sábado, 6 de janeiro de 2018

"Vamos limpar 10 barragens até junho para aumentar as reservas"



O secretário de Estado esteve na entrega de carros elétricos às Águas de Portugal  |  ORLANDO ALMEIDA / GLOBAL IMAGENS
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Ao volante de um dos 127 carros elétricos, ontem entregues às Águas de Portugal (AdP), com financiamento do Fundo Ambiental, o secretário de Estado do Ambiente falou com o DN sobre a seca e como o país se prepara para evitar novas situações extremas como foi o abastecimento da albufeira de Fagilde, em Viseu.

Tendo em conta que a seca é já uma consequência das alterações climáticas, Carlos Martins sublinhou a importância de mudar a frota automóvel para emissões zero. Pela primeira vez ao volante de um carro elétrico, mostrou-se mais à vontade do que a gerir a passagem nas portagens da A2, entre Setúbal e a ETAR da SIMARSUL, na Quinta do Conde, Sesimbra. Fica a nota de que à parte de não se ouvir nenhum ruído do carro, não se notaram diferenças na condução.

Como está a situação de seca?

Poderemos considerar que a norte do Tejo há um certo alívio, com uma maior capacidade de reserva, graças à precipitação e com as necessidades agrícolas e de regas a ficarem reduzidas. A sul do Tejo a situação é melhor. Do ponto de vista das reservas em albufeiras, diria que a situação mantêm-se com vigilância e crítica.

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Situações como a de Fagilde estão já resolvidas?

Até abril é muito normal que a situação que estávamos a viver não volte a ter paralelo. Nessa altura vamos ter de diagnosticar qual é a reserva para o período mais seco e tomaremos decisões de outras medidas. O que pode acontecer é que até abril a precipitação acabe por estar em linha com os consumos, mas a barragem tem uma capacidade de reserva, mesmo cheia, para um período relativamente pequeno. Se ela não estiver praticamente acima dos 75% pode vir a dar problemas no final do verão.

Estão a ser estudadas alternativas para resolver a situação de Fagilde?

Através do grupo AdP, houve um trabalho técnico no sentido de encontrar alternativas em albufeiras de outros sistemas nomeadamente as Águas do Norte e as Águas do Planalto. Alternativas que do ponto de vista do financiamento, até poderiam vir a ser financiadas pelas AdP, mas para isso era necessário que os municípios decidissem aderir a uma decisão multimunicipal. No dia 10, os municípios terão uma reunião na Secretaria de Estado e vão tomar a posição que julgarem mais adequada. De qualquer maneira se optarem por serem eles a promover as obras, poderão candidatar-se - com uma solução sempre de natureza intermunicipal - a um aviso PO SEUR, que já está aberto, no valor de 75 milhões de euros, dos quais poderão vir a ter um valor entre os 20 e os 22,5 milhões de euros. Se for através das AdP, podem avançar desde já, porque as AdP têm capacidade financeira para promover algumas obras, sem prejuízo de fazer candidaturas a fundos comunitários.

Há mais casos como Fagilde?

Estamos com um calendário de várias medidas. Na próxima semana haverá reuniões com as ARH [Administração das Regiões Hidrográficas] no sentido de identificar albufeiras que ao longo dos últimos 40, 50 anos nunca foram objeto de dragagem e que têm um volume reduzido, com solos que estão no seu fundo, que pode ser dragado, aumentando a sua capacidade útil em 20 a 30%. A ideia é que possamos fazer algum desse trabalho até junho, aproveitando as albufeiras estarem com menos água, sendo mais fácil e barato. Estamos também a promover pelas ARH - até ao final do ano -, a elaboração de planos de contingência, com inventários das águas subterrâneas e dos sistemas antigos de natureza semipúblico. Estes sistemas permitiriam com uma boa manutenção, assegurar que têm qualidade para o abastecimento público e energia quando ela é precisa. Permitindo que em situações de constrangimentos noutros sistemas vir a utilizar os antigos como reforço. Através da APA [Agência Portuguesa do Ambiente] vamos realizar um plano estratégico nacional para a reutilização das águas residuais tratadas nas 50 maiores ETAR, responsáveis por tratar 80% dos caudais, vamos fazer um programa de ação, no sentido de poder durante o ano de 2019 financiar projetos para a reutilização de águas tratadas. Num primeiro período de cinco anos pretendemos atingir 10%, e nos cinco anos seguintes os 20%. Durante 2018, vais ser também aprovado um novo regulamento quer dos sistemas prediais de água, quer dos sistemas públicos que vão permitir soluções mais inovadoras, com vista a possibilitar a reutilização sem constrangimentos técnicos ou o uso de dispositivos em casa que permitam um uso mais eficiente da água. Queremos ainda, através de um aviso do PO SEUR pôr à disposição dos municípios 20 a 30 milhões de euros para o controlo de perdas...

...há a consciência que existem muitas perdas dos municípios.

E é uma constatação. Importa também dizer que essas perdas não podem ser todas imputadas a perdas físicas, porque muitas delas são perdas comerciais. Ou seja, há um conjunto que são de facto perdas físicas, de má utilização da água em determinados usos, outras são perdas em que as câmaras, entidades gestoras, acabam por prestar serviços em determinadas instalações que não dispõem ou de contadores para depois serem debitados ou o próprio sistema comercial não funciona devidamente. A não substituição regular de contadores pode induzir perdas 5 a 10%.

Com o somatório de todas estas medidas, pensamos encontrar uma capacidade de poupança que nos permita atravessar períodos críticos com maior tranquilidade. Vamos manter as campanhas de comunicação e de sensibilização para o uso eficiente por parte dos cidadãos e se cada um de nós, tiver um comportamento mais adequado a lidar com a água nas nossas casas, podemos facilmente poupar valores entre 15 a 20%, que somados no contexto nacional podem representar o adiamento de investimentos significativos que permitem com as infraestruturas já existentes ultrapassar períodos críticos.

Falou de albufeiras que não são dragadas há anos. Qual é a estimativa para o número de intervenções?

Algumas nunca foram dragadas. Já identificamos três passíveis de intervenção pela ARH Alentejo, porque essa já entregou o trabalho, as outras têm como prazo para entregar o trabalho, a próxima sexta-feira. Mas a nossa expectativa é que esse número possa andar próximo de 10 albufeiras e estamos muito motivados para, nessas, intervirmos até ao final do mês de junho.

Há razão para manter a desconfiança em relação a Espanha e o cumprimento dos caudais dos rios ibéricos?

Do ponto de vista dos caudais eles têm vindo a ser respeitados, têm vindo a ser monitorizados e muito acompanhados pela APA e, portanto, não há motivos para pensar que do ponto de vista quantitativo não há cumprimento do acordo. Há aspetos qualitativos que teremos que estar atentos, há evidências que sobretudo o fósforo apresenta valores acima daquilo que seria desejável.

Em todos os rios?

De uma maneira geral o fósforo, mercê até da difusão que resulta da atividade agrícola, acaba por ser sempre mais difícil de controlar e a sua ocorrência nas análises, mostra algum caráter crítico. Quase sempre acima daquilo que era desejável. Temos encetadas conversações, no sentido, de fazer uma reflexão em torno dos aspetos qualitativos. Para já, não há evidência que as autoridades espanholas não estejam a cumprir as disposições que regulam a relação entre os nossos dois países e, portanto, vamos manter essas conversações ao nível que julgamos adequado.

Herdade Maria da Guarda bate novo recorde de produção de azeite

 Herdade Maria da Guarda 1 / 2D.R. Virgínia Alves 05.01.2018 / 08:39 

Produção total da Herdade Maria da Guarda representa na campanha 2017/18 cerca de 2% da produção nacional. 

A Herdade Maria da Guarda bateu um novo recorde de produção, com 2 milhões de quilos de azeite, e dessa forma a campanha 2017/18 representa cerca de 2% da produção nacional, o que mantém esta a casa agrícola do Alentejo no top dos produtores portugueses. Para João Cortez de Lobão, acionista da Casa Agrícola Cortez Lobão, "num ano em que muitos setores da agricultura foram fortemente afetados pela seca, conseguimos ter uma colheita muito boa e aumentar novamente a produção de azeite na Herdade Maria da Guarda. 

Voltamos a focar-nos na exportação e notamos uma maior procura internacional, que reconhece a qualidade do nosso azeite e que não consegue produzir em quantidade suficiente". 
O azeite produzido destina-se na totalidade à exportação, tendo como principais mercados Itália – o maior exportador do mundo de azeite embalado, mas que tem registado sucessivas quebras de produção própria. Os grandes embaladores italianos têm cada vez mais vindo procurar em Portugal azeite de qualidade superior. O acionista acrescenta, que "a Olivum, de que a Herdade Maria da Guarda faz parte, deverá ter registado entre os seus associados um valor recorde superior a 250 milhões de euros de produção na presente campanha". 

E, adianta que "este é claramente um sector em crescimento que contribui fortemente para a produção agrícola nacional e consegue atrair novos talentos para o sector e criar mais emprego na região". Planta mais 120 mil oliveiras Os valores de produção desta campanha estão associados a um ciclo de investimentos efetuados pela Herdade Maria da Guarda num valor a rondar os 5 milhões de euros, consubstanciados na aquisição de mais terrenos na região; na plantação de mais 120 mil oliveiras – aumentando o olival para 1,3 milhões de oliveiras –; na aquisição de uma máquina "apanhadora cavalgante" e de dois novos tratores, para além da contratação de novos colaboradores. 

Este novo investimento "vai-nos permitir aumentar o olival, beneficiar diretamente a produtividade e a rapidez com que apanhamos a azeitona e a transportamos para o lagar, preservando a qualidade da azeitona, e aumentar a eficiência da capacidade instalação do nosso lagar", conclui João Cortez de Lobão. Também conhecido por "ouro líquido", o azeite é um dos produtos com mais qualidade produzidos em Portugal e a Herdade Maria da Guarda, pela sua dimensão, volta a ser responsável por cerca de 2% da produção nacional, reforçando assim a sua posição enquanto empresa portuguesa independente, das maiores e mais eficientes na produção de azeite. 

Em conjunto com o seu lagar, o olival produz 100% de azeite virgem extra, de qualidade superior e com acidez entre 0,2 e 0,5%. A Herdade Maria da Guarda contribui também para uma pegada ecológica positiva. As 1,3 milhões de oliveiras da Herdade Maria da Guarda produzem anualmente oito toneladas de oxigénio para o país. Cada duas oliveiras, por exemplo, limpam da atmosfera a poluição anual de um automóvel. e bate novo recorde de produção Situada no Alentejo, a Herdade Maria da Guarda beneficiada pelos canais de distribuição de água da Barragem do Alqueva e pelo tipo de olival em sebe que aumentou e está plantado ao longo de 2000 km de mangueiras de rega gota-a-gota nos seus terrenos, conseguiu obter melhorias de eficiência na presente campanha.

