domingo, 10 de março de 2019

Metade do país está em seca e Alto Sado está pior do que em 2018


04.03.2019 às 18h20

 
JOSE MANUEL RIBEIRO

As culturas do arroz e do milho podem não se realizar por falta de água na bacia do Alto sado. Todas as bacias hidrográficas apresentam taxas de armazenamento abaixo da média
Vítor Andrade
VÍTOR ANDRADE
A dois meses do início da campanha de rega na agricultura, metade do território nacional encontra-se em situação de seca e todas as bacias hidrográficas apresentam armazenamento de água abaixo da média, sendo a situação mais crítica a do Sado, onde já estão em causa culturas como o arroz, o milho ou outros cereais de regadio.

O alerta foi dado esta segunda-feira pela Federação Nacional dos Regantes de Portugal (FENAREG), na sequência de uma reunião com Capoulas Santos, ministro da Agricultura.

José Núncio, presidente daquela organização, explica que do Tejo para sul, excluindo a zona de regadio de Alqueva, a situação é já muito preocupante, com especial incidência na área de regadio do Alto Sado. Aliás, segundo o mesmo responsável, nas zonas de Campilhas e Alvalade "a situação está pior agora do que há um ano. Neste momento, o risco de não se realizarem as culturas anuais do arroz e do milho é já da ordem dos 50%".

ESPANHA JÁ AVISOU QUE TAMBÉM TEM POUCA ÁGUA NOS RIOS QUE ATRAVESSAM A FRONTEIRA
O presidente da FENAREG, que representa mais de 25 mil agricultores - que regam cerca de 135.000 hectares -, alerta ainda para o facto Espanha já ter comunicado que as suas disponibilidades também são baixas e podem não cumprir os caudais mínimos dos rios que atravessam a fronteira para Portugal, caso seja necessário acionar o regime de exceção.

"O cenário atual é comparável com o de 2016, uma situação cautelosa e que exige planeamento", sublinha o responsável da FENAREG.

Em comunicado hoje emitido, a FENAREG conclui ainda que nos regadios coletivos, o armazenamento de água regista níveis que asseguram a campanha de rega, exceto nos aproveitamentos hidroagrícolas de Campilhas e Alto Sado e de Alfandega da Fé. Nos regadios privados, porém, a situação é mais preocupante, uma vez que estes não têm capacidade de armazenamento de água interanual (para mais que uma campanha de rega).

AGRICULTORES EXIGEM ENERGIA MAIS BARATA
A FENAREG exige também a redução dos custos da energia elétrica associada ao regadio, através da implementação de tarifários ajustados à sazonalidade da agricultura e da redução de taxas e impostos nos contratos de eletricidade.

José Núncio, garante que discutiu várias vezes este assunto com o anterior secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches. "Na última reunião que tivemos disse-nos, inclusivamente, que o assunto iria ser resolvido. Entretanto, saiu do Governo e, com o seu sucessor, João Galamba, ainda não tivemos nenhuma reunião".

FEVEREIRO DE 2019 É O 4º MAIS SECO DOS ÚLTIMOS 17 ANOS
Entretanto, no seu mais recente relatório climatológico, o IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera, refere que o valor médio da quantidade de precipitação, em fevereiro (34.4 milímetros), corresponde a cerca de 34% dos valores normais para a época – sendo este mês já o 4º fevereiro mais seco desde 2002.

No mesmo relatório o IPMA indica ainda no final do segundo mês deste ano "verificou-se um aumento da área de seca em relação ao final de janeiro, com todo o território em seca meteorológica", ou seja, mais grave ainda do que o anunciado pelos agricultores da FENAREG.

Em conclusão o IPMA dá conta de 4,8% do território em regime de seca severa, 57,1% em seca moderada e 38,1% na classe de seca fraca.

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