segunda-feira, 16 de julho de 2018

Todos desistiram da plantação de papoila branca no Alqueva


O objectivo que a cultura da planta dormideira produtora de ópio pretendia atingir, cerca de 6000 hectares até 2016, ficou pelo caminho. Em 2018 não foi plantado um único hectare.

CARLOS DIAS 16 de Julho de 2018, 8:50 Partilhar notícia



A cultura de papoila branca (Papaver somniferum L.), também conhecida por planta dormideira, destinada à produção de morfina, deixou os campos do Alqueva, cinco anos depois de ter sido iniciada a sua exploração. O excesso de oferta deste produto no mercado mundial ditou o fim do investimento em Portugal.

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À expectativa criada à volta da uma nova e exótica cultura, considerada "interessantíssima" pelos agricultores que aderiram ao projecto (cerca de meia centena) sob fortes medidas de segurança, seguiu-se o fracasso de uma iniciativa que chegou a ser considerada pelos autarcas de Beja um "investimento estratégico" para a região.

A Macfarlan Smith, empresa escocesa que foi pioneira na plantação de papoilas brancas nos campos do Alqueva, pretendia, para além da produção de matéria-prima, proceder numa fase posterior à sua transformação numa fábrica nos arredores de Beja. Seriam investidos, numa primeira fase, cerca de 4 milhões de euros e, posteriormente, o alargamento das instalações implicaria um investimento de 20 milhões de euros com a promessa de criação de 30 postos de trabalhos fixos. 

Neste sentido, a empresa escocesa iniciou em 2009 estudos e experiências para atestar o grau de adaptabilidade agronómica da cultura à região do Alentejo. O trabalho de investigação foi coordenado pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e teve a colaboração do Ministério da Agricultura, da Empresa de Desenvolvimento e Infra-Estruturas do Alqueva (EDIA), do Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR) e do Instituto Politécnico de Beja (IPB).

As experiências efectuadas em cerca de 100 hectares abriram "excelentes perpectivas" pela qualidade dos terrenos, o sol persistente e a abundância de água debitada por Alqueva, ou seja, os ingredientes fundamentais para suporte da cultura de plantas dormideiras. A primeira campanha arranca em 2012 e ocupou 650 hectares. Vaticinavam-se resultados "muito promissores". As primeiras colheitas apresentaram valores de morfina "muito satisfatórios e encorajadores" e a Macfarlan Smith não poupou nos predicados para dar "continuidade ao investimento da cultura no país", assumia, na circunstância a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPAL).

A EDIA passou a demonstrá-la como exemplo da diversidade cultural que Alqueva potenciava para contrariar a ideia da hegemonia da monocultura do olival e, rapidamente, se antecipou para 2014 a ocupação de 6 mil hectares no regadio do Alqueva. Os mais entusiastas admitiam que podia chegar aos 10 mil. A terra não era problema. Os menos optimistas ficavam-se pelos 3000 hectares.

"Bom rendimento"
Nos anuários agrícolas publicados pela EDIA, a cultura de papoila branca passou a ser descrita como "uma boa alternativa aos agricultores das novas áreas de regadio". Estava garantido "apoio técnico, por parte das empresas promotoras" (Macfarlan Smith e TPI Enterprises) e "um bom rendimento" aos agricultores que aderissem ao projecto.

A EDIA anunciou em 2016 que a área ocupada por papoilas já tinha "ultrapassado a barreira dos 1000 hectare". E com a presença de "dois player's no mercado, é previsível que a área continue a aumentar, contudo a um ritmo mais reduzido", dizia na altura. Foi o primeiro e subtil sinal de alerta a deixar dúvidas sobre a sustentabilidade da nova cultura. No seu anuário agrícola de 2017, a empresa gestora do regadio do Alqueva reconhece: "Contrariamente às previsões do último ano, a área de papoila não aumentou, tendo mesmo reduzido para cerca de metade". Com efeito, em 2017 foram inscritos 509 hectares nos perímetros de rega de Alqueva, quando em 2016 a área ocupada chegou aos 1070 hectares.

A empresa avança com uma possível causa: "Aparentemente existem duas razões para a redução da área de papoila. A primeira é a saída de uma das empresas responsáveis pela produção do mercado português, a outra a saturação do mercado mundial de substâncias opiáceas, com excesso de oferta deste produto". Leitura que está confirmada no Relatório do Comité Internacional de Controlo de Estupefacientes de 2016 ao referir que a área semeada com papoila rica em morfina nos principais países produtores "diminuiu aos níveis do ano anterior na Austrália, França, Hungria e Espanha". No país vizinho, a área real colhida de papoila "foi 66% menor que no ano anterior", enquanto na Turquia, outro país produtor, "mais que dobrou" em relação a 2015, refere o documento. E acrescenta: a produção global de matérias-primas de opiáceos, ricos em a morfina "excedeu a procura global de morfina". E em 2016, a produção de morfina continuou a exceder a procura.


Excesso de produção
O excesso de produção de papoila de ópio "é uma das causas que terão justificado o abandono da cultura no Alentejo", reforça Francisco Palma, presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo (AABA). É um produto específico que "sofreu as consequências de um mercado desajustado e as coisas começaram a correr mal", acentua o dirigente associativo, que disse ao PÚBLICO ter recebido indicações de que "este ano (2018) não se plantaram papoilas" na região. E deixa críticas às entidades públicas por terem aceitado "sem garantias" os projectos apresentados pela empresa escocesa (Macfarlan Smith) e australiana (TPI Enterprises). Esta última anunciou em 2017 a venda da sua subsidiária portuguesa, alegando que a aquisição de uma empresa na Noruega "tornou desnecessário o investimento na produção em Portugal". Recorde-se que esta também chegou a anunciar ter como objectivo alcançar 3000 hectares de cultura e a instalação de uma fábrica, onde iria investir cerca de 10 milhões de euros.

O PÚBLICO solicitou esclarecimentos à empresa mãe da Macfarlan Smith, a Johnson Matthey Fine Chemicals, sobre as razões que levaram a cessar a produção de papoila branca no Alentejo, mas até ao fecho da nossa edição não obtivemos qualquer resposta.


Questionado o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, entidade que assinou no anterior executivo um protocolo com a empresa escocesa para a instalação de uma fábrica para armazenamento e processamento inicial das papoilas, junto ao aeródromo de Beja, disse não saber "se haverá desenvolvimento desta actividade" admitindo que as actuais condições "não são favoráveis" à concretização do projecto.

Questionada a Johnson Matthey Fine Chemicals, a casa-mãe da empresa escocesa. Pranika Sivakumar, que se apresenta como gestor de conteúdos, confirma que devido "à maior disponibilidade de matérias-primas utilizadas na produção de opiáceos", a MacFarlan Smith "decidiu cessar as operações relacionadas com a cultura da papoila em Portugal" e já não irá avançar com o projecto de construção de uma fábrica em Beja para tratamento da produção que depois seria enviada para Edimburgo.

Governo vai pagar a proprietários que optem por floresta resiliente


Os proprietários e municípios que contribuam com serviços de ecossistemas, como biodiversidade, floresta, água ou solo, vão receber um pagamento do Estado. A intenção, aprovada este sábado em Conselho de Ministros, ainda está a ser estudada.

Governo vai pagar a proprietários que optem por floresta resiliente

14 de julho de 2018 às 17:03

O Governo vai pagar a proprietários que optem por uma floresta resiliente e aos municípios com territórios que prestem serviços de ecossistema, anunciou este sábado o ministro do Ambiente.

A medida, que ainda está a ser trabalhada juntamente com "a maior parte das universidades portuguesas" e que estará definida em Setembro, pretende pagar a proprietários e municípios que contribuam com serviços de ecossistemas (como biodiversidade, floresta, água ou solo), afirmou o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

O objectivo é um dos dez compromissos para o território, inseridos no Programa Nacional da Política Ordenamento do Território (PNPOT), cuja revisão foi ontem aprovada em Conselho de Ministros Extraordinário, que decorreu na Pampilhosa da Serra, distrito de Coimbra.

Dando um exemplo sobre como é que poderá surgir essa remuneração, o ministro do Ambiente referiu que pode haver transferência directa de dinheiro para proprietários que optem por uma floresta resiliente, ao contribuírem para o capital natural do país.

Na dimensão dos municípios, serão transferidas e incorporadas "competências nos municípios", com factores "que privilegiem exactamente esses territórios com maior capital natural", vincou.

Segundo João Pedro Matos Fernandes, a ideia de pagar pelos serviços de ecossistema prestados vai arrancar com dois projectos piloto no país, na Serra do Açor e no Parque Natural do Tejo Internacional.

"É fundamental remunerar os serviços de ecossistemas que são prestados", realçou, considerando que a presença de pessoas é importante não apenas "para a noção primeira de abandono, mas para uma segunda, que é a perda do próprio capital natural, que justifica e sustenta um conjunto de actividades do país".

sábado, 14 de julho de 2018

"OS VINHOS DO PICO E O PERIGO DO GLIFOSATO” - DIREITO DE RESPOSTA

Ao abrigo dos artigos 24º, 25º e 26º da Lei de Imprensa os abaixo-assinados solicitaram à Editora do Suplemento Fugas do Jornal Público a publicação do seguinte texto ao abrigo do Direito de Resposta e de Retificação, na sequência do artigo de opinião assinado por Pedro Garcias, no suplemento "Fugas", do jornal Público no dia 07/07/2018 com o título: "Os vinhos do Pico e o perigo do glifosato".

