sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Agros reorganiza actividade do grupo

2012.12.26 (00:00) Portugal
A cooperativa leiteira Agros, sediada em Vila do Conde e que, com a
Proleite e a Lacticoop, constituem a base accionista da Lactogal, está
a reorganizar a actividade após a agitação do último processo
eleitoral. E, atendendo à "dimensão do passivo", admite vir a encerrar
a Naturar (produtos frescos), localizada em Arazede, Montemor-o-Velho.

Em entrevista, o novo presidente, Fernando Capela, lamenta alguns
investimentos passados e "o caminho que foi seguido", "sem retorno em
termos de rentabilidade" para o grupo. O futuro passa por uma Agros
"equilibrada em termos de gestão" e que, apesar da conjuntura interna
e externa, garanta "as melhores soluções para os produtores".

Vida Económica (VE): Tomou posse em Abril, depois de um processo
eleitoral renhido, com duas listas concorrentes. Quais são os grandes
desafios para este mandato?
Fernando Capela (FC): De facto, foi um processo eleitoral renhido.
Tínhamos noção que pela frente o desafio seria enormíssimo, primeiro
porque o caminho que foi seguido, financeiramente, não foi o melhor.
Fizeram-se investimentos que, na minha perspectiva, não traziam
retorno em termos de rentabilidade. Também percebi - todos perceberam
- que estávamos a caminhar para uma crise que acabava por dificultar
ainda mais a situação. Os produtores estão a atravessar algumas
dificuldades. O meu maior desafio neste momento é, em primeiro lugar,
em termos de organização e gestão da Agros, mas, também, das empresas
participadas, algumas delas em dificuldades.

VE: Está a referir-se à Naturar?
FC: É uma delas. Essa é a que está em pior situação.

VE: A Naturar é para encerrar?
FC: Neste momento, ainda tenho alguma dificuldade em responder-lhe
qual o caminho. A situação é muito complicada. É preciso termos a
noção da situação e da dificuldade que é assumir, neste momento, o
passivo.

VE: Não têm tido contactos com potenciais investidores?
FC: Temos. Temos tido alguns contactos, mas quando as pessoas vêem a
dimensão do passivo...

VE: Qual é o montante do passivo?
FC: Preferia não falar. Há ali várias situações.

VE: Para além da Naturar, quais são as outras empresas em situação complicada?
FC: A Prodística será a que, em termos do grupo Agros, está bem e que,
desde início, teve sempre uma gestão equilibrada. Temos em dificuldade
o laboratório Segalab e a Agros Comercial e a Ucanorte. O laboratório
presta um serviço à produção. E também estendemos a actividade da
Segalab a entidades terceiras, mas não é fácil. O que queremos é que
pelo menos a empresa seja equilibrada em termos de gestão.

VE: Admite fechar o Segalab?
FC: Já pusemos essa hipótese, mas fomos confrontados com as
implicações que isso teria.

VE: E os serviços ali prestados?
FC: Parte deles iriam para o Laboratório Interprofissional ALIP [em
Lousada] e a outra parte seríamos nós a assegurar, prestando serviço
aos produtores. O nosso primeiro objectivo é a organização e as
organizações participadas. Claro que este contexto não é o melhor, mas
tenho procurado as melhores soluções. E não podemos esquecer os
produtores e que temos um negócio central que é o leite, sendo esse o
nosso principal objectivo.

VE: Como tem sido a relação com os produtores, nomeadamente quanto ao
preço do leite?
FC: De há alguns anos a esta parte algumas cooperativas começaram a
perceber que este não era o caminho. Criou-se alguma decepção, mas o
objectivo é chamá-los novamente à organização, integrá-los e
fazer-lhes perceber que o grupo é deles e para eles. E o nosso
trabalho está focado no interesse de dar as melhores condições aos
produtores.

VE: O sector leiteiro está perante desafios importantes: a nova PAC e
a liberalização das quotas leiteiras a partir de 2015. Que impacto é
que isto vai ter na Agros?
FC: Eu diria na fileira, porque todos já percebemos que a nova PAC vai
promover um impacto muito negativo no sector da produção de leite.
Espero que isso seja diluído. Nós temos um nível de apoios e se, de um
momento para o outro, diminuem é muito complicado. Depois temos a
perspectiva da liberalização do sector. É mais ou menos assente o fim
das quotas e a liberalização do mercado. Temos de nos preparar. Nós
temos custos de produção muito elevados, pouca área, uma tendência
muito grande de importação de matérias-primas. Temos de pensar em ter
cada vez menos essa dependência do mercado externo. E não é fácil. E
quem vai ficar no mercado são os produtores competitivos. As pessoas
têm interiorizado que o futuro vai ser esse e temos de ir preparando
terreno para, dentro do possível, termos custos de produção o mais
baixos possível e não estarmos tão dependentes dos mercados exteriores
em termos de matérias-primas.

"Se não fosse a Lactogal, já não tínhamos produção de leite em Portugal"
O presidente da Agros continua a "acreditar na produção de leite na
região [Norte] e no país", mas admite que, com a redução das ajudas da
nova PAC e o fim das quotas leiteiras em 2015, "alguns produtores de
leite irão ficar pelo caminho".

"Neste momento, na Agros, somos pouco mais de 1600, já não somos
muitos, mas este processo não é uma escolha. As pessoas que têm
condições de estar no mercado continuam, quem não tiver, infelizmente,
tem de abandonar", admite Fernando Capela. Acredita, contudo, que
"aqueles que ficarem serão realmente competitivos e irão singrar".

Questionado sobre o projecto Lactogal e se acredita na
auto-suficiência do abastecimento de leite à indústria de lacticínios,
o presidente da Agros não hesita: "O projecto Lactogal é um sucesso" e
"se não fosse a Lactogal, já não tínhamos produção de leite em
Portugal".

FONTE: Vida Económica

http://www.anilact.pt/informacao-74/6851-agros-reorganiza-actividade-do-grupo

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