domingo, 24 de dezembro de 2017

Os insectos vão chegar ao seu prato em 2018

23.12.2017 às 16h34


Já são um pitéu em alguns países, mas no ano que vem, os insectos vão chegar em força ao prato dos europeus. A razão? A UE vai autorizar, a partir de janeiro, a venda para consumo humano. Prepare-se para uma nova tendência: a entomofagia.

Minhocas, lagartas, traças, formigas, cigarras, gafanhotos, escaravelhos, vespas, aranhas, escorpiões. Estas são apenas algumas das espécies que já se comem pelo mundo. Em muitos países de Ásia ou de África, comer insectos é normal. Estes bichinhos altamente nutritivos, ricos em proteínas, vitaminas, minerais e gorduras, chamaram a atenção das Nações Unidas, que ali viram uma promessa no combate à fome. A grande novidade é que a partir de 1 de janeiro, vai passar a ser possível ver estas espécies nos pratos dos Europeus. O regulamento 2283/2015 da União Europeia sobre "Novel Food" abre caminho à utilização dos insectos na nossa alimentação.

Comer gafanhotos, grilos ou minhocas é considerado um pitéu em algumas culturas, como no México e na China.

Não quer isto dizer que a partir do primeiro dia de 2018 encontremos formigas em restaurantes de "fine dining", ou massa feita de farinha de gafanhoto no supermercado. Mas significa que as empresas que já existem no continente e se dedicam ao consumo humano de insectos vão poder pedir autorização para a sua comercialização. E não são assim tão poucas. Em Espanha, por exemplo, a Meal Food Europe produz, desde 2016, dezenas de toneladas por mês de "tenebrio molitor", uma larva comum nos armazéns de trigo. Antes, em 2011, a Bioflytech também iniciou uma produção maciça de insectos. O entomólogo Santos Rojo Velasco, diretor do departamento de Ciências Ambientais e Recursos Naturais da Universidade de Alicante, é categórico: "Os insectos, obviamente, vão fazer parte da cadeia alimentar humana, direta ou indiretamente. Não só vão ser o alimento do futuro, como já são o alimento do presente".

Os hamburgueres de insectos, altamente proteicos, podem ser uma boa alternativa ao consumo de carne e uma esperança no combate à fome 


FABRICE COFFRINI

Portugal não passa ao lado da tendência. Desde 2014 que Tiago Almeida, licenciado em Gestão e Marketing, e Joana Cardoso, formada na área da Biologia e Alimentação, dois jovens de Vila Nova de Famalicão, criaram o projeto "Delight Bugs". Trata-se de uma aposta na transformação de insetos, em especial grilos, em farinha para consumo humano, uma matéria-prima muito rica em proteínas e vitaminas. A farinha de grilo tem duas vezes mais proteína do que um bife, o que desde logo mostra o potencial do alimento.
Em Inglaterra, uma equipa liderada por uma portuguesa, Susana Soares, procura desde 2011 novas formas de consumir insectos. Baseada em Londres, a "Insects au Gratin" trabalha com três espécies: a larva de escaravelho, o grilo e o louvadeus. Para quem, como os portugueses, já tem o hábito de comer caracóis, não deverá ser muito difícil subir um nível e experimentar comer larvas fritas ou escorpiões. Em muitos países da Europa, a maior dificuldade será lutar contra o preconceito.

A SOLUÇÃO PARA A FOME

Há um conhecido provérbio chinês que afiança que "tudo o que voa, nada, rasteja ou caminha pode ser comido". É isso que leva este gigante asiático a comer insectos desde o ano 628, quando o imperador Tauzong declarou que os gafanhotos não eram um sinal da cólera divina, mas sim uma revelação da bondade da natureza. Hoje, é muito comum encontrar insectos à venda nas ruas da maioria dos países, da China, onde é fácil comprar pacotes de grilos, à Tailândia. Mas o mesmo acontece em muitos países de África - em Angola, as formigas picantes são um pitéu - ou na América Latina. No México, os gafanhotos são vendidos como petisco. Neste país, aliás, os insectos estão de tal modo enraízados na gastronomia que restaurantes como o Punto MX, estabelecimento mexicano em Madrid com uma Estrela Michelin, conta introduzir na sua nova ementa gafanhotos e larvas de Maguey.

Chupa-chupas de escorpião ou de minhoca - aventura-se...?


Na verdade, são mais de 1600 as variedades comestíveis de insectos. Há cerca de 3000 etnias, em mais de 120 países, que comem insetos como suplemento alimentar ou substituto de alimentos escassos. Esta nova categoria alimentar pode revelar-se um aliado no combate à fome, já que em 2030, as estimativas apontam para uma população mundial superior a 9000 milhões de pessoas. Por isso é que a FAO (Food and Agriculture Organization), organismo das Nações Unidas, se debruçou sobre o assunto com afinco, com um extenso relatório em 2013. A coordenadora deste documento, Giulia Muir, ressalva que "muitos insectos são ricos em energia, proteínas, aminoácidos, ácidos gordos e micronutrientes como o cobre, o ferro, o magnésio, o manganésio, o fósforo, o selénio e o zinco, assim como a riboflavina (vitamina B2) e o ácido fólico, em alguns casos". Já sabe: da próxima vez que vir uma minhoca ou uma lagarta no prato, não faça um escândalo nem chame o empregado - pode ser simplesmente um novo ingrediente no seu prato. 

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