Primeiro-ministro defende revitalização do interior e critica fecho de serviços

"Quem defendeu e decidiu o encerramento está hoje na primeira linha da defesa da reabertura desses serviços", declarou António Costa.

LUSA 5 de Janeiro de 2018, 18:47 Partilhar notícia


O primeiro-ministro, António Costa, defendeu nesta sexta-feira, em Lisboa, a revitalização do interior do país e criticou o encerramento de serviços por anteriores governos, nomeadamente na área da Justiça.

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"Relativamente ao interior - que hoje toda a gente diz que tem de estar no centro das prioridades - convém lembrar que ainda há muito pouco tempo, as decisões que eram tomadas eram do encerramento dos serviços", disse o primeiro-ministro durante a cerimónia de apresentação das cinco carrinhas do Espaço Cidadão Móvel, que vão percorrer o país.

"Vejo com grande satisfação que mesmo quem na altura defendeu e decidiu o encerramento desses serviços está hoje na primeira linha da defesa da reabertura desses serviços", declarou António Costa. António Costa citou como "caso exemplar" o que aconteceu na área da Justiça: "Depois de uma reforma judiciária que encerrou muitos tribunais, foi possível abrir mais 20 novos juízos de proximidade, alargar o número de actos que podem ser praticados e, ao fim de um ano, podemos verificar que foram atendidas presencialmente mais de 45 mil pessoas e realizados mais de mil julgamentos" nestas instâncias.

Para o governante, os números mostram que os serviços eram efectivamente necessários. "E são necessários. E se queremos revitalizar esta zona do nosso território, a primeira condição que temos de ter é não retirar o Estado desse território", frisou.

"Quando começamos a retirar o Estado temos menos um motivo para que as pessoas possam viver nesse território. Num território onde as pessoas não vivem é um território onde não há vida e que naturalmente vai falecer", acrescentou.

As carrinhas dotadas de serviços públicos vão começar agora a circular pelo país, inicialmente pela região centro para apoiar as populações afectadas pelos incêndios. Espaço Cidadão Móvel é o nome da iniciativa, com a qual se pretende desenvolver um serviço público de proximidade, complementar aos existentes nos centros urbanos.
Os serviços disponibilizados vão desde a Segurança Social à Justiça, passando pelas Finanças, Agricultura, Infra-estruturas e Saúde. O objectivo é levar os serviços aos cidadãos, tentando responder às necessidades das populações sem que estas tenham de deslocar-se a outras sedes.

Será disponibilizada informação sobre apoios sociais às populações afectadas pelos fogos, prestações sociais atribuídas pela Segurança Social, apoios disponíveis para empresas danificadas pelo fogo e também para empregabilidade. Estes serviços visam igualmente sinalizar necessidades de acompanhamento social ou médico e emitir certidões. Há também a possibilidade de agendamento.

Será possível requisitar documentos de identificação ou pedir uma segunda via do certificado de matrícula, bem como obter informação sobre a situação dos veículos ardidos. Renovação da carta de condução, emissão do registo criminal e entrega de despesas médicas para reembolso pela ADSE são alguns dos serviços disponibilizados.

Estará disponível informação de apoio a agricultores para reposição do potencial produtivo. No local, estarão técnicos dos vários serviços, nomeadamente da Segurança Social, do Instituto de Registos e Notariado, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas respectiva e da Agência para a Modernização Administração.

Agricultores sem conta bancária ainda não receberam verbas dos incêndios de 15 de Outubro

Uma associação de vítimas dos incêndios de 15 e 16 de Outubro acusa o Governo de ainda não ter disponibilizado o apoio de cinco mil euros a mais de 50% dos agricultores afectados. O Ministério da Agricultura diz que só falta pagar aos que não têm conta bancária.


Bruno Simões Bruno Simões brunosimoes@negocios.pt
04 de janeiro de 2018 às 19:10

Quase três meses depois dos incêndios que afectaram a região Centro a 15 e 16 de Outubro do ano passado, o Governo ainda não transferiu as verbas de apoio para "mais de 50% dos agricultores" que as solicitaram, denunciou ao final desta tarde o Movimento Associativo de Apoio às Vítimas dos Incêndios de Midões (MAAVIM), no concelho de Tábua. A associação diz ainda que "foram cortados mais de 10 milhões de euros" dos pedidos submetidos. 


O Governo, por seu turno, nega que assim seja e diz que os mais de 13.782 agricultores (65% do total) que ainda não receberam são os que não têm conta bancária. Esses agricultores vão receber por vale postal 75% da verba que lhes foi atribuída até ao próximo dia 8 de Janeiro (cinco dias úteis após a emissão). O Ministério da Agricultura diz que é "completamente alheio" a este atraso dos CTT, até porque o dinheiro deveria começar a ser entregue desde que o pagamento foi desbloqueado, no final do ano passado.
 

Em comunicado, o MAAVIM sublinha que não concorda com o apoio de cinco mil euros que foi disponibilizado como "única alternativa" pelo Governo e nota que "muitos desses agricultores tiveram dezenas de milhares de euros de prejuízos", pediram os referidos cinco mil euros e retiraram das candidaturas "árvores, animais, equipamentos, e áreas de construção". Porém, terão existido outros critérios na avaliação dos pedidos, daí terem sido cortados os referidos 10 milhões de euros.

 
Ao Negócios, o fundador do MAAVIM, Fernando Tavares Pereira, queixa-se do tecto de cinco mil euros. "As pessoas não pediram ajuda para o montante total dos seus prejuízos. Imagine que um pavilhão teve estragos que custavam oito ou 10 mil euros a reparar: as pessoas reduziram os metros quadrados para os quais pediram apoio e o Governo, em vez de pagar a 180 euros o metro quadrado, pagou a 40 ou 50 euros", denuncia, acusando o Governo, as autarquias e as CCDR de "só dificultarem a vida de quem foi afectado pelos incêndios".


Actualmente, ainda segundo o comunicado, "80 dias depois dos incêndios", as casas de primeira habitação "ainda estão sem as obras adjudicadas" e as de segunda habitação "continuam sem qualquer apoio". Adicionalmente, "as empresas estão sem os apoios prometidos e a floresta está deserta de apoios ao seu funcionamento, com a ausência de parques de recepção de biomassa e de medidas de apoio à limpeza".

 

É "quase impossível conduzir nas estradas locais sem se passar em terra ou bater em bocados de árvores espalhadas nas estradas", denuncia o referido movimento, que exige que as candidaturas sejam reabertas e que sejam abertas "imediatamente linhas de apoio para a floresta e para as habitações que não sejam de primeira habitação".

 

Governo garante que vai pagar 53,6 milhões até dia 8

Fonte oficial do Ministério da Agricultura garante ao Negócios que dos 20.629 agricultores que apresentaram candidaturas a este apoio, 6.844 já receberam o dinheiro nas suas contas bancárias. Faltam apenas os 13.782 que não têm conta no banco e vão, por isso, receber o pagamento pelo correio. No total serão entregues 53,6 milhões de euros a estes agricultores, sendo que a esmagadora maioria dos pedidos (14.604) foi para verbas entre 1.054 e 5.000 euros.


Os agricultores que pediram estes montantes de apoio receberão no imediato 75% da verba que lhes foi atribuída, com os restantes 25% a serem atribuídos após uma validação dos serviços no terreno. Os 6.025 agricultores que pediram um apoio até 1.053 euros vão receber o dinheiro na totalidade de uma só vez. A mesma fonte explica que existem valores tabelados para os bens para os quais é pedido apoio, sendo por isso "possível" que os agricultores tenham apresentado despesas que não foram aceites pelo Executivo.

Fernando Tavares Pereira, que falou com o Negócios após uma reunião com assessores do Presidente da República, reclama uma linha de financiamento para os prejuízos que não são abrangidos por qualquer tipo de apoio e pede a reabertura das candidaturas para esta linha.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Vai haver mais sobreiros em todo o país


01.01.2018 às 16h00

A indústria corticeira quer expandir a área de montado. O objetivo é produzir mais e importar menos

No dia de Natal, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, plantou um sobreiro em Figueira, Pedrógão Grande, à espera de ter, dentro de uma década, "um símbolo bem frondoso" na terra marcada pelo incêndio de junho último. Por essa altura, a Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) espera ter, também, mais sobreiros em território nacional, de norte a sul.

Hoje, 84 em cada 100 sobreiros estão no Alentejo, mas a fileira da cortiça olha atentamente para todo o país. Vê oportunidades em Arouca, afetada por incêndios em 2016, em Trás-os-Montes, na região centro. "Vemos o território nacional sem espartilhos. Estamos a falar de uma árvore autóctone que se adapta às diferentes zonas do país, e há trabalhos em curso para perceber quais são as melhores áreas de plantação, em que solos temos melhor nível de crescimento", afirma João Rui Ferreira, presidente da APCOR.


O objetivo a curto prazo é aumentar a fatia de 23% da área de sobreiro na floresta portuguesa. Não há um indicador de crescimento definido, mas existe um estudo sobre o futuro da fileira que fala em reforçar com 50 mil hectares a atual área de montado (737 mil hectares) usando novas técnicas de subericultura para aumentar a densidade da plantação e a produtividade. Há a convicção de que a reforma da floresta traz novas oportunidades, e esta é uma espécie em que faz sentido apostar num cenário de aquecimento global. E, com a popularidade da cortiça em alta, "seria mau não ter matéria-prima disponível para responder ao mercado", acrescenta o dirigente associativo, certo do potencial de crescimento dos sobreiros num país que produz cerca de 85 mil toneladas de cortiça por ano e tem de importar mais 66 mil toneladas.

No terreno, há já alguns sinais de mudança. Em 2016, a Corticeira Amorim anunciou uma parceria com 10 produtores para plantar 500 hectares de sobreiro em regadio. O projeto solidário Renascer, lançado no universo da cerveja artesanal, através das marcas Letra e Rapada, para ajudar na reflorestação, traz 10 mil árvores, sobreiros incluídos. O projeto Floresta Comum, que junta a associação ambientalista Quercus e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, envolve mais 211 mil plantas, 10% das quais são sobreiros. Através do programa de reciclagem de rolhas Greencork, o reinvestimento na plantação de árvores autóctones soma mais de 25 mil sobreiros em dois anos.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Um quarto do planeta ficará mais seco mesmo que se cumpra Acordo de Paris

Pelo menos um quarto da superfície terrestre ficará "consideravelmente" mais seco, mesmo que seja atingido o objectivo de manter o aquecimento global abaixo dos 2º Celcius como prevê o Acordo de Paris, revela um estudo divulgado esta segunda-feira.

