HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS
20.06.2017 21:04 por Raquel Lito 8
O arquitecto paisagista tanto critica Marcelo Rebelo de Sousa como prova que os incêndios não se combatem com água. A solução? Pode passar por incluir os resineiros
Durante os 34 minutos de entrevista, Henrique Pereira dos Santos afasta uma série de ideias feitas sobre os incêndios. Menos eucaliptos? Não é por aí. Melhores acessos à água nas povoações de risco? Também não. A origem da tragédia em Pedrógão Grande foi uma trovoada? Muito provavelmente, mas a questão é secundária para o arquitecto paisagista, de 57 anos, autor de três livros na área e vice-presidente do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade em 1996/97. O que mais o preocupa é a lógica de gestão num País propenso a incêndios - sobretudo pelo clima mediterrânico que permite o crescimento da vegetação tanto no Inverno como no Verão.
O Presidente, o governo e a Protecção Civil estão a gerir correctamente a crise?
A única coisa que acho errada é o senhor Presidente da República dizer, à partida, que foi feito tudo o que era possível [na noite de sábado, 17 de Junho]. Deveria ter dito que, em nome das vítimas das tragédias futuras, antes de qualquer opinião é preciso fazer uma investigação profunda e séria.
Mas Marcelo disse claramente que queria passar uma mensagem de ânimo.
Não tenho a menor dúvida sobre isso. Acho que o Presidente cometeu um erro com a melhor das intenções. É preciso fazer uma avaliação técnica, objectiva, mas profunda, daquilo que se passou para alterar procedimentos. O que seria normal era haver uma avaliação independente do desempenho anual da protecção civil.
Porque é que a EN 236 não estava cortada ao trânsito?
Não sei. Não quero fazer juízos que podem ser injustos.
Como se pode reduzir o pânico na estrada perante estas circunstâncias?
As pessoas devem dirigir-se para uma zona já ardida ou ficar quietas num sítio onde consigam suportar o fogo e a temperatura.
Porque é que não há bocas-de-incêndio nas povoações de risco?
Estes fogos não se combatem com água, é uma ilusão terrível. O único efeito da água é cobrir a superfície de fogo com uma película que corta o oxigénio. As pessoas pensam que é uma questão de chamar aviões, mas os Canadair só têm interesse pontual para permitir uma operação terrestre. De resto eles não param fogo nenhum. Há muitas descargas [de Canadair] em que a água é largada e não chega sequer ao chão porque evapora.
Então o que propõe?
Só se resolve com a alteração da composição de combustíveis, tal como se faz no fogão. Não se apaga o fogão deitando-lhe água em cima, o que faz é rodar o botão para cortar o gás. Precisamos de ter uma orientação clara que favoreça a gestão de combustíveis, através de actividades económicas.
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