quinta-feira, 31 de maio de 2018

Restaurantes franceses obrigados a ter embalagens para levar sobras


Por SV - 29 Maio, 2018

Os deputados franceses aprovaram um projecto de lei que visa defender os consumidores e o ambiente, incluindo como medida a obrigatoriedade dos chamados "doggy-bags" nos restaurantes, ou seja, de recipientes apropriados para os clientes levarem os restos das refeições para casa.

Esta obrigatoriedade é para aplicar de forma progressiva a partir de 1 de Julho de 2021, e faz parte de uma política alargada contra o desperdício alimentar e em prol da protecção do ambiente e dos direitos dos consumidores.

A medida estava incluída num projecto de lei alargado para a agricultura e a alimentação que provocou "aceso debate" na Assembleia Nacional francesa, durante este fim-de-semana que passou, de acordo com o Le Monde.

Entre as propostas discutidas, os deputados rejeitaram interditar a supressão dos recipientes plásticos ou incluir um número mínimo de menus vegetarianos nas cantinas escolares. Mas, por outro lado, aprovaram a interdição do uso de água parada em garrafas de plástico, a partir de 2020, nos espaços de refeição dos estabelecimentos de ensino.

Os deputados franceses também recusaram incluir na Lei a proibição da publicidade em embalagens de produtos alimentares destinados às crianças com menos de 16 anos, e contendo elevados teores de gordura, açúcar ou sal.

Apesar dos apelos para a proibição de vários deputados, evidenciando o facto de em França, uma em cada seis crianças ter peso a mais, a medida foi chumbada para gáudio do ministro da Agricultura, Stéphane Travert, que era contra, apelando a uma melhor clarificação da proposta.

Igualmente chumbada foi a obrigação de os fabricantes de produtos alimentares incluírem uma etiqueta nutricional para ajudar os consumidores a identificarem os produtos mais saudáveis.

Por outro lado, os deputados determinaram a integração de cerca de 50% de produtos biológicos e orgânicos na restauração colectiva até 2022. Também votaram a favor do reforço da etiquetagem do vinho e de certos géneros alimentares, nomeadamente com a indicação do método de criação, da origem geográfica e dos tratamentos com produtos fitossanitários.

Outra medida aprovada visa a interdição do uso do termo "gratuito" e de sinónimos similares na promoção de produtos alimentares, em nome do "reconhecimento do trabalho dos agricultores" e de uma "partilha equitativa do valor, permitindo-lhes viver decentemente do seu trabalho", segundo refere o deputado Nicole Le Peih, que foi o autor da medida, em declarações divulgadas pelo Le Monde.

Aprovada foi ainda uma medida para permitir ao Governo enquadrar as promoções excessivas dos grandes distribuidores alimentares, para proibir a venda de produtos abaixo do preço pelo qual foram comprados aos fornecedores.

SV, ZAP //

Governo dos EUA autoriza Bayer a comprar a Monsanto mediante condições

29/5/2018, 20:54103

O Governo dos EUA autorizou esta terça-feira a Bayer a comprar a Monsanto, operação estimada em 57 mil milhões de euros, na condição de aquela empresa se desfazer da sua área agrícola.

O Governo dos EUA autorizou esta terça-feira a Bayer a comprar a Monsanto, operação estimada em 66 mil milhões de dólares (57 mil milhões de euros), na condição de aquela empresa se desfazer da sua área agrícola. O valor dos negócios desta área é de nove mil milhões de dólares, o que permitiu ao Departamento de Justiça assegurar que este é o maior acordo antimonopólio de desinvestimento alguma conseguido nos EUA.

Em resultado do acordo, a Bayer vai vender a parte do seu negócio agrícola à empresa química alemã BASF, por nove mil milhões de dólares, o que "vai resolver todas as preocupações de concorrência horizontal e vertical". Assim, a Bayer vai alienar os negócios de algodão, canola, soja e sementes de hortaliças, bem como o de herbicidas Bayer Liberty, que concorre diretamente com os pesticidas Roundup, da Monsanto.


O acordo obriga ainda a Bayer, que apresentou a sua primeira oferta para adquirir a Monsanto há dois anos, a desfazer-se de propriedade intelectual e projetos de investigação e desenvolvimento, além do seu incipiente negócio de agricultura digital. Tudo isto, para "assegurar que a BASF tem os mesmos incentivos de inovação, capacidade e dimensão que a Bayer teria como concorrente independente".

O acordo está agora pendente da aprovação da Justiça norte-americana.

O presidente da Bayer, Werner Baumann, afirmou esta terça-feira, em comunicado, que a farmacêutica alemã está em vias de se converter em "uma empresa líder da economia agrícola".

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Chuva e granizo destroem "a 100%" vinhas em Alijó


29 DE MAIO DE 2018 - 13:16

A chuva e a queda de granizo em Pinhão, no concelho de Alijó, destruíram por completo algumas vinhas.


A Câmara Municipal de Alijó está a fazer um levantamento dos estragos provocados pela queda de chuva e granizo, durante esta segunda-feira, na zona do Pinhão, em Alijó.

À TSF, Vítor Freire, vice-presidente da autarquia, confirma que "há áreas muitas afetadas, com perdas de 100% da produção deste ano".

A autarquia de Alijó fala em perdas de 100% em algumas vinhas
"Estamos também a identificar os caminhos agrícolas que estão em piores condições, de forma a tentar, já durante a tarde de hoje [terça-feira], com [recurso a] máquinas, permitir o acesso dos agricultores às suas propriedades e para ver se ainda é possível recuperar alguma parte da produção", esclareceu.

Perante os estragos, a Câmara Municipal de Alijó promete apoios aos agricultores.

"Tentaremos, principalmente junto dos pequenos agricultores, ajudar em tudo o que for possível, e tentar participar [a situação] às autoridades competentes", comprometeu-se Vítor Freire.

Os prejuízos estão a ser avaliados e a autarquia garante que irá apoiar os agricultores afetados
O vice-presidente da Câmara Municipal de Alijó adiantou ainda à TSF que a autarquia já reuniu com a direção regional da Agricultura, que já esteve no local para avaliar a "dimensão dos prejuízos".

Numa nota enviada à comunicação social, a Junta de Freguesia do Pinhão informa que há "prejuízos em estabelecimentos comerciais (...) e danos muito avultados nas vinhas envolventes à vila", afirmando a necessidade de "intervenções orçamentadas em cerca de 50 a 60 mil euros".

Esta segunda-feira, a queda intensa de chuva e granizo provocou inundações, derrocadas e deslizamentos de terra, que chegaram a cortar o trânsito em várias estradas em Alijó.

Septuagenário ficou preso debaixo de trator e escavou buraco para sair

Um homem de 72 anos ficou preso debaixo de um trator durante cerca de uma hora, esta terça-feira, na sequência de um capotamento, na localidade de Adães, em Chaves.

O septuagenário conseguiu libertar-se depois de escavar um buraco com as mãos e com a ajuda de um vizinho que apareceu, mais tarde, no local do acidente.

Segundo o comandante dos bombeiros de Vidago, Bruno Henriques, a vítima "estava a operar um trator agrícola que se despistou num desnível do terreno, tendo capotado".

"Fomos acionados, inicialmente para um trauma, mas quando chegamos ao local percebemos que envolvia um trator. O homem terá ficado preso debaixo do trator, mas conseguiu libertar-se", explicou.

Após ser avaliado e imobilizado no local, o homem foi transportado para o hospital de Chaves, com ferimentos considerados ligeiros.

O alerta para os bombeiros foi dado às 11.07 horas e no local estiveram dois operacionais dos bombeiros de Vidago e a GNR.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Viticultores queixam-se de elevados prejuízos em Alijó e Sabrosa



Quinta de La Rosa, em Gouvães do Douro, Pinhão

Instituto dos Vinhos do Douro e Porto mobilizou para a região uma equipa de fiscalização para contabilizar as perdas na produção e o número de cultivadores afetados

Viticultores dos concelhos de Alijó e de Sabrosa, na região do Douro, queixaram-se esta terça-feira de elevados prejuízos na vinha provocados por "quase uma hora" de chuva intensa acompanhada de granizo.

Nestes concelhos do sul do distrito de Vila Real, a chuva forte chegou na segunda-feira acompanhada de granizo, deixando um cenário, em algumas vinhas, de folhas esfarrapadas, galhos quebrados e bagos no chão, muros caídos e deslizamentos de terras.

José Pinto, produtor de Vilarinho de Cotas, concelho de Alijó, estava na vinha quando começou a intempérie.

"Estão as uvas todas no chão e as hortas estão todas desfeitas", afirmou.

O agricultor descreveu o cenário como "desolador" e disse que as pedras de granizo eram pequenas, como "grãos de milho", mas "caíram forte e feio durante quase uma hora" e, por causa disso, o gelo ainda era visível esta terça-feira nos valados.

"Tenho 69 anos e nunca vi nada assim. Perdi mais de metade da produção", salientou.

O granizo que caiu feriu as videiras e os cachos, agora há que tratar das feridas com produtos para tentar que as feridas que ficaram abertas não prejudiquem mais a produção e a qualidade

Pedro Perry passou a manhã na vinha a fazer o tratamento às videiras para "tentar minimizar os prejuízos".

"O granizo que caiu feriu as videiras e os cachos, agora há que tratar das feridas com produtos para tentar que as feridas que ficaram abertas não prejudiquem mais a produção e a qualidade", referiu.

O presidente da União de Freguesia de Vale de Mendiz, Vilarinho de Cotas e Casal de Loivos, Faustino Moreira, fala "em catástrofe"
Este produtor, também de Vilarinho de Cotas, disse que ainda não calculou os prejuízos. "A minha preocupação agora é tratar e tentar minimizar os prejuízos, depois vamos ver", frisou.

O presidente da União de Freguesia de Vale de Mendiz, Vilarinho de Cotas e Casal de Loivos, Faustino Moreira, fala "em catástrofe" e produções "perdidas na totalidade em algumas vinhas".

"Estamos a ver os pontos piores. No geral, o granizo caiu em todo o lado, só que há pontos em que provocou mais prejuízos", explicou.

Em Gouvães, concelho de Sabrosa, António Pereira afirmou à agência Lusa que perdeu "cerca de 60% da produção" nos seus cinco hectares de vinha, onde já está a aplicar o tratamento das videiras.

O vice-presidente da Câmara de Alijó, Vítor Ferreira, disse que os serviços municipais estão espalhados pelo terreno a fazerem o levantamento dos prejuízos, referindo que a área mais atingida corresponde à União de Freguesia de Vale de Mendiz, Vilarinho de Cotas e Casal de Loivos, onde há zonas "que, efetivamente, a produção está completamente perdida.