Um quarto do planeta ficará mais seco mesmo que se cumpra Acordo de Paris

01 de janeiro de 2018 às 18:55

Nos termos do Acordo de Paris, os estados comprometeram-se a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa para manter o aumento da temperatura média global abaixo dos 2º C em relação à era pré-industrial e a continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5º C.

No entanto, com base nos compromissos nacionais, o planeta ainda está em direcção a um aumento global da temperatura de 3° C.

Segundo o estudo, publicado na revista Nature Climate Change, um quarto do planeta, afectando mais de 25% da população mundial, viverá num estado de crescente desertificação se a temperatura terrestre aumentar 2º C.

Por outro lado, o estudo aponta que, se o aumento da temperatura global for de 1,5º C, isso iria reduzir significativamente o número de regiões do planeta afectados por este processo de seca progressiva, que é medido através da combinação dos valores de precipitação com a evaporação.

Se o alvo de 1,5° C fosse atingido, partes do sul da Europa, África do Sul, América Central, costa australiana e sudeste da Ásia (áreas que acolhem hoje mais de 20% da população mundial) evitariam uma aridez significativa", disse um dos autores do estudo, Su-Jong Jeong, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Shenzhen, na China.

Os cientistas que conduziram o estudo basearam-se em projecções de vários modelos climáticos.

Segundo os cientistas, com um aumento das temperaturas de 2° C, entre 24% a 32% da superfície da Terra ficaria mais seca do que actualmente, situação que poderá verificar-se entre 2052 e 2070.

No entanto, se o objectivo de 1,5° C fosse atingido, apenas 8% a 10% da terra ficarão mais secos, disse Su-Jong Jeong.

À medida que os territórios se tornam mais secos, a degradação dos solos e a desertificação aceleram, assim como a perda de biodiversidade, incluindo as plantas e as árvores necessárias para absorver o CO2, responsável pelas mudanças climáticas.

Este processo aumenta também os fenómenos de secas e incêndios.

domingo, 31 de dezembro de 2017

Agricultura vertical ganha terreno

 29.12.2017 17h50

A agricultura vertical está a ganhar terreno no Médio Oriente como forma de combater as alterações climáticas.

Este tipo de cultivo consiste na organização, de forma vertical, dos alimentos para um melhor aproveitamento dos espaços.

A temperatura e a luz são controladas e adequadas à produção, o que permite que se gaste menos água e evita o desperdício.

Surge como uma alternativa à agricultura tradicional, ameaçada pelas alterações climáticas e por terrenos cada vez menos férteis.

No Dubai, foi agora criada a primeira quinta vertical da região do Golfo, num país que, de acordo com os dados oficiais, só no ano passado importou 34 mil toneladas de comida.

Ano de 2017 foi o segundo mais quente dos últimos 86 anos


O ano de 2017 é o segundo mais quente dos últimos 86 anos e está entre os quatro mais secos desde 1931, revela o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Ano de 2017 foi o segundo mais quente dos últimos 86 anos

30 de dezembro de 2017 às 18:56

O balanço climático preliminar do IPMA adianta que o ano de 2017 classifica-se como "extremamente quente" e o valor de temperatura média do ar será de mais 1.1 graus superior ao valor normal, correspondendo ao segundo ano mais quente desde 1931.

De acordo com o IPMA, o ano mais quente foi 1997, tendo os cinco anos mais quentes ocorrido nas últimas três décadas.

Também este ano, a temperatura máxima, cerca de mais 2.4 graus superior ao valor normal, será a mais alta desde 1931, ultrapassando em cerca de um grau o anterior máximo (1997).

O IPMA destaca os valores de temperatura máxima e média do ar persistentemente acima do normal ao longo do ano, em especial nos meses de Abril, Maio, Junho e Outubro.

O balanço climático preliminar indica também que o ano de 2017 foi "extremamente seco" e estará entre os quatro mais secos desde 1931, tendo todos ocorrido depois de 2000.

Segundo o IPMA, o valor médio de precipitação total anual será cerca de 60% do normal.

"O período de Abril a Dezembro, com anomalias mensais de precipitação persistentemente negativas, será o mais seco dos últimos 87 anos", lê-se no documento disponível na página da internet daquele organismo.

 

O IPMA sublinha igualmente que Dezembro será o nono mês consecutivo com valores de precipitação mensal inferiores ao normal e, em 2017, apenas nos meses de Fevereiro e Março a precipitação foi superior ao normal.

O mesmo documento nota que, ao longo deste ano, a conjugação da persistência de valores de precipitação muito inferiores ao normal e de valores de temperatura muito acima do normal, em particular da temperatura máxima, teve como consequência "a ocorrência de valores altos de evapotranspiração e valores significativos de défice de humidade do solo".

A 27 de Dezembro, apesar dos valores de água no solo terem aumentado em relação ao final de Novembro, são ainda inferiores a 40% nas regiões do interior centro e do sul do país, adianta o balanço, frisando, que no final de Dezembro mantém-se a situação de seca meteorológica ainda que, em relação à situação a 30 de Novembro, se tenha verificado uma diminuição da intensidade nas regiões do norte e centro.

O IPMA precisa que nas regiões do interior centro e do sul os valores de precipitação foram muito inferiores ao normal e insuficientes para se verificar um efectivo desagravamento da intensidade da seca.

De acordo com o índice meteorológico de seca – PDSI, em Dezembro verificou-se, relativamente a 30 de Novembro, um desagravamento da intensidade da seca meteorológica, com cerca de 60% do território (regiões a sul do sistema montanhoso Montejunto-Estrela) nas classes de seca severa e extrema, refere ainda o documento.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Carro abandonado com porcos furtados mortos na mala


Carro abandonado tinha pneu furado


A GNR procura o dono de uma viatura abandonada ao início da madrugada desta sexta-feira, numa via municipal conhecida como a Estrada da Carocha, em Beja, com quatro porcos mortos na mala. Os animais foram furtados de uma exploração, perto de Alvito, a cerca de 35 quilómetros do local. Foram mortos com uma marreta.

A viatura tinha um furo na roda dianteira esquerda e foi abandonada a cerca de dois quilómetros da zona industrial e do perímetro urbano da cidade de Beja. Segundo apurou o JN, os suspeitos fugiram a pé depois de avistarem uma viatura da GNR que patrulhava a zona.

Foi através das etiquetas de marcação dos animais que as autoridades conseguiram chegar ao seu proprietário, que esteve no local e já apresentou queixa contra desconhecidos no posto da GNR de Beja. A viatura foi apreendida.

Ela vai liderar 2000 grupos que fazem mexer o mundo rural

Maria João Botelho, presidente da LEARD - Associação Europeia Leader para o Desenvolvimento Rural e da Federação Minha Terra. 

À porta de uma presidência europeia, Maria João Botelho diz que Portugal não está a aproveitar os seus territórios rurais. 

A partir de segunda-feira há uma portuguesa à frente do principal organismo europeu que reúne as associações responsáveis no terreno, pela dinâmica do desenvolvimento rural. É conhecido pela sigla LEARD. Só em Portugal, estes grupos já ajudaram a criar 15 mil postos de trabalho. Ser arquiteta paisagista, engenheira agrónoma e presidente da Federação Minha Terra, depois de ter sido autarca e fundadora de várias associações locais, eis as valências que terão pesado na escolha de Maria João Botelho para o novo cargo europeu, em 2018 e 2019. 

Apesar da mudança de escala na abordagem, Maria João Botelho não perde de vista a origem. Admite que "Portugal não está a tirar todo o partido dos seus territórios rurais e a valorizá-los", embora reconheça haver "sinais que nos levam a pensar que as coisas podem mudar". Convencida de que "é preciso investir no interior", simplifica a receita: "É necessário criar condições para que as pessoas que querem viver e trabalhar nestes territórios possam ter uma qualidade de vida, pelo menos, tão boa como aquelas que moram nas cidades." 

Em entrevista ao Dinheiro Vivo, sublinha a imperiosidade de se "olhar para o interior com novos olhos, valorizando os serviços prestados pelos diferentes ecossistemas e pela paisagem no seu todo, e não apenas como territórios de produção agrícola e florestal". Acredita que, com as linhas subjacentes à futura Política Agrícola Comum (PAC), "há que aproveitar as possibilidades da agenda digital para atrair para os territórios do interior atividades económicas e serviços que antes implicavam investimentos físicos muito maiores". No entanto, assume que os 25 anos de intervenção dos programas Leader em Portugal são motivo de "orgulho". 

A face visível das quatro gerações do programa traduziu-se em apoios a mais de 22 mil projetos, com um investimento de 1400 milhões de euros e a criação de 15 mil postos de trabalho, desde 1991 até ao final do período de programação anterior. Na prática, foram projetos na área da agricultura, da restauração, do turismo, de pequenas unidades de transformação que, "muitas vezes, mudaram a vida dos promotores, ao criarem o seu próprio emprego", a que se juntam outras iniciativas de caráter coletivo, de respostas sociais e culturais. 

Por tudo isso, Maria João Botelho aceita: "Talvez estes dados não constem dos relatórios oficiais de avaliação, mas achamos que os territórios rurais estão diferentes, para melhor, e que nós contribuímos muito para isso." Como o Leader não pôde beneficiar das regras de transição aplicadas a muitas medidas do PDR 2020, só em junho de 2016 é que foram abertos os primeiros concursos para as medidas geridas pelos grupos de ação local. 

Mesmo assim, revela que existe "um grande interesse por parte de investidores de pequenos projetos de desenvolvimento nos territórios rurais em aproveitar estes fundos, tanto no que diz respeito às áreas mais ligadas ao setor agrícola como em outras", e estima que "os envelopes financeiros atribuídos às estratégias dos GAL se vão esgotar no decurso de 2018". 

Quanto ao impacto dos incêndios nas áreas abrangidas pelo programa Leader, adianta que "enviou alertas e propostas concretas às tutelas no sentido de se flexibilizarem as condições de acesso e regras de execução para que os programas pudessem responder melhor às necessidades imediatas", incluindo a reformulação de estratégias de desenvolvimento. Mas nota que, "a nível dos projetos individuais, nalguns casos, os próprios investimentos foram destruídos e o projeto perdeu-se". 