DIREITO DE RESPOSTA PARA PUBLICAÇÃO:

"No seguimento do artigo intitulado "Os Vinhos do Pico e o Perigo do Glifosato" publicado no suplemento Fugas, de 7 de julho de 2018, da autoria de Pedro Garcias, vimos por este meio responder, mostrar a nossa indignação e exigir a reposição da verdade.
No vosso artigo, o título associa o "vinho do Pico" ao "Perigo do glifosato". Não existe qualquer investigação científica que estabeleça uma relação entre a utilização de glifosato e a contaminação do vinho. É falso o alarme despoletado pelo título do artigo e é grave enganar o consumidor transmitindo a ideia, errada, de que o consumo do "vinho do Pico" poderá, de alguma forma, ser prejudicial à saúde.
A ilha do Pico tem o maior parque natural dos Açores e 33% da sua área é protegida (156 km2). Na zona marítima, 79 km2 são de proteção marinha. A Paisagem da Cultura da Vinha do Pico é classificada pela UNESCO como Património da Humanidade. Estes factos são, por si só, determinantes na relação política e cultural que a ilha do Pico mantém com todas as temáticas relativas ao ambiente.
Relativamente ao vinho e à vinha, que ocupa uma pequena parcela do território, o Pico é uma Denominação de Origem controlada. O que significa que todos os vinhos aqui produzidos são avaliados e analisados para posterior certificação através de uma entidade técnica e cientificamente competente. Numa paisagem única em que as vinhas são plantadas nas fendas das rochas junto ao mar, as vinhas estão todas sob o regime de "proteção integrada de acordo a Lei n.º 26/2013 de 11 de abril. As Vinhas do Pico, como referimos, são classificadas como Património da Humanidade desde 2004. É uma das (apenas) 14 regiões do mundo com esta chancela da UNESCO.
Os mais de 300 viticultores representam um total de quase 1.000 hectares de vinhas (10 km2), dos quais cerca de 700 hectares foram recuperados nos últimos 4 anos, num esforço de recuperação de uma cultura e uma indústria com uma História de mais de 500 anos. As vinhas do Pico não são mecanizadas. Todo o trabalho é manual. As vinhas do Pico são, por esta razão, das que menos emissões poluentes fazem no planeta. São, também, umas das vinhas que, no mundo, requerem mais mão-de-obra, contribuindo para a fixação das populações rurais e distribuindo riqueza.
A associação feita pelo artigo entre o Vinho do Pico e o Perigo do Glifosato configura, para além de uma falsidade, uma difamação, pois associa, de forma exclusiva, aquele produto aos vinhos do Pico. Damos nota que, apesar do artigo referir que também existe glifosato noutras vinhas em território nacional, nunca faz associação ao vinho, nem nomeia outras regiões.
O dano causado pela associação exclusiva de "Vinho do Pico" a "Perigo do Glifosato", é incomensurável. A difamação contida nesta associação prejudica, de forma irreparável, toda a indústria dos vinhos do Pico e mancha a reputação de toda uma Região. A afirmação pode configurar, ainda, uma "viciação da concorrência". Por estes motivos, impõe-se a reposição imediata e cabal da verdade, esclarecendo os leitores sobre a realidade dos factos.
Existe perigo de saúde de Glifosato nos vinhos do Pico? Os vinhos do Pico têm mais perigo para a saúde do que outras regiões?
A resposta é, taxativamente, NÃO a ambas as questões! As vinhas do Pico estão todas sob o regime de "proteção integrada" e os vinhos do Pico são todos analisados e certificados pela Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, não havendo qualquer risco para a saúde associado a glifosato ou a qualquer outro herbicida.
Os herbicidas são utilizados de forma consciente e controlada. Consciente porque os aplicadores frequentaram ações de formação específicas onde aprenderam os perigos que os herbicidas implicam para a saúde pública e a forma correta de os dosear e aplicar. Controlada porque a venda de produtos químicos está vedada ao público em geral e porque os agricultores têm de manter registo dos produtos utilizados.
Afirma ainda o artigo que "Não deve haver vinhas mais químicas que as do Pico". Entende-se que esta grave acusação é falsa e configura de novo uma difamação e "viciação da concorrência".
Note-se em primeiro lugar que as vinhas do Pico têm a particularidade de serem rasteiras, para proteção do vento, cobrindo o solo. Sabendo que todos os herbicidas são aplicados no chão, percebemos que não se pode aplicar glifosato praticamente todo o ano. Poder-se-ia eventualmente no Inverno quando não há folhas. Ora, no Inverno enquanto a maioria de Portugal continental está a aplicar glifosato, no Pico não se aplica porque é desaconselhado, porque não faz frio suficiente para a planta fazer uma verdadeira dormência (seria um risco muito elevado para a sobrevivência das plantas). Por esta razão, entre outras, a maioria dos produtores de vinho abandonaram o glifosato.
Acrescentamos que, nas vinhas do Pico, a impossibilidade de utilização de tratores obriga a que qualquer aplicação de produtos seja manual, de pulverizador às costas. Esta é uma aplicação muito mais precisa, apenas feita sobre o que se quer tratar e não sobre a totalidade do terreno, ao contrário do que acontece na generalidade das vinhas em território nacional, que são mecanizadas.
O artigo não refere qualquer dado comparativo entre países ou entre regiões portuguesas para sustentar as suas conclusões. Damos nota aqui de um dado comparativo importante: numa vinha em espaldar, que é a norma em Portugal continental, um trator consegue aplicar num dia herbicidas entre 7 a 10 hectares de vinha. No Pico, como tudo tem que ser aplicado por "alguém com um pulverizador às costas", um homem consegue tratar apenas 0,3 hectares de vinha por dia, isto é, um trator aplica cerca de 23 a 33 vezes mais do que o homem do Pico.
Pergunta-se então se se aplica mais glifosato nas vinhas do Pico que noutras regiões de Portugal?
Não! Aplica-se menos glifosato nas vinhas do Pico do que na generalidade das vinhas em Portugal. Em terceiro lugar, o artigo afirma que "Os Picarotos parecem viciados em herbicidas". Neste caso, configura efetivamente uma opinião, mas não deixamos de registar que procura apenas denegrir de forma generalizada a população de uma ilha. Ao contrário do que dá a entender a mensagem do artigo, o mais recente estudo da Universidade dos Açores, comprova que os Açores, de entre as ilhas da Macaronésia, são a Região que tem a menor utilização de produtos fitofarmacêuticos na agricultura.
O artigo refere ainda, em tom de conclusão, que "Haverá sempre quem beba sem se preocupar em saber o percurso do vinho até chegar ao copo, mas quem se dispõe a pagar um preço alto por uma garrafa de vinho — e os vinhos do Pico são obrigatoriamente caros — quer saber um pouco mais sobre o que vai beber. Esse consumidor não está apenas a comprar vinho, está também a comprar uma experiência, um bem cultural, um testemunho de uma paisagem e de um povo. Regar tudo isto com glifosato não é uma boa ideia."
O artigo conclui, portanto, que os vinhos do Pico, apesar da sua cultura e valor, são regados de herbicidas, colando de novo o vinho do Pico ao glifosato. São afirmações graves, infundadas que difamam toda uma região e que provocam danos incalculáveis a toda a indústria de vinhos dos Açores.
A utilização dos herbicidas em geral e do glifosato em particular só é nociva para a saúde humana quando se verifica a sua acumulação nos solos e nos lençóis de água em valores superiores aos parâmetros considerados aceitáveis e determinados pelas instituições científicas e legislativas. Segundo os últimos estudos científicos realizados, os solos dos Açores apresentam índices de contaminação mínimos quando comparados com a regulamentação, sendo inferiores a outras regiões. De acordo com os relatórios da ERSARA, a água fornecida à população dos Açores é de boa qualidade e, apesar das centenas de análise efetuadas anualmente, nunca o perigo de contaminação por herbicidas foi, sequer, referida. Acresce que todas as análises efetuadas às zonas balneares dos Açores indicam que a qualidade da água é excelente.
É caso para perguntar onde se meteram os glifosatos?
Concluímos afirmando, com orgulho, que as ilhas dos Açores são, realmente, certificadas pela Natureza!

Os Abaixo-Assinados:
CVR AÇORES / ADEGA A BURACA / AZORES WINE COMPANY / CANCELA DO PORCO/ COOPERATIVA VITIVINÍCOLA DA ILHA DO PICO / CURRAL ATLANTIS / VINHOS CZAR "

Os vinhos do Pico e o perigo do glifosato


São demasiados muros para tão poucas videiras. É demasiado trabalho para uma colheita tão incerta. Insistir em fazer vinho nos lajidos do Pico, por mais apoios que haja, tem algo de teimosia, heroísmo e aventura.

7 de Julho de 2018, 2:40 Partilhar notícia

Terceira semana de Junho, ilha do Pico, poucas nuvens no céu, muito calor e humidade alta. Vistas desde o avião, as vinhas parecem hieróglifos. Nunca tinha reparado. As várias formas das curraletas (os muros de pedra que protegem as videiras), umas mais rectilíneas, outras mais curvas, umas mais altas, outras mais pequenas, umas viradas a nascente, outras a poente, ganham a natureza de símbolos ou figuras. É uma "escrita" feita na lava, de uma extensão colossal, e cujo significado só se decifra em terra, quando se percorre aquele labirinto de curraletas e se vêem meia dúzia de videiras ou menos a reverdecer no interior de cada quadrícula de pedra negra.

São demasiados muros para tão poucas videiras. É demasiado trabalho para uma colheita tão incerta. Insistir em fazer vinho nos lajidos do Pico, por mais apoios que haja, tem algo de teimosia, heroísmo e aventura. No ano passado, a produção foi tão baixa que as uvas venderam-se a mais de quatro euros o quilo. Nem em Colares valem tanto. Em lugares assim, os vinhos têm que ser caros. Em lugares assim, tão extremos, também não devia haver vinhos banais, a cheirar e a saber ao mesmo de outros brancos de maior volume produzidos no continente — e há alguns, infelizmente. Quem os faz não merece aquelas vinhas, mesmo que as tenha comprado.

No Pico, cada litro de vinho implica um enfrentamento com a dureza da pedra, a inconstância do clima e a fúria do mar. Só por isso, mesmo a vinha mais modesta devia ser encarada como um lugar religioso, que não pode ser profanado, em respeito por todos os que ajudaram a erguer aquela extraordinária paisagem. Há muitos picarotos que tratam as suas vinhas como se fossem templos. Conheço alguns. Mesmo tendo outros afazeres, não passam um dia sem ir uma ou duas vezes à vinha. Diz o povo que "a vinha precisa de ver o dono". No Pico, o dono precisa mesmo de ver a vinha, sob pena de a perder em pouco tempo. As chuvas e a humidade obrigam a constantes tratamentos contra o míldio e o oídio e a resistência das ervas daninhas, das faias e dos incensos é um calvário. Estão sempre a despontar e a disputar a pouca terra fértil com as videiras. O resultado é uma tragédia.

Custa-me ter que escrever o que vou escrever. Na geografia portuguesa, há três lugares especiais para mim: o Douro, Trás-os-Montes e o Pico. Como podemos falar dos lugares de que mais gostamos e onde somos felizes, mesmo regressando lá uma e outra vez? Gostava de só ter palavras boas para falar deles, mas não é possível fechar os olhos à forma quase doentia como no Pico — não é só no Pico, infelizmente — se usam herbicidas, tanto nos espaços públicos como nas vinhas. Os picarotos parecem viciados em herbicidas. Estamos sempre a tropeçar em alguém com um pulverizador às costas a borrifar ervas.

Não deve haver vinhas mais químicas como as do Pico. Uma boa parte das novas vinhas da ilha foram plantadas em curraletas que haviam sido abandonadas e que, em poucos anos, viraram autênticas florestas de faias e incensos. Extirpar cada quadrícula de pedra destas árvores, muitas de grande porte, é uma tarefa dura e cara. As árvores são cortadas pelo fundo, mas as raízes permanecem lá, pelo que é necessário queimá-las com doses fortes de herbicidas. Mesmo assim, com o tempo, a maioria acaba por rebentar. De modo que os viticultores passam a vida a eliminar esses rebentos e todas as ervas que vão nascendo. Ao mesmo tempo, para salvarem a produção, vão fazendo tratamentos fúngicos quase todas as semanas.