"Estamos também a fazer o levantamento dos acessos às propriedades porque, nas primeiras 48 horas, é necessário fazer um tratamento à vinha. Há alguns acessos que estão bloqueados e estamos a tentar identificá-los para desbloquear e permitir que os agricultores acedam às propriedades", frisou.

Também o Ministério da Agricultura já esteve no terreno esta manhã a fazer uma primeira avaliação dos prejuízos e, através da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, emitiu um alerta aos produtores para começarem imediatamente a aplicar um tratamento para ajudar a cicatrizar as videiras, nomeadamente adubo foliar com elevada percentagem de cálcio.

A DRAPN salientou que o tratamento é "tanto mais eficaz quanto mais rapidamente for efetuado".

Por causa da intempérie de granizo e trovoadas, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) mobilizou para a região uma equipa de fiscalização para contabilização das perdas na produção e número de viticultores afetados, não havendo, ainda, resultados desta verificação.

A intempérie provocou ainda inundações no Pinhão, no edifício da estação de caminhos-de-ferro, numa unidade hoteleira, dois estabelecimentos comerciais e arrastou lama para a principal avenida desta vila turística
O instituto referiu, em comunicado, que foram "contactados vários viticultores que confirmaram danos localizados, registando-se pontualmente elevados prejuízos em algumas parcelas de vinha, sendo mais abrangente o prejuízo provocado pela grande quantidade de água que causou queda de muros e deslize de terras".

A intempérie provocou ainda inundações no Pinhão, no edifício da estação de caminhos-de-ferro, numa unidade hoteleira, dois estabelecimentos comerciais e arrastou lama para a principal avenida desta vila turística.

As operações de limpeza, na segunda-feira à noite, envolveram cerca de 60 bombeiros das corporações do concelho de Alijó, Sabrosa, Armamar e Ervedosa do Douro (São João da Pesqueira).

Identificada mais uma vantagem da dieta mediterrânica: Protege contra a poluição do ar


VISÃO MAIS 28.05.2018 às 9h29

 
Um estudo recente descobriu que quem come mais fruta, vegetais e cereais integrais tem cinco vezes menos probabilidades de morrer por causa da poluição do ar, devido aos antioxidantes encontrados nestes alimentos
Nos últimos 17 anos, uma equipa de investigadores da Universidade de Nova Iorque estudou cerca de 550 mil adultos em seis estados e mais duas cidades dos EUA e chegou à conclusão de que uma dieta mediterrânica protege as pessoas contra os efeitos prejudiciais da poluição do ar. Aqueles que seguem uma alimentação rica em fruta, vegetais e cereais integrais têm menos cinco vezes de probabilidade de morrer de causas relacionadas com a poluição do ar - Os antioxidantes encontrados nestes alimentos contrariam o seu efeito no organismo.

"A adoção de uma dieta mediterrânea tem o potencial de reduzir os efeitos da poluição do ar numa parte substancial da população nos Estados Unidos", acredita George Thurston, o principal autor do estudo.

Para chegar a estes resultados, a amostra foi monitorizada e exposta, a longo prazo, a alguns tipos de poluição do ar, incluindo na forma de partículas (formam-se na atmosfera como resultado da reação química entre diferentes poluentes). Ao mesmo tempo, os investigadores tiveram em atenção o tipo de alimentação que cada um dos participantes seguia.

Aqueles que não tinham uma alimentação rica em frutas, vegetais e cereais integrais mostraram uma taxa de mortalidade por doenças cardíacas 10% mais elevada, por cada aumento de 10 partes por mil milhões na exposição a dióxido de nitrogénio (que resulta, por exemplo, dos motores de combustão ou incêndios). Na mesma situação, para os que seguiam a dieta mediterrânea, a taxa de mortalidade só subiu 2 por cento.

A taxa de mortalidade por doenças cardíacas também aumentou para 17% quando a exposição à poluição em forma de partículas aumentou 10 miligramas por metro cúbico. Para os seguidores deste tipo de alimentação, aumentou apenas 5 por cento.

"Estudos anteriores mostraram que mudanças na dieta, particularmente a adição de antioxidantes, podem atenuar os efeitos adversos da exposição a altos níveis de poluição do ar em curtos períodos de tempo", lembra Chris Lim, um dos investigadores. "O que não sabíamos era se a dieta podia influenciar a associação entre a exposição à poluição do ar a longo prazo e os efeitos na saúde", acrescenta.

Comissão Europeia propõe reutilização da água na agricultura


29 Maio, 2018

A Comissão Europeia apresentou novas regras para incentivar e facilitar a reutilização da água no sector agrícola.

As novas medidas "ajudarão os agricultores a fazerem o melhor uso possível das águas residuais não potáveis, atenuando a escassez de água e protegendo ao mesmo tempo o ambiente e os consumidores", revelou a Comissão.

São apontados requisitos mínimos para a reutilização das águas residuais tratadas provenientes de estações de tratamento de águas residuais urbanas, para que estas sejam seguras.

A reutilização da água na União Europeia "está actualmente muito abaixo do seu potencial, não obstante o facto de o impacto ambiental e a energia necessária para a extracção e o transporte de água doce ser muito mais elevado", assinala a Comissão, num Boletim Informativo enviado à Rádio Pax.

Governo insiste no esforço de prevenção para evitar tragédias

O primeiro-ministro, António Costa, defendeu hoje a necessidade de o país prosseguir o esforço de prevenção para evitar incêndios florestais de consequências trágicas, como em 2017.

 Governo insiste no esforço de prevenção para evitar tragédias
   
Para António Costa, importa que os portugueses, designadamente os proprietários, os habitantes das zonas rurais e as autarquias promovam "uma cultura de segurança" que seja "partilhada coletivamente".

O primeiro-ministro falava aos jornalistas, no concelho de Pedrógão Grande, distrito de Leiria, no final de uma reunião com a Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), presidida por Nádia Piazza, em que também participaram o ministro Adjunto, Pedro Siza Vieira, e os homólogos da Agricultura, Luís Capoulas Santos, e do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques.

Na sua opinião, é fundamental "levar para a frente" a reforma da floresta em Portugal, incluindo nos territórios do Centro e do Norte, que geralmente são os mais fustigados pelos fogos, como aconteceu com as tragédias de 17 de junho e 15 de outubro, em que morreram mais de 100 pessoas.

António Costa admitiu que, apesar do esforço do último inverno, ao nível da limpeza das faixas de gestão de combustível previstas na lei, "falta fazer muito" para melhorar a segurança das populações nas zonas de risco, designadamente para promover o ordenamento florestal e assegurar às pessoas condições para viverem nas localidades do interior de Portugal.

A reforma da floresta, sublinhou, deverá contribuir para que "estes territórios não sejam territórios pobres e possam valorizar" a produção florestal, a agricultura e a pecuária, entre outras atividades que venham a fixar as pessoas no mundo rural.

A reunião com a direção da AVIPG, a segunda desde a sua criação, na sequência do incêndio de meados de junho do ano passado, que atingiu vários municípios da região Centro, nos distritos de Leiria, Castelo Branco e Coimbra, serviu para fazer um balanço do trabalho realizado pelos organismos do Estado junto das populações, mas também para "não deixar esquecer esta tragédia" e o sofrimento das vítimas e seus familiares, disse.

Importa "continuarmos a fazer o esforço para termos um novo paradigma" na floresta e na segurança das aldeias, com vista a "diminuir o risco" para pessoas e bens, afirmou António Costa.

No entanto, apesar de as forças de segurança "terem de cumprir" as suas obrigações, o objetivo do Governo não é aquelas "andarem a cobrar coimas".

É necessário "prosseguir esse trabalho" de limpeza das faixas florestais previstas na lei, mas "quanto mais fizermos" menor será o risco no futuro, salientou.

Para Nádia Pizza, "é preciso agora que as comunidades deem o seu contributo" com esse objetivo.

A presidente da AVIPG, com sede na antiga escola primária de Figueira, freguesia da Graça, frisou que a reconstrução dos territórios devastados há 11 meses pelo fogo passa por fixar as pessoas, criando condições para atividades ligadas à agricultura e pecuária.

Capoulas garante ao Parlamento que agricultores vão ter aumentos nos pagamentos diretos no pós-2020

Mónica Silvares
28 Maio 2018

Em resposta por escrito aos deputados, o Ministério da Agricultura avançou que Portugal vai ter um aumento no primeiro pilar da PAC. Esta é uma evolução face à posição de Bruxelas.
"Portugal será um dos cinco Estados membros que terá aumentos relativos aos pagamentos diretos aos agricultores", avançou o Ministério da Agricultura numa resposta por escrito às questões colocadas pelos deputados. Esta informação representa uma evolução face às declarações do comissário europeu Phil Hogan que colocou Portugal no grupo de países que não iam ter corte no primeiro pilar da Política Agrícola Comum (PAC).

O ECO questionou o Ministério sobre esta aparente discrepância e fonte oficial garante que ela não existe tratando-se antes de uma complementaridade, ou seja, uma evolução no âmbito do processo negocial. "Ambas as versões são corretas. Não só não existirão cortes, como haverá aumento. Não há qualquer incompatibilidade nestas afirmações, havendo antes complementaridade", explicou fonte oficial do Ministério da Agricultura. "Poderá haver pequenos ajustes que configurem um aumento", acrescentou a mesma fonte.

Não só não existirão cortes, como haverá aumento [das ajudas diretas aos agricultores].

Recorde-se que Phil Hogan, a 2 de maio, anunciou que, em termos genéricos, os pagamentos diretos aos agricultores vão sofrer um corte de 3,9%, resultante da redução do orçamento previsto para a Política Agrícola Comum — que terá um corte de 5%. Mas, Portugal, Roménia e Eslováquia não vão ter um corte nesta rubrica de acordo com a proposta da Comissão, disse na conferência de imprensa de apresentação das perspetivas financeiras para 2021- 2027. O comissário revelou ainda que só Estónia, Letónia e Lituânia terão um aumento deste tipo de pagamentos. Por outro lado, Polónia e Bulgária vão ter uma redução dos pagamentos diretos inferior a 1%. Os restantes Estados membros sofrem o corte de 3,9% naquele que é tido como "um apoio essencial ao rendimento dos agricultores", disse o irlandês Phil Hogan.