Tragédias nacionais à parte, e de horizonte agora alargado para uma intervenção europeia, Maria João Botelho já identificou duas grandes áreas de trabalho: a definição de políticas públicas adequadas ao desenvolvimento local e o reforço da própria rede europeia dos grupos Leader. Com uma ambição: "Gostaríamos de ser recordados na Europa por termos conseguido trazer mais-valias para os territórios rurais de todo o continente e também queremos ser recordados no nosso próprio país como uma entidade que conseguiu, na sua função na Europa, trabalhar em prol dos territórios rurais nacionais."

Agricultores afetados pelos fogos de 15 de outubro começam esta sexta-feira a receber apoios


29/12/2017, 20:19
Os agricultores afetados pelos incêndios de outubro começam a receber os apoios esta sexta-feira. O Ministério da Agricultura vai pagar 37,68 milhões de euros, de um total de 50,2 milhões.


Os agricultores afetados pelos incêndios de 15 de outubro começam esta sexta-feira a receber os apoios, com o Ministério da Agricultura a proceder ao pagamento de 37,68 milhões de euros, de um total de 50,2 milhões de euros, informou a tutela.

O Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural anunciou que procede esta sexta-feira "ao pagamento de 37,68 milhões de euros a 14.542 agricultores" afetados pelos incêndios que deflagraram a 15 de outubro e que apresentaram declarações de prejuízos entre os 1.054 e os 5.000 euros.



Segundo uma nota do Ministério enviada à agência Lusa, "os agricultores dos concelhos de Oliveira do Hospital, Tondela, Arganil, Santa Comba Dão e Vouzela concentram metade da verba agora atribuída".

Os 37,68 milhões de euros agora pagos pelo Ministério da Agricultura correspondem a 75% do valor da totalidade do pagamento que será efetuado a estes agricultores (50,2 milhões de euros), sendo que o restante será pago "após a conclusão das ações de controlo, em curso, das candidaturas apresentadas", explica o gabinete do ministro Capoulas Santos.

De acordo com a tutela, 55% deste valor "é pago diretamente através de transferência bancária para a conta dos agricultores, sendo os restantes 45% pagos por vale postal, no prazo de cinco dias úteis, a 6.650 agricultores que não possuem conta bancária".

Aos 37,68 milhões de euros agora pagos pelo Ministério da Agricultura acresce o montante de 3,78 milhões de euros, pago pelo Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social a 6.025 agricultores que registaram prejuízos até 1.053 euros.

"Na totalidade, o Governo atribui agora o valor de 41,5 milhões de euros a 20.567 agricultores afetados pelos incêndios de 15 de outubro com prejuízos até cinco mil euros", sublinha a tutela, na nota de imprensa, realçando que tal só foi possível graças à "dedicação dos funcionários do Ministério, assim como o empenho das organizações de produtores e das autarquias envolvidas".


Governo quer tirar saleiros das mesas e incentivar alimentos biológicos nas compras públicas


Além da redução do sal, o executivo assinou protocolos com a indústria alimentar para reduzir o tamanho dos pacotes de açúcar e aprovou a tributação das bebidas adicionadas de açúcar.

LUSA 29 de Dezembro de 2017, 13:11 Partilhar notícia
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 O consumo excessivo de sal está associado à hipertensão arterial e à doença cerebrovascularFoto
O consumo excessivo de sal está associado à hipertensão arterial e à doença cerebrovascular 

O Governo quer retirar os saleiros das mesas dos restaurantes, estender a todos os organismos do Estado as restrições de venda de alimentos nas máquinas automáticas e incentivar as opções pela produção biológica nas compras públicas. De acordo com a Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudável (EIPAS), publicada, esta sexta-feira, em Diário da República, pretende-se também incentivar as empresas do sector agro-alimentar a reduzir o tamanho das porções dos alimentos e bebidas pré-embaladas.

Entre outras medidas propostas pelo grupo de trabalho criado em 2016 para elaborar esta estratégia estão igualmente a existência de dispensadores de água gratuitos ou a distribuição de água nos serviços e organismos da administração directa e indirecta do Estado, promovendo o seu consumo.

É ainda proposto o alargamento das orientações já existentes para a oferta alimentar em meio escolar e provenientes do Ministério da Educação a todos os níveis de ensino, nomeadamente ao ensino superior, e das orientações para os refeitórios escolares relativas ao sal iodado a outras cantinas e refeitórios, além das escolas.

A EIPAS prevê igualmente que se alarguem as políticas de limitação do volume e oferta dos pacotes de açúcar individuais à totalidade dos agentes económicos responsáveis pela refinação e distribuição do açúcar e que se incentive o sector da restauração a evitar a disponibilização de bebidas açucaradas na modalidade free refill (livre enchimento).

"Verifica-se ainda uma significativa disponibilidade de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, sal adicionado e gorduras. A evidência científica demonstra que o elevado consumo de açúcar está relacionado com a prevalência de doenças crónicas como a obesidade e a diabetes, estando por seu lado o consumo excessivo de sal associado à hipertensão arterial e à doença cerebrovascular", lê-se no diploma.

No texto publicado, esta sexta-feira, em DR, as autoridades sublinham ainda que "os estudos científicos demonstram também que a prevalência destas doenças é muito elevada na população portuguesa, sendo que cerca de 1 em cada 4 portugueses possui hipertensão arterial e 1 em cada 10, diabetes".

"Actualmente, e em Portugal, os hábitos alimentares inadequados são o factor de risco que mais contribui para o total de anos de vida saudável perdidos pela população portuguesa (15,8%) e um determinante importante da doença crónica, representando mais de 86% da carga de doença no nosso sistema de saúde", refere o documento.

A EIPAS, dividida em quatro eixos principais e que envolve ministérios como o da Saúde, Agricultura, Mar, Administração Interna, Educação, Economia e Finanças, propõe igualmente que nos eventos públicos organizados pelos serviços e organismos da administração directa e indirecta do Estado exista obrigatoriamente a oferta de água, fruta e ou produtos hortícolas.

O Governo quer ainda incentivar a adopção de medidas pelos operadores económicos para limitar a publicidade destinada a menores de idade de produtos alimentares com excesso de sal, açúcar, gordura, nomeadamente trans, e energia em eventos em que participem menores, designadamente actividades desportivas, culturais e recreativas.

A estratégia prevê também a construção de um portal de informação sobre o pescado e o seu valor nutricional, com materiais interactivos para o sistema de ensino, e propõe o alinhamento das prioridades de financiamento das linhas de investigação nos laboratórios do Estado e agências de financiamento com as prioridades nacionais da área da promoção da alimentação saudável.

No âmbito da alimentação saudável, depois de ter criado novas regras para os alimentos a disponibilizar nas máquinas automáticas de venda nas unidades de saúde e nas escolas, o Governo assinou protocolos com a indústria alimentar para reduzir o tamanho dos pacotes de açúcar, e com os industriais de panificação para reduzir o teor de sal no pão, além de ter aprovado a tributação das bebidas adicionadas de açúcar ou outros edulcorantes.

Na quinta-feira, através de um despacho publicado em DR, o Governo decidiu proibir os salgados, produtos de charcutaria bolos e refrigerantes, entre outros, nas unidades de saúde públicas.

ASAE instaura processos a 23 escolas por falta de condições nas cantinas


Fiscalização decorreu nas últimas semanas do 1.º período e envolveu 129 escolas.

CLARA VIANA 29 de Dezembro de 2017, 16:45 Partilhar notícia

A maior parte ndas cantinas escolares está concessionada a uma empresa particular NELSON GARRIDO
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A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) instaurou 23 processos a escolas na sequência de uma operação de fiscalização a nível nacional que teve como alvo as cantinas escolares, revelou nesta sexta-feira aquele organismo.

Foram inspeccionadas 129 escolas de todos os níveis de ensino, do sector público e privado, numa acção que decorreu nas últimas semanas do 1.º período. Os processos instaurados são de natureza contra-ordenacional, podendo por isso os visados serem sujeitos ao pagamento de coimas.

ASAE encontra alimentos podres em cantinas escolares e abre processos crime

Em declarações ao PÚBLICO, a inspectora da ASAE Ana Oliveira esclareceu que a maior parte das irregularidades detectadas se devem não cumprimento das regras de higiene e segurança alimentar, sendo as mais frequente a falta de limpeza e o não cumprimento das temperaturas de conservação dos alimentos. Outra das irregularidades detectadas diz respeito à falta de inspecção periódica à instalação de gás.

Uma cantina encerrada
No âmbito desta acção foi ainda suspensa a actividade de uma cantina "por incumprimento dos requisitos gerais e específicos de higiene". Ana Oliveira escusou-se a identificar a escola em que tal se passou, mas indicou que a cantina terá condições para reabrir no início do 2.º período, em Janeiro.

Segundo a inspectora, esta fiscalização não foi motivada pelas recentes denúncias sobre a má qualidade dos alimentos nas cantinas escolares já que decorreu das actividades regulares desenvolvidas pela ASAE.   

Os protestos contra a má qualidade dos alimentos nas cantinas, e a pouca quantidade servida aos alunos, tiveram um novo pico no 1.º período depois de a Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (Ferlap) ter divulgado, em Outubro, várias fotografias que davam conta, por exemplo, de almoços que consistiam em rissóis crus. "Há escolas onde é possível contar os grãos de arroz que estão no prato. Na semana passada uma mãe contou que houve uma refeição apenas de arroz com feijão", lamentou então o presidente da Ferlap, Isidoro Roque.

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A maior parte das cantinas escolares foi concessionada à empresa Uniself. Em declarações recentes ao PÚBLICO, o presidente do Conselho de Administração da empresa, Mateus Alves, indicou que as queixas "estão a ser analisadas com especial atenção" e garantiu que as práticas de produção de refeições "estão em conformidade com padrões muito elevados de segurança e de qualidade".

Na sequência desta polémica, o Ministério da Educação anunciou que vai reforçar a fiscalização das cantinas.

Há mais pessoas com fome no mundo


De
Euronews

Últimas notícias: 29/12/2017

O relatório da ONU revela que há mais pessoas a passar fome, a maioria vive em países em guerra

 
 Há mais pessoas com fome no mundo

Em queda ao longo de mais de uma década, a fome está de novo a ganhar terreno. A culpa é das alterações climáticas e da proliferação de conflitos. Pelo menos é o que revela o mais recente relatório das Nações Unidas sobre segurança alimentar.