Para terem as suas vinhas-templos como jardins e garantirem o vingamento das uvas, os viticultores do Pico gastam fortunas em químicos que vão contaminando os solos e as linhas de água. Mas como podemos criticá-los? O clima não permite ser negligente no combate às doenças da vinha e limpar as vinhas à mão é uma empreitada pesada e dispendiosa.

Então não há alternativa? Há sempre alternativa. Só depende do que se quer gastar e dos riscos que se está disposto a correr. Com algumas práticas mais orgânicas, consegue-se reduzir o uso de fungicidas; e, combinando o uso de mão-de-obra com a aplicação de alguns cobertos, tipo palha, seria possível reduzir ou mesmo eliminar os herbicidas.

Mas, para isso, é necessário mudar primeiro as mentes dos responsáveis regionais. Até agora, a estratégia tem privilegiado a atribuição de generosos (mas justificados) subsídios para a plantação de novas vinhas e a sua manutenção.

A área de vinha quase duplicou e dentro de dois anos é expectável que a produção de uvas satisfaça as necessidades de vinho actuais. No entanto, talvez esteja na hora de começar a indexar os apoios, melhorando-os se for caso disso, a práticas cada vez mais amigas do ambiente. Que adianta ter vinhas de uma beleza extraordinária e fazer vinhos singulares se o preço a pagar é o recurso massivo a produtos químicos? Haverá sempre quem beba sem se preocupar em saber o percurso do vinho até chegar ao copo, mas quem se dispõe a pagar um preço alto por uma garrafa de vinho — e os vinhos do Pico são obrigatoriamente caros — quer saber um pouco mais sobre o que vai beber. Esse consumidor não está apenas a comprar vinho, está também a comprar uma experiência, um bem cultural, um testemunho de uma paisagem e de um povo. Regar tudo isto com glifosato não é uma boa ideia.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Governo aprova estratégia nacional para promoção da produção cerealífera


12.07.2018 às 20h52

 
Na extensa área das propriedades do Grupo Ilídio Matos no Baixo Alentejo há olivais, vinhas, cereais, prados e pastagens

D.R.

O governo aprovou esta quinta-feira uma nova estratégia para a produção de cereais que quer "contribuir para um setor mais forte e mais eficiente, com maior capacidade de resistência à volatilidade dos mercados, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros
Lusa
LUSA
O Governo aprovou esta quinta-feira a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção Cerealífera, com o objetivo de tornar o setor "mais forte e eficiente", segundo um comunicado do Conselho de Ministros.

A estratégia em causa, tem como objetivo atingir, em cinco anos, um grau de autoaprovisionamento em cereais de 38%, correspondendo 80% ao arroz, 50% ao milho e 20% aos cereais praganosos (como a aveia e o trigo, por exemplo).

"O Governo pretende, deste modo, contribuir para um setor mais forte e mais eficiente, com maior capacidade de resistência à volatilidade dos mercados, com maior capacidade de oferta de um produto de elevada qualidade e mais adaptado às alterações climáticas", lê-se no comunicado. 
A estratégia em causa foi elaborada pelo Grupo de Trabalho dos Cereais, que é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

De acordo com os dados do grupo de trabalho, em 2016 a superfície ocupada com cereais correspondia a 257 mil hectares, uma diminuição face aos 900 mil hectares que ocupava nos anos 80.

"Este decréscimo decorreu, essencialmente, da discrepância de preços praticados ao longo deste período em Portugal e na União Europeia. Os níveis de auto aprovisionamento apresentam atualmente um valor na ordem os 23%", explicou, em comunicado, o Ministério da Agricultura.

Costa alerta PME nacionais para oportunidades em Moçambique na agricultura e energia

7/7/2018, 11:11

António Costa regressa este sábado a Lisboa depois de uma visita a Moçambique. O primeiro-ministro lembrou as Pequenas e Médias Empresas de que podem ganhar um papel importante no país.


O primeiro-ministro, António Costa, salientou que Moçambique representa "uma oportunidade" não só para grandes investimentos, mas também para as Pequenas e Médias Empresas (PME) nacionais, apontando como exemplo as áreas da agricultura e da energia.

António Costa regressa este sábado a Lisboa, depois de uma visita oficial de dois dias a Moçambique e que incluiu a realização da III Cimeira Luso-moçambicana, fazendo um "balanço muito positivo" desta deslocação a nível político e económico.

Do ponto de vista político, é muito clara a vontade dos dois governos, do Presidente da República de Moçambique, que têm uma grande motivação para estreitar o relacionamento com Portugal", destacou, em declarações à RTP e Lusa.


Também na perspetiva económica, o primeiro-ministro salientou as oportunidades abertas, quer pelos acordos assinados — uma dezena em áreas como segurança social, administração interna, mar e defesa — quer pela "reanimação das linhas de crédito e novos instrumentos financeiros de apoio ao investimento".

"Há também a vontade de Moçambique de lançar grande projetos de grande dimensão na área da energia, que pode interessar não só a grandes empresas, mas também às PME", alertou.

Segundo António Costa, uma das mensagens mais importantes que lhe foi transmitida pelo Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, foi que "é preciso olhar para Moçambique não só para os grandes investimentos, mas também para as inúmeras oportunidades que o país oferece, designadamente na agricultura".

"As PME portuguesas têm aqui um espaço e podem ganhar um papel muito importante, aproveitando diferenças de calendários de cultura e diferenciando o portfólio de produções", apontou. "Está aqui um pais com notáveis oportunidades e quando as oportunidades existem há que as agarrar", apelou.

Com a próxima cimeira bilateral já marcada para o próximo ano, desta vez em Portugal, o primeiro-ministro salientou a importância de manter "contactos regulares" entre os dois países para que qualquer problema que surja possa ser rapidamente ultrapassado. "Não vamos esperar quatro anos", assegurou. As anteriores cimeiras bilaterais entre Portugal e Moçambique realizaram-se em 2011, em Lisboa, e em 2014, em Maputo.

O segredo para ter laranjais mais saudáveis está nas goiabeiras

Numa visita a pequenos laranjais no Vietname, investigadores brasileiros concluíram que as laranjeiras plantadas junto de goiabeiras tinham uma menor incidência da doença conhecida como "greening".

Carla Pedro Carla Pedro cpedro@negocios.pt

07 de julho de 2018 às 19:00

O "greening", ou huanglongbing (HLB), é uma doença causada por bactérias que atacam os citrinos (laranjas, limões, toranjas, etc.), sendo considerado um dos mais sérios problemas da citricultura em todo o mundo, a par como o chamado "cancro cítrico". A ponto de haver já cães treinados para a farejarem.

Por alguma razão lhe chamam "o monstro da citricultura" – é que a palavra chinesa huanglongbing significa dragão amarelo [embora haja também quem traduza como "doença do ramo amarelo"].

Nos Estados Unidos, o governo treinou cães para detectarem as bactérias que matam árvores de citrinos há muitos anos, esperando que o seu olfacto ajude a combatê-la atempadamente – já que, ao ser identificada, pode reduzir-se o impacto através de uma desaceleração do contágio, como referiu a Agrotec.

Mas parece que há uma arma muito poderosa, descoberta por investigadores brasileiros há uns anos, quando visitaram laranjais no Vietname. O segredo está… nas goiabeiras.

Conta a Bloomberg que esta descoberta foi o alicerce para a criação, no Brasil, das primeiras laranjeiras geneticamente modificadas, resistentes ao "greening" – cujo agente infeccioso sistémico dificulta bastante o seu controlo, levando à queda da produtividade e qualidade da fruta.

Estas árvores estão praticamente prontas a sair do laboratório e das estufas para serem plantadas no Estado de São Paulo no âmbito dos testes no terreno.

Os investigadores descobriram que as goiabeiras expelem um aroma específico que parece repelir o insecto vector [o psilídeo, que possui grande capacidade de infestação e crescimento em pomares sem controlo químico] responsável pela transmissão do HLB.

As laranjeiras também produzem o mesmo aroma, mas numa quantidade muito menor, comentou à Bloomberg Nelson Arno Wulf, o coordenador da Fundecitrus – uma fundação de investigação financiada pela indústria do sumo de laranja no Brasil e que estuda e combate as doenças e pragas que atacam as laranjas.

Assim, em vez de plantarem goiabeiras perto dos laranjais, estes cientistas desenvolveram nas laranjeiras características semelhantes a essa árvore – precisando agora de autorização do regulador federal brasileiro para as plantarem em campos no exterior.

Outra solução possível, e que não implica o uso de insecticidas, está em recorrer a pequenas vespas produzidas em laboratório para combaterem o psilídeo, refere a Revista Pesquisa.

O Brasil, recorde-se, é o maior produtor mundial de laranjas, seguindo-se os EUA, China, México, Espanha, Egipto, Itália e Turquia. Portugal tem vindo também a aumentar fortemente a sua produção.

Em Portugal, a produção de laranja ocupa uma área de 20.361 hectares, que resulta numa produção anual superior a 200.000 toneladas.

As zonas de produção mais representativas em Portugal são o Algarve, a zona da Vidigueira e o Ribatejo, mas é no Algarve onde existem melhores condições para a produção deste fruto, sendo esta a região com maior produtividade, refere o Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agroalimentares

Depois da maçã, a laranja é o fruto mais produzido em Portugal continental.

Quase não chove nos Açores há meses. Produção de leite pode sofrer quebra de 40%

04 DE JULHO DE 2018 - 16:20

O Governo Regional dos Açores irá anunciar, já esta semana, medidas de apoio à agricultura, que está ser afetada pela seca na região.


Vizinhos passam a poder acabar com alojamento local. PS leva proposta a votos

João Ponte, secretário regional da Agricultura e Florestas, afirma que, "a cada dia que passa", a situação de seca na região "agrava-se", pelo que o Governo Regional dos Açores pede à população da ilha para poupar água.

A Ilha Terceira é das zonas do arquipélago mais afetadas pela falta de chuva, desde abril.

A Associação de Jovens Agricultores da Ilha Terceira prevê que a produção de leite possa sofrer uma quebra entre 30% a 40%, devido à fraca produção de milho e erva para alimentar os animais.

O secretário regional da Agricultura e Florestas admite preocupação quanto ao abastecimento de água às populações e quanto à agricultura. "O que há a fazer é gerir, da melhor forma possível, os recursos que estão disponíveis", afirmou.

O mundo pode deixar de ter bananas em breve


JORNAL I
05/07/2018 19:09

A variedade de bananas mais consumida pelo ser humano enfrenta o risco de desaparecer devido à "doença do Panamá"

A variedade de banana mais consumida pelo ser humano enfrenta o risco de desaparecer, devido à doença do Panamá.  Cientistas dizem que "é necessário preservar a planta, pois pode ser o segredo para manter a banana a salvo no futuro", lê-se na BBC.