"O orçamento da PAC é justo, mesmo com o rombo a que o Orçamento fica sujeito com a perda dos 12 mil milhões de euros na sequência da saída do Reino Unido", disse, na altura, Phil Hogan. "A grande maioria dos agricultores não vai ficar a perder", acrescentou o comissário fazendo referência à possibilidade de os governos poderem complementar as verbas que Bruxelas já não vai pagar.

No entanto, o Ministério da Agricultura, disse ao ECO que "a posição do Governo é de manutenção das atuais taxas de cofinanciamento: 0% no primeiro pilar e 18% no segundo". O segundo pilar é o do desenvolvimento rural. Aos deputados, o Ministério disse que ainda não tem nenhuma proposta da Comissão relativa a este segundo pilar, nem recebeu nenhuma garantia da parte do comissário de manutenção ou reforço dos montantes atribuídos a Portugal no âmbito do segundo pilar.

A posição do Governo é de manutenção das atuais taxas de cofinanciamento: 0% no primeiro pilar e 18% no segundo.

Questionada pelo ECO sobre a dimensão dos cortes ao nível do desenvolvimento rural, fonte oficial do Ministério disse que "é uma conclusão que se infere dos números globais divulgados pela Comissão Europeia, que indiciam precisamente essa possibilidade". "Não é conhecida a amplitude dos eventuais cortes em cada um dos Estados-membros, uma vez que estes incidirão sobre 22 Estados-membros no primeiro pilar (dos quais Portugal está excluído) e sobre os 27 Estados-membros no que diz respeito ao segundo pilar", explicou a mesma fonte.

França financia agricultura angolana com 79 milhões de euros


28/5/2018, 12:33

O Presidente angolano, João Lourenço, confirmou um financiamento de 79 milhões de euros para o setor agrícola em Angola, a conceder pela Agência Francesa de Desenvolvimento.


O Presidente angolano, João Lourenço, confirmou, por despacho presidencial, um financiamento de 79 milhões de euros para o setor agrícola em Angola, a conceder pela Agência Francesa de Desenvolvimento.

A informação consta do despacho presidencial 60/18, de 24 de maio, ao qual a Lusa teve acesso esta segunda-feira, que refere que o acordo de financiamento, entre o Ministério das Finanças de Angola e a agência estatal francesa, será utilizado num projeto de desenvolvimento de Agricultura Comercial.

O Governo francês já fez saber que tem linhas de crédito abertas para Angola no valor de 250 milhões de euros. A Agência Francesa de Desenvolvimento já mobilizou 150 milhões de euros para projetos relativos ao abastecimento de água, além deste novo plano para o setor agrícola, decorrendo um processo de identificação de novos objetivos.

O Presidente de Angola, João Lourenço, escolheu a França para a sua primeira visita oficial a um país ocidental, que inicia esta segunda-feira, com a previsão de assinatura de vários acordos de cooperação, seguindo depois para a Bélgica (4 e 5 de junho).

Para esta segunda-feira está previsto um encontro entre João Lourenço e o Presidente francês, Emmanuel Macron, no Palácio do Eliseu, bem como a assinatura de vários acordos de cooperação nos domínios da Defesa, Agricultura e formação de quadros. Segundo informação disponibilizada pela Casa Civil do Presidente da República, a visita a França prolonga-se até 30 de maio.

Esta visita foi anunciada pela Casa Civil já em março, a convite do homólogo francês, Emmanuel Macron. "Na visita que o Presidente da República de Angola fará a França na última semana de maio, é interesse do Presidente Macron, manifestado na sua carta-convite, a discussão aprofundada à volta das questões de segurança regional, de modo muito particular as situações prevalecentes na República Democrática do Congo e na República Centro Africana", informou ainda a Casa Civil.

Acrescenta que o Governo francês está "sensível à forte e prioritária aposta do Presidente João Lourenço na diversificação da economia angolana", pelo que, durante a visita, "proporcionará facilidades e vias de diálogo que levem à mobilização de atores económicos franceses" para Angola.

Cortes nas políticas agrícola e de coesão debatidos no Parlamento Europeu

Sessão plenária está marcada para esta segunda-feira em Estrasburgo. Por 

Lusa|26.05.18

Parlamento Europeu (PE) inicia na segunda-feira, em Estrasburgo, uma sessão plenária marcada pelo debate dos cortes nas políticas agrícola e de coesão, anunciados pela Comissão Europeia nas suas propostas sobre o orçamento da União Europeia (UE) para 2021-2027. Os cortes na Política Agrícola Comum (PAC) e na Política de Coesão serão discutidos em plenário na terça-feira, no mesmo dia em que o executivo comunitário apresenta a proposta setorial do próximo quadro financeiro plurianual da UE para a Coesão, com os eurodeputados a votarem uma resolução sobre este assunto. 

Também na quarta-feira, os eurodeputados votam um relatório que expõe a posição da assembleia sobre o futuro da PAC, com a comissão parlamentar da Agricultura a opor-se a qualquer tentativa de renacionalização da mesma ou ao cofinanciamento nacional nos pagamentos diretos aos agricultores. Num relatório aprovado em março, o PE defendeu o apoio contínuo a estas políticas, que se traduzem em "benefícios tangíveis" para os cidadãos, e um financiamento adequado para fazer face a novos desafios. No mesmo dia, o PE leva a votação a proposta de mobilização de 50,6 milhões de euros do Fundo de Solidariedade da União Europeia (UE) para ajudar Portugal na sequência dos incêndios florestais que assolaram Pedrógão Grande e outras localidades do Centro e Norte do país entre junho e outubro do ano passado. A fim de reduzir ao mínimo o tempo necessário para a mobilização do Fundo, a decisão será aplicável a partir da data da sua adoção. 

Ainda na quarta-feira, dia em que primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel, vai tornar-se o sexto líder europeu a participar no ciclo de debates no PE sobre o futuro da Europa, os eurodeputados vão debater a proliferação da corrupção e do crime através dos chamados 'vistos gold' Da agenda da sessão plenária, que decorre entre segunda e quinta-feira em Estrasburgo, constam ainda os debates sobre a situação na Faixa de Gaza e o estatuto de Jerusalém ou a decisão do governo norte-americano de impor taxas alfandegárias às importações de aço e de alumínio, e a votação, na terça-feira, do relatório sobre a otimização da cadeia de valor no setor das pescas da UE.

Governo anuncia investimento de 5ME na Barragem do Lapão, encerrada há 15 anos


O Governo vai investir cinco milhões de euros para reconstruir a Barragem do Lapão, infraestrutura situada em Mortágua, distrito de Viseu, e que estava encerrada há 15 anos por falta de segurança, anunciou hoje o ministro da Agricultura.

A obra deverá arrancar até ao final deste ano e representa um investimento de cinco milhões de euros, contando com uma comparticipação de 85% de fundos comunitários, afirmou Capoulas Santos, que falava durante a cerimónia de abertura da 5.ª edição da Expomortágua.

A empreitada da Barragem do Lapão, financiada pelo quadro comunitário e concluída em 2001, foi encerrada dois anos depois por alegadas falhas de segurança, tendo ameaçado ruir em janeiro de 2003, na sequência de fortes chuvadas.

"Ninguém descobriu a responsabilidade naquela obra e na situação exatamente como estava. Passados 15 anos, não há nenhum tipo de apuramento de responsabilidade, o que me causa estranheza", criticou Capoulas Santos, durante a cerimónia.

No discurso, o ministro referiu que, quando regressou à tutela, a ordem era para "demolir" a barragem, numa intervenção em que se gastaria tanto dinheiro como aquele que foi gasto para construir.

"A opção que tomei foi não destruir. Mandámos avaliar as soluções técnicas possíveis e foi-nos demonstrado que é possível reconstruir em condições de segurança e é isso que vamos fazer", vincou.

Durante o discurso, Capoulas Santos referiu que, para além deste investimento, estão "criadas todas as condições para que, muito brevemente, ainda antes do final deste ano, provavelmente em setembro ou outubro", seja aprovado o regadio da Barragem da Macieira, também em Mortágua, num investimento entre 4,5 a 5 milhões de euros.

Esse investimento terá uma fonte financeira negociada com o Banco Europeu do Investimento e com o Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa, esclareceu.

O perímetro de rega será de cerca de 180 hectares, sendo que, depois da intervenção na Barragem do Lapão, deverá ser feito também aí um perímetro de rega, alargando para um total de 600 novos hectares de regadio na região.

"Trata-se de criar condições para que os agricultores possam ter água e um sistema de rega que torna mais eficiente e mais competitiva a atividade agrícola", sublinhou, considerando que, ao mesmo tempo, vai permitir combater "as alterações climáticas" e garantir uma maior prevenção de incêndios, ao serem criados mosaicos agrícolas entre espaços florestais.

Antes de discursar, já o presidente da Câmara de Mortágua, o socialista José Júlio Norte, defendeu a intervenção nestes dois projetos, bem como a necessidade do ministro da Agricultura "fazer lóbi para que o processo de requalificação do IP3 não tenha nenhuma recaída".

Governo abre mercado da carne de porco à Índia devido ao "potencial de consumo"


O Ministério da Agricultura anunciou hoje a abertura à Índia do mercado da carne de porco portuguesa devido ao elevado "potencial de consumo" daquele país, e fala numa "boa notícia para a produção nacional".

Em comunicado, a tutela assinala que "a Índia apresenta um potencial de consumo que ultrapassa os mil milhões de consumidores, razão pela qual é uma das economias mais importantes para a produção nacional com vocação exportadora, como é o caso da suinicultura".

De acordo com o Ministério da Agricultura, só nesta semana, em que foi aberto o mercado da Índia à carne de suíno portuguesa, "os preços pagos ao produtor atingem o segundo melhor preço da União Europeia", num montante de 165 euros por cada 100 quilogramas de carcaça.

Citado pela nota, o ministro da Agricultura considera que estas "são boas notícias para a produção nacional".

O responsável aponta também "os esforços que o Ministério e a produção, em conjunto, fizeram para ultrapassar a difícil crise em que a fileira estava afundada quando este Governo tomou posse".

No comunicado, a tutela destaca que esta estratégia se insere numa política de internacionalização, também feita "em estreita articulação com a produção nacional", que tem aumentado a "dinâmica exportadora do setor".

Ao todo, este executivo "já abriu 45 mercados para 153 produtos, 113 da área animal e 40 de origem vegetal".

O objetivo é que ainda se consiga a "abertura de mais 53 mercados para viabilização da exportação de 210 produtos, sendo 158 da área animal e 52 da área vegetal", conclui o Ministério da Agricultura.