Em 2016, afetou mais de 800 milhões de pessoas, o que equivale a cerca de 11 por cento da população. No espaço de um ano, a fome atingiu mais 38 milhões de pessoas. Entre elas estão, por exemplo, os refugiados de etnia rohingya, uma das minorias mais perseguidas no mundo.

"Em 2017, o Programa Mundial Alimentar das Nações Unidas teve de dar resposta a um número de situações de emergência sem precedentes, essencialmente, causadas por conflitos ou por questões políticas não resolvidas" Ramiro Lopez da Silva, da WFP.

O documento revela que cerca de metade dos mais 800 milhões de pessoas com fome no mundo, vivem em zonas de conflito como é o caso da Síria. Só no leste de Alepo, o Programa Mundial Alimentar das Nações Unidas presta ajuda a 3.500 famílias.

Na Síria, tal como noutros países em guerra, cerca de 155 milhões de crianças, com menos de cinco anos, registam atrasos de crescimento.

De acordo com o documento é na Ásia que mais pessoas passam fome. África aparece em segundo lugar. Segue-se a América Latina e as Caraíbas.

O relatório é publicado por três agências da ONU: a Organização para a Alimentação e Agricultura, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e o Programa Mundial Alimentar, a que se juntaram pela primeira vez a UNICEF e a Organização Mundial de Saúde.

Reforma florestal 2017 – o início de uma nova realidade ou mais uma oportunidade perdida?

António Bento Gonçalves
29 de dezembro de 2017 às 09:30

Os espaços florestais, tal como todos os territórios, são uma construção social, lugar de confronto, de tensões, de conflitos de uso e de apropriação e transformação, ou seja, estão sujeitos a múltiplos interesses, na sua maioria legítimos, mas muitas vezes antagónicos, pelo que, qualquer reforma se afigura de difícil aceitação e implementação.

No entanto, Portugal tem uma longa tradição no âmbito do Planeamento, do Ordenamento e da Gestão Florestal, podemos aqui nós elencar, sem pretensão de ser exaustivos, alguns marcos históricos importantes:

1824 - 1881 – Administração Geral das Matas;

1850 – Início da arborização e fixação das dunas;

1868 – Relatório sobre a arborização do país;

1864 - primeiros trabalhos de ordenamento florestal, de acordo com um plano previamente estabelecido (Barros Gomes - Matas Nacionais da Machada e Vale de Zebro);

1882 - primeiro verdadeiro "plano de ordenamento florestal" (Barros Gomes - Mata Nacional de Leiria);

1896 – criação da Comissão para elaboração dum projecto de arborização das dunas móveis;

1897 - Projecto geral da arborização dos areais móveis de Portugal;

1901- início do "Regime florestal";

1910 - Plano geral de arborização de montanhas;

1938 - Plano de povoamento florestal;

1953/1974 - Planos de fomento (I, II, Intercalar, III, IV);

1973 - Plano director do Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Neste contexto permitimo-nos destacar a legislação do Regime Florestal, publicada de 1901 a 1905, e que veio estabelecer as condições para a generalização da elaboração de planos de ordenamento para as matas sob gestão do Estado.

De entre todos os planos, realçamos o Plano de Povoamento Florestal (1938-1972), apelidado como o "plano florestal do século" em Portugal, e que, visando 5 grandes objetivos, apresentava uma visão integrada para a resolução dos problemas dos espaços florestais:

1. inverter a degradação ecológica verificada em diversas bacias Hidrográficas e regiões montanhosas;

2. constituir povoamentos florestais de elevado valor económico, não só ao nível da produção de madeira, mas também de lenhas e outros produtos;

3. instalar e melhorar pastagens nas melhores áreas para o efeito;

4. ocupar a mão-de-obra excedentária nas regiões abrangidas;

5. produzir paisagens de elevado valor cénico.

Apesar desta longa tradição, Portugal foi aprofundando a sua clivagem entre um litoral mais urbano e um interior mais rural e montanhoso, ficando este último, muitas vezes, à margem das dinâmicas de desenvolvimento, com uma população cada vez mais reduzida e envelhecida.

Neste contexto, ano após ano, vamos assistindo ao aumento, tanto do número como da dimensão dos "grandes incêndios" e, especialmente, da sua capacidade destruidora. Com efeito, se até 1986 nunca tínhamos sido flagelados por um incêndio com dimensão superior a 10.000 ha, 2003 viu franquear a marca dos 20.000 ha e, 2017, por duas vezes, a dos 25.000 ha, duas vezes a dos 30.000 ha e uma, a dos 40.000 ha.

Assim, em 2003, depois de 21 pessoas mortas e mais de 425.000 ha ardidos, assistimos ao início da primeira "reforma estrutural do sector florestal" do séc. XXI (Resolução do Conselho de Ministros nº 178/2003 DR nº 266, I-B Série, de 2003.11.17), mas que rapidamente viu "esfumarem-se" as medidas efetivamente implementadas.

Com efeito, e a título de exemplo, recorde-se a APIF (Agência para a Prevenção dos Incêndios Florestais), organismo que ficou na dependência do Ministério da Agricultura, criada em abril de 2004 e extinta em dezembro de 2005, depois de, em pouco mais de um ano e meio, ter criado os Gabinetes Técnicos Florestais (GTF) e de ter sido responsável pela elaboração do muito polémico Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios (PNDFCI).

Chegados, pois, a 2017, com todos os diagnósticos feitos, com muito conhecimento técnico e científico acumulado nas universidades, com muita (demasiada!?) legislação, assistimos ao ano mais dramático em termos de perda de vidas humanas relacionadas com catástrofes (ditas) naturais, só sendo ultrapassado pelo sismo de 1755 e pelas cheias de 1967, com mais de 100 pessoas a morreram encurraladas por incêndios extremos, em apenas dois dias, 17 de junho e 15 de outubro, antes e depois da chamada época "normal" dos incêndios e, onde apenas um pequeno número de incêndios foi responsável pela esmagadora maioria da percentagem da área ardida (124 incêndios, 1,26% do total das ignições, foram responsáveis por 93% do total da área ardida, 412.781 ha).

Assim, e mais uma vez, de forma reativa e não proactiva, surge uma segunda reforma florestal, em menos de 15 anos.

No entanto, quando se analisam os 12 diplomas que compõem a Reforma Florestal (tendo 1, o do "Banco Nacional de Terras", sido rejeitado), verificam-se múltiplos problemas, dos quais, a título meramente exemplificativo, destacamos aqui 4:

- o cadastro florestal, a mais imprescindível de todas as "ferramentas", no âmbito de uma Gestão Florestal Sustentável, ser apenas implementado, como projeto-piloto em dez municípios, podendo "eventualmente" estender-se a todo o território nacional;

- pouco ou nada ser feito em matéria de ordenamento do Território, não parecendo suficiente os Planos Diretores Municipais (PDM) adaptarem as suas disposições ao conteúdo dos PROF (Planos Regionais de Ordenamento Florestal);

- a educação florestal, no âmbito da educação ambiental, na esfera da educação para a cidadania, ser completamente esquecida;

- incentivar-se instalação de novas centrais de valorização de biomassa, sem ter havido uma monitorização e uma avaliação do seu real impacte na redução e gestão dos combustíveis.

Assim, é sem grande ilusão que desejamos que 2017 marque o início de uma nova realidade na política florestal em Portugal, mas tememos que, tal como os anos de 2003 e 2005, este trágico ano seja apenas recordado como o de mais uma oportunidade perdida. n

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

Morreu José Joaquim Moreira da Silva, o pai do fogo controlado em Portugal

ANA FERNANDES 27 de Dezembro de 2007, 9:38 Partilhar notícia

 De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-GerêsFoto

De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-Gerês PAULO PIMENTA/PÚBLICO (ARQUIVO)
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Estava-se em 1978 e um homem bateu à porta de Oliveira Fernandes, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. "Sou o director do Parque Nacional da Peneda-Gerês e preciso da sua ajuda: quero reconstruir uma casa da guarda florestal mas quero tirar partido das energias renováveis", disse. Este homem, de seu nome José Moreira da Silva, viveu sempre assim: com décadas de avanço sobre o seu tempo. Morreu no dia de Natal e a floresta nacional perdeu quem sempre se recusou a só ver as árvores.

A José Moreira da Silva deve-se quase tudo o que o país sabe hoje de fogo controlado. E muito do que agora se está a tentar fazer para defender a floresta contra incêndios já era por ele defendido há mais de 40 anos. "Foi um visionário", descreve quem o conheceu. Deixa um importante legado mas, sobretudo, "o que mais custa é perder alguém com a sua coerência e verticalidade, porque isso é o mais raro", diz Francisco Castro Rego, do Instituto Superior de Agronomia.

Nascido a Dezembro de 1923 no Porto, licencia-se como engenheiro silvicultor em 1947. Dedica a sua vida aos serviços florestais, onde inova em várias frentes, como a criação das primeiras reservas de caça e de pesca e viveiros de plantas. De 1975 a 1980 lidera o Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde se distingue novamente por um trabalho inovador.

Ali promoveu cursos para operadores de máquinas florestais de forma a não destruírem sítios arqueológicos no Gerês. "Uma iniciativa que muitos vaticinaram votado ao fracasso porque diziam que os operadores não teriam sensibilidade para isso mas que afinal foi um sucesso tremendo que permitiu até que se descobrissem novos sítios", relata Francisco Rego.

É também no Parque que começa a fazer as primeiras experiências de fogo controlado. Mas só anos mais tarde, quando estava na Circunscrição Florestal do Porto, é que esta ideia avança. Por carolice já que ninguém se interessou por isso. Com algumas excepções como Francisco Rego, que na altura estava na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Teresa Cabral, da Estação Florestal.

"Teve uma atitude pouco normal nos técnicos que foi a preocupação com as questões ecológicas: ele quis conhecer as consequências dos fogos controlados em todas as componentes do ecossistema e por isso andou à procura de pessoas que se encarregassem de estudar cada uma dessas componentes", diz Teresa Cabral.

No último ano, Portugal aplicou esta técnica para defender a floresta contra as chamas. Tal como está a tentar pôr de pé instrumentos que Moreira da Silva defendia há muito.

Em 1965, Moreira da Silva, Vasco Quintanilha e Ernâni José da Silva elaboraram o relatório Princípios Básicos de Luta contra Incêndios na Floresta Particular Portuguesa. Estava lá tudo. O diagnóstico - as monoculturas e desertificação rural conduziram ao desastre - e a solução: a redefinição da gestão florestal privada no minifúndio através da criação de polígonos florestais com dimensão para potenciar a sua correcta gestão (as actuais Zonas de Intervenção Florestal), o planeamento florestal e de infra-estruturas e a adopção de sistemas de prevenção e combate assentes na profissionalização dos seus agentes.

