terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Salários de chefes e agricultores são os que mais sobem


Salário médio líquido subiu 2%. Agricultores qualificados ganharam mais 7,4%. Pessoal administrativo perdeu 0,3%

O salário líquido médio em Portugal subiu para 856 euros mensais em 2017, um aumento de 2%, o maior desde 2010, pelo menos. Estes números, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), escondem, no entanto, realidades muito diferentes. Há profissões, setores de atividade e regiões que estão a experimentar um forte aumento nos ordenados, como é o caso da categoria "representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos" (que, no setor público, beneficiaram do fim de parte dos cortes nos salários do tempo da troika), e a dos trabalhadores qualificados da agricultura.

O salário médio nacional para o grupo profissional pessoal administrativo caiu 0,3% no ano passado. Foi caso único, aliás. Ainda em termos médios nacionais, o segundo pior desempenho aconteceu no grupo técnicos e profissões de nível intermédio. Apesar de serem relativamente qualificados, a progressão salarial foi de apenas 0,6%.

Os profissionais especialistas das atividades intelectuais e científicas, em que estão concentrados os quadros mais qualificados de todos (médicos, professores, investigadores, cientistas), tiveram uma progressão salarial bem magra (1,4%), não obstante a forte desvalorização que durou de 2012 a 2016.

Ser mulher agrava a situação em todas as profissões. A nível nacional, elas ganham, em média, menos 20% do que eles - o salário médio das mulheres é de 785 euros, o dos homens é de 933 euros. A desigualdade mantém-se praticamente inalterada há anos.


Os dados disponibilizados pelo INE também permitem fazer um género de mapeamento do Portugal salarial. Por exemplo, o grupo profissional mais bem remunerado no país é o dos políticos, presidentes, dirigentes, diretores e gestores de topo que trabalham na área da grande Lisboa, com um salário líquido de 1686 euros, praticamente o dobro da média nacional global e acima dos 1553 euros, que é a média nacional para essas profissões dirigentes. Em Portugal, há 296,2 mil chefes e líderes, mais do que os 278 mil agricultores, pastores e pescadores estimados pelo INE. Como referido, ambos obtiveram atualizações salariais bem acima da média.

Os trabalhadores mais pobres podem ser encontrados nos Açores, na Madeira, no Norte e na região de Lisboa. São todos trabalhadores não qualificados, segundo a classificação do INE, e levam para casa à volta de 500 euros. O grupo menos abonado do país são os açorianos não qualificados, com um salário médio de 491 euros. São trabalhadores pobres. A estes podem juntar-se os agricultores do Norte do país, com um salário líquido de apenas 507 euros; em Lisboa, este grupo profissional ganha um pouco melhor, cerca de 584 euros. O salário mínimo está fixado nos 580 euros brutos (o valor líquido, isto é, retirando os 11% de desconto do trabalhador por conta de outrem para a Segurança Social, é pouco mais de 516 euros).

Na semana passada, o ministro das Finanças destacou o facto de o forte crescimento do emprego estar a ser acompanhado por aumentos salariais quase generalizados. O salário médio cresce 2% por ano. Um sucesso, para um período de forte crescimento do emprego, congratulou-se Mário Centeno, numa conferência sobre a banca. Passando a pente fino os dados do INE, é possível ver quais são os campeões dos aumentos salariais em 2017. O que fazem, em que região estão, em que setor de atividade.

A agricultura destaca-se, está a pagar mais, corrigindo as fortes quebras dos anos da crise, apesar de os salários praticados serem baixos - 628 euros, quando a média nacional ronda os 856 euros. No ano passado, o grupo dos agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta conquista os lugares cimeiros em todas as regiões do país. Nos Açores e na Madeira lideram com mais 12%; no Norte, o reforço do ordenado médio chega quase a 10%. A média nacional ronda 7,4%.

Os "representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos" da Madeira e do Norte do país também conseguiram obter promoções salariais significativas, no ano passado, à volta de 10%. A nível nacional, a subida anual de 2017 também foi relevante, quase 4%, o dobro da média do país. Depois de anos de cortes remuneratórios (em parte reflexo das medidas de austeridade aplicadas aos funcionários públicos), os políticos, chefes e dirigentes obtiveram reposições de 11% e 10% na Madeira e no Norte.

O INE também dá conta de uma certa moderação salarial nas Forças Armadas, cujo salário médio cresceu 1,8%, abaixo da média. Nos dois anos da legislatura, o aumento do ordenado líquido dos militares e outro pessoal ao serviço fica-se por 0,5%. São quase 20 mil pessoas.

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