A banana consumida por mais pessoas em todo o mundo é a banana Cavendish, plantada principalmente no continente asiático e americano. Agora, a 'doença do Panamá', um problema causado pela presença de um fungo na raiz das bananas, está a destruir grande parte das plantações na Ásia.

Para já, a doença ainda não passou para os outros continentes, mas os cientistas alertam para a facilidade com que se pode propagar: trata-se de "uma doença muito resistente, que pode perdurar dias na sola de um sapato" e assim chegar a outros pontos do planeta, explicou, em 2016, a bióloga especialista em plantações e investigadora na Universidade de Wageningen, Gert Kema. A especialista alerta ainda para o facto de não existir ainda uma forma de tratar este problema:  "assim que a doença chegar àquele território, não há como salvar uma plantação".

O artigo publicado esta quinta-feira pela BBC explica que estas bananas são todas geneticamente semelhantes. Isto faz com que se uma delas for 'atacada' pela doença, o fungopode rapidamente espalhar-se por uma plantação inteira.

Vários investigadores estão agora a trabalhar em novas espécies que possam substituir esta variedade de banana e que sejam também resistentes a condições da natureza adversas.

Indústria do pinheiro-bravo em risco se não tiver apoio


10/7/2018, 7:22120
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Associação ambientalista Zero alertou hoje para o perigo que corre a indústria ligada ao pinheiro-bravo, devido à destruição de plantações pelos incêndios, e exige apoio na regeneração da espécie.


A associação ambientalista Zero alertou hoje para o perigo que corre a indústria ligada ao pinheiro-bravo, devido à destruição de plantações pelos incêndios, e exige apoio na regeneração da espécie, garantindo empregos e retorno económico.

"É muito provável que a área ocupada por povoamentos de pinheiro-bravo ('Pinus pinaster') em Portugal após os incêndios do passado ano fique abaixo dos 500 mil hectares", o que "muito em breve irá colocar em risco" a indústria ligada à exploração do pinhal, principalmente as serrações, defende a Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, em comunicado.

Os ambientalistas falam de um "cenário preocupante se a área ardida não diminuir rapidamente".


Para a Zero, é necessária uma nova geração de políticas públicas na gestão florestal do minifúndio, integrando aquela espécie, e "exige-se mesmo que, a muito curto prazo, seja desenhada uma linha de apoio específica para o aproveitamento da regeneração do pinheiro-bravo como parte integrante das medidas dirigidas à instalação de espécie autóctones", com reforço das verbas do Fundo Florestal Permanente.

A Zero considera que bastaria um apoio com fundos comunitários associados de 800 euros por hectare, ou seja, 24 milhões de euros por ano, durante cinco anos, para fossem conseguidas correções de densidade em áreas atualmente com regeneração natural, podendo chegar a 150 mil hectares, e "ficassem garantidos os postos de trabalho e o retorno económico da fileira".

Aquela medida, segundo a Zero, teria de ser complementada com a "redução drástica do elevado número de ignições (quase 6.000 ocorrências já em 2018) e com apoios efetivos e reforçados" à criação de sociedades e unidades de gestão florestal, assim como ao controlo periódico de vegetação herbácea e arbustiva por meios mecânicos e com recurso ao fogo controlado.

A associação aponta ainda que "a exploração do pinhal é mais sustentável a prazo que a aposta no eucalipto e existe uma desinformação generalizada junto dos proprietários rurais que urge corrigir".

Os discursos políticos em relação às populações das áreas rurais, principalmente residentes no interior, devem ser "coerentes com a política de investimentos públicos", com medidas integradas, de acordo com as características de cada região, acrescenta a associação ambientalista.

Com base em dados do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e do Centro Pinus, a Associação para a Valorização da Floresta de Pinho, os ambientalistas apontam que a atividade relacionada com a exploração do pinhal era responsável por 80% do emprego na indústria da floresta em 2016, com mais de 54 mil postos de trabalho em 8.458 empresas, representando 46% do volume de negócios.

O pinheiro-bravo, espécie autóctone, já foi a primeira espécie em área ocupada e em 2010 passou a ocupar o terceiro lugar, atrás do eucalipto e do sobreiro, com 714 mil hectares.

Chuva vai continuar e a culpa é do anticiclone dos Açores



 13.07.2018 08h03
A chuva vai continuar em Portugal continental pelo menos até ao início da próxima semana, uma situação que segundo a meteorologista Ângela Lourenço se deve à posição do anticiclone dos Açores.
Em declarações hoje à agência Lusa, a especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explicou que "é normal chover no verão", mas o que é "menos comum" é a persistência de dias em que esta ocorre.


"Se pensarmos no dia isoladamente é uma situação normal. As pessoas falam muito das trovoadas e da chuva, mas é uma situação típica de verão. Aqui o que talvez possa não ser tão comum é a persistência, a sequência de dias em que estas condições meteorológicas se repetem poderá não ser tão comum acontecer", disse.


De acordo com a Ângela Lourenço, a situação está relacionada com o posicionamento do anticiclone dos Açores.


"Está relacionado com o facto de o anticiclone dos Açores se encontrar muito para oeste permitindo que as regiões depressionárias, aquelas que poderão dar ocorrência de precipitação, estejam mais nas latitudes de Portugal continental e na Península Ibérica. É uma situação que pode acontecer no verão e acontece com alguma frequência, mas a persistência é que não é tão comum", salientou.


A meteorologista adiantou que as condições meteorológicas previstas para hoje e para o fim de semana vão ser semelhantes ao que têm sido nos últimos dias.


"Vamos ter nebulosidade matinal, que atinge quase todo o litoral oeste e o interior do Alentejo que tem tendência a dissipar ao longo da manhã, embora possa persistir na faixa costeira ocidental", disse.


Durante a tarde de hoje, acrescentou a especialista do IPMA, está prevista a ocorrência de aguaceiros com possibilidade de ocorrência de trovoadas, granizo e rajadas fortes em particular nas regiões mais a norte.


"Por causa desta situação, o IPMA emitiu aviso amarelo para os distritos de Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Bragança [até às 21:00 de hoje] . Nestes distritos e nas regiões interiores, mais montanhosas, mais nas serras e até junto à fronteira com Espanha podem desenvolver-se trovoadas mais severas", explicou.


No domingo, segundo Ângela Lourenço, está previsto um agravamento do estado do tempo mais generalizado em todo o território com ocorrência de aguaceiros e possibilidade de trovoadas, podendo ocorrer até na região sul.


No que diz respeito às temperaturas, a tendência é para baixarem, mas não de forma significativa.


"Para hoje e amanhã [sábado] vão registar-se valores próximos dos 30 graus ou mesmo superiores no interior (31/32 graus). No domingo, a tendência é para baixarem, registando-se valores entre os 25 e os 30 graus no interior e no litoral", disse.

Lusa

O mito do eucalipto e do pinheiro nos grandes fogos, segundo a WWF

 05.07.2018 12h12

A organização de conservação da natureza WWF defendeu hoje que "não se pode culpar o eucalipto ou o pinheiro" pelos últimos grandes incêndios, considerando ser este um dos "mitos" que refletem tentativas de fuga à responsabilidade política.
"Não se pode culpar o eucalipto ou o pinheiro pelo que tem acontecido, mas podemos acusar o modelo territorial e a ausência de políticas que promovam um planeamento paisagístico coerente", salienta a WWF num trabalho hoje apresentado em Lisboa e em Madrid.

O relatório intitulado "O barril de pólvora do noroeste" analisa as causas e as circunstâncias em que ocorreram os grandes incêndios florestais ibéricos de 2017, principalmente a norte do Tejo, em Portugal, e na Galiza e Astúrias, em Espanha, que causaram mais de uma centena de mortos e centenas de milhares de hectares ardidos.

Para a WWF, "é necessário desmistificar alguns dos tópicos constantemente associados aos grandes incêndios, como a existência de 'terrorismo incendiário', a 'culpabilização do eucalipto', a 'especulação urbana' ou a 'requalificação de terrenos'".

A organização, presente em Portugal e em Espanha, defende que "estes mitos não são mais do que uma tentativa de fuga à responsabilidade política perante um problema social e ambiental cuja solução requer mudanças profundas".

"OS SUPER INCÊNDIOS NÃO SE APAGAM COM MAIS HIDROAVIÕES"
A WWF insiste que os incêndios de 2017 têm de ser um ponto de viragem para os dois governos e apela à tomada de responsabilidade no sentido de mudar a abordagem na luta contra o fogo, pois "os super incêndios, consequências das alterações climáticas, não se apagam com mais hidroaviões".

No ano passado, em Espanha, o número de grandes incêndios aumentou quase 200%, ou seja, triplicou em relação à média dos últimos dez anos, enquanto em Portugal arderam cerca de 500.000 hectares, o que representa um acréscimo de 400%, ou seja, cinco vezes a área afetada por fogos na última década, segundo dados do Instituto da Conservação da natureza e Florestas (ICNF), citados pela WWF.

Para a organização, os incêndios estão relacionados com vários fatores e "repovoamentos de eucalipto ou pinho, abandono rural e clima são uma combinação decisiva".

O debate acerca desta questão deve alargar-se além das críticas ao eucalipto e focar-se em "onde vamos permitir que existam eucaliptos do ponto de vista social e biológico e como devem ser geridos para que não coloquem em risco ecossistemas ou populações", defendem os ambientalistas.

"É um absurdo económico e ambiental que existam plantações de eucalipto abandonadas, em parcelas que os próprios donos nem sequer sabem que são suas", realçam, alertando que aquela espécie "pode ter sentido em casos em que há um correto aproveitamento económico, bem gerido e ordenado".

De acordo com a associação de defesa do ambiente, o abandono das plantações de eucalipto na Galiza é de cerca de 40% e as administrações galega e portuguesa "devem urgentemente" identificar as parcelas abandonadas, intervir e atribuir novos usos para diversificar a paisagem.

Em Espanha, quase 65% dos incêndios ocorrem no noroeste peninsular e só na Galiza, que representa 50% do total dos fogos, ocorrem 6.000 ignições por ano. Em Portugal, em 2017, dos 16.981 pedidos de auxílio registados até 31 de outubro, 94% ocorreram a norte do Tejo.

Lusa

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Governo quer agricultores a produzir mais cereais e leva assunto a Conselho de Ministros



11.07.2018 às 12h30

 
ALBERTO FRIAS
Estratégia nacional para os cereais vai esta quinta-feira a Conselho de Ministros. Este ano Portugal bateu no fundo com a produção mais baixa de sempre. Mas o Governo quer ajudar a inverter a situação

Vítor Andrade
VÍTOR ANDRADE
O Governo vai aprovar esta quinta-feira em Conselho de Ministros a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, recentemente apresentada pelo sector.