Há 15 dias foi homenageado pelo Centro Nacional de Cultura, por iniciativa de Oliveira Fernandes, que nunca esqueceu a fabulosa visão deste engenheiro florestal. Já não assistiu, por estar internado no hospital onde foi operado a um tumor cerebral. Que acabou por vencê-lo. Fica a sua herança. E a dívida do país a um homem que deu a sua vida ao serviço público.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Seca e ondas de calor. Assim poderá ser 2018


Se não chover abundantemente no inverno, as consequências "serão muito gravosas para o país", diz especialista em alterações climáticas


É difícil prever como será 2018 no capítulo do clima, uma vez que não é possível fazer previsões meteorológicas fiáveis para mais de dez dias nem antever com antecedência os eventos extremos potenciados pelas alterações climáticas. Quem o diz é Filipe Duarte Santos, especialista no tema. No entanto, segundo o presidente do Conselho Nacional do Ambiente, existe o risco de os portugueses se verem novamente confrontados com seca e ondas de valor.

Os efeitos das alterações climáticas manifestam-se a médio/longo prazo. "É um processo lento. Já se notam efeitos e estes vão-se agravando, mas demoram décadas", explica. Um deles é a diminuição da precipitação, que se manifesta em fenómenos como a seca. Para o país, prossegue, este é o efeito "mais preocupante" e que poderá ter um impacto "mais significativo" no próximo ano. "Já dura há 16 meses e não sabemos quando vai acabar." É expectável que chova abundantemente no inverno e na primavera, "mas, se não chover, as consequências são muito gravosas para o país".

No que diz respeito às previsões meteorológicas, e embora existam sites com previsões a 30 ou 90 dias, "só conseguimos prever o tempo a dez dias". A nível global, assistiu-se a um aumento de um grau da temperatura média desde o período pré-industrial. Com o Acordo de Paris, a comunidade internacional comprometeu-se a que não aumente mais do que dois. "É urgente evitar que continue a aumentar, mas, efetivamente, tem aumentado. As ondas de calor são agora mais frequentes. Tivemos um exemplo disso e, muito provavelmente, vamos continuar a ter", prevê Filipe Duarte Santos. Também a erosão costeira vai continuar a merecer especial atenção no próximo ano. "O nível médio do mar está a subir, tendo aumentado 20 centímetros desde o início do século passado, o que aumentar a erosão, que já se faz sentir na nossa costa", alerta o especialista.

Já no que diz respeito ao combate às alterações climáticas, "todos os anos vão ser importantes para o futuro". "É importante que todos os países reduzam as suas emissões de gases com efeitos estufa. Portugal tem como objetivo reduzir as emissões entre 30% e 40% até 2030", sublinha o docente universitário. Reconhecendo que "será um esforço enorme", Filipe Duarte Santos lembra que é necessário deixar de usar centrais térmicas a carvão. Além disso, todos podem fazer "um esforço de mitigação através de um uso mais eficiente de energia, de uma mobilidade sustentável e de uma maior utilização das energias renováveis, quer por parte dos particulares quer das instituições públicas".

Molhar o pão no azeite vai ficar mais caro no próximo ano


29 DE DEZEMBRO DE 2017 - 12:57

Entre os aumentos previstos para 2018, o preço do azeite é o que poderá surpreender mais os consumidores. Custo do pão, refrigerantes, tabaco e álcool também sobe.

As melhores fotos do mundo visto do céu em 2017


A falta de chuva e as altas temperaturas afetaram a produção de azeite durante 2017 e, por isso, o Instituto Nacional de Estatística (INE) prevê uma quebra de -9,3 por cento que pode levar a um "aumento dos preços de base" de 29,6%.

Este ano, os preços já tinham subido devido a uma "redução de oferta interna, aliada ao aumento de procura internacional", mas o cenário piora em 2018.


O INE explica que, nas Contas Económicas da Agricultura para 2017, "nos olivais de sequeiro, que abrangem uma área maior, a escassa precipitação de setembro e outubro, aliada às elevadas temperaturas, conduziu a uma produtividade inferior", com queda antecipada e/ou menor desenvolvimento dos frutos, e "afetou negativamente o teor em gordura das azeitonas", diminuindo o valor comercial da oliva.

Pão

Também o pão vai ficar mais caro em 2018. O presidente da Associação dos Industriais de Panificação, Pastelaria e Similares do Norte (AIPAN) lembra que o preço está congelado desde 2011 e que desde então os custos de produção têm vindo sempre a aumentar.

Desde o aumento dos custos com os combustíveis, aos custos de manutenção, passando pelo preço dos ovos e pela subida do salário mínimo, António Fontes sublinhou à agência Lusa que nestes últimos anos apenas a farinha não registou grandes oscilações no valor.

Feitas as contas, o setor prevê um aumento do custo do pão a rondar os 20%, o que se traduz numa subida do preço da carcaça para os 16 cêntimos no Porto e para os 24 cêntimos em Lisboa.

Leite

Ao contrário do azeite e do pão, o preço do leite não deve sofrer grandes alterações no novo ano. Os produtores esperam uma estabilização do setor em 2018, de acordo com a Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite (Fenalac).

Menos otimista, o INE prevê que o preço base do leite deverá aumentar 5% devido aos efeitos da seca nos custos de produção, "dada a necessidade de recorrer a alternativas de alimentação mais onerosas".

A partir do dia 1 de janeiro, os produtores passam a estar obrigados a incluir um selo que certifique a origem do leite utilizado nos produtos lácteos, não se prevendo para já as implicações dessa medida.

Refrigerantes

O imposto a pagar pelas bebidas açucaradas vai aumentar cerca de 1,5% a partir de 2018. As bebidas que tenham um teor de açúcar inferior a 80 gramas por litro passam a ser taxadas a 8,34 euros por hectolitro (em vez dos 8,22 euros cobrados desde o início do ano).

Quanto às bebidas com um nível superior de açúcar, o imposto passa a ser de 16,69 euros por hectolitro (em vez dos 16,46 euros cobrados atualmente).

Tabaco e álcool

O aumento do Imposto sobre o tabaco previsto na proposta de Orçamento do Estado para 2018 pode significar uma subida de até 10 cêntimos no maço de cigarros, dependendo da marca.

O OE2018 aprovou também a subida de 1,5% do Imposto sobre o Álcool e Bebidas Alcoólicas (IABA). O Governo prevê um aumento da receita com este imposto na ordem dos 17 milhões de euros no final do ano.

As cervejas passam a pagar um imposto de 8,34 euros por hectolitro, que pode chegar aos 29,30 euros, consoante o volume de álcool da bebida.

A taxa de imposto aplicada às bebidas espirituosas, como gin e vodka, sobe 1,4% para os 1.386,93 euros por hectolitro, enquanto os licores, cujo aumento é também de 1,4%, passam a custar 76,10 euros.

Faleceu a Eng.ª Maria Antónia Figueiredo


CONFAGRI 29 DEZ 2017
 


A CONFAGRI cumpre o doloroso dever de comunicar o falecimento da sua Secretária-Geral Adjunta – Eng.ª Maria Antónia da Silva Figueiredo.

A todos os que pretendem prestar-lhe a última homenagem, informamos que o corpo estará na igreja Paroquial de São Domingos de Benfica (também conhecida pela Igreja das Furnas de Benfica) a partir das 9h30 de dia 30 de Dezembro (sábado).

A missa de corpo presente realiza-se pelas 13h30 do mesmo dia e o funeral às 14h00.

Secretário regional da Agricultura chama viticultores de ‘canalhas’, viticultores pedem demissão do governante


Ruben Pires
Ontem 12:21

O governante garantiu que os montantes devidos pelas colheitas vão ser pagas até ao final de dezembro.

O secretário regional da Agricultura e Pescas, Humberto Vasconcelos, acusou ontem, em declarações à RTP-Madeira, que "há pessoas que são canalhas, que não são viticultores, não têm vinha, nem conhecem o setor", em reacção a um comunicado dos Viticultores Unidos da Madeira.

Este comunicado dos Viticultores Unidos da Madeira denunciava que os viticultores ainda estavam à espera dos pagamentos devidos pelas suas colheitas.

O governante garantiu ontem que esses montantes vão ser pagos, aos viticultores que entregaram as faturas no Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira (IVBAM), até ao final do mês de dezembro esclarecendo que este é o primeiro ano em que o Governo Regional vai pagar no próprio ano todo o valor relativo às colheitas.

Humberto Vasconcelos afirmou que não se pode aceitar "que um conjunto de pessoas que não são viticultores e que por questões partidárias venham, em comunicados anónimos, denunciar falsidades".

Esta declarações do governante já provocaram uma reacção por parte dos Viticultores Unidos da Madeira. Em comunicado dizem que "a classe política que governa a Madeira acha que pelo facto da maioria dos viticultores não serem doutores que todos somos burros mas não somos burros e já estamos fartos disto".

O comunicado refere que os viticultores passaram o Natal com os bolsos vazios enquanto os "senhores secretários e o senhor presidente do Governo e todos os membros do governo e deputados da Assembleia Regional da Madeira receberam neste mês de dezembro nas suas contas bancárias, a 18 de Dezembro, quantias que chegam aos 10.000 Euros, portanto, tiveram umas festas felizes".

Os Viticultores Unidos da Madeira sugerem à Secretaria Regional que inicie em janeiro de 2018 reuniões com todas as casas de vinho para se encontrar "uma solução" para escoar as uvas da colheita.

Entre as soluções avançadas pelos viticultores está a criação de "uma cooperativa vitivinícola regional para engarrafar um vinho de mesa para ser consumido nos restaurantes" em vez de "se andar todos a consumir vinho feito a martelo do continente ou exportar a uva espremida para molhos como já foi feito no passado".

O comunicado realça que se o atual secretário regional da Agricultura e Pescas "não tem vontade de trabalhar e de nos respeitar" que "seja substituído por outra pessoa capaz de resolver o nosso problema" porque "não aguentamos mais esta situação".

Incêndios: 300 agricultores com prejuízos acima dos 5 mil euros


27/12/2017, 14:02

O Governo recebeu mais de 300 pedidos de apoio de agricultores com prejuízos acima dos 5 mil euros por causa dos incêndios, o que representa um investimento na ordem dos 12 milhões de euros.