ACT intervém no conflito entre trabalhadores e diretora da Tapada de Mafra


A Autoridade para as Condições do Trabalho tem em curso uma inspeção na Tapada Nacional de Mafra para intervir no conflito entre trabalhadores e diretora, que o ministro da Agricultura admitiu existir e que motivou a sua ida ao Parlamento.

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) disse à agência Lusa que "está acompanhar a situação tendo em vista assegurar os direitos dos trabalhadores" e que tem "em curso ação inspetiva, no decurso da qual serão adotados os procedimentos adequados às situações que se vierem a verificar".

"Se a ACT confirmar assédio moral, garanto que a presidente [da direção] deixará de estar no minuto seguinte", afirmou o ministro da Agricultura, durante a audição na Comissão Parlamentar da Agricultura e do Mar, no dia 16, escusando-se por isso a demitir ou retirar confiança a Paula Simões.

Capoulas Santos disse também que "não compactuará" com o incumprimento de deveres pelos trabalhadores, admitindo que existe um conflito entre ambos.

Face às denúncias de atentados contra o património e conflitos entre trabalhadores e diretora, que começaram há um ano a chegar ao Ministério da Agricultura, o governante pediu a intervenção da Inspeção Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), que "não encontrou qualquer fundamento".

Entre as conclusões do relatório da IGAMAOT, salientou que "a inspeção veio a determinar um conjunto de pagamentos irregulares à antiga diretora [Alda Mesquita] que a IGAMAOT recomenda que sejam repostos", motivo pelo qual o relatório da inspeção deverá ser remetido ao Ministério Público.

Numa carta enviada aos grupos parlamentares, a que a agência Lusa teve acesso, o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas denunciou casos de "atuação desrespeitosa" da diretora da Tapada, Paula Simões, para com os trabalhadores, que configuram "assédio moral" e têm resultado em "sistemáticas baixas médicas por extremo stress no trabalho" e despedimentos voluntários, tendo o quadro de pessoal diminuído de 26 para 12 trabalhadores.

Contactada pela Lusa, Paula Simões confirmou que oito trabalhadores se despediram desde que assumiu funções em abril de 2016, mas nega qualquer intenção de assédio.

"O cumprimento de direitos e deveres por parte dos trabalhadores, a prestação de trabalho como contrapartida pela remuneração auferida ou o controle de receitas e despesas no processo de gestão de uma instituição não constituem forma de desrespeito nem legitimam situações de stress ou de baixa médica", defendeu.

Os trabalhadores queixaram-se de trabalhar, "sem dias de descanso, mais de sete dias seguidos", mas a diretora desmentiu.

A responsável é ainda acusada de cometer "diversos atentados ambientais", como o abate de sobreiros centenários que Capoulas Santos justificou tratar-se de sobreiros "decrépitos" ou em risco de cair sobre caminhos da tapada, onde circulam crianças, indo ao encontro dos esclarecimentos dados por Paula Simões.

Agricultura familiar em Angola afetada pela reduzida participação de jovens e desvalorização do kwanza



O programa de agricultura familiar em Angola, financiado pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), nos últimos 12 anos, ficou afetado pela fraca participação de jovens e a desvalorização da moeda nacional, concluiu a instituição internacional.

Os dados foram avançados hoje, em Luanda, durante um seminário sobre a avaliação da estratégia e do programa do país financiado pelo FIDA, em oito províncias angolanas, promovido pelo Ministério da Agricultura e Florestas de Angola, em parceria com o FIDA.

Na apresentação dos resultados desta avaliação, a consultora líder do Escritório Independente de Avaliação do FIDA, Tullia Aiazzi, referiu que "os jovens tendem a considerar a agricultura não atraente, porque não oferece oportunidade para meios de vida razoáveis".

O "limitado capital humano no país para gerir e fornecer assistência técnica aos projetos, a desvalorização da moeda nacional em 45%, ao longo de oito anos e ainda os custos de gestão de projetos, quase 100% mais altos do que o planeado", foram também apontados como "principais questões" que afetaram a eficiência dos mesmos.

As estratégias e objetivos do FIDA, referiu Tullia Aiazzi, estavam alinhados com a "estratégia de combate à pobreza do Governo angolano revista em 2005, visando questões cruciais nas áreas mais vulneráveis do planalto central".

"Esta abordagem é reconhecida cada vez mais também no Ministério da Agricultura como o caminho a seguir, já que dados recentes confirmam que quase 90% da produção agrícola em Angola provém da agricultura familiar", observou.

Entre as conclusões da avaliação, constam a "necessidade de desenvolvimento intensivo de capacidades a todos os níveis, fortalecendo sobretudo a capacidade, competências e qualificações do pessoal do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) de Angola e dos agricultores participantes".

No entanto, de acordo com a avaliação "até hoje, pouco tem sido feita, para lidar com a escassez de recursos humanos em Angola, que surge sempre que um membro da equipa de um projeto precisa ser recrutado e para apoiar o desenvolvimento de um grupo de profissionais experientes".

Para o FIDA, a estratégia de focalização e dos enfoques de implementação de projetos devem integrar plenamente uma perspetiva de equidade de género e promover ativamente o empoderamento social e económico das mulheres".

"Criar oportunidades sustentáveis e atraentes no meio rural para jovens, promovendo seu acesso a oportunidades de desenvolvimento de capacidades, recursos financeiros e meio de vida sustentáveis e ainda reforçar sua capacidade de apoio à implementação e diálogo sobre políticas do país", aponta.

O FIDA iniciou a sua colaboração com Angola em 1989 e no final de 2017 havia aprovado sete empréstimos e subvenções associados, em apoio a uma carteira no valor total de 135,3 milhões de dólares.

Portugueses participam em queixa contra UE devido a alterações climáticas


Três famílias portuguesas fazem parte de um grupo de 11, de vários países, que apresenta hoje ao Tribunal da União Europeia uma ação contra instituições europeias, considerando que não fazem o possível contra as alterações climáticas.

A ação legal promovida pelas famílias de diversas partes do mundo é contra o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu e baseia-se no argumento de que a União Europeia (UE) não está a fazer tudo o que está ao seu alcance para combater as alterações climáticas e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos relacionados com os efeitos adversos das mudanças no clima.

O grupo de cidadãos de Portugal, Alemanha, França, Itália, Roménia, Gronelândia, Fiji e Quénia envolvidos neste caso, chamado em inglês 'People's Climate Case', é acompanhado por organizações de defesa do ambiente, como a portuguesa Associação Sistema Terrestre Sustentável - Zero, por advogados e por cientistas que acreditam que a UE pode e deve ser mais ambiciosa na meta de redução das emissões de gases com efeito de estufa, principais responsáveis pelas alterações climáticas.

Representando setores de atividade dependentes do equilíbrio das condições do clima - floresta, agricultura e apicultura -, os portugueses envolvido na iniciativa são unânimes na necessidade de definir políticas abrangentes, e não só nacionais, que permitam lidar com os efeitos já sentidos e que tendem a agravar-se.

Para demonstrar que as consequências já estão aí, todos lembram o exemplo dramático das condições de 2017, com uma seca prolongada que contribuiu para os incêndios florestais de junho e de outubro, levando à morte de mais de 100 pessoas e a destruição de vastas áreas de floresta e de agricultura, assim como de edifícios.

Argumentam que, se nada mudar, as temperaturas vão aumentar mais de 3ºC, as secas e cheias vão ser mais fortes e frequentes, o nível do mar vai subir. Por isso, em 2015, os países alcançaram o Acordo de Paris, reunindo esforços para limitar o acréscimo da temperatura média do planeta a 1,5ºC.

Para as famílias, a meta fixada na Europa de reduzir as emissões em 40%, até 2030, é inadequada "no que diz respeito à necessidade real de evitar as consequências adversas das alterações climáticas que estão já a acontecer" e pouco ambiciosa "em relação ao que a UE poderia fazer", como refere informação divulgada pela Zero.

Um dos portugueses que aderiu à ação, o apicultor Ildebrando Conceição, habitante no centro de Portugal salienta que deixaram de existir quatro estações, estando agora reduzidas a verão e inverno, situação que "está a perturbar o trabalho das abelhas que levam mais tempo para se adaptarem às variações climáticas". Além da produção de mel, as abelhas são essenciais para a polinização.

A diminuição da produção de mel tem sido contínua, segundo o apicultor, e reduziu o rendimento da família, nesta atividade há décadas, produzindo mel, pólen, própolis, cera e abelhas. São necessárias medidas adicionais para a sobrevivência das colmeias, como a alimentação artificial das abelhas, mas, apesar destes cuidados, em 2017, perdeu quase 60% da produção.

O pai de outra família, Armando Carvalho, aplica práticas de gestão florestal sustentável, substituindo os pinheiros e eucaliptos por espécies autóctones, como carvalhos e castanheiros. Teve os seus terrenos florestais afetados pelos incêndios florestais e sentiu necessidade de assumir um papel ativo, defendendo que "cabe à UE liderar e agir de forma ambiciosa para reverter o que está a acontecer em termos de impactos das alterações climáticas".

"Enfrentar as mudanças climáticas [exige que] tudo tenha de ser rearranjado no âmbito de uma economia europeia que se quer sustentável para todos os países", resume num vídeo com o testemunho, como aconteceu com os restantes participantes.

Para o agricultor Alfredo Sendim, que se dedica a uma propriedade na família há seis gerações, uma subida de temperatura "mesmo abaixo dos 2ºC, será um verdadeiro desafio simplesmente devido às temperaturas mais extremas no verão, uma verdadeira ameaça de morte" para o gado.

Um aumento de temperatura acima de 2ºC, "para onde nos estamos a encaminhar com a atual meta climática da UE, haverá um deserto na região onde hoje fica a herdade e teremos de nos mudar", lamenta Alfredo Sendim, do sul do país.

A tecnologia não pode resolver tudo, defende, e "só uma compreensão e respeito pela natureza", aliados a novas soluções, podem resultar e "um esforço tão grande não pode ser encarado individualmente, tem de ser coletivo, uma consciência de toda a comunidade". "É ainda possível fazer um paraíso neste planeta", realça.

Joaquim Caixeiro, dependente do trabalho na quinta de Alfredo Sendim, também aderiu à ação. "A alteração climática afeta diretamente o meu trabalho e a vida da minha família, tornando a nossa atividade menos competitiva em comparação com atividades semelhantes na agricultura convencional. O que me motiva a participar nesta ação legal é o medo do nosso futuro: o meu e o das minhas filhas", opina.

Observatório JN: Evolução dos fogos rurais: o que nos dizem os números?

