sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Portugal e Espanha. Animais doentes servem de ração

Espanhóis descobriram que uma fábrica estaria a fazer rações com animais doentes. Casos semelhantes foram detectados em Portugal

E se a ração para o seu cão ou gato for feita com restos de animais doentes? Pior, e se os animais que acabam no seu prato se alimentarem com farinhas feitas à base de gorduras de vacas ou porcos com doenças? Apesar de a legislação europeia ser apertada quanto ao destino a dar às sobras de produtos de origem animal, o certo é que as autoridades portuguesas e espanholas encontraram vários exemplos de más práticas em fábricas de transformação na Península Ibérica. Segundo as autoridades e a Quercus, o uso de animais doentes para fazer farinhas de ração aumenta o risco de inserir várias doenças na cadeia alimentar do Homem.

Do outro lado da fronteira, em Sevilha, uma investigação concluiu que a empresa Dasy, do Grupo PGG, estaria a usar cadáveres de cães, cavalos e de animais doentes no fabrico de granulados para animais domésticos, galinhas, vacas e porcos. O dono da empresa, José María Gimeno Borras, está actualmente obrigado a apresentações periódicas por alegados crimes de falsificação de documentos e contra a saúde pública.

Mas este não é um problema vizinho. Fontes ligadas ao sector explicaram ontem ao i que o mercado dos subprodutos - restos de origem animal que não podem ser consumidos ou que não o foram por razões comerciais - não tem fronteiras na Península Ibérica. Há sobras que de Portugal vão para Espanha para serem transformadas e vice-versa.

É por isso que as autoridades nacionais, sobretudo a ASAE e a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária, têm estado em alerta máximo com os operadores que actuam em Portugal neste sector. Isto porque os subprodutos são divididos em três categorias, sendo o patamar 1 o mais perigoso e o 3 o que pode ser usado para alimentação de animais.

20 PROCESSOS CONTRA ORDENACIONAIS De acordo com os dados da ASAE, nos últimos meses foram instaurados 20 processos de natureza contra-ordenacional a operadores deste sector, sendo as infracções mais frequentes: a mistura de subprodutos de várias categorias, a actividade sem licenciamento, e o incumprimento de normas europeias. "No âmbito destas acções foram também instaurados três processos crime por fraude de mercadorias", esclareceu fonte oficial da ASAE.

Um estudo da Quercus, elaborado este ano, conclui que "actualmente não existem dados oficiais conhecidos sobre os subprodutos de origem animal recolhidos nas superfícies comerciais da grande distribuição", ou seja nos hipermercados. As conclusões deste estudo vão ainda mais longe e referem que se desconhece "o nível de cumprimento da legislação por parte destas entidades, as quantidades recolhidas e as quantidades enviadas para os respectivos destinos possíveis."

A associação ambientalista defende que esta falta de controlo representa riscos para a saúde pública, nomeadamente no que respeita à propagação da BSE - conhecida como a doença das vacas loucas. Há alguns dias, o director-geral de Saúde, Francisco George, afirmou ao "Correio da Manhã" que esta doença não está erradicada, adiantando ainda assim que existem poucos casos.

A Quercus assegura que em Portugal foram detectados alguns problemas nas empresas Sign Mais e Luís Leal & Filhos. Contactada pelo i, a ASAE não explicou a que empresas foram instaurados autos de contra-ordenação por desrespeito da legislação.

Em Portugal além do ETSA, o maior grupo nacional que faz transformação de subprodutos e que também actua em Espanha, existem dois operadores: Luís Leal & Filhos e Savinor. A Sign Mais é um agente que transporta os subprodutos para que sejam transformados em Espanha. Neste momento, a empresa tem um dos seus armazéns com actividade suspensa por determinação da ASAE.

Ao i, a ASAE explicou que notificou também os seus responsáveis da "suspensão de utilização de uma viatura para transporte de subprodutos, por falta de autorização da Direcção Geral e Agricultura e Veterinária" e apreendeu "2580 quilos de subprodutos pela verificação de infracções contra-ordenacionais".

O i contactou com João Pereira, administrador desta empresa, que esclareceu que as contra-ordenações nada tiveram que ver com a mistura de animais doentes nos subprodutos da categoria 3 (a mais segura): "É 100% mentira que fizéssemos misturas, as contra-ordenações aconteceram por desrespeito a algumas normas de higiene no armazém do sul", justificou, garantindo que o profissional que geria aquele armazém foi entretanto afastado.

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