O Expresso sabe que o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, pretende, com a subida deste tema à mesa do Conselho de Ministros, colocar o assunto definitivamente na agenda política e dar também um sinal aos agricultores de que o Governo continua atento ao que se passa no sector e que o quer dinamizar.

"Temos a perfeita noção de que Portugal nunca será um grande produtor de cereais e que jamais se aproximará das quantidades necessárias para o consumo próprio (o que significa estar dependente das importações) mas também sabemos que é possível fazer muito mais", sublinha o ministro.

A SEMENTEIRA MAIS FRACA DOS ÚLTIMOS 100 ANOS
Note-se que, segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, há já cinco anos consecutivos que Portugal regista uma diminuição da área semeada de cereais, prevendo-se que na campanha em curso se atinja um mínimo histórico de 121 mil hectares, a menor área dos últimos cem anos - desde que existem registos sistemáticos.

No caso do trigo, por exemplo, Portugal apenas produz 6% das suas necessidades anuais. A compra a terceiros é cada vez mais uma opção inevitável para conseguir alimentar o país.

Os dados que foram divulgados pelo INE, na verdade, e segundo alguns agentes do sector, apenas confirmam aquilo que já se temia: Portugal não é competitivo no mercado dos cereais.

É praticamente impossível concorrer, por exemplo, com países como a França, onde se produzem 10 toneladas de trigo panificável por cada hectare, quando nas melhores terras para cerreais do Alentejo não se consegue ir além das 4 toneladas. Quando se atingem 5 toneladas já é qualquer coisa de extraordinário.

AUMENTAR OS NÍVEIS DE AUTOAPROVISIONAMENTO
É neste contexto que surge a Estratégia Nacional para os Cereais, recentemente apresentada pelo Governo, em estreita colaboração com as principais associações de produtores. O objetivo, que sobressai das 95 páginas do documento, é óbvio: impulsionar a produção dos cereais em geral, mas dos chamados praganosos em particular, de onde sobressai o trigo. Passar do atual nível de autossuficiência – da ordem dos 6% - para mais de 20% em cinco anos é possível, dizem os responsáveis pela produção.

O grau de autoaprovisionamento nacional nos cereais em geral, que era de cerca de 60% em 1989, ronda atualmente os 23%, uma vez a produção não acompanhou o aumento do consumo interno, em particular para alimentação animal.

Governo atribui até quatro milhões para vacinação e controlo sanitário na pecuária

9/7/2018, 13:31

O montante definido pelo secretário refere-se à subvenção das organizações de produtores pecuários (OPP) que participam na lização dos programas sanitários aprovados em 2018.


O Governo limitou a quatro milhões de euros o total de subsídios a atribuir aos produtores de bovinos, ovinos e caprinos para apoiar o controlo sanitário e a vacinação nas pequenas explorações pecuárias, revela um despacho publicado esta segunda-feira.

O montante total definido pelo secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira, refere-se à subvenção das organizações de produtores pecuários (OPP) que participam na realização dos programas sanitários aprovados em 2018 pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), no Plano Nacional de Saúde Animal.


"A subvenção a atribuir por bovino, ovino ou caprino é calculada tendo em consideração o número de animais elegíveis por exploração, sujeitos à totalidade dos controlos sanitários previstos para o ano de 2018", lê-se no despacho, incluindo a vacinação nos bovinos, ovinos e caprinos contra a brucelose.

O governante explica no despacho que, quando os animais elegíveis para esta ajuda não ultrapassarem os limites estabelecidos no escalão A (escalão de valor mais elevado), será o valor da subvenção acrescido de um valor base de cinco euros por exploração, de forma a compensar os custos base do controlo daquelas pequenas explorações. Mas estes valores, adianta o diploma, "não podem ultrapassar o valor máximo de subvenção de quatro milhões de euros, para o ano de 2018".

Presidente do IFAP admite erros nas candidaturas e pagamentos de fundos europeus

O presidente do conselho diretivo do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), Pedro Ribeiro, admitiu hoje, em Lisboa, a existência de erros nos processos de candidaturas a fundos comunitários.

Lusa
10 Julho 2018 — 18:34

"Os erros são verificados ao longo de toda a cadeia, desde a aprovação de projetos até aos pedidos de pagamento. Todas as pessoas cometem erros e é preciso não confundir erros com desonestidade e má-fé", disse Pedro Ribeiro, durante uma audição parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar.

De acordo com o responsável, "uma ínfima parte" diz respeito a situações de má-fé, contabilizando-se, até ao momento, 22 processos no Ministério Público.

O presidente do conselho diretivo do IFAP foi ouvido a pedido do CDS que, num requerimento aprovado em 04 de julho, dava conta de um conjunto de denúncias, por parte de várias empresas de consultoria, de situações de "desonestidade e má-fé aos beneficiários envolvidos nas candidaturas e respetivos pedidos de pagamento".

De acordo com o grupo parlamentar, as acusações foram realizadas durante ações de formação, no âmbito do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP).

Segundo Pedro Ribeiro, Portugal está há seis anos consecutivos com uma taxa de erro de materialidade acima dos 2% aceites pela Comissão Europeia, situação que, para o responsável, pode ser combatida através das ações de formação.

"Se todas as pessoas não se compreenderem nem entenderem as regras, há um sério risco de, numa das fases do processo, haver um problema e quem vai pagar são os beneficiários. Portanto, estamos ainda a fazer uma série de ações destinadas a todos os agentes", explicou.

No entanto, o presidente do instituto ressalvou que as ações não têm como objetivo "perseguir ou culpabilizar" beneficiários ou consultores.

"As acusações formuladas não encontram suporte em nenhum caso em concreto [...]. O texto divulgado foi construído pelas empresas, através da agregação de três tópicos distintos, [contidos] numa apresentação de 'PowerPoint'. Esta apresentação não suscitou quaisquer dúvidas ou reparos entre os 500 participantes", vincou.

Durante a primeira ronda de intervenções, a deputada do CDS Patrícia Fonseca defendeu que "não se pode tomar o todo pela parte" e acrescentou que o IFAP possui os dados de todos os consultores, podendo assim medir as taxas de erro de cada um, de modo a que os agricultores fiquem informados.

Por sua vez, o deputado do PSD Nuno Serra alegou estar "surpreso" por chegar à conclusão que a morosidade nos pagamentos se deve à falta de "transparência" nos processos.

Já o deputado do PS Pedro do Carmo considerou que as "falhas estão tipificadas" e que o instituto quer "assumir" esses problemas.

Por último, o deputado do PCP João Dias classificou a situação como "um tanto constrangedora", apesar de notar "boa-fé" por parte do IFAP, no que toca a resolver os problemas identificados.

O BE não esteve representado na audição.

Em resposta aos deputados, o presidente do IFAP reiterou que o instituto tem mais de 1.550 consultores a trabalhar com os agricultores, tendo como objetivo que as ações permitam que todas as pessoas tenham acesso "ao mesmo tipo de informação".

"Um consultor em Torre de Moncorvo não é pior ou melhor do que um que está numa grande empresa [...] e tomara a nós que os erros não existissem", concluiu.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Desesperadamente à procura de terra



07.07.2018 às 10h00

O consumo de saladas está em alta e a Vitacress quer triplicar a área de cultivo biológico no Alentejo

Quando uma empresa se vê obrigada a desacelerar o esforço de vendas para os mercados internacionais devido à falta de capacidade produtiva, algo de estranho se passa. Mas foi exatamente isso que aconteceu, no ano passado, com a empresa de produção de saladas Vitacress Portugal.

Na verdade, 2017 foi o melhor ano de sempre da empresa e, segundo Luís Mesquita Dias, diretor-geral, só não foi melhor porque, na verdade, a capacidade de produção não dava para crescer mais. "Estamos desesperadamente à procura de terra para cultivar, essa é que é a questão. Queremos crescer e precisamos de mais terra para as nossas plantações".

O gestor sublinha que esta semana a empresa assinou um contrato para mais 50 hectares de terra, em Odeceixe, para juntar aos 260 que já possui em Odemira (e aos 20 que tem no Algarve), mas que continua a precisar de mais área de cultivo, pois a produção não chega para as encomendas.

Metade das terras que a empresa cultiva são arrendadas e os outros 50% comprados. O ritmo de trabalho é tal que "todos os dias semeamos e todos os dias colhemos", enfatiza o diretor-geral da Vitacress.

O que se passa, segundo aquele responsável, é que não só o consumo de saladas no mercado nacional está a crescer como há cada vez mais apetência pelas saladas alentejanas nos países do norte da Europa, onde dantes era mais difícil penetrar, sobretudo devido à distância. Acontece que agora a empresa está a conseguir prolongar o prazo de validade (para consumo) das saladas embaladas e isso permite colocar os produtos nos países nórdicos quatro dias depois da colheita. Como o prazo de validade é de nove dias, ainda sobram cinco.

O próximo grande passo em termos de vendas para o exterior é a entrada no mercado dos Emirados, mais concretamente no Dubai.

Crescimento de 15%

Em 2017 a empresa — que pertence ao grupo RAR (da família Macedo Silva) — faturou €123 milhões nos cinco centros de produção que detêm em vários países europeus. Só na unidade que possui em Portugal o volume de negócios ascendeu aos €28,5 milhões, um crescimento de 15% face ao ano anterior. Do total da produção em Portugal, 35% seguem para os mercados internacionais.

As 400 pessoas que trabalham para a Vitacress em Portugal, produzem e embalam todos os dias 80 produtos diferentes, com especial destaque para as saldas de folhas bebé — de rúcula, agrião, vários tipo de alface, etc. A empresa de Odemira (onde também possui uma unidade fabril) produz por ano cinco mil toneladas de saladas, das quais embala 15,6 milhões de sacos, 3,3 milhões de molhos de ervas aromáticas e ainda 1200 toneladas de batatas.

Mas a principal aposta da Vitacress nos dias que correm vai para um segmento que está a ganhar terreno em todos os mercados: o da produção biológica. "Temos já 15 hectares neste regime de cultivo e o nosso objetivo é duplicar a área em apenas três anos". Mesquita Dias espera, só neste segmento, ver a sua faturação passar dos atuais €500 mil para €2 milhões com o aumento da área cultivada.

A empresa, segundo o gestor, é líder de mercado em Portugal, com uma quota de 40%, mas metade da sua produção é para marcas brancas de algumas das maiores cadeias de supermercados.

Mesquita Dias explica que, além da dificuldade em encontrar terra, também há dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar, tanto na terra como na fábrica de Odemira.