Paulo Fernandes
21 Maio 2018 às 17:39


A excecionalidade dos incêndios de 2017 é evidente nos números de vítimas mortais, área queimada e prejuízos associados. Como chegámos aqui e como daqui saímos? Analisar os últimos 20 anos (1998-2017) permite perceber as tendências de (des)agravamento do problema dos fogos rurais em Portugal.


Comecemos pelo elevado número de ignições, frequentemente referido como um obstáculo à evolução neste domínio. Certamente para surpresa de muitos verifica-se que o número de fogos (com tamanho mínimo de um hectare) é hoje três vezes menor do que era há 20 anos. Para tal terão concorrido a maior sensibilização da população, a diminuição dos habitantes rurais e a melhoria do ataque aos fogos nascentes.

E terá a redução no número de fogos tido algum efeito na área ardida? O que arde em cada ano é determinado pela meteorologia e, em menor grau, pela superfície queimada nos anos precedentes. Uma análise objetiva impõe portanto que aqueles fatores sejam considerados, o que passamos a fazer.

A tendência de área queimada de 1998 para 2017 é negativa, diminuindo 25% para condições médias de número de fogos, meteorologia e área ardida anterior. Porém, se as condições de 2017 tivessem ocorrido em 1998, a área ardida nesse ano teria sido apenas 9% mais alta do que em 2017. Ou a capacidade de combater os incêndios impelidos por meteorologia mais adversa não evoluiu, ou o território mudou no sentido de dificultar essa tarefa.

Examinemos então os maiores incêndios, acima de 500 hectares. A respetiva área não diminuiu nem cresceu no período em causa. No entanto, a sua dimensão média aumentou ao longo do tempo e é atualmente 26% maior que há 20 anos. Este resultado deve-se fundamentalmente aos incêndios particularmente grandes, com mais de 5000 hectares, cuja frequência tem aumentado.

Os maiores incêndios têm um grande peso na área ardida total, pois são de muito difícil combate e respondem exponencialmente à severidade meteorológica. A dimensão destes fogos é pouco afetada pela quantidade e capacidade dos meios de combate para eles despachados, os quais não têm efeito na sua duração. Na sua génese está o aumento da continuidade e homogeneidade dos espaços florestais - uma consequência de menos agricultura, mais floresta (frequentemente sem gestão ativa) e de grandes incêndios anteriores - em combinação com secas mais prolongadas e episódios meteorológicos extremos mais frequentes.

Houve nos 20 anos anteriores progressos no desempenho do sistema nacional de defesa da floresta contra incêndios, mas sem impacto visível nos grandes incêndios. Em Pedrogão Grande e no dia 15 de outubro o sistema falhou na salvaguarda da vida humana, mas a análise retrospectiva mostra que incêndios deste tipo estão dentro do expectável face ao piro-ambiente verificado. Evitar futuras tragédias e, de modo geral, limitar a propagação de grandes incêndios nos territórios que lhes são favoráveis exige um esforço concertado em várias frentes: redução do número de ignições nos dias de risco elevado, gestão estratégica e com escala do combustível florestal e capacitação do sistema de combate com o conhecimento técnico e organização necessários.

* Professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Floresta agrupada em ZIF ardeu mais do que a isolada


ALEXANDRA FIGUEIRA
22 Maio 2018 às 00:40


Os incêndios que assolaram o país no ano passado atingiram mais floresta gerida em Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) do que propriedades isoladas. Dados enviados pelo Ministério da Agricultura ao JN mostram que, em número absoluto, arderam 68 582,67 hectares de floresta integrada numa ZIF , o que compara com 180 777,50 hectares de gestão individual. Mas em proporção, assegura o gabinete de Capoulas Santos, "em 2017 ardeu proporcionalmente mais na floresta agrupada em ZIF do que na floresta não agrupada".

A gestão agrupada e profissional do território, a cargo sobretudo de associações de produtores e de proprietários, visa em primeiro lugar preservar a floresta existente. Mas foi precisamente esta a floresta mais atingida. Questionado sobre o porquê desta maior incidência, o Ministério da Agricultura adiantou que as regiões do país com maior número de ZIF são, precisamente, as que têm maior índice de perigosidade de incêndios. Além disso, o caráter extraordinário dos incêndios de junho e de outubro "foram determinantes na intensificação da respetiva dimensão", afirmou.

Os distritos mais atingidos pelos incêndios do ano passado foram Coimbra, Guarda, Viseu, Leiria e Santarém. No conjunto, nestes cinco distritos, arderam quase 300 mil hectares, metade dos quais em Coimbra. Olhando para os distritos com maior número de ZIF constituídas, nota--se a coincidência, refere a Agricultura: Coimbra tem 14 zonas de intervenção, Guarda 26, Viseu soma 17 e Leiria integra 8.

O ministério ressalva, contudo, que "apesar de ser nestas áreas que se situa a maior percentagem de ZIF, isto não significa que se possa fazer uma analogia entre a área ardida, em 2017, e a área enquadrada em ZIF", já que se trata de "zonas de alta perigosidade" nas quais se registaram "fenómenos climáticos extremos".

Negociar para melhorar gestão

No final de 2017, o Fundo Florestal Permanente abriu candidaturas para a constituição de novas Zonas de Intervenção Florestal. Foram postos a concurso 500 mil euros, mas a procura foi cinco vezes maior: 97 áreas propostas, que implicam um investimento de 2,6 milhões de euros. Estas candidaturas estão agora em fase de análise, mas a Agricultura assegura que o plano de atividades do fundo para este ano vai cobrir a diferença, "caso se revele necessário".

Em 2016, o Fundo Florestal Permanente tinha já financiado com 1,9 milhões a elaboração de inventários de estrutura de propriedade de 41 zonas florestais. De novo, a procura foi muito superior à dotação posta a concurso: o fundo previa gastar um milhão de euros.

Estes apoios financiam o lançamento de zonas de intervenção florestal e projetos específicos, mas de resto as organizações convivem com constantes dificuldades financeiras. Questionado, o Ministério da Agricultura assegurou que está a negociar com entidades gestoras, como associações de produtores e proprietários florestais "novas modalidades para melhorar a gestão destes territórios agrupados".v

Quantas ZIF existem?

No final de 2017, os registos do Ministério da Agricultura davam conta da existência de 189 Zonas de Intervenção Florestal. A maioria encontra-se na Região Centro. Tinham sob sua gestão 1084 mil hectares de território, correspondentes a 14,4% da floresta e dos matos e pastagens de Portugal continental. As 189 ZIF agruparam parcelas de 24 mil proprietários ou produtores.

53 sem atividade

No final do ano passado, 53 das ZIF (28% do total) não tinham aprovado um Plano Específico de Intervenção Florestal ou um Plano de Gestão Florestal. Este é um indicador de que estas Zonas de Intervenção Florestal existem formalmente, mas não têm atividade concreta, no terreno.

92 com planos aprovados

Metade das ZIF (92) tinha os dois planos aprovados: o Plano Específico de Intervenção Florestal e um Plano de Gestão Florestal. Desde meados do ano passado, quando foi publicado o Decreto-Lei n.º 67/2017, apenas este último é obrigatório por lei.

ICNF atualiza base de dados

Sempre que uma ZIF reporta ao Instituto da Conservação da Natureza e Floresta (ICNF) a existência de infrações na sua área de influência tem direito a receber 10% do valor da coima. Questionado sobre quanto dinheiro foi entregue às ZIF por esta via, a Agricultura afirmou que a base de dados "não permite discriminar as contraordenações em função da sua origem". A sua configuração está a ser alterada para permitir apurar o dado.

ONU diz que indústria e agricultura devem ser prioridades na reunião do BAD


A analista económica com o pelouro de África nas Nações Unidas destacou a inovação na indústria, a agricultura e a mobilização dos recursos internos como temas fundamentais para a reunião do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), em Busan.

"Reuniões como a que o BAD vai realizar na Coreia do Sul providenciam aos governos dos países africanos uma oportunidade para debater os assuntos mais importantes para o desenvolvimento de médio e longo prazo das suas nações", disse Helena Afonso à Lusa, antecipando os temas em debate na reunião dos governadores do BAD, que começa segunda-feira em Busan, na Coreia do Sul.

O "fomento da inovação na indústria, o desenvolvimento da agricultura ou a mobilização de recursos domésticos" são alguns dos temas destacados pela economista, que salienta também o facto de as reuniões incluírem "representantes da sociedade civil, académicos e setor privado".

A reunião dos governadores do BAD tem como tema 'Acelerando a Industrialização de África', e decorre num contexto de crescimento fraco no continente e de dívida pública excessiva, que aliás foi um dos temas em destaque nos Encontros da Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, e que é também vincado por Helena Afonso.

"O crescimento das economias em África neste e no próximo ano deverá situar-se nos 3,6% e 3,9%, respetivamente, apoiado num aumento dos preços das matérias-primas e maior crescimento global, mas este ritmo de crescimento encontra-se bastante abaixo dos níveis necessários para erradicar a pobreza extrema, conforme estipulado no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 1 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável", salienta a economista.

Entre as principais tarefas urgentes para a generalidade dos países africanos está "aumentar o potencial de crescimento do médio prazo. Urge também atender às vulnerabilidades que se estão a formar em muitos países, sobretudo no que se refere à dívida pública, e atender às várias crises humanitárias no continente", concluiu a analista económica responsável por África nas Nações Unidas.

A dívida pública nos países africanos tem subido de forma significativa nos últimos anos, tendo atingido, em média, um rácio de 50% face ao PIB, o que é considerado demasiado elevado face às necessidades de despesas de investimentos em infraestrutura na generalidade destes países.

Os Encontros Anuais, seguindo o modelo dos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial, são uma das maiores reuniões económicas do continente, juntando chefes de Estado, acionistas de referência no setor público e privado e académicos e parceiros para o desenvolvimento.

O BAD tem projetos em curso nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) de mais de 2 mil milhões de dólares, segundo números desta entidade, devendo usar as reuniões para avançar no projeto de criação de um instrumento de financiamento específico para os países lusófonos africanos.

Portugal necessita de investimento para ser preponderante no setor agrícola - Vitacress


O diretor-geral da Vitacress considerou hoje, em declarações à Lusa, que Portugal ainda não é preponderante no setor agrícola, devido à falta de investimento e aos anos de abandono da atividade.

"Infelizmente, a marca Portugal no setor agrícola ainda não tem a preponderância que esperamos que venha a ter", disse à Lusa Luís Mesquita Dias.