O período de candidaturas, que inicialmente terminava no dia 15 de dezembro, acabou por ser prolongado até ao dia 22

O Governo registou mais de 300 candidaturas de agricultores com prejuízos acima dos cinco mil euros nos incêndios de 15 de outubro, afirmou esta quarta-feira o secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Medeiros Vieira.

"Temos cerca de 300 e tal candidaturas acima dos cinco mil euros, o que representa um montante de investimento na ordem dos 12 milhões de euros", disse o membro do executivo, que falou com os jornalistas depois de uma visita a uma das quatro plataformas de distribuição de alimentação para abelhas, sediada na Batalha, distrito de Leiria.

O período de candidaturas, que inicialmente terminava no dia 15 de dezembro, acabou por ser prolongado até ao dia 22, sendo que, no total, tinha sido disponibilizado um montante global de 15 milhões de euros para dar resposta aos pedidos de apoio. Os níveis de apoio correspondiam a 100% dos prejuízos para valores até cinco mil euros, 85% para valores até 50 mil euros e 50% para valores até 400 mil euros.

Luís Medeiros Vieira recordou que, até sexta-feira, o Governo assegura um pagamento na ordem dos 40 milhões de euros para os agricultores afetados com os incêndios, com prejuízos até 5 mil euros. Os agricultores com danos declarados até 1.053 euros vão receber 100% do valor registado já neste mês e os restantes produtores com danos até 5 mil euros recebem 75% agora e os outros 25% em janeiro, após terminarem as medidas de controlo, referiu.

De acordo com o secretário de Estado, a avaliação dos danos e controlo dos prejuízos declarados já estão no terreno para se garantir "rigor e transparência" na aplicação dos apoios aos agricultores.

Maduro acusa Portugal de sabotar a importação de pernil de porco


O presidente venezuelano acusou Portugal de sabotar a importação de pernil de porco. Ministro Augusto Santos Silva diz que "o governo português não tem o poder de sabotar pernil de porco".

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou esta quarta-feira Portugal de sabotar a importação de pernil de porco por parte do governo venezuelano, que não cumpriu a promessa de distribuir entre o povo este tradicional alimento de Natal.

"O que se passou com o pernil? Fomos sabotados e posso falar de um país em particular: Portugal. Estava tudo pronto, comprámos todo o pernil que havia na Venezuela, mas tínhamos que importar e sabotaram a compra", disse Nicolás Maduro.

O Presidente da Venezuela referiu que fez um plano e acertou os pagamentos, mas que "foram perseguidos e sabotados os barcos" que traziam o pernil. Nicolás Maduro lamentou ainda que alguns países tenham bloqueado as contas bancárias que iriam ser utilizadas para efetuar os pagamentos.

"O governo português não tem, seguramente, esse poder de sabotar pernil de porco"
O Observador contactou fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que não se disponibilizou, para já, a fazer comentários, dizendo que o ministério está a recolher informação.



À TSF, contudo, o ministro Augusto Santos Silva garantiu que o governo português não tem qualquer responsabilidade na falha de abastecimento de pernil de porco para a Venezuela. "O governo português não tem, seguramente, esse poder de sabotar pernil de porco", garantiu. "Nós vivemos numa economia de mercado. As exportações competem às empresas", afirmou o responsável, em entrevista à estação radiofónica.

Augusto Santos Silva vai questionar a embaixada de Portugal na Venezuela sobre o caso. Antes de chamar o embaixador ao Palácio das Necessidades, porém, o ministro defende que é preciso perceber o que se passou. "Eu sou um cientista profissional. Primeiro vamos apurar os factos e depois tiraremos as conclusões", declarou, à TSF.



Após as declarações de Maduro, um influente membro da assembleia constituinte, Diosdado Cabello, reforçou as críticas do presidente venezuelano. "Porque não chegou o pernil? Por causa do bloqueio que temos. Os portugueses comprometeram-se, assustaram-nos os rapazes e não mandaram os pernis", argumentou Diosdado Cabello, citado pelo jornal venezuelano El Universal.

A falta de pernil de porco levou a uma vaga de protestos, em algumas das zonas mais pobres da Venezuela. Seis milhões de pessoas que recebem apoio alimentar — o controverso programa CLAP, criado pelo governo para responder à "guerra económica" — e terá sido prometido que haveria pernil de porco, como é tradição, para comer na altura do Natal.

01:25 - 28 de dez de 2017

Quem são os portugueses que exportam porco para a Venezuela?
O governo venezuelano não especificou exatamente que portugueses, ou que empresas nacionais, é que sabotaram o Natal na Venezuela. Mas uma empresa portuguesa que fechou recentemente um acordo para a exportação de pernil de porco para a Venezuela é a Agrovarius, do Grupo Varius (a holding chama-se Iguarivarius). No final de 2016, o Jornal de Negócios escreveu que a empresa tinha fechado um acordo para fornecer porco para a Venezuela num contrato de 14 toneladas de carne.

Na altura, fonte da empresa disse ao jornal que esse contrato valia 63,5 milhões de euros. Mas já em 2015 a empresa tinha vendido cerca de 12 mil toneladas à Venezuela, um país com o qual tem relações desde 2008, no âmbito do acordo entre Portugal e aquele país sul-americano, estabelecido durante o governo Sócrates.

Nesse ano de 2015, adiantou a empresa, foram vendidas à Venezuela três mil toneladas de pernil de porco congelado. Em 2010, o grupo "voltou a fornecer aquele país a quem vendeu 2.500 toneladas, num esforço conjunto de um consórcio conseguido por três empresas nacionais", segundo a mesma fonte.

O Observador está a tentar contactar a empresa, por telefone, para questionar se estará envolvida neste incidente e para confirmar, também, se o ex-ministro de Sócrates Mário Lino continua como administrador do grupo. A notícia será atualizada caso o contacto seja possível.

Na altura, o Jornal de Negócios citava a empresa, dizendo que "em 2012, foram vendidas 5.000 toneladas de pernil de porco congelado. Nos anos seguintes foram vendidas 4.000 toneladas, em 2013, e 12.000 toneladas, em 2014". A empresa, liderada por Alexandre Cavalleri, entretanto diversificou para vários sectores de atividade que, na Venezuela, contam com contratos de cerca de 100 milhões de dólares em três anos (91,6 milhões de euros) no Oil & Gas, materiais de construção e equipamentos e outros componentes industriais.

Em 2013, Nicolás Maduro esteve em Portugal durante seis horas, tendo sido recebido por Pedro Passos Coelho, e nessa altura foram celebrados 14 acordos comerciais avaliados em seis milhões de euros.

Um desses contratos foi a a Iguarivarius, para a exportação, para aquele país, de quatro mil toneladas de pernas de porco, no valor de 15 milhões de euros. Carne que, escrevia o Jornal de Negócios na altura, a carne iria encher a barriga dos venezuelanos no Natal. "O contrato foi assinado com uma empresa da esfera do Ministério da Alimentação [a Corporatión La Casa] que depois vai distribuir a carne pela sua rede de estabelecimentos, a rede Mercal", explicou ao Jornal de Negócios, na altura, o diretor-geral da Iguarivarius, João Rosa.

Revelado o jogo entre o trigo e as ferrugens que o destroem


Acabam de ser identificados dois genes da ferrugem-negra que são responsáveis pela segregação de proteínas que atingem o sistema imunitário das plantas. O que pode vir a ajudar no contra-ataque a esta doença fúngica, que ameaça o trigo por todo o mundo.

RAQUEL DIAS DA SILVA 28 de Dezembro de 2017, 8:49 Partilhar notícia


Antigamente, as culturas de cereais eram alvo de ataques constantes por agentes patogénicos, como as ferrugens, cujo reaparecimento tem nos últimos anos ameaçado não só a produção de alimentos como a segurança alimentar. Agora, duas equipas de investigadores identificaram, cada uma, um gene da ferrugem-negra, responsáveis pela segregação de proteínas que "desligam" o sistema imunitário das plantas que infectam. Os resultados representam um passo importante para perceber como seguir o rasto e prevenir a propagação mundial das ferrugens que atacam o trigo por todo o mundo.

Existem sobretudo três espécies de ferrugem que atingem o trigo e causam perdas persistentes: a ferrugem-da-folha-do-trigo (Puccinia triticina), a ferrugem-amarela (Puccinia striiformis) e a ferrugem-negra (Puccinia graminis). Todas estes fungos infectam as folhas e reduzem a produção, mas é a ferrugem-negra, em particular, que tem os efeitos mais catastróficos. No ano passado, ocorreu, aliás, um dos piores surtos de ferrugem-negra na Europa em mais de 50 anos, com a destruição de milhares de hectares na Sicília, em Itália.

Em Portugal, a ferrugem-negra não tem sido detectada nos últimos anos, mas o país já sofreu uma epidemia de ferrugem-amarela. Conceição Gomes, da Secção de Melhoramento de Plantas do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), já tinha dito ao PÚBLICO, em Novembro deste ano, que "basta que esporos do fungo sejam transportados até ao nosso país e ocorram condições ambientais favoráveis para que [essa espécie de ferrugem] vença a resistência das variedades semeadas e cause infecção".

Por outro lado, foi detectada recentemente, no Equador, uma estirpe de ferrugem-negra (a RRTTF), que representa uma ameaça significativa à produção de trigo no Norte e no Sul da América. Os cientistas receiam, por isso, que novas estirpes virulentas se espalhem, através do vento, a partir de locais onde a sua presença já é conhecida para regiões de cultivo importantes – razão porque também já se identificaram os cenários em que as estirpes destrutivas de ferrugem-negra representam uma ameaça de longa distância, desde a África Oriental até às grandes regiões produtoras de trigo, como a Índia e o Paquistão.

O objectivo final dos epidemiologistas é, contudo, desenvolver estratégias de prevenção da doença, mais do que controlar a ameaça de propagação mundial (o ideal é, portanto, que nem sequer se chegue a esse ponto). Mas, neste caso, o desafio é particularmente difícil, por causa da existência de grandes monoculturas, práticas agrícolas precárias e deslocação de sementes, plantas ou solo contaminados, que facilitam o aparecimento de agentes patogénicos altamente virulentos.

Uma das soluções para combater as ferrugens tem sido a introdução de genes de resistência nas plantas. Mas o resultado não tem sido especialmente feliz. Porquê? É semelhante ao que acontece com os humanos e os antibióticos (quanto maior é o consumo, mais resistentes acabam por ser as bactérias). Portanto, quanto mais genes de resistência a fungos se introduzem nas plantas, mais os agentes patogénicos "aprendem" a resistir a esses genes, sobrevivendo as estirpes mais virulentas, sublinham Matthew Moscou e Peter van Esse (do Laboratório de Sansbury, em Norwich, Reino Unido), num comentário que acompanha estes trabalhos na Science.