Ainda assim, a empresa orgulha-se de dizer que consta da lista das 100 melhores empresas para trabalhar — da revista "Exame". O gestor sublinha que, tanto no campo como na fábrica os ordenados mensais podem rondar os €800 brutos (cerca de €700 líquido), mas acrescenta que todos os meses são atribuídos prémios de produtividade, até €100, mediante as escolhas dos responsáveis por cada secção.

A empresa fornece assistência médica e seguro de saúde aos trabalhadores e Mesquita Dias sublinha ainda a relevância que tem, para o negócio que gere, a interação permanente com as instituições de ensino e de investigação científica.

Praga da batata. O inseto que ameaça as plantações de Portugal


O Ministério da Agricultura desenvolveu um plano de contingência para combater a possível entrada do organismo em território português.

A propagação da Tecia Solanívora – conhecida como a praga da traça da Guatemala ou praga da batata – está descontrolada em Espanha e a situação é de extrema gravidade. Após terem sido destruídas inúmeras plantações do tubérculo nas Astúrias, o último foco do inseto foi identificado no município de Muxia, na Galiza. As autoridades espanholas registaram também, no município de Ourense – que se encontra a 60 quilómetros da região do Minho, em Portugal –, a presença do inseto.

Ao todo, foram afetados 33 municípios espanhóis, destruídas mais de 400 toneladas de batatas infetadas e o governo autónomo da Galiza – Xunta da Galicia – já ajudou 1.323 agricultores.

As autoridades galegas não estão a conseguir controlar o inseto, que facilmente pode atravessar a fronteira através  da exportação dos tubérculos e da semente. A Espanha alertou assim toda a União Europeia que a praga está a dominar as plantações da batata na região da Galiza.

Portugal é o país que se encontra mais próximo da zona infestada e, por isso, o risco de contaminação é maior. Apesar de – até à data – ainda não existirem casos confirmados, a agricultura portuguesa pode estar ameaçada pela propagação da praga.

O Plano de Contigência, ao que o i teve acesso, divulgado pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), foi feito com o objetivo de dar informações sobre o inseto nocivo e "aumentar a probabilidade de uma deteção precoce dos organismos prejudiciais".

O plano prevê ainda a instalação de uma rede de armadilhas com uma feromona sexual que atrai os insetos adultos, de modo a capturá-los.



A DGAV esclarece que em 2016 foi criado um programa nacional de análise aos terrenos agrícolas, coordenado pela DGAV, e que envolve as Direções Regionais de Agricultura e Pesca (DRAP) do continente e as Direções Regionais de Agricultura das Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores. "O objetivo é realizar inspeções fitossanitárias aos campos de cultivo de batata e respetivos armazéns do tubérculo".

Sintomas

O inseto que ataca a batata em cultura ou armazenada causa graves problemas nos tubérculos. Os sintomas externos são muito discretos quer no momento de lavrar a terra, quer no processo de cultura. Começam a ficar mais visíveis quando a praga ainda se encontra em forma de larva, quando esta sai pelo orifício de 2-3mm – perto da fase de colheita. O principais estragos são a destruição de folhas, perfuração dos novos rebentos e das batatas já desenvolvidas.
As batatas perfuradas, quando colhidas, apresentam no exterior "excrementos expulsos pelas larvas com coloração esbranquiçada que evoluem para cor enegrecida". Os casulos das larvas podem ser encontrados no solo, em caixas, sacos, nos cantos dos armazéns ou mesmo no interior dos tubérculos.

Vias de dispersão

A propagação natural  dos insetos por via aérea é limitada, uma vez que a praga não consegue percorrer grandes distâncias. No entanto, o movimento das batatas através da ação humana pode atingir proporções maiores, com a deslocação de batatas infetadas, ovos ou casulos nos sacos dos tubérculos.  

A praga da batata foi identificada pela primeira vez em 1956, na Guatemala. Posteriormente surgiu na Costa Rica (em 1971) e só depois é que se espalhou pela América Central, até chegar à América do Sul.

A Tecia Solanívora também foi detetada no México (em 2010), com suspeitas de batatas contaminadas com origem na Guatemala.

Na Europa, a primeira identificação foi nas Ilhas Canárias (em 1999), estando a sua introdução relacionada com batatas ilegalmente transportadas de países contaminados.

Outras pragas registadas em Portugal

Psila africana

Este inseto destrói as plantas dos citrinos como laranjeiras e limoeiros. Apareceu na Europa, em 1994, na ilha de Porto Santo (Madeira).



Nemátodo da madeira do pinheiro

O organismo afeta os pinheiros, prejudicando fortemente a floresta portuguesa, uma vez que causa a morte das árvores em apenas alguns meses.



Vespa das galhas do castanheiro

O crescimento dos ramos e da frutificação dos castanheiro é posta é causa, podendo diminuir drasticamente a produção e a qualidade da castanha.



Flavescência dourada

Apareceu na região do Douro em 1999, deixando as vinhas propícias à contaminação. O organismo afeta a videira e obriga ao arranque das cepas infetadas.



*Editado por Ana Sá Lopes

Como está Portugal na produção de trigo e cevada?


O Governo quer pôr o país a produzir mais cereais. A dependência face ao exterior é grande. Veja como evoluíram as produções e comércio do trigo e da cevada em Portugal.














terça-feira, 3 de julho de 2018

O imPACto do ‘Brexit’ na agricultura europeia


24.06.2018 às 12h00

 
EMMANUEL DUNAND/GETTY

Bruxelas, "we have a problem". Basta olhar para o gráfico de barras que aparece mais à frente para se perceber que há ali qualquer coisa de estranho na sexta barra a contar de cima. Está completamente em branco. Ou seja, há uma carta fora do baralho, chamada Reino Unido.


Na redistribuição do dinheiro da Política Agrícola Comum (PAC) pelos campos destes países há menos um a receber, mas o problema é que era também um dos principais contribuintes líquidos para o orçamento comunitário.


No final do dia estamos a falar de um cheque a menos, de mais de €12 mil milhões, nos cofres de Bruxelas — todos os anos. Este percalço, associado ao facto de a própria Comissão Europeia estar a querer canalizar menos dinheiro para o próximo pacote financeiro da PAC para o período 2021/2027, resulta numa perda de €58,6 mil milhões para os agricultores europeus.

PORTUGAL SAI A GANHAR, 
MAS TAMBÉM PODE PERDER
Em casa onde não há pão (no caso, euros) todos ralham e ninguém tem razão. Mas os países do Norte da Europa acham que têm toda a razão em querer cortar nos apoios à agricultura, para dar mais a outras áreas, como a da investigação, por exemplo. Todos os outros, do Sul e do Leste europeu, acham exatamente o contrário, e, no meio da confusão, há um que está a surpreender, mas já lá vamos.


Nesta luta de galos, que se repete de seis em seis anos, Portugal até fica numa situação que o ministro da Agricultura qualifica como nem má nem boa, antes pelo contrário. Ou seja, segundo contas fornecidas por Capoulas Santos ao Expresso, os agricultores portugueses até acabam por ficar a ganhar €279 milhões no pacote da PAC para 2021/2027.


"O problema, no nosso caso, é que o Estado — segundo Bruxelas — vai ter de aumentar a comparticipação de 15% para 30%" nos apoios a conceder aos agricultores. "Como é óbvio, é nessa frente que vamos lutar junto da Comissão, pois o que defendemos é que o Estado faça o mínimo esforço financeiro possível", sublinha o ministro.

Assim que se conheceu a proposta de Bruxelas para o período 2021/2027, Capoulas Santos criou um grupo de pressão com Espanha e França. A iniciativa foi tão cobiçada que em menos de um mês já conquistou mais 17 adeptos. E há ainda o tal — "inesperado e surpreendente", segundo o ministro — que esta semana se juntou ao grupo dos 20 para dizer que, realmente, seria melhor meter mais dinheiro no orçamento da PAC.

Foi Julia Klöckner, ministra alemã da Agricultura, que veio dar um contributo de peso à causa defendida por Portugal e restantes aliados. Aquela responsável defende que é necessária uma "posição mais construtiva" nas negociações que agora decorrem entre os vários países e a Comissão Europeia.

Note-se, porém, que ainda estamos no início de uma longa maratona de negociações entre os vários Estados-membros e Bruxelas, que se irá prolongar até maio do próximo ano — altura das eleições para o Parlamento Europeu.

Segue-se mais um ano de negociação das regras de aplicação da PAC, "que irão ser decisivas", segundo Capoulas Santos. O ministro admite que vai ter de haver cedências de parte a parte.

 Porque é que Bernardo Silva deve ser o nosso novo Ronaldo. Obrigações do Novo Banco têm a taxa de juro mais alta da Europa este ano. A hipótese de o Governo alemão poder cair neste momento político da Europa não deveria satisfazer nenhum democrata
Porque é que Bernardo Silva deve ser o nosso novo Ronaldo. Obrigações do Novo Banco têm a taxa de juro mais alta da Europa este ano. A hipótese de o Governo alemão poder cair neste momento político da Europa não deveria satisfazer nenhum democrata


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Abre em julho novo concurso para jovens agricultores dotado com 43 milhões de euros


Capoulas Santos justificou os atrasos verificados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) com o número de candidaturas excecionais recebidas devido aos incêndios


O ministro da Agricultura, Capoulas Santos© MIGUEL A. LOPES/LUSA
DN/Lusa
Costa quer dólares na agricultura: "Temos muita área por explorar no Alqueva"

GOVERNO
Estatuto da Agricultura Familiar aprovado. Abrange 100 mil agricultores
O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, anunciou esta quarta-feira, em Lisboa, que o Governo vai abrir um novo concurso para jovens agricultores, dotado com 43 milhões de euros.

Apesar de não adiantar mais pormenores, o governante, que falava durante uma audição parlamentar na Comissão de Agricultura e Mar, referiu que o concurso será aberto em julho.

Durante a segunda ronda de intervenções, Capoulas Santos foi questionado sobre os atrasos verificados no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020), justificando a demora com o número de candidaturas excecionais recebidas devido aos incêndios.

"Entraram no PDR 48 mil candidaturas, só as excecionais [relativas aos incêndios] foram 25 mil, que foram passadas à frente e que já estão encerradas. Estamos, por isso, a tratar dos atrasos do programa", sublinhou.

EDIA deixa recado ao Governo sobre baixa do preço da água em Alqueva


02 jul, 2018 - 12:35

Deputados do PS visitaram a sede da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva numa altura em que esta se prepara para avançar com um projeto que promete reduzir substancialmente os custos da água na região.

 
Já arrancaram as jornadas parlamentares do Partido Socialista (PS) em Beja, com os deputados a visitarem, esta segunda-feira de manhã, a sede da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas de Alqueva (EDIA), numa altura em que esta está a preparar-se para desenvolver um novo sistema de produção de energia para as estações elevatórias da barragem.

O projeto poderá fazer diminuir substancialmente o preço da água na região, com o presidente da EDIA a prever a expansão da rede de distribuição de água em mais 50 mil hectares, num total de investimento de 230 milhões de euros previstos no Plano Nacional de Regadio.