Segundo o responsável, durante muitos anos, a agricultura nacional esteve "bastante abandonada", permitindo que outros operadores, como Espanha e Itália, ganhassem espaço no mercado.

No entanto, Luís Mesquita Dias defende que Portugal nunca terá capacidade para grandes quantidades de produção, conseguindo distinguir-se através da aposta na qualidade dos produtos.

Para o diretor-geral da Vitacress, são necessários mais investimentos, por exemplo, na promoção dos produtos portugueses em feiras internacionais.

"Faltam ainda muitos recursos para apostar nos mercados externos. As presenças [internacionais] custam muito dinheiro e, se compararmos o nosso setor ao do vinho, os investimentos [do setor vinícola] são muitíssimo superiores aos que os hortofrutícolas fazem e, no entanto, os hortofrutícolas exportam quase o dobro que o vinho", explicou.

De acordo com Luís Mesquita Dias, as ações realizadas até agora demonstram que Portugal "tira partido do dinheiro investido no mercado", mas, se houvesse um aumento significativo nos investimentos, "os resultados seriam maiores".

No que concerne à atividade da Vitacress, apesar de não adiantar números, Luís Mesquita Dias, diz que, em 2017, a marca registou "um crescimento significativo de dois dígitos a nível da faturação".

Por sua vez, as exportações, que representam entre 30% e 35% do volume de vendas da empresa do grupo RAR, ou seja, cerca de oito ou nove milhões de euros, não têm sido o principal foco da Vitacress, devido "ao ritmo de crescimento do mercado nacional".

"O setor das saladas prontas a consumir tem crescido de tal maneira que nem sempre tem sido fácil para nós, quer a nível de campo quer da unidade de embalamento, acompanhar esse crescimento, libertando-nos capacidade excendentária para exportação", referiu.

Entre os principais mercados de exportação da marca encontram-se Inglaterra, onde nasceu a empresa, Espanha, Alemanha e, mais recentemente, a Noruega.

Já a produção biológica, apesar de ainda não ter um peso muito grande, "representa uma fatia interessante", tendo em conta o facto de se tratar de uma área "difícil, devido aos constrangimentos que lhe estão associados".

Quanto a 2018, o responsável antevê que o negócio da marca continue a crescer, apesar de notar dificuldades em fazer previsões tendo em conta a "volatilidade e incerteza do setor".

"Até ao momento, o ano correu sem grandes sobressaltos, apesar de algumas semanas de chuva intensa que provocaram estragos. [No entanto], é um negócio de volatilidade e incerteza e temos que ter uma reação rápida", concluiu.

O grupo Vitacress, cuja atividade nacional teve início nos anos 80, tem uma quota de mercado de cerca de 35%, explorando à volta de 250 hectares de terrenos agrícolas e empregando, sensivelmente, 400 trabalhadores, maioritariamente, na zona de Odemira, distrito de Beja.

UE quer cobrir crescente procura da China por produtos alimentares



A União Europeia (UE) quer cobrir a crescente procura da China por produtos alimentares, sobretudo carne de vaca e alimentos orgânicos, afirmou hoje o comissário europeu da Agricultura, Phil Hogan.

O mercado chinês tem um dédfice de oito milhões de toneladas de carne de vaca, disse Hogan, citando as autoridades chinesas, numa conferência de imprensa, no final de uma visita à China.

Apesar desses oito milhões de toneladas superarem toda a produção de carne bovina do espaço comunitário, a UE tem um "interesse significativo" em colmatar pelo menos parte da procura chinesa.

A agenda de Hogan na China incluiu reuniões com responsáveis do ministério chinês da Agricultura, da produção animal, segurança alimentar e animal, e uma participação na feira SIAL, em Xangai, a mais importante na Ásia para o setor alimentar.

Hogan recordou que as exportações agroalimentares da UE para a China duplicaram, nos últimos cinco anos, para 12.000 milhões de euros, e que o país asiático é um mercado cada vez mais importante para os alimentos orgânicos.

O responsável disse que Pequim está a flexibilizar os procedimentos técnicos para autorizar a importação de produtos alimentares e lembrou que os países europeus oferecem produtos "livres de doenças", bem com carne sem hormonas ou antibióticos.

Prepare-se: o pinhão vai ser mais caro


26.05.2018 19:00

O quilo do ouro branco vai custar mais de 120 euros este ano. Culpados: a seca - as pinhas são mais pequenas - e a chuva que atrasou a apanha. É que esta ainda é feita à mão.
 
Portugal tem o melhor pinhão do mundo, mas são poucos os portugueses que comem regularmente o mais caro dos frutos secos. O chamado ouro branco, cujo quilo já atingiu os 120 euros em anos anteriores, é exportado e se volta ao País é misturado com pinhões turcos, chineses e paquistaneses, de pior qualidade. 

Apesar disso, o preço mantém-se elevado e deverá aumentar este ano devido à seca, que não deixou crescer as pinhas. No início deste mês, o preço à porta da fábrica era de €41/kg, um valor que atinge mais do dobro quando chega ao consumidor. 

Outra das razões é a colheita das pinhas ser ainda manual. Entre 15 de Dezembro e 31 de Março, o prazo legal para a apanha, centenas de homens sobem aos pinheiros mansos por escadas de ferro presas aos troncos e trepam pelos ramos até atingir a copa das árvores, muitas com 18 metros de altura. Aí, com a ajuda de varas com ponteiras ou ganchos, tocam nas pinhas para estas caírem no chão. É um trabalho demorado e perigoso e, por essa razão, bem remunerado: cerca de €100/dia. 

Este ano, o prazo da apanha foi estendido até 15 de Abril por causa da chuva. "Os homens podem escorregar e cair e não trabalham quando chove. Só que a chuva não parou e não estamos a ter bons resultados", explica à SÁBADO Pedro Silveira, presidente da Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado, onde se concentram 68% dos 78.000 hectares de pinheiro manso em Portugal. A campanha já terminou, mas ainda ficou muita pinha nos pinheiros e os produtores pediram nova prorrogação ao Ministério da Agricultura. 

O preço do pinhão poderia diminuir se a apanha fosse mecanizada. Já existe um vibrador, que agarra o tronco e abana a árvore para fazer cair as pinhas, mas não é usado. "Os pinhais não foram plantados para fazer passar o tractor e o vibrador, semelhante ao da apanha da azeitona, só pode vibrar entre cinco a oito segundos e a determinadas rotações. Também não se pode vibrar a copa se tiver chovido ou se tiver caído geada", explica a engenheira florestal Conceição Santos Silva, assessora técnica da Associação de Produtores Florestais do Concelho de Coruche, outra das zonas produtoras. O uso incorrecto faz cair as pinhas que ainda estão a crescer e põe em causa a produção dos anos seguintes. 

O ouro branco é fruto também da pouca quantidade de pinhões que cada pinha produz: um quilo (três pinhas) rende 15 a 45 gramas de pinhão. As pinhas demoram três anos a crescer e o rendimento tem baixado na última década. "Antes conseguíamos 4% de pinhão por cada quilo de pinha. Agora, não vamos além dos 2,5%", explica Pedro Silveira. 

A quebra está a ser investigada por universidades portuguesas, mas é atribuída sobretudo a pragas. Em Alcácer do Sal, a qualidade do pinhão é considerada superior, devido à proximidade do mar, que protege as árvores de algumas pragas. Mas não de todas. "Há cerca de 10 anos foi introduzido um insecto dos Estados Unidos, o Leptoglossus, que suga o interior do pinhão. Ainda não sabemos como combatê-lo", diz o presidente da Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado. 

Para piorar, este ano foi também a seca que afectou a produção do pinhão. "No início da apanha colhemos pinhas em diversos locais e concluímos que a pinha é menor e tem menos pinhões" garante Conceição Santos Silva. Em Janeiro, o Sistema de Informação de Mercados Agrícolas (SIMA) confirmava uma quebra de produção de pinha de cerca de 25%. 

Pinhão chinês e paquistanês 
O pinhão português é considerado o melhor do mundo, mas é provável que não o tenha provado. "O pinheiro manso é mediterrânico, mas há pinheiros de outras espécies que também dão pinhão. Só que o nosso é melhor: mais comprido, estreito e com um sabor e um valor nutritivo excepcionais", diz Conceição Santos Silva. 

O problema é que a maior parte dos produtores exporta a pinha ou o pinhão com casca, chamado pinhão negro. Os compradores - espanhóis, italianos e turcos - descascam o pinhão e vendem-no misturado com outros que provêm do Paquistão e da China, de menor qualidade. 

Para evitar esta mistura, foi pedida, em 2015, a Denominação de Origem Protegida (DOP), que reconhece as características únicas de um produto oriundo de uma região geográfica específica. O pedido foi alterado para Indicação Geográfica Protegida e tem de ser aprovado pela União Europeia. 

O valor do pinhão português foi reconhecido por três empresários que em 2014 criaram a fábrica PineFlavour. A ideia surgiu quando Pedro Amorim leu a tese de doutoramento que a mãe fizera sobre o pinheiro manso. "Ele ficou surpreendido por Portugal exportar cerca de 70% da pinha e perder a mais-valia do pinhão", conta à SÁBADO Margarida Martins, consultora de empresas que decidiu investir na fábrica de Grândola. 

Inaugurada há um ano, a PineFlavour faz uma avaliação antes de comprar a pinha. "Não compramos a olho. Recolhemos 10 quilos de pinhas de várias zonas e calculamos a quantidade de pinhões de cada", diz Margarida Martins. A empresa também está a sentir os efeitos da seca: a pinha está 40% mais cara. 

Em 2017, a PineFlavour facturou meio milhão de euros. Este ano, a previsão é o dobro e a equipa deve aumentar - de cinco para os oito funcionários. O objectivo é processar 25 toneladas de pinhões e foram compradas 600 toneladas de pinhas. Em Maio, estas serão espalhadas numa eira ao sol, entre cinco a sete dias, até abrirem. "Podíamos acelerar o processo numa estufa, mas abrir ao sol dá outro sabor ao pinhão." 

O descasque do pinhão é moroso. Depois de aberta, a pinha é partida numa máquina que separa o pinhão negro. Este é guardado em sacas e colocado dentro de água durante 10 horas para amolecer. Fica a repousar 12 horas, seguindo-se um choque térmico que provoca uma fissura na casca. Então o pinhão passa para um ventilador que o dispara contra uma parede de aço e solta o miolo. Mas fica ainda uma pele castanha que é sugada do pinhão por outra máquina. O miolo é então lavado num jacúzi, seco a 75 oCelsius para eliminar bactérias e refrigerado. Segue-se uma escovagem para lhe dar brilho, uma selecção que separa os partidos e pigmentados e está, por fim, pronto a ser embalado.

Artigo originalmente publicado na edição 729, de 19 de Abril de 2018.

A subsidiação ao arranque das vinhas velhas “é uma acção contra a natureza e contra o interesse permanente da vitivinicultura”


Antero Martins não é um homem directamente ligado ao vinho, mas poucos têm feito tanto pelo desenvolvimento do sector como ele. O seu vasto trabalho em torno da selecção e conservação do património de castas nacionais tem sido decisivo para o aumento da qualidade e da competitividade dos vinhos portugueses.

 Pedro Garcias PEDRO GARCIAS 26 de Maio de 2018

Presidente da Porvid- Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira e professor jubilado do Instituto Superior de Agronomia, Antero Martins é uma referência nacional e internacional na selecção genética da videira. Nesta entrevista, explica por que razão considera que muitas das nossas castas têm origem local e não no Oriente e critica o arranque das vinhas velhas feito sem critério, defendendo apoios para a sua conservação. E confessa que uma das suas maiores surpresas foi constatar que grande parte das castas autóctones são filhas umas das outras, por cruzamento natural casual.

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Defende a tese que Portugal pode ser a Meca da viticultura e que muitas das variedades de uva existentes no mundo podem ter partido daqui, a partir da domesticação de videiras selvagens. Essa tese não é um pouco revolucionária?

R-Seria revolucionária, mas o que temos argumentado quanto à domesticação da videira não vai tão longe. O que notamos é que o pensamento corrente de que a domesticação da videira terá acontecido no Cáucaso é muito redutor e poderá ser uma extrapolação ilegítima da origem da vinificação a Oriente (arqueologicamente comprovada) para a origem de todas as castas também a Oriente.

As videiras silvestres ancestrais das castas existem também a Ocidente e em grande número em Portugal, particularmente nas bacias do Sado e do Guadiana, não se encontrando razões para que o fenómeno da domesticação não possa ter aqui acontecido. As castas portuguesas são em muito grande número e muitas exclusivamente cultivadas em Portugal, pelo que seria muito difícil explicar como teriam viajado directamente entre os extremos do Mediterrâneo sem deixarem rasto pelo caminho.

No plano molecular também se encontram argumentos a favor da provável domesticação múltipla, não exclusivamente a Oriente. Por exemplo, existe maior proximidade genética entre as videiras silvestres e cultivadas de cada um dos extremos do Mediterrâneo do que entre as silvestres de um extremo e as cultivadas do outro e isto suporta a hipótese de terem existido domesticações em ambos os lados.

Finalmente, a realidade de muitas castas portuguesas terem relações de parentesco de 1º grau permite-nos imaginar que elas terão sido cultivadas localmente em grupos num passado remoto (provavelmente reproduzidas por semente) e não importadas em momentos e de lugares distintos do Oriente.

Afinal, quantas castas mesmo nossas é que temos? Andamos sempre a dizer que somos o país com maior diversidade de castas, mas os gregos e os italianos dizem o mesmo….

Na verdade, não existe nenhum critério definitivo para se dizer que determinada casta antiga é de um ou de outro país, de uma ou outra região, no sentido de ter tido origem nesse país ou região. Em geral, não existe informação histórica sobre os eventos de domesticação ocorridos num passado remoto, pelo que é frequente incorrer-se no facilitismo de tomar o padrão de distribuição da casta no presente como imagem do passado, mas que poderá não o representar.


Em Portugal fazemos uma abordagem original e razoavelmente objectiva do problema, que consiste em quantificar a diversidade genética intravarietal da casta nas diversas regiões onde é cultivada e aceitar como região de origem aquela que contém mais diversidade. Porque a diversidade aumenta com o número de ciclos anuais de crescimento vegetativo, por isso, ela pode ser tomada como uma medida aproximada da idade comparada da casta. 

Segundo esta abordagem, a Tempranilho (Aragonez, Tinta Roriz) terá nascido na região de Valdepeñas em Espanha, não na Rioja. Do mesmo modo, a Grenache terá nascido na Sardenha e não, como correntemente suposto, em Aragão ou em Mentrida (Toledo, Espanha) e muito menos no Rhone (França). Mas já noutros casos estas análises vêm confirmar o pensamento popular sobre a origem da variedade, como acontece com a Arinto, nascida na região de Bucelas e depois expandida para a Bairrada, Vinho Verde e Lafões.

Infelizmente, esta abordagem experimental tem custos elevados pelo que só se justifica quando associada a um processo de selecção, pelo que até ao momento ainda só foi aplicada a algumas dezenas de castas

Mas, voltando ao princípio, apesar de alguma imprecisão na contabilização do número de castas autóctones, pode dizer-se que o número de Portugal andará à volta de 250, os de Espanha e França serão próximos e o de Itália talvez um pouco superior. Mas, confrontando os números com a área dos países, conclui-se que a densidade em Portugal é muito superior. E esta visão da realidade poderá ainda mudar para melhor com a possível descoberta de bastantes mais castas em Portugal em anos próximos.

Temos sabido tirar partido dessa diversidade? Não andamos a plantar num número cada vez mais pequeno de variedades?

É verdade que têm sido dados passos incoerentes com o valioso parque de castas autóctones e com as fortes tradições portuguesas da cultura multivarietal.

As modas e as influências do estrangeiro têm influenciado os viticultores e os enólogos no sentido do estreitamento do número de castas usadas. Também a dificuldade da caracterização cultural e enológica e da selecção de um grande universo de variedades levanta problemas de exequibilidade em prazo curto. E há outros diversos factores que jogam a favor do estreitamento do número de castas plantadas, como são as regulamentações das designações de origem e a dificuldade de a actividade viveirista fragmentar o seu moderado volume de vendas por grandes números de castas e de clones.

Apesar destas contrariedades, é hoje visível uma tendência de reaproximação dos produtores à matriz histórica da cultura multivarietal , bem como acções administrativas de entidades oficiais de apoio a esse movimento: iniciativas INIAV/DGAV para a facilitação da instalação de parcelas de material standard de "castas minoritárias" e do IVV para implantação de ensaios e estudo cultural e enológico de "castas raras". Por sua vez, a PORVID dispõe dos materiais ideais para essas iniciativas - conjuntos  multiclonais de cada casta "minoritária", ou "rara"- porque são mais representativos das castas e mais estáveis do que seria o clone único geralmente existente nas colecções ampelográficas.

Em contraponto com a sub-utilização da diversidade intervarietal, no quadro da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID) temos vindo a tirar partido da elevada diversidade intravarietal com que a natureza nos dotou e que constitui a matéria-prima para a realização da selecção genética. Com efeito, usando os instrumentos teóricos adequados (Estatística e Genética Quantitativa) temos conseguido fazer a selecção de várias dezenas das principais castas com ganhos invulgarmente elevados, que chegam a mais de 40% de rendimento e a mais de 10% dos teores de açucar e de acidez e de antocianas, nos casos de castas mais heterogéneas. Materiais (policlonais) com ganhos desta ordem de grandeza têm sido distribuídos e plantados, desde meados da década de 80, em mais de 30.000 hectares de vinhas novas, que se pode estimar que geram mais-valias económicas superiores a 10 milhões de euros por ano.

Acha que a reestruturação e plantio de vinha em Portugal têm sido feitas com critério? Faz sentido o Estado financiar o arranque de vinhas velhas sem cuidar de as estudar primeiro?

Não faz sentido e constitui mesmo uma acção contra a natureza e contra o interesse permanente da vitivinicultura, ainda que a responsabilidade original seja da própria EU. Porque as vinhas velhas contêm uma riqueza criada naturalmente ao longo de milhares de anos – a diversidade intravarietal – que serve para adaptar as castas às mudanças do mundo (da tecnologia vitícola, do mercado do vinho, das doenças e pragas, do clima) e que assim é destruída num instante e nunca mais é recriada.

As castas foram ao tempo da domesticação populações geneticamente homogéneas mas tornaram-se, gradualmente, ao longo de séculos e milénios, altamente heterogéneas no respeitante às mais importantes características (quantitativas) culturais e enológicas.

Não são diferenças despiciendas. Dentro de uma casta tipo podem existir genótipos com potenciais de rendimento diferindo do simples para o décuplo e com potenciais de açúcar do simples para o dobro e algo de semelhante se passa com numerosas outras características. Foram estas diferenças que garantiram à casta ao longo dos tempos plasticidade adaptativa e estabilidade em distintos ambientes e complexidade aos vinhos e que constituem hoje a matéria prima para realização da selecção com elevados ganhos genéticos.

No passado (até aos anos 80), as vinhas novas eram enxertadas com a diversidade das vinhas velhas, esta não se perdia e crescia todos os anos. É óbvio que hoje as vinhas novas devem ser enxertadas com materiais selecionados de alta eficiência, mas é igualmente óbvio que a diversidade existente nas vinhas arrancadas nunca deverá ser perdida para sempre, isto é, deve ser conservada em colecções dedicadas, fora da cultura. De contrário, as castas ficariam daqui para a frente geneticamente congeladas e homogéneas, iguais aos poucos clones hoje selecionados e não admitindo jamais a selecção para objectivos do futuro, diferentes dos de hoje. A PORVID está a fazer essa conservação, mas com meios insuficientes face ao ritmo do arranque. No entanto, uma solução simples e inteligente para o problema está à mão: dedicar uma parte ínfima dos apoios à replantação para a prospecção da diversidade existente nas vinhas a arrancar!

Não devia ser feito um levantamento nacional das nossas vinhas mais velhas? Afinal de contas, estamos a falar de património cultural…

De facto, é esse o procedimento da PORVID, com a colaboração do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e de outras fontes, para a preparação de acções de prospecção e conservação da diversidade. Mas estas acções são intermitentes (dependem da captação de meios financeiros) e as vinhas velhas continuam a ser arrancadas em períodos sem prospecção. Como já disse há pouco, a conservação é um objectivo estratégico de salvação da diversidade criada durante milhares de anos, que está agora a ser destruída e que deixou de se recriar no contexto tecnológico da viticultura do presente, pelo que seria inteiramente lógico que fosse estreitamente articulada e financeiramente apoiada em paralelo com a replantação.

Mas a questão das vinhas velhas tem outra face mais directamente relacionada com o vinho. Verifica-se que cada vez mais vitivinicultores reconhecem às vinhas velhas um grande potencial para produzirem vinhos de qualidade superior. Nestas circunstâncias, justificar-se-ia que a sua recuperação e prolongamento de vida beneficiasse de alguns apoios, à semelhança dos concedidos para a plantação de vinhas novas homogéneas.

