domingo, 1 de dezembro de 2013

Catarina Portas: «Grande distribuição devia ser investigada e sancionada»

Publicado ontem às 00:11

A empresária Catarina Portas, dona da marca "A Vida Portuguesa",
acredita que a grande distribuição alimentar está a asfixiar os
fornecedores.


Catarina Portas acredita que a grande distribuição, sobretudo no setor
alimentar, deveria ser muito mais investigada pela autoridade da
concorrência.

A empresária, que em 2004 e depois de quase duas décadas de
jornalismo, se aventurou no mundo dos negócios, é dona de uma das
marcas de maior sucesso e reconhecimento no universo das PME: as lojas
"A Vida Portuguesa", que comercializam - e revitalizaram - marcas
portuguesas vintage, casos das peças clássicas das louças Bordallo
Pinheiro, dos produtos de Perfumaria AC Brito, das sombrinhas de
chocolate Regina, entre muitos outros.

E a empresária acredita, pelo contacto que tem com as centenas de
fornecedores com os quais trabalha, que a atenção que se deu ao tema
depois da polémica em torno da promoção do Pingo Doce no 1º de Maio do
ano passado não resolveu o problema de asfixia dos fornecedores da
Sonae e da Jerónimo Martins. Afirma que «a grande distribuição está a
açambarcar posições e devia ser muito mais investigada e sancionada
pela autoridade da concorrência. Temos neste momento uma grande
distribuição alimentar que é dominada em 70% por duas empresas. Isso
significa um poder de vida ou de morte sobre os seus fornecedores». E
ilustra a ideia com um exemplo: «quando entro num Pingo Doce e olho
para a prateleira dos fiambres, e onde antes havia várias marcas, há
hoje oito embalagens de marca própria, e depois tenho duas embalagens
de Nobre com os preços super-inflacionados que só lá estão para fazer
vender a marca própria», afirma.

Catarina Portas confessa que já discutiu o tema com o irmão, o
vice-primeiro-ministro Paulo Portas, diz que as diferenças ideológicas
são «a coisa mais natural que existe» e afirma, entre risos, que Paulo
Portas «não precisa de conselhos»

Cada compra é um voto

A empresária, que também se lançou no negócio de recuperação dos
quiosques tradicionais de Lisboa - recuperando ao mesmo tempo as
receitas das bebidas de época que lá se vendem - considera que a
população começa a ganhar consciência da importância das escolhas que
fazemos quando vamos às compras. Afirma que «De 4 em 4 anos votamos e
elegemos o Governo. Mas todos os dias, quando vamos às compras, há uma
espécie de voto. Estamos a votar em empresas». E questiona: «queremos
dar o nosso dