sexta-feira, 1 de junho de 2012

Couves e porcos no Terreiro do Paço indignam vereadores de Lisboa

Megapiquenique

31.05.2012 - 09:30 Por Ana Henriques
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A edição do ano passado decorreu na Avenida da Liberdade e acolheu
meio milhão de visitantes, pelas contas da organização (Daniel Rocha)
A realização de um megapiquenique no Terreiro do Paço, no próximo dia
16 de Junho, promovido pelo Continente e abrilhantado pelo cantor Tony
Carreira, levantou ontem um coro de protestos entre vereadores na
reunião da Câmara de Lisboa - apesar de o município ser um dos
parceiros da iniciativa.

A indignação não se ficou pelos autarcas da oposição: os Cidadãos Por
Lisboa, de Helena Roseta, grupo que se associou aos socialistas no
governo da cidade, também criticou a utilização de um espaço público
emblemático como o Terreiro do Paço para fins comerciais.


"Não imagino os russos a permitirem uma exposição de chouriças junto
ao mausoléu de Lenine", ironizou o vereador social-democrata João
Navega, para quem a realização do evento naquele local constitui "uma
ofensa à identidade nacional".

"Encher o Terreiro do Paço com couves, porcos, vacas e outros animais
não é digno", considerou Victor Gonçalves, também do PSD. Para o
comunista Ruben de Carvalho, o problema é outro. Comparando o
mega-piquenique à promoção do Pingo Doce que levou milhares de pessoas
a invadir os supermercados no Dia do Trabalhador, o autarca do PCP
criticou o facto de a Câmara de Lisboa se associar a tamanha campanha
de marketing, alugando para isso a Praça do Comércio ao Continente.

Ministra deve aparecer

Um ponto de vista idêntico manifestaram Fernando Nunes da Silva e
Helena Roseta, dos Cidadãos por Lisboa. O primeiro recordou que desde
2007 que o grupo se bate pela restrição das operações publicitárias
nas praças de Lisboa. Sem sucesso: nunca foram criadas regras nesta
matéria. "Estando a decisão sobre o Terreiro do Paço tomada, importa
agora evitar eventuais danos no pavimento, porque a praça não foi
projectada para este tipo de utilização", ressalvou Nunes da Silva.

O facto de alguns vereadores terem ficado a saber do megapiquenique no
Terreiro do Paço pelos anúncios na televisão fez aumentar o tom da
críticas. Victor Gonçalves chamou mesmo leviano ao vereador José Sá
Fernandes. Responsável pela gestão do espaço público, este autarca
está a ultimar com o grupo Sonae (proprietário do PÚBLICO), a
realização do evento. Sá Fernandes explicou que as finanças camarárias
não permitem à autarquia promover uma iniciativa destas a suas
expensas.

Também criticada por causa dos cortes de trânsito que envolveram os
preparativos, a edição do ano passado do piquenique teve lugar na Av.
da Liberdade e juntou cerca de meio milhão de pessoas, de acordo com a
organização. Ao patrocínio de toda a iniciativa, concerto incluído,
junta-se, segundo Sá Fernandes, uma comparticipação de 40 mil euros no
restauro da estátua de D. José e uma verba idêntica distribuída por
"várias acções na cidade" não especificadas - além da entrega de cinco
toneladas de alimentos a instituições de solidariedade. O autarca diz
que o megapiquenique servirá para promover a produção nacional, "mas
também para dar a conhecer produtos e animais que muitas pessoas não
conhecem".

No Terreiro do Paço estarão ainda presentes muitas casas regionais, as
únicas com autorização para vender géneros alimentares. O evento
poderá contar com a ministra da Agricultura, com gabinete na Praça do
Comércio. "Não sei se a ideia foi dela, mas disse ao presidente da
câmara que gostaria muito que isto acontecesse", contou Helena Roseta.

Os supermercados Continente não se quiseram ontem pronunciar sobre a
polémica que o megapiquenique está a levantar. Uma semana antes do
evento, a 9 de Junho, abrirão no Terreiro do Paço diversas esplanadas,
que se juntarão às poucas que ali abriram há cerca de um ano.

http://www.publico.pt/Local/couves-e-porcos-no-terreiro-do-paco-indignam-vereadores-de-lisboa-1548322

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