A Porvid acaba de publicar o Catálogo de clones selecionado 2018, um estudo sobre o comportamento de 24 castas e de sete clones de cada uma. O que trás de novo este catálogo?

Sobre o comportamento médio da casta, nas direcções cultural e enológica, não poderíamos acrescentar grande coisa relativamente ao que os vitivinicultores geralmente já conhecem. Mas podemos, isso sim, extrair de dentro da casta clones com valores de certas características diferentes, para melhor, dos valores médios da população inteira.

O Catálogo é inovador na medida em que descreve os rigorosos processos experimentais (estatísticos e genéticos) utilizados para a selecção, realizados ao longo de décadas por numerosos técnicos do país inteiro (Rede de Selecção e PORVID) em centenas de ensaios alojados nas empresas, e os invulgares resultados obtidos. Resultados apresentados de maneira objectiva e quantificada, ao contrário do correntemente observado em publicações congéneres. Particularmente inovadora é também a determinação da instabilidade ambiental dos clones (interacção genótipo versus ambiente) e a selecção dos menos instáveis, bem como a selecção do número ideal de 7 clones por casta, de modo a autorizar a cultura de conjuntos plurais, que é outra via para  contornar a instabilidade do clone individual.

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DANIEL ROCHA
Em que nível de conhecimento já estamos sobre o nosso património ampelográfico?

É um problema com muitas faces. Do ponto de vista ampelográfico existe um conhecimento bastante satisfatório, sobretudo desenvolvido desde os anos 80 do século passado, bem como uma Colecção Ampelográfica Nacional, com praticamente todas as castas conhecidas, e cerca de uma quinzena de colecções regionais. Gostaria de acentuar que há uma lacuna grave nesta área que é a falta de "classificadores" aptos para a identificação visual directa das castas. Este conhecimento é indispensável para complementar as abordagens mais finas da ampelografia, da selecção e da análise molecular, que não pode descurar-se num país com tanta diversidade!

Deparamo-nos ainda com uma notória carência de conhecimento do potencial cultural e enológico de grande parte das castas autóctones. Existem ideias orientadoras para a instalação de um grande ensaio comparativo de todas as castas, em um ou dois locais, para avaliação de umas 12  características culturais e tecnológicas básicas, mas aguarda-se ainda pela disponibilidade de alguns meios indispensáveis.

No plano molecular, já vem do princípio do século a primeira caracterização de quase todas as castas por microssatélites, por parte de um consórcio de cinco universidades e centros de investigação, depois repetida e aprofundada por diversos grupos nacionais. Avizinha-se agora o avanço para a sequenciação do genoma das castas, uma abordagem com previsíveis grandes efeitos multiplicadores do conhecimento sobre as variedades autóctones.

Inesperadamente, é numa área clássica que mais se tem avançado no conhecimento das castas em anos recentes, isto é, na análise e utilização da diversidade das características quantitativas dentro de cada casta. É uma análise focada na acção dos genes (não na sua natureza química/física), suportada pelas teorias estatística/matemática e genética e que autoriza o conhecimento da origem das castas, a selecção com ganhos genéticos/económicos de grande significado e a conservação estatisticamente fundamentada. Nestas duas direcções, Portugal ocupa hoje uma posição dianteira: é o único país a fazer uma verdadeira selecção genética e vai destacadamente à frente na conservação da diversidade intravarietal (30.000 genótipos já conservados face a uma meta de 50.000). Estas abordagens são conduzidas por numerosos grupos do país integrantes da informal Rede Nacional de Selecção e pela Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira, assentes em bases teóricas principalmente desenvolvidas no Instituto Superior de Agronomia.

Em todos estes anos que leva a estudar a genética da videira, qual foi a sua maior surpresa?

Talvez a constatação de que grande parte das castas autóctones são filhas umas das outras, por cruzamento natural casual. Isto parece dizer-nos que as castas não foram domesticadas a partir de plantas da flora silvestre não relacionadas entre si, mas sim provavelmente a partir de populações heterogéneas de videiras instaladas e reproduzidas por semente. Constitui um alerta que nos poderá levar a uma nova compreensão do fenómeno da domesticação da videira e à descoberta de novas castas ainda confundidas com as já conhecidas, porque poderão ser filhas e muito parecidas com essas.

O que já se sabe sobre a origem das nossas principais castas? A Touriga Nacional, por exemplo: é do Douro ou do Dão? E a Baga, é do Dão ou da Bairrada? E o Arinto, é mesmo de Bucelas?

A quantificação da diversidade intravarietal permite conhecer a idade comparada da casta em diversas regiões, mas a Touriga é pouco adaptável a esta análise. As diversidades no Douro e no Dão são pouco distintas, o que pode ter duas explicações: ou a casta foi muitas vezes transportada de uma para outra região (homogeneizando a diversidade), ou é muito antiga e então ambas as regiões, ainda que com idades diferentes, poderiam ter acumulado alta diversidade. Mas esta explicação não colhe, porque se a diversidade da casta é pouco mais que média, pelo contrário a hipótese da intensa comunicação entre as regiões no passado tem toda a credibilidade.

A análise da Baga diz-nos claramente que a casta é do Dão. Esta conclusão conflitua com o pensamento corrente muito radicado de ela ser originária da Bairrada. Porém, na histórica escrita encontram-se também algumas indicações da possível não origem na Bairrada.

O caso do Arinto é mais pacífico, pois a opinião muito generalizada é de a origem estar em Bucelas e os nossos resultados também o confirmam. Mais, a casta deve ter ido primeiro para a Bairrada e daí para o Vinho Verde e só mais tarde para Lafões.

Dispomos já de informação interessante deste tipo sobre largas dezenas de castas, mas que poderá ser excessivo avançar neste momento.

Do que já conhece, que castas, brancas e tintas, pouco faladas actualmente podem vir a ter importância no futuro?

Esta é uma questão para a qual nós próprios, selecionadores, procuramos a resposta, de modo a podermos orientar a selecção para castas que venham a ter interesse no futuro próximo. Para esse efeito, procuramos recolher informação ocasionais do sector e é o que estamos a preparar para breve, agora de forma mais organizada.

Ao criarem, através de selecção natural, centenas de clones da mesma casta, uns muito mais produtivos do que outros, não estão a abrir uma espécie de caixa de Pandora, incentivando os viveiristas a vender os mais produtivos, com claro prejuízo para a qualidade final dos vinhos?

No passado recente temos dado alguma prioridade à selecção a favor do rendimento, porque notamos que essa é a apetência dominante dos viticultores (não dos viveiristas, que pensamos que também devem alinhar com o interesses dos viticultores). Por outro lado, temos feito numerosas análises da relação do rendimento com variáveis da qualidade (açúcar, acidez, antocianas) e não encontramos relações negativas notórias para valores do rendimento até cerca de 4kg/planta. Afinal, talvez as causas de alguma regressão da qualidade observada em vinhas novas deva ser primeiro procurada nas mudanças da tecnologia cultural, com destaque para a rega…

Mas estamos atentos a esta questão e, em alguma medida, até estamos a responder-lhe, colocando no mercado clones diferentes em rendimento, açucar, acidez e antocianas. No caso da casta Aragonez, na qual o problema é particularmente sensível, até encetámos uma nova selecção direccionada para a qualidade, que virá desembocar em novos clones de rendimento moderado e com elevado teor de antocianas dentro de poucos anos. De qualquer modo, com a selecção num ou noutro sentido, nunca corremos o risco de mudar forte e irreversivelmente a casta, porque simultaneamente guardamos toda a sua diversidade para efeito de qualquer futura selecção em sentido diferente do actual.

Não acha que os viveiristas estão um bocadinho fora de controlo e a contribuir para uma degradação da qualidade das nossas vinhas? Vendem o mesmo material para todas as regiões, independentemente de as plantas estarem ou não adaptadas ao lugar…

No respeitante à própria casta, o problema da adaptação regional é mais ou menos entendido pelos viticultores. Por exemplo, é do conhecimento geral que a Trincadeira, ou a Tinta Miúda, não vão bem em zonas ou em anos de elevada humidade e que castas com baixa acidez não são indicadas para climas quentes. Um problema da mesma família mas mais difícil de entender é a adaptação diferencial dos clones de uma casta aos diferentes ambientes (em linguagem genética, interacção genótipo versus ambiente). Existem na bibliografia métodos para a abordagem do problema, mas que, no caso da videira, exigiriam a montagem de dezenas de ensaios de adaptação  dos clones da casta candidatos a selecção, o que não é de todo exequível na prática. Por isso, não deixamos de abordar o problema no decurso da selecção, mas limitamo-nos a determinar se os clones são mais ou menos instáveis entre uns 6-12 diferentes ambientes e selecionamos os que se revelam menos instáveis (esta abordagem mínima já é um avanço em relação à selecção no mundo).

Em síntese, o problema é complexo e creio que a existência de diferentes clones no mercado (e de materiais policlonais) e a opção dos viticultores por misturas já será um passo importante para o resolver. O contributo dos viveiristas deverá ser o de multiplicarem vários clones para viabilizarem o uso dessas misturas.


Os franceses têm apostado mais na selecção sanitária e nós na selecção genética da videira e, no entanto, há regiões francesas com muitas doenças na vinha. Em Portugal, também há cada vez mais videiras infectadas. Como explica o que está a acontecer?

De facto, apostamos mais na selecção genética, mas também fazemos a selecção sanitária segundo o normativo da União Europeia e com rigor metodológico inquestionável. São normas referentes a vírus, com as quais nem sempre concordamos mas que, obviamente, têm que ser cumpridas. O problema do equilíbrio entre selecção genética e diagnóstico sanitário continua a ser, contudo, um problema real não resolvido, que merece ser retomado no futuro. Quanto aos fungos do lenho, reconhecemos a sua enorme importância, mas é um problema fora da nossa área de competência. Só esperamos que surjam métodos de diagnóstico e de prevenção exequíveis e fiáveis que possam ser incluídos nos procedimentos da selecção.

domingo, 27 de maio de 2018

António Sousa é o novo presidente da Companhia das Lezírias

Professor universitário regressa à liderança da empresa agrícola pública de Benavente. 

16.05.18

Rui Barreiro recusou a nomeação para o cargo de presidente da Companhia das Lezírias e o lugar será ocupado por António Sousa. Este professor da Universidade de Évora regressa ao lugar que já foi seu na liderança da maior empresa pública agrícola nacional, sedeada em Samora Correia, Benavente.