domingo, 29 de maio de 2016

A planta que é uma alternativa ao sal: antes era uma praga, agora é uma erva gourmet



28.05.2015 às 9h007
 
A empresa Canal do Peixe explora o potencial económico da Ilha dos Puxadoiros mantendo o foco na sustentabilidade ambiental

Há um investimento na Ilha dos Puxadoiros, na laguna de Aveiro, para o cultivo de uma erva gourmet. Fresca, em conserva ou em pó. A Universidade de Aveiro já estuda outras potencialidades. Acompanhe nas próximas semanas as histórias de produtores e produtos inovadores que estão a surgir e a evolução dos distinguidos no Prémio Intermarché Produção Nacional 2014, que este ano volta a ser um projeto do Expresso e da SIC Notícias.

Raquel Pinto
RAQUEL PINTO
A salicórnia é uma planta halófita. Cresce espontaneamente em ambientes salinos, como sapais. Outrora vista como erva daninha e utilizada para rações ou alimento de pescadores, sobretudo no norte da Europa, a Salicórnia é hoje alvo de estudo. As suas propriedades têm conduzido a um interesse económico e ao seu desenvolvimento comercial.

Mede entre 30 a 40 centrímetros, assemelha-se aos espargos verdes, daí ser apelidada de "espargos do mar." É igualmente chamada de "sal verde", sendo um tempero alternativo ao sal. Associada com frequência na confeção de peixe e marisco, conceituados chefs internacionais introduzem-na em pratos de carne, nomeadamente borrego.

Esta planta gourmet de cozinha de autor tem cultivo organizado, por exemplo, em França e no Reino Unido, e muito consumida na Holanda. Em Portugal não tem ainda expressão, apesar de ser encontrada ao longo da nossa costa, mais frequentemente nas margens dos canais da ria de Aveiro e Ria Formosa, no Algarve.

As suas características suscitaram a atenção da empresa Canal do Peixe, que se lançou num projeto de valorização e aproveitamento sustentado de produtos endógenos na ilha dos Puxadoiros, ao longo de 42 hectares da ria de Aveiro. Assente em quatro eixos: sal e flor de sal tradicional, aquicultura (produção de ostras),  turismo sustentável e salicórnia (fresca, em conserva e pó). São-lhe atribuídos valores nutricionais pelo teor de vitaminas A, C e D, proteínas, ácidos gordos, cálcio, iodo e magnésio.

À espera de certificação biológica 
O Canal do Peixe - criado em 2007 por sete amigos - fez um investimento de 50 mil euros na recuperação dos terrenos e máquinas para a colheita da salicórnia, revela o administrador Paulo Carpinteiro. Através de estudos de mercado e viagens que fizeram à Holanda e a França, os sócios perceberam que a salicórnia tinha valor. 

De recolectores, à mercê do que a natureza dava, passaram a semeá-la. O remanescente, que não é escoado em fresco, transforma-se em pickles e em pó, processo assegurado por um parceiro. Uma outra parceria, com a Universidade de Aveiro, testa outros derivados inovadores. O ciclo produção estende-se de março, início da sementeira, até novembro, fim da recolha de sementes. Entre maio e agosto decorre a "colheita".
"A participação no prémio era o passo que necessitávamos para evoluir para uma produção sistematizada", destaca o administrador, que diz terem ficado surpreendidos com a seleção para a final do Prémio Intermarché Produção Nacional 2014. O Canal do Peixe está no primeiro ano de produção. Têm o próprio ponto de venda, a Casa da Ria, em pleno centro de Aveiro, mas vendem noutras lojas gourmet. Querem a salicórnia em grandes superfícies. A certificação de método de produção biológico (MPB) está em andamento.


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