Pedro Salema diz que a empresa está a apostar num novo sistema de energia para alimentar as 47 estações elevatórias de alto consumo, estações essas que sempre fizeram disparar o preço da água em Alqueva. O objetivo deste novo sistema é diminuir custos, mas o responsável da EDIA tem receio de avançar números.

"Nós podemos ter economias interessantes mas que já foram acauteladas na última revisão do tarifário de Alqueva e, portanto, não quero prometer baixas de preço quando já baixámos o preço no ano passado em 25% a pensar em economias que íamos ter", disse aos jornalistas esta manhã.
Sobre a baixa de preços, Salema remete futuras decisões para os Ministérios da Agricultura, das Finanças e do Ambiente.

"Os preços em Alqueva são definidos pelo Governo, tem sido um despacho tripartido entre o ministro da Agricultura, o ministro das Finanças e o ministro do Ambiente, que fixa o tarifário de Alqueva e acho que vai continuar a ser assim, portanto cabe aos senhores governantes tomarem essas decisões. A nós cabe-nos encontrar as soluções que baixam o custo e depois apresentar resultados."

Recado dado com o líder parlamentar do PS a ouvir. Carlos César diz que o importante é garantir a expansão da rede de distribuição de água e o resto virá por acréscimo.

"Os lucros e os ganhos que, no domínio da produção agrícola, como aliás noutras áreas, como o setor energético, por exemplo, ou até no setor turístico, resultam deste projeto já são os ganhos que é preciso obter. Evidentemente que, à medida que este projeto se for consolidando, que as empresas se forem consolidando com base nos seus efeitos, teremos certamente menores custos para a produção e melhores ganhos para todos."

O projeto de energia fotovoltaica para as estações elevatórias de Alqueva está em período de concurso, havendo já um projeto-piloto no reservatório da cegonha.

Drones e aviões são solução para prevenir doença bacteriana que arrasa olivais


A bactéria em questão é a Xylella Fastidiosa e já foi responsável por destruir milhares de oliveiras um pouco por todo o mundo.

Os olivais são particularmente vulneráveis à doença RUI GAUDENCIO
A silenciosa bactéria Xylella Fastidiosa, responsável por devastar olivais um pouco por todo o mundo, poderá ser agora identificada antes de surgirem efeitos visíveis nas plantas infectadas. Esta identificação precoce será possível graças a imagens aéreas recolhidas através de aviões ou drones. A descoberta foi publicada, esta semana, na publicação científica Nature plants. "O nosso estudo descobriu que os efeitos da bactéria podem ser remotamente detectados, antes de ser visível qualquer sintoma nas plantas. Isto permitirá uma rápida identificação das oliveiras infectadas dentro de um olival", afirmou o professor Peter North da Universidade de Swansea, membro da equipa que efectuou o estudo.

A bactéria vive nos vasos que conduzem a água (xilema) das plantas e propaga-se através de insectos que se alimentam do xilema das árvores infectadas. Apesar das oliveiras serem particularmente vulneráveis a esta doença, a bactéria pode hospedar-se em outras espécies de plantas com impacto económico relevante, como por exemplo laranjeiras, pessegueiros e amendoeiras. A presença da Xylella Fastidiosa faz com que os ramos e galhos da árvore infectada sequem, causando, ainda, queimaduras na folhagem. 

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Oliveira infectada pela bactéria Xylella Fastidiosa DR
A Xylella Fastidiosa apresenta uma taxa de crescimento reduzida e os sintomas revelam-se tardiamente, o que torna difícil a aplicação de medidas de controlo. Muitas plantas podem estar infectadas sem revelar sintomas, mas apesar de poderem ter a doença de forma dissimulada, esta é muito mortífera. Detectar precocemente a bactéria nas plantas infectadas permite que se crie um plano para combater eficazmente e atempadamente a doença, impedindo a propagação e reduzindo os impactos socioeconómicos de um eventual surto.

Não existindo nenhum medicamento que permita a cura da doença, a única forma de travar um alastramento da bactéria passa pela queima e consequente remoção das plantas que se encontrem infectadas. Para além desta medida, o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária aponta para uma série de recomendações preventivas que passam pelo uso de cultivos resistentes e pela gestão dos insectos vectores nas zonas periféricas das plantações.

Doença "fastidiosa" do olival em Espanha está a assustar o Alentejo
A solução vem do céu

Durante décadas pensou-se que a bactéria estaria circunscrita ao continente americano. Os Estados Unidos da América — de onde a bactéria é originária — debatem-se com a doença desde a década de 1940 do século passado, altura em que surgiram os primeiros surtos. A doença foi detectada pela primeira vez na Europa em 2013, devastando milhares de oliveiras na região de Apúlia, em Itália. Para além de Itália, segundo dados da Comissão Europeia, no continente europeu já foram registados surtos da doença, igualmente arrasadores, na Alemanha, Espanha e França. Como forma de prevenção, a União Europeia impôs que todos os seus Estados-membros realizassem prospecções anuais às plantas passíveis de hospedar a bactéria.

Até ao momento, para além dos países já identificados com casos registados da doença, o restante território europeu encontra-se livre da bactéria. Porém, segundo a Unidade Estratégica de Investigação e Serviços em Sistemas Agrários e Florestais e de Sanidade Vegetal, Portugal possui vários factores que facilitam a entrada da bactéria. A posição geográfica, as condições climatéricas (Inverno pouco rigoroso), a presença de plantas hospedeiras da bactéria (oliveira, vinha, citrinos, sobreiros e amendoeiras) e ainda a presença de insectos vectores são factores que aumentam o perigo da bactéria surgir em Portugal.


A equipa liderada pelo investigador Pablo Zarco-Tejada instalou câmaras modificadas numa pequena aeronave. Estes equipamentos recolheram imagens hiperespectrais e termais, que permitem observar todo o campo electromagnético, apontando, desta forma, as plantas que já se encontram infectadas.

A equipa recolheu os dados das observações aéreas, e de seguida, comparou-as com as análises retiradas no terreno às árvores que tinham sido identificadas pela equipa como hospedeiras da Xylella Fastidiosa. Os resultados recolhidos através das câmaras corresponderam com os recolhidos no terreno. Com o recurso a esta tecnologia, os cientistas chegaram à conclusão que os efeitos infecciosos da bactéria podem ser detectados antes de surgirem quaisquer sintomas visíveis. 

PÚBLICO -Foto
Imagem aérea termal do olival retirada pela equipa de investigadores

Empresa pública de gestão florestal concluída “até ao final de julho”


29/6/2018, 16:59
O ministro da Agricultura disse que o processo de criação da empresa pública de gestão florestal deverá estar concluído "até ao final de julho", indicando que terá a designação de Florest Gest.

O ministro da Agricultura disse esta sexta-feira que o processo de criação da empresa pública de gestão florestal deverá estar concluído "até ao final de julho", indicando que terá a designação de Florest Gest e será sediada em Figueiró dos Vinhos.

Tem sido também orientação política do Ministério da Agricultura que todos os novos serviços, ou entidades dele dependentes a criar de novo, sejam criados fora de Lisboa e, preferencialmente, em zonas do interior do país", declarou à Lusa o ministro Capoulas Santos, após a reunião do Conselho Florestal Nacional, em Lisboa.

Neste âmbito, o titular das pastas da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural prevê que a empresa Florest Gest comece a funcionar "dentro de muito pouco tempo", já que "toda a tramitação burocrática está neste momento concluída".

"Penso que será uma solução que estará concluída até ao final do mês de julho", avançou o governante. Em março, Capoulas Santos anunciou no parlamento a criação desta empresa pública de desenvolvimento e gestão floresta, referindo que entraria em funcionamento dentro de semanas em Figueiró dos Vinhos.

Na reunião do Conselho Florestal Nacional, que demorou cerca de três horas, esteve em análise a reforma da floresta, que inclui 11 diplomas do Governo aprovados pela Assembleia da República em 2017 e que "estão em fases diferentes de aplicação", disse Capoulas Santos, considerando que o balanço é "francamente positivo".



"É uma reforma muito ambiciosa, que toca em muitos e diferentes aspetos, em que o exercício legislativo foi concluído há pouco mais de seis meses e que está agora a dar os primeiros passos de aplicação, de um modo geral dando uma expectativa de que são instrumentos que respondem aos nossos objetivos, que é ter uma floresta ordenada, uma floresta bem gerida, uma floresta que cumpra uma função económica, ambiental e social", afirmou o ministro da Agricultura.

Neste sentido, o governante defendeu que a floresta tem de produzir "rendimentos que garantam a continuidade das populações nos territórios", já que "são as pessoas os melhores guardiões da floresta".

Dos 11 diplomas em curso para a reforma do setor florestal, Capoulas Santos destacou o projeto-piloto do cadastro, que está a ser desenvolvido em dez municípios – Pedrógão Grande, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Penela, Sertã, Caminha, Alfândega da Fé e Proença-a-Nova -, em que os resultados, até ao momento, são "muito positivos".

Estou certo de que esta operação será alargada a todo o país, porque é fundamental para dar resposta a outros aspetos da reforma da floresta", adiantou.

Sen identificação dos prédios, por exemplo, "não é possível, por exemplo, na pequena propriedade, entidades públicas ou privadas tomarem de arrendamento pequenas parcelas que garantiriam um rendimento a pessoas idosas, que não têm condições, nem pela idade, nem pela pequena dimensão da propriedade, de apresentar projetos florestais".

Assim, as pequenas propriedades florestais podem "incorporar áreas de gestão florestal, com valor económico para o país, bem geridas, reduzindo o risco de incêndio e, ao mesmo tempo, garantindo anualmente um rendimento às pessoas, que de outra forma teriam de esperar décadas para obter rendimento com o crescimento das árvores", apontou o ministro.

Questionado sobre o diploma para a criação do banco nacional de terras, que foi rejeitado pela Assembleia da República, Capoulas Santos referiu que é preciso encontrar uma solução que permita ao Estado assumir a posse dos terrenos sem dono conhecido, "ainda que transitoriamente até um certo período, para que possam ser valorizados económica e socialmente".

