domingo, 12 de agosto de 2012

Entenda a alta nos preços dos combustíveis e alimentos

10 de agosto de 2012 • 14h44 • atualizado 14h54

O aumento no preço dos alimentos e a já esperada alta dos combustíveis
voltaram a espalhar temores de uma crise de segurança alimentar em
vários países em desenvolvimento. A consequente volatilidade nos
preços das commodities agrícolas também poderá ter impactos nocivos em
várias economias.
Após três meses de queda consecutiva, o Índice de Preços dos Alimentos
da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)
voltou a registrar alta. Ainda que o preço dos alimentos tenha
atingido seu pico em fevereiro, o custo final ao consumidor continua a
subir, o que tem ocasionado um aumento da inflação ao redor do mundo.
A culpa, quase sempre, tem sido creditada aos especuladores.
Para piorar o quadro, a seca que atinge as plantações de grãos no
meio-oeste americano e o cinturão do milho na região próxima à
Califórnia deu guarida às preocupações de que haja desabastecimento na
produção de trigo e, como resultado, um aumento no preço internacional
dessas commodities agrícolas.
Embora o preço dos combustíveis, outro elemento que pesa na conta da
inflação, tenha recuado aos valores do início deste ano, a provável
queda na oferta de petróleo o e crescimento da demanda dão indicações
de que o preço voltará a subir.
Embora produtores brasileiros tenham inicialmente visto com bons olhos
a seca americana, segundo dados do IBGE, a inflação oficial em julho,
medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
interrompeu a trajetória de queda e subiu 0,48%, acumulando alta de
5,2% nos últimos 12 meses, em grande parte pelo aumento no preço dos
alimentos e das bebidas.
Em meio à tamanha instabilidade de preços, a BBC preparou um
questionário para explicar o que está por trás desse cenário. Confira.
Quais são, atualmente, as principais pressões sobre o preço dos alimentos?
Até o último alerta da FAO, os temores sobre uma eventual escassez de
alimentos têm diminuído desde 2008, quando a alta dos preços causaram
protestos e manifestações ao redor do mundo. A FAO informou em julho
que "o fornecimento total e a situação da demanda em 2012 e 2013
permanece estável".
A entidade também apontou para um estoque "abundante" de arroz,
alimento que faz parte da mesa de muitos países asiáticos e também
indicou que há trigo e outros grãos disponíveis para exportação. Além
disso, estima-se que a produção mundial de cereais quebre outro
recorde neste ano, com 2,4 bilhões de t produzidas, um aumento de 2%
em relação à marca histórica alcançada em 2011.
No entanto, com algumas áreas dos Estados Unidos tradicionalmente
produtoras de grãos afetadas pela pior seca em 25 anos, os preços do
trigo, do milho e da soja têm aumentado rapidamente nas últimas
semanas. Somente o preço do trigo, por exemplo, subiu 35% nos últimos
meses.
E em relação ao preço de outros alimentos?
A FAO informou que os preços de todas as commodities agrícolas caíram
em junho, principalmente impulsionados pela queda registrada por
oleoginosas e gorduras. Isso porque, apesar do desespero dos
agricultores americanos em relação à colheira dos seus campos de
cereais, seus pares canadenses estão prevendo uma safra recorde de
colza, uma das principais fontes de óleo vegetal.
O Brasil, entretanto, vem sofrendo atrasos na colheita do açúcar, do
qual é o maior produtor mundial, por causa do excesso de umidade,
reduzindo os estoques e elevando os preços. Já na Índia, o segundo
maior produtor mundial de arroz e açúcar, há temores de que as chuvas
deste ano abaixo da média possam reduzir a produção após dois anos de
boas colheitas.
"É um desafio imenso para os agricultores alcançar a mesma performance
dos últimos dois anos", disse o ministro da Fazenda da Índia, Sharad
Pawar, no mês passado. "Neste ano, a chuva está brincando de
esconde-esconde conosco", brincou.
Qual é o peso dos especuladores?
O diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, apontou o
dedo para a especulação dos mercados financeiros, dizendo que "mais
compreensão é necessária" para avaliar seu impacto na volatilidade dos
preços dos alimentos. "Não estamos falando de especulação relacionada
ao preço real dos alimentos e do normal funcionamento dos mercados de
futuros", disse.
"Estamos falando de especulação excessiva nos mercados de derivativos,
o que pode aumentar a oscilações de preços e sua velocidade",
acrescentou. "A volatilidade excessiva dos preços de alimentos,
especialmente na velocidade em que vem ocorrendo desde 2007, tem
impactos negativos sobre os consumidores e produtores pobres em todo o
mundo", afirmou Graziano.
A Economist Intelligence Unit (EIU), unidade de inteligência da
revista britânica The Economist, também observou casos em que os
especuladores que aproveitam da escassez das matérias-primas como uma
oportunidade de investimento têm "ajudado a exagerar" na inflação dos
preços. O Movimento de Desenvolvimento Mundial (WDM) está empenhado em
frear tal aposta.
A entidade quer uma maior regulação da compra e venda dos contratos
futuros, quando a safra de uma mercadoria é vendida a um determinado
preço em um horário definido. Tal sistema foi criado para reduzir a
incerteza, garantindo tanto o preço de venda ao produtor quanto os
bens de que necessita o comprador. Na prática, trata-se de um
mecanismo que reduz o risco dos negócios.
Mas o WDM e outros organismos internacionais afirmam que a negociação
desses contratos, com ativos e ações, está pressionando o preço dos
alimentos para cima, impactando negativamente em especial os mais
pobres.
O que está acontecendo com o preço do petróleo?
O preço do barril de petróleo tipo Brent recuou desde abril, quando
foi negociado a US$ 125 (R$ 250) o barril. Os preços já não estão
muito acima da marca de US$ 110. No entanto, as tensões políticas
continuam a afetar alguns países produtores de petróleo no Oriente
Médio.
O Irã ainda ameaça bloquear o transporte do óleo através do Estreito
de Ormuz, por meio do qual cerca de um quinto do petróleo do mundo
atualmente passa, caso as sanções contra o país não sejam
interrompidas. Aliado a esta incerteza, está o aumento da demanda por
petróleo.
Analistas apontam, em particular, para a sede da China por energia
para alimentar suas fábricas e os milhares de novos veículos. No
Brasil, a alta da cotação do petróleo teve um impacto forte nas contas
da Petrobras, que registrou prejuízo de R$ 1,346 bilhão no segundo
trimestre deste ano, especialmente porque a estatal não tem repassado
o reajuste do preço internacional da commodity aos consumidores.
Apesar de o temor de que o repasse gere um ônus político, no âmbito
eleitoral, e econômico, contribuindo para a inflação, o governo parece
ter cedido a um novo reajuste no preço dos combustíveis até o final do
ano. Como os alimentos, é difícil escapar do impacto dos crescentes
preços do petróleo.
A alta não só afeta diretamente o custo do combustível e energia, mas
também impacta o preço de outros bens, uma vez que aumenta o custo de
produção e transporte. Como muitas economias ao redor do mundo ainda
lutam para lidar com uma dolorosa recessão global, os salários não
estão subindo para manter o ritmo. Assim, muitos estão realmente
sentindo o aperto.

http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201208101744_BBB_81487055

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