o crescimento das exportações, a resolução dos problemas "que ela deixou" nos setores do leite e dos suínos, a necessidade de tapar os "buracos financeiros", como os 200 milhões de euros no PDR, a abertura de um "processo negocial para continuar a expandir o regadio de Alqueva que tinha sido dado por concluído há dois anos".

Declarando-se disponível para "discutir seriamente as políticas e o interesse do país", o ministro afirmou que "sempre tem existido uma regra de cortesia entre os titulares da pasta da Agricultura", que permite a crítica sem necessidade de recorrer ao insulto.

domingo, 11 de junho de 2017

Falta de água nas barragens afeta produção de arroz no Vale do Sado



Mário Boleta tem 24 hectares no Vale do Sado, mas este ano não vai semear seis desses hectares  |  NUNO PINTO FERNANDES / GLOBAL IMAGENS
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Dos seis mil hectares dentro do perímetro de rega da barragem de Vale do Gaio, que está a 60% da sua capacidade, só quatro mil vão ser este ano cultivados. Bacia hidrográfica do Sado é a mais afetada.

Mário Boleta aponta o enorme canteiro de arroz há pouco semeado, onde há umas grandes manchas acastanhadas, de lodo. "Isto é da falta de água", explica. Dentro de dias vai ter de limpar aquele lodo todo, e depois pôr a correr mais água ali - e talvez tirar um pouco às parcelas contíguas. Neste tempo de secura, com as albufeiras a meia altura, menos do que isso em alguns casos, a gestão da água é crítica.

Por enquanto ainda dá para fazer assim, tirar um pouco daqui, pôr mais ali, mas depois a rega do arroz terá de ser contínua, com a água sempre a correr em fio, durante todo o verão, até meados de setembro, quando se faz a colheita.


Esta cultura é assim mesmo, muito exigente em água, e por isso este não é um ano bom, porque ela ela escasseia no Vale do Sado, o que já se traduziu em restrições na rega. Os agricultores da região viram-se por isso obrigados a deixar por semear uma parte dos seus terrenos destinados ao arroz.

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É o caso de Mário Boleta. Dos 24 hectares que tem no Vale do Sado, e que estão incluídos no perímetro de rega da Barragem de Vale do Gaio, a cerca de 30 quilómetros de Alcácer do Sal, este ano teve de deixar seis por cultivar. A água a que tem direito não dá para mais. "E eu não estou muito mal, há outros que estão pior e que vão deixar mais terreno por semear", garante.

Dois invernos de pouca chuva

Dos seis mil hectares de terrenos abrangidos pelo perímetro de rega da barragem de Vale do Gaio, cuja albufeira está nesta altura a 60% da sua capacidade total de armazenamento, só quatro mil hectares podem ser cultivados este ano. "É esta a disponibilidade de água que existe", resume José Núncio, presidente da Fenareg, a Federação Nacional de Regantes de Portugal.

Em anos normais, quando as chuvas de inverno e primavera garantem toda a água necessária para a agricultura naquela região - e nas outras, claro -, a cultura do arroz da zona barragem de Vale do Gaio recebe daquela albufeira "uma média de 14 ou 15 mil metros cúbicos de água por hectare", diz Mário Boleta. Este ano, já depois de no ano passado ter havido um corte, nessa altura para os 11 mil metros cúbicos, porque o inverno anterior também já tinha sido mais seco do que o normal, aquele valor sofreu uma nova redução e está agora nos 8500 metros cúbicos por hectare, para cada um dos agricultores daquela zona.

Joaquim Custódio Simãozinho, que arrenda 52 hectares naquela zona, também para cultivar arroz, tem talvez mais sorte, porque os terrenos onde faz sua lavra estão fora do perímetro de rega daquela barragem. Por isso, não está sujeito às restrições que afetam os outros agricultores. Ele, pelo contrário, utiliza a nascente que ali tem no terreno e arranjou um engenhoso sistema de reaproveitamento da água, de uns canteiros para os outros, que utiliza valas e um mecanismo de bombagem e, para já, não tem de que se queixar. "Este ano está bem iniciado", diz, filosófico. "O resto, vamos a ver... Desde que não falte a água na nascente". Nesse caso, a água do Sado também não seria uma alternativa. "Já viu como está baixo? Nesta altura devia ter mais um metro ou metro e meio de altura".

Não é só no arroz, no entanto, que toda a secura se reflete. As culturas do outono-inverno, como o trigo, que vão ser colhidas agora, em junho, "perderam-se em parte em toda a zona interior do país, desde Trás-os-Montes até à região sul, porque não choveu o suficiente", assegura José Núncio. E para o pico do verão, adivinham-se dificuldades na alimentação e disponibilidade de água para o gado.

"Estamos em plena primavera, o ano foi mau por falta de chuva e nesta altura ainda se veem alguns pastos, mas não é suficiente para fazer face ao verão", garante José Núncio, que defende a antecipação das ajudas do Estado aos agricultores.

"Vai haver falta de alimentação para gado e é natural que os preços disparem. Era importante que o Estado disponibilizasse o mais cedo possível os apoios aos agricultores, em vez de ele virem no final do ano", sugere o presidente da Fenareg, sublinhando que "não se trata de criar mais medidas, mas da antecipação dos apoios e, eventualmente, de juros bonificados para quem tenha necessidade de comprar alimentos para os animais".

Em abril a Fenareg já tinha alertado para o facto de existirem "30 mil hectares de cultura em risco", com a situação difícil na bacia hidrográfica do Sado, e para os registos críticos de duas das suas barragens - Odivelas, com 6% de volume armazenado, e Roxo (10%).

Estas duas situações "já estão a ser resolvidas, com transferência de água a partir da albufeira de Alqueva", explica José Núncio. Mas essa não poderia ser, por exemplo, uma solução para a barragem de Vale do Gaio. "A água de Alqueva tem custos que tornam inviáveis as culturas que utilizam muita água, como o arroz", garante.

Na semana passada, a Agência Portuguesa de Ambiente (APA) anunciou medidas para fazer face à situação que na bacia hidrográfica do Sado passam, entre outras, por restrições a regas urbanas de jardins ou o fecho de fontes ornamentais, a partir de 1 de Junho.

Alqueva vai ter novo bloco de rega


Rádio Pax - 01/06/2017 - 00:00
    
O circuito hidráulico e o Bloco de Rega de São Bento vão entrar em fase de consulta pública.

São 2 mil e 800 hectares que vão beneficiar as freguesias de Vila Nova de São Bento, Vale de Vargo e Salvador.

O novo Bloco de Rega faz parte da expansão prevista para o Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, que conta actualmente com 120 mil hectares de área disponível para rega. Até 2021, a EDIA prevê aumentar a área de regadio para cerca de 170 mil hectares.

A apresentação pública acontece hoje em Vila Nova de São Bento. Após a apresentação, segue-se um período de consulta pública na sede da União de Freguesias de Vila Nova de São Bento e Vale Vargo, até às 17 horas de sexta-feira. Durante este período são prestados esclarecimentos.