As alfaces sustentáveis do futuro


SOCIEDADE 30.06.2018 às 12h33


Mais do que plantar vegetais, a Grow to Green quer expandir uma nova tecnologia que põe a engenharia ao serviço da agricultura sustentável – e sem uma gota de pesticidas

Sónia Calheiros
SÓNIA CALHEIROS

Dentro do laboratório, em Castelo Branco, em que toda a produção energética autónoma deriva de energias renováveis, os técnicos usam máscaras, toucas e batas. Não para se protegerem a si próprios mas para resguardarem as plantas. O sistema de agricultura vertical da Grow to Green é estanque, daí que não se deva levar contaminações para dentro das câmaras climáticas. Ao contrário de outros laboratórios, neste, as luzes para a horticultura são magenta, pois a mistura de duas componentes (azul e vermelho) corresponde aos comprimentos de onda cuja energia é aproveitada com maior eficiência pelas plantas para o seu processo de fotossíntese. É num ambiente fechado, totalmente controlado, que estão a ser cultivadas alfaces, rúculas, couves, agrião e ervas aromáticas, entre outros vegetais de folha verde, sem qualquer tipo de preocupação com as condições climáticas – o "indoor farming", com a Holanda e o Japão à frente da tendência, marca o caminho de uma agricultura cada vez mais sustentável e de uma indústria agroalimentar com um pé no futuro.

Qual o agricultor que não desejou ter controlo absoluto sobre o sol, a chuva, a humidade e o vento, fatores naturais que interferem no cultivo dos produtos hortícolas? As primeiras saladas portuguesas provenientes do "indoor farming" já podem ser provadas no Mercado da Ribeira, em Lisboa, na carismática Manteigaria Silva. Tenras e firmes, as folhas de alface têm o tamanho certo e um gosto intenso, numa mistura de diversos verdes que são sinónimo de sabor à primeira vista.

CLIMA SEMPRE FAVORÁVEL
Será a Grow to Green uma tendência de engenharia ou da área alimentar? "É a engenharia a responder à alimentação", sublinha João Alves Pereira, responsável pela empresa, o mais recente projeto do Grupo ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade e da Aralab, um dos principais fabricantes europeus de câmaras climáticas.

A hidroponia, surgida em Portugal há meia dúzia de anos, já permitia o cultivo de morangos, por exemplo, uma flor invertida em altura, sem solo, cujos frutos são alimentados através de uma solução nutritiva aquosa. Agora, esta nova tecnologia possibilita controlar a temperatura, a humidade, a velocidade do ar, o dióxido de carbono, a nutrição e a luminosidade, mantendo a planta sempre em situação de conforto. "Passámos a não estar dependentes das condições climáticas, e aumenta-se a qualidade do vegetal, alargando-se também o seu prazo de validade para cerca de 15 dias", garante o engenheiro civil.

Esse domínio sobre o estado do tempo mantém afastadas dos vegetais bactérias como a E.coli ou a salmonella. "Um vegetal em campo aberto tem 300 mil bactérias por grama; esta alface tem menos de dez, sendo que o limite regulamentar em Portugal para um vegetal ser vendido pronto a consumir são 300 bactérias. Tudo acontece sem aditivar qualquer hormona, pesticida ou desinfetante. Não entrou qualquer contaminante no circuito de produção."

FALTAM LED MAIS BARATOS
Apesar de se apresentarem no seu estado mais puro, os vegetais da Grow to Green não são considerados biológicos. Na Europa, a empresa portuguesa não consegue certificar esta tecnologia como biológica, porque não faz uso integrado do solo. Mas, nos Estados Unidos da América já é possível. "Neste momento, a certificação dos biológicos incide no processo e não no produto", lamenta João Alves Pereira. "A Europa não está a acompanhar o desenvolvimento tecnológico. 
A legislação comunitária está atrasada face à tecnologia."

Tanto na agricultura convencional como no laboratório é usada água da rede. A diferença está nos litros gastos por alface: 50 na terra vs. menos de um litro no laboratório. Sem dúvida que está garantida a eficiência hídrica. O mesmo não se poderá dizer do consumo de energia. Se os campos de cultivo a céu aberto não têm quase nenhum gasto de energia, na Grow to Green a iluminação LED é um custo, logo, uma desvantagem. "Temos de aproveitar os tarifários com horas de vazio, por isso o ciclo de luz da planta é invertido", explica João Alves Pereira. "Conseguimos pôr um vegetal a crescer mais depressa se lhe dermos mais intensidade luminosa, mas isso só acontecerá se tivermos mais barras LED, e, por enquanto, estas também são muito caras", acrescenta. E as plantas germinadas em câmara são até três vezes maiores do que as plantadas em estufa.

Com o custo inicial de instalação superior, entre oito e dez vezes, ao de uma estufa equivalente (de €100 por metro quadrado passa para €1 000 por metro quadrado), só à medida que o preço do LED baixar se conseguirá otimizar a redução de custos. Outra das desvantagens é não poder aplicar a tecnologia de "indoor farming" em legumes sem serem de folha verde ou em frutos. Apesar de a Grow to Green já ter feito experiências de sucesso com rabanetes, cenouras e feijões, os frutos exigem polinização e, por enquanto, ainda não é possível pôr a abelha dentro da câmara. "Do ponto de vista da tecnologia, conseguimos produzir qualquer coisa, até eucalipto, mas, do ponto de vista económico, tudo o que demore muito tempo a crescer não é rentável."

CAMPO ABERTO 
VS. LABORATÓRIO
Um vegetal na terra 
tem 300 mil bactérias por grama, em laboratório tem menos de dez por grama
Na agricultura de campo aberto, facilmente 
se gastam 50 litros 
por alface, enquanto 
no laboratório é menos 
de um litro por cada alface

Em Portugal, a área 
de cultivo exclusivamente de alfaces corresponde ao concelho de Odivelas (26,54 km²), com a tecnologia da Grow 
to Green ocuparia apenas 
a área do Estádio da Luz

NÚMEROS
98% poupança de água 
99,4% menos bactérias
23% mais fibras alimentares

Empresários angolanos e brasileiros cooperam para desenvolver agricultura em Angola


27/6/2018, 20:03
A Confederação Empresarial de Angola e o consórcio Brasil-África assinaram um protocolo de intenções para o desenvolvimento do agronegócio, assumindo a captação de recursos financeiros.


A Confederação Empresarial de Angola (CEA) e o consórcio Brasil-África assinaram esta quarta-feira um protocolo de intenções para o desenvolvimento do agronegócio, assumindo a captação de recursos financeiros como o primeiro passo. O documento foi assinado entre o presidente da CEA, Francisco Viana, e o presidente do consórcio brasileiro, Omar Wagner, à margem do I Congresso da Produção Nacional.

Trata-se de um consórcio brasileiro, que integra quatro empresas ligadas ao negócio da agricultura, da lavoura à pecuária, passando pela agroindústria e pelo agronegócio.

Esse protocolo de boas intenções é o passo inicial para a gente continuar nos próximos degraus organizando um documento para a busca de recursos, temos que conseguir dinheiro para isso, porque só o petróleo não vai acabar pagando a conta, então vamos ter que buscar recursos externos", disse à imprensa o engenheiro agrónomo Omar Wagner.

O presidente do consórcio brasileiro, que é também presidente da Agência Brasil África para o Desenvolvimento Económico Social (ABADES), referiu que neste congresso veio partilhar a experiência brasileira de 40 anos e avançar as prioridades para desenvolver a cooperação com os empresários angolanos num curto espaço de tempo.

"Nós não tínhamos conhecimento nenhum. Hoje, a gente tem, e é esse conhecimento que a gente quer partilhar, não só o conhecimento cognitivo, mas aquele tácito, técnico, ou seja, a informação organizada para o desenvolvimento e é essa nossa proposta", referiu.

O empresário brasileiro apontou três níveis para que Angola consiga desenvolver a agricultura – organizar vontade política, as ações meio (pesquisa, assistência técnica, extensão rural, estradas e caminhos-de-ferro) e as ações produtivas, porque o resto – bons solos, água, clima e recursos humanos, Angola possui. "Os recursos estão aqui, é um pouquinho de organização e, claro, aproveitar as experiências dos outros", frisou.

Omar Wagner manifestou-se otimista relativamente à cooperação com a CEA, que "está mais efetiva do que há cinco, seis anos atrás", quando tentativa igual foi feita com o Governo. "Tropeços em cima de tropeços, deixa para amanhã, não sai, agora não, o empresariado parece que vai ser diferente", disse.

Por sua vez, o presidente da CEA, Francisco Viana, congratulou-se com o facto de integrarem o consórcio brasileiro aqueles que considerou como os dois mais importantes ministros da Agricultura do Brasil, frisando que os melhores especialistas do Brasil vieram até Angola e estão à sua disposição.

Governo e peritos reúnem-se para chegar a consenso sobre a nova política de agricultura


27/6/2018, 19:31

O ministro da Agricultura esteve reunido, em Lisboa, com um conjunto de peritos académicos e confederações para continuar a discussão e alcançar um "consenso" sobre a Política Agrícola Comum pós 2020.


O ministro da Agricultura esteve esta quarta-feira reunido, em Lisboa, com um conjunto de peritos académicos e confederações agrícolas para continuar a discussão e alcançar um "consenso" sobre a Política Agrícola Comum (PAC) pós 2020.

"Foi uma reunião onde o ministério explicitou as medidas em discussão, de forma a que, a partir de agora, haja debate segmentado sobre cada um dos pontos. São precisas muitas horas de debate para chegarmos a um acordo sobre as matérias", disse Capoulas Santos à Lusa, após a reunião da Comissão de Acompanhamento da Revisão da PAC.


Para o governante, apesar das diversas opiniões sobre o tema "nem sempre serem totalmente coincidentes", é importante fazer um esforço para alcançar um consenso. "Quanto maior consenso tivermos mais fácil é a tarefa do ministro na frente de batalha em defesa das posições sociais", vincou.

Segundo Capoulas Santos, o objetivo do Governo é manter o nível de apoio aos agricultores, apesar das consequências do 'Brexit' (saída do Reino Unido da União Europeia), "não aumentando o esforço orçamental nacional".

Tal só é possível se aumentarmos a comparticipação financeira da União Europeia", explicou. Segundo uma proposta apresentada em 01 de junho em Bruxelas, Portugal vai receber menos dinheiro no âmbito da PAC no próximo quadro financeiro plurianual (QFP), estando prevista uma ligeira subida nos pagamentos diretos aos agricultores.

A Comissão Europeia propôs uma verba de cerca de 7,6 mil milhões de euros no QFP 2021-2027, a preços correntes, abaixo dos 8,1 mil milhões do orçamento anterior, com uma ligeira subida nos pagamentos diretos e cortes no desenvolvimento rural.



A preços correntes, para o QFP 2021-2027, está prevista uma verba de 4,2 mil milhões de euros no primeiro pilar (pagamentos diretos) e de 3,4 no segundo (desenvolvimento rural). No arranque da PAC 2014-2020, Portugal recebeu 4,1 mil milhões de euros no âmbito do primeiro pilar e 4,082 mil milhões no segundo pilar.

De acordo com a Comissão Europeia, a PAC pós 2020 será dotada, globalmente, com um orçamento de 365 mil milhões de euros, prevendo uma nova forma de trabalhar, uma distribuição mais justa dos apoios, maiores ambições no domínio do ambiente e utilização intensiva dos conhecimentos e da inovação.