terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Bagaço de azeitona revela efeitos antitumorais

Além do cardo, há outro recurso endógeno com potencialidades
antitumorais, segundo revelou um estudo levado a cabo por
investigadores do Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do
Alentejo (Cebal). Trata-se do bagaço de azeitona, resíduo que resulta
da extração do azeite e no qual foi encontrado um composto capaz de
potenciar o efeitos da quimioterapia em células humanas do cancro da
mama.


Texto Carla Ferreira


Além de ser responsável por um aumento no rendimento final da produção
do bioetanol, através de novos procedimentos, o bagaço de azeitona
apresenta também um composto fenólico capaz de maximizar os efeitos da
quimioterapia em células humanas do cancro da mama. Eis os principais
resultados obtidos no âmbito do projeto RefinOlea – Valorização
Integrada de Resíduos e Subprodutos da Extração do Azeite, levado a
cabo, entre 2009 e início do presente ano, pela parceria Centro de
Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (Cebal) e União de
Cooperativas Agrícolas do Sul (Ucasul), com financiamento no âmbito do
Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN).
No que respeita às potencialidades do bagaço de azeitona para a
produção de bioetanol, o Cebal, informa Fátima Duarte, investigadora
principal e coordenadora do estudo, "centrou a sua atividade no
desenvolvimento de estratégias otimizadas para uma maior produção".
Otimização que foi conseguida através, nomeadamente, da "acoplação
inovadora de um processo de membranas, permitindo a remoção de
inibidores do processo fermentativo", o que levou a um aumento de
"cerca de 30 por cento no rendimento final de produção do bioetanol".
Neste momento, tais resultados são "pertença" da Ucasul, que tem a
funcionar uma unidade à escala piloto, produzida no âmbito do projeto,
para a produção do bioetanol.
Em simultâneo, a equipa estudou igualmente o potencial deste resíduo
quanto aos seus compostos bioativos. E neste processo, quando se
iniciou a avaliação da fração fenólica do bagaço de azeitona extratado
(resíduo resultante da extração do óleo de bagaço), deparou-se com um
"resultado muito interessante". "Este resíduo era riquíssimo num
composto fenólico denominado hidroxitirosol, já descrito na literatura
como tendo uma elevada atividade biológica", lembra Fátima Duarte,
acrescentando que, quando se decidiu avaliar em detalhe a sua
atividade biológica "verificámos que extratos derivados deste resíduo
de bagaço de azeitona extratado apresentavam uma atividade
antioxidante muito apreciável, e detetámos que células humanas de
cancro da mama, quando incubadas com estes extratos, cresciam muito
menos, começando a morrer".
Recorde-se que o subtipo de cancro da mama estudado, apesar de
apresentar uma "incidência relativamente baixa", tem uma taxa de
mortalidade associada "elevadíssima, devido à falta de terapêuticas
eficazes". Pelo que, conclui Fátima Duarte, "é de extrema importância
o desenvolvimento/descoberta de novas estratégias terapêuticas que
contribuam para um aumento da sobrevida destas pacientes".
Com base nestes resultados, o próximo passo foi analisar o potencial
destes extratos em inibir o crescimento tumoral, em comparação com um
composto químico (5-fluoracil) muito utilizado em protocolos de
tratamento em quimioterapia. E o que se verificou foi que "células
humanas de cancro da mama incubadas com o medicamento quimioterápico
(5-fluoracil) mais o extrato de bagaço de azeitona proliferam menos,
morrendo mais, do que células só incubadas com o referido
medicamento". O que, concretiza a investigadora, vem mostrar "que a
presença do extrato de bagaço de azeitona, rico em hidroxitirosol,
poderá potenciar o efeito terapêutico do 5-fluoracil".
No global do projeto RefinOlea estiveram envolvidos 12 investigadores,
quatro dos quais apenas dedicados à componente dos compostos bioativos
e à investigação da atividade antitumoral. De momento, resume a
cientista, este é um resultado que "está a merecer todo o nosso
empenho, no sentido de compreendermos a nível molecular quais os
mecanismos que se encontram ativados e como podemos potenciar ainda
mais o seu efeito antitumoral".

http://da.ambaal.pt/noticias/?id=4060

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