segunda-feira, 18 de junho de 2012

UE e ambientalistas criticam “falta de ambição” do novo texto na Rio+20

18.06.2012
AFP, PÚBLICO

A União Europeia criticou neste domingo a "falta de ambição" do novo
esboço para o texto final da conferência Rio+20 sobre desenvolvimento
sustentável. As ONG acolheram o documento com cepticismo.

Monica Westeren, porta-voz do comissário europeu para o Ambiente Janez
Potocnik, salientou que "ainda que existam coisas boas neste texto,
falta a ambição necessária para o desenvolvimento sustentável e para
uma economia verde global".

Desde sábado, os delegados reunidos no Rio de Janeiro debatem um
projecto apresentado pela delegação brasileira, uma versão reduzida do
texto original sobre o qual os delegados não conseguiram chegar a
acordo ao fim de cinco meses de negociações.


"Trabalhámos muito para que a conferência responda, verdadeiramente,
aos desafios da Humanidade, e que consiga chegar a acordo sobre as
formas concretas para responder a esses desafios", acrescentou a
porta-voz.

"A economia verde é uma oportunidade para transformar esses desafios
em postos de trabalho, para tirar as pessoas da pobreza, para
alimentar as nossas crianças, ao mesmo tempo que reduzimos a pressão
no Ambiente e nos recursos" naturais, disse também Monica Westeren.

A porta-voz acredita que ainda há tempo "para melhorar as hipóteses de
um resultado positivo [na conferência], isto se houver vontade de
todas as partes". Westeren insistiu na exigência europeia "de
objectivos com um calendário concreto e mecanismos de controlo para
medir os progressos".

De acordo com as indicações fornecidas domingo à noite pelo chefe da
delegação brasileira, Luiz-Alberto Figueiredo, o texto em debate não
inclui a ideia de uma agência plena das Nações Unidas dedicada ao
Ambiente, como o pediam os europeus. O que existe de momento é um
Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) que, em vez de
passar a ser uma agência, será simplesmente reforçado.

Figueiredo confirmou também que o esboço do texto final deverá estar
concluído esta noite, afirmando que nos 50 parágrafos revistos existem
dificuldades "em não mais de cinco".

ONG estão cépticas

A Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza considera
que o documento "não mostra sinais de um movimento na direcção" do
desenvolvimento sustentável. Ou seja, conseguir o "acesso a alimentos
de qualidade, água limpa e energia renovável" e um "planeta saudável e
habitável, um clima estável e uma economia próspera e vibrante".

"Parece que o Brasil está a perder a possibilidade de ser uma força
para elevar a ambição e viver de acordo com as esperanças e confiança
que o mundo colocou sobre os seus ombros", escreve a associação em
comunicado.

Para os Amigos da Terra, o documento "não é suficientemente
ambicioso". Se por um lado, "parece que parámos de regredir em relação
ao acordo que conseguimos em 1992, na Cimeira da Terra, por outro,
este documento está longe de responder aos problemas das pessoas e do
planeta".

Para o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, sigla em inglês), "não há
nenhum milagre político à vista". Ainda que "algumas passagens do
texto constituam uma boa base para o futuro, no geral é apenas uma
clara vitória das palavras vazias sobre as palavras da acção, de 514
contra 10", disse Lasse Gustavsson, chefe da delegação da WWF no Rio.
O ambientalista salienta que o documento está cheio de palavras como
"apoio", "encorajar" e "promover" e tem muito poucas palavras fortes
como "deve" ou "faremos". Para ele, a passagem relativa à Energia
"poderia ter sido escrita pela indústria do petróleo e do gás
natural".

Já para Antonio Hill, da Oxfam, "este é um texto mais racional, mais
susceptível de ser aceite, mas menos capaz de propor um
desenvolvimento sustentável". "Foi habilmente construído para evitar
as controvérsias e promover o consenso" mas "não reorienta o
crescimento económico de forma a dar a primazia às pessoas e ao
planeta."

http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1550906

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