terça-feira, 3 de julho de 2012

Furtos para comer disparam nos supermercados

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2 de Julho, 2012por Sónia Graça

Há cada vez mais portugueses a furtar produtos alimentares nos
supermercados. As autoridades dizem que já há clientes que roubam pão,
carne e peixe para «matar a fome». Os truques multiplicam-se.
Uma simples folha de alumínio bastava para 'fintar' os alarmes num
supermercado. O truque já é clássico. Mas, como a necessidade sempre
aguça o engenho, há quem invente outros esquemas para distrair os
operadores.

«Cada vez mais as pessoas arranjam pequenos truques para não pagar:
por exemplo, pedem um saco de bifanas e outro de bifes da vazia (bem
mais caros), depois juntam tudo no saco das bifanas» – contou ao SOL a
subgerente de uma loja pertencente a uma das maiores cadeias de
distribuição do país. Resultado: «Se a operadora de caixa não der
conta que um saco foi estrategicamente colocado dentro do outro, acaba
por passar só a etiqueta das bifanas e o cliente sai sem pagar o bife
mais caro».


Casos como este estão a tornar-se recorrentes. Se é verdade que os
produtos de cosmética ainda são os mais apetecíveis para quem costuma
roubar nos super e hipermercados, a tendência está a mudar por causa
da crise. «Hoje em dia rouba-se mais bacalhau, carne e peixe, com mais
frequência do que há dois anos. Outro artigo que também falta quase
todos os dias é o queijo» – diz a mesma responsável, admitindo que
todos os dias acontecem furtos, mas nem sempre é fácil detectar os
suspeitos em flagrante delito: «Nem todos os bens alimentares têm
alarme e nem sempre o alarme dispara, por causa do famoso alumínio».

De 4.º para 2.º lugar no ranking da PSP

Dados oficiais adiantados ao SOL pela PSP confirmam isso mesmo: há
cada vez mais portugueses a roubar bens de primeira necessidade nos
supermercados.

Entre Janeiro e Abril deste ano, logo a seguir aos artigos de higiene
pessoal, os produtos alimentares foram a segunda categoria de bens
mais desviados, à frente dos artigos de electrónica e das bebidas
alcoólicas. No mesmo período do ano passado, os alimentos surgiam em
quarto lugar neste ranking: os ladrões preferiam carteiras, produtos
de beleza e peças de vestuário.

Fontes policiais contactadas pelo SOL garantem que esta tendência
tem-se agravado desde o Verão do ano passado. Quem está no terreno a
fazer segurança nas lojas é disso testemunha. «Praticamente todos os
dias interceptamos uma ou duas pessoas que tentam levar não só carne
ou peixe, mas sobretudo pão, leite e até postas de bacalhau
embaladas», conta um agente que faz serviço remunerado em várias lojas
de diferentes cadeias de distribuição.

Não por capricho, mas «para matar a fome», muitas vezes são apanhados
pela Polícia, em flagrante, idosos com baixas reformas. Mas não só:
«Neste momento, já não há clientes insuspeitos. Começámos a detectar
pessoas bem vestidas, de classe média, que até trabalham mas que
furtam porque o dinheiro não chega para alimentar a família. Nota-se
que estas pessoas não estão habituadas a roubar. Quando são abordadas,
a primeira coisa que nos dizem é 'que vergonha'». E, por norma, não
voltam àquela loja.

O polícia recorda o caso de um homem que nunca tinha visto na
superfície onde certo dia estava de plantão. «Colocou no cesto alguns
artigos, mas dei conta que no bolso do casaco pôs fiambre e chouriço».
Explicou que tinha dois filhos e a mulher ficara desempregada.

Escondeu postas de bacalhau debaixo da saia

Já este ano, um casal que fazia compras num supermercado de Sintra foi
apanhado em flagrante à saída da loja. Enquanto retiravam artigos das
prateleiras que colocavam no cesto, iam colocando outros produtos numa
bolsa, vazia e forrada com folha de alumínio.

O que não sabiam é que cada movimento estava a ser monitorizado pela
equipa de seguranças através do circuito de videovigilância. Quando
passaram a linha de caixas, foram desmascarados e obrigados a retirar
da bolsa diversos géneros alimentícios – salsichas, bacon, chouriço e
vários produtos de higiene e beleza. Tudo no valor de 42 euros. Como
já tinham antecedentes, foram julgados e condenados ao pagamento de
uma multa.

A verdade é que, independentemente do perfil dos ladrões, «muitas
vezes as empresas fazem questão de apresentar queixa, mesmo quando o
bem é recuperado e de baixo valor, porque muitos dos autores destes
crimes são reincidentes. E também por isso, muitas vezes o Ministério
Público fica impedido de suspender estes processos e aplicar apenas
uma multa ou outra injunção» – disse ao SOL um procurador da comarca
da Grande Lisboa Noroeste (Sintra, Amadora e Mafra).

Foi o caso de uma mulher de etnia cigana que no ano passado tentou
fugir de uma loja, em Sintra, sem pagar duas embalagens de bacalhau,
cortado em postas, no valor de 24 euros. Depois de colocar o produto
debaixo da saia comprida e larga que trazia vestida, a mulher acabou
por ser descoberta quando passou a linha de caixas. Como já tinha
cadastro, a empresa decidiu apresentar queixa e o Ministério Público
não pôde usar o mecanismo habitual nestas situações, isto é, a
suspensão provisória do processo – prevista para os casos em que a
moldura do crime é inferior a cinco ano e o suspeito é primário. O
caso foi julgado e a arguida foi condenada a pagar uma multa.

Grupo Lidl regista mais de dois mil furtos por ano

Em 2011, foram denunciados às autoridades 1.523 furtos em
supermercados, mais 99 do que em 2010. Uma média de quatro roubos por
dia e que na realidade pode ser bem mais preocupante.

Basta ver que só nas lojas do Lidl, «todos os anos, são reportados
mais do que dois mil casos em que os autores dos furtos são apanhados
em flagrante delito» – revelou ao SOL fonte oficial do grupo alemão.

sonia.graca@sol.pt

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=53350

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