domingo, 6 de fevereiro de 2011

Câmara de Lisboa renova hortas de Chelas

6 de Fevereiro, 2011Por Liliana Garcia
«Lisboa sempre esteve habituada a ter os produtos frescos perto, daí
falar-se em alfacinhas», conta ao SOL, a propósito das hortas urbanas,
José Sá Fernandes, vereador dos Espaços Verdes da Câmara de Lisboa.
«O abastecimento era fundamental, e esta ligação da cidade ao campo
perdeu-se, nomeadamente através dos subúrbios mal feitos», explica.
A intenção agora, por isso, é contrariar essa distância. E voltar a
ter produção agrícola na cidade. Ideia, aliás, há muito defendida por
Gonçalo Ribeiro Telles: «É preciso refazer as hortas sociais e criar,
na cidade, corredores de sustentabilidade, com produção de leite e de
frescos», declara o arquitecto, justificando: «As hortas só não
cresceram mais depressa porque não foram bem integrada nos Planos
Directores Municipais».

Aristides de Almeida, de 73 anos, não nasceu alfacinha. Tornou-se
alfacinha por necessidade. À procura de uma vida melhor, deixou Lamego
ainda jovem, à distância da saudade. Não esqueceu a agricultura e fez
sempre por ter frescos por perto. Há 31 anos que os gestos agrícolas o
ajudam na economia doméstica. Nessa altura, deixou de ser ajudante de
motorista. A doença trouxe-lhe uma reforma por invalidez, uma conta
com pouco que contar e dias com demasiadas horas mortas. Por isso,
tratou de pôr mãos na horta.
Passear entre couves
Enquanto sobe a encosta do Vale de Chelas, onde cultiva alhos, favas,
ervilhas, couves e três figueiras, de figos de mel, lamenta: «Este ano
estou lixado! Não posso semear batatas!».
Avizinham-se dias de espera. E a horta destruída. A dele e a de todos
os que têm terrenos cultivados no Vale de Chelas. É que ali vai nascer
um novo projecto de horta municipal.
A adjunta do vereador dos Espaços Verdes, Rita Folgosa, procura
serenar Aristides de Almeida. Rita sabe que muitos daqueles hortelãos
precisam de ver para crer. «A atitude anterior da câmara era de mandar
aos locais os fiscais e a Polícia e, no dia seguinte, iam máquinas
destruir as hortas», relembra, no dia em que visita o vale de Chelas
com o SOL.
A requalificação, a realizar durante este ano, insere-se num projecto
de legalização e criação de novas hortas urbanas, explica ainda. O
cenário de campos até agora desorganizados (muitos a serem regados com
as águas do esgoto), vai dar lugar a um grande parque hortícola com
400 talhões espalhados por 16 hectares.
«As hortas não devem ser escondidas; têm é de ser parques que se
possam atravessar», sublinha Sá Fernandes. «A ideia é que, enquanto o
hortelão está a trabalhar, pode deixar as crianças por perto, num
parque infantil. E vai ainda existir um quiosque com esplanada»,
promete ainda.
Os hortelãos vão passar a pagar uma taxa de ocupação anual. E, «para
evitar abusos», a autarquia vai colocar vedações em cada quatro
talhões. A servi-los, existirá uma casa de arrumos e um ponto de água.
Em estudo está ainda a criação de um mercado de venda dos produtos
produzidos nestas novas hortas.
liliana.garcia@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=11044

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