Por outro lado, para que a ferrugem-negra infecte o trigo tem, primeiro, de "desligar" o sistema imunitário das plantas, através da segregação de pequenas proteínas. Agora, foram identificados dois genes, que segregam as tais proteínas. "É como uma corrida em curso ao armamento – temos de estar um passo à frente deste agente patogénico em mudança. A última grande epidemia de ferrugem-negra-do-trigo na Austrália, em 1973, causou sozinha uma perda de 300 milhões de dólares australianos [190 milhões de euros]. Imagine-se o que aconteceria se fosse hoje", afirma Robert Park, da Universidade de Sydney (Austrália), em comunicado do Centro de Investigação Rothamsted (Reino Unido).

Robert Park faz parte de uma equipa internacional que conseguiu identificar um dos genes, o AvrSr50. E uma outra equipa de investigadores, essa dos Estados Unidos, e que tem como principal autor Andres Salcedo, da Universidade Estadual do Kansas, identificou versões de uma estirpe particularmente desagradável do fungo da ferrugem-negra, que poderia infectar variedades de trigo resistentes – o que chamou a sua atenção para outro gene da ferrugem-negra, o AvrSr35.

Estas descobertas, publicadas na última edição da revista Science, vão permitir a análise em horas, em vez de semanas, de amostras de plantas que se suspeita estarem infectadas, o que ajudará a impedir a destruição das culturas. "Será possível identificar se uma cultura de trigo precisa ou não de ser rapidamente tratada com um fungicida caro para a protegermos da ferrugem, o que, caso contrário, a devastaria numa questão de semanas", explica Robert Park, num comunicado da sua instituição. E o seu colega Peter Dodds, da Organização da Commonwealth para a Investigação Científica e Industrial (CSIRO), acrescenta: "Estamos a começar a compreender melhor todo o processo: o que está a acontecer ao nível da proteína, ao nível do gene."

Texto editado por Teresa Firmino

Portugal não vendeu carne de porco à Venezuela até ao final de Outubro

Empresa administrada por Mário Lino, ex-ministro de Sócrates, é uma das mais activas a vender carne a este país.

 Luciano Alvarez
LUCIANO ALVAREZ 28 de Dezembro de 2017, 15:41 Partilhar notícia

Até Outubro deste ano Portugal não tinha exportado carne de porco para a Venezuela, segundo os últimos números do Instituto Nacional de Estatística (INE). Porém, como revelam os números dos últimos 17 anos, os grandes volumes de vendas acontecem nos últimos três meses de cada ano. Especialmente para abastecer o Natal, em que o pernil e o lombo de porco são duas das especialidades consumidas nesta época.

Foi o que aconteceu no ano passado em que as exportações de carnes de animais da espécie suína frescas, refrigeradas ou congeladas foram fartas nos últimos três meses do ano, ultrapassando os 58,5 milhões de euros.

"O Governo português não interfere no pernil de porco"

As vendas de carne de porco de empresas portuguesas para este país sul-americano têm sido, porém, intermitentes ao longo dos anos. Em 2010, Portugal exportou 8.340.958 euros, mas no ano seguinte não seguiu nem um quilo para a Venezuela.

As vendas foram retomadas em 2012 com um valor bastante abaixo do de 2010, 6.383.172 euros. No ano seguinte este valor dobrou, com Portugal a vender carne no valor de 14.239.059 euros.

Em 2014 as vendas, mais uma vez concentradas no último trimestre, voltaram a disparar, atingindo os 43.812.049 euros, com este valor a manter-se em 2015 (41.633.767 euros). Já no ano passado as exportações de carne de porco para a Venezuela bateram um novo recorde, 58.626.644 euros.

Não se sabe qual a empresa envolvida na carne que Maduro diz não ter chegado, mas a que tem revelado publicamente maior volume de exportações de carne porco desde que as relações comerciais foram acentuadas durante os dois governos de José Sócrates (2005-2011) é a Iguarivarius, que faz parte do Grupovarius, que tem como um dos administradores Mário Lino, ex-ministros das Obras Públicas, Transportes e Comunicações de Sócrates, entre 2005 e 2009. Lino integrou a comitiva ministerial na visita que Sócrates fez à Venezuela em Maio de 2008.


Maduro acusa Portugal de ter sabotado o Natal dos venezuelanos

Em Novembro de 2011, já com a coligação PSD-CDS no Governo, é noticiado que Mário Lino integrou uma comitiva empresarial portuguesa à Venezuela, liderada por de Paulo Portas, então ministro dos Negócios Estrangeiros.

Lino viajou em representação da empresa Iguarivarius. Na mala levava um potencial de negócio na ordem dos 100 milhões de dólares em bens alimentares a exportar para aquele país, com destaque para carne de porco.

Já em Novembro do ano passado, o Jornal de Negócios noticiou a Agrovarius tinha fechado um contrato para vender 14 mil toneladas de carne para a Venezuela, na altura do Natal, num total de 63,5 milhões de euros.

Em 2015, a empresa portuguesa já tinha vendas de cerca de 12 mil toneladas à Venezuela, país com o qual tem relações desde 2008 no âmbito do acordo entre Portugal e aquele país, estabelecido durante o Governo Sócrates.

O PÚBLICO contactou o assessor de imprensa da Agrovarius, que afirmou não haver ninguém disponível para falar. Contactou telefonicamente Mário Lino, mas o telefone esteve sempre desligado.  

Novo Banco arrisca perder 34 milhões nos cogumelos apadrinhados por Marcelo


O herdeiro do falido BES, que se desfez há um ano dos 39,1% que tinha no capital do grupo Sousacamp, detém 57% dos 60 milhões de euros de créditos reconhecidos no Processo Especial de Revitalização (PER) do maior produtor europeu de cogumelos.

Novo Banco arrisca perder 34 milhões nos cogumelos apadrinhados por Marcelo
Marcelo Rebelo de Sousa utilizou cogumelos para falar de estabilidade política, numa visita à Sousacamp, no Verão do ano passado. A empresa é liderada por Artur Sousa (à direita na foto). 

Rui  Neves Rui Neves ruineves@negocios.pt
28 de dezembro de 2017 às 15:00

A salvação da Sousacamp, que se apresenta como o maior produtor europeu de cogumelos e um dos maiores do mundo, com sete fábricas na Península Ibérica e mais de 500 trabalhadores, está nas mãos do Novo Banco, o maior credor do grupo transmontano.

O banco herdeiro do falido BES lidera a lista de 74 credores, com 34,1 milhões dos 59,9 milhões de euros de créditos reconhecidos em sede do Processo Especial de Revitalização (PER) da Varandas de Sousa, principal empresa do grupo Sousacamp.

Ao deter 57% do total de créditos, é ao Novo Banco que cabe decidir sobre a continuidade ou não desta empresa sedeada em Vila flor, que tem acumulado prejuízos nos últimos anos, tendo fechado 2016 com vendas de 18,8 milhões de euros e um resultado negativo de nove milhões.

Está agora a decorrer o prazo de cinco dias úteis para a impugnação da lista provisória de créditos da Varandas de Sousa, que foi publicada no portal Citius na passada terça-feira, 26 de Dezembro. 

Caso não haja impugnações, a empresa, que tem como administrador de insolvência Bruno Costa Pereira, entrará em negociações com os credores, sobretudo com o Novo Banco, para conseguir firmar um plano de recuperação. 

O segundo maior credor da Varandas de Sousa é a Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, com 7,6 milhões de euros, a que acresce 8,3 milhões reclamados por um conjunto de três Caixas de Crédito Agrícola regionais (a de Trás-os-Montes e Alto Douro, a do Alto Douro e a do Noroeste). 

Seguem-se três entidades estatais - o Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), que reclama a devolução de 4,4 milhões de euros de apoios financeiros, o Fisco, que tem a haver mais de 2,4 milhões de euros, e a Segurança Social, que viu ser-lhe reconhecidos créditos no montante de 881 mil euros. 

Queda do BES deixou a meio a construção de um "elefante branco" em Vila Real 

"A principal razão apontada para a apresentação do PER tem que ver com a queda do BES, que até então [Verão de 2014] estava a financiar a construção da gigantesca unidade de produção de cogumelos, cuja obra, onde foram já investidos cerca de 20 milhões de euros, ficou a meio", explicou ao Negócios fonte conhecedora do processo. 

Foi em 2013 que, após ter investido 50 milhões de euros na abertura de cinco fábricas em Portugal (em Vila flor, Mirandela, Paredes, Sabrosa e Vila Real) e na aquisição de duas em Espanha, o grupo Sousacamp arrancou com a construção de uma unidade de produção de cogumelos exóticos e outra de transformação de cogumelos em conserva (em lata e congelados), num investimento orçado em 45 milhões de euros e que iria criar cerca de 200 postos de trabalho. 

"Será um dos maiores complexos do mundo no sector", afiançava Artur Sousa (que tem 60,9% do capital da empresa), em Outubro desse ano, numa publicação patrocinada pela Espírito Santo Ventures (ES Ventures), que detinha 39,1% na Sousacamp SGPS, "holding" detentora de 100% da Varandas de Sousa. 

Apontada diversas vezes como um "case study", a Sousacamp vinha acumulando prémios e distinções. Por exemplo, ganhou o 1.º Prémio Nacional de Jovem Empreendedor (1990) e o Prémio Nacional de Inovação Ambiental (2001) pelo European Environmental Press e pela revista "Indústria e Ambiente". 

O Novo Banco, herdeiro do falido BES, cortou o financiamento à Sousacamp e vendeu, há pouco mais de um ano, os fundos de capital de risco ES Ventures, que passaram a ser geridos pela Armilar Venture Partners, que são controlados pela sua equipa de gestão e cuja sociedade é detida em 35% pela Sonae IM. O grupo maiato detém uma participação, directa e indirectamente, de 50,7% do fundo que integra os 39,1% na Sousacamp.
 
A Sousacamp teve o seu momento mais mediático a 5 de Julho do ano passado, aquando da visita do Presidente da República à fábrica de Vila Flor, onde utilizou cogumelos para falar de estabilidade política. 

"É o chamado duplo cogumelo, cogumelo gigante, presidencial, isto é o cogumelo presidencial com este tamanho. Não, tem de ser, este é o Presidente da República e este é o Governo que é mais pequenino. Solidariedade institucional, o Presidente para aguentar o Governo por uns tempos", brincou Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto olhava para os dois fungos na mão, que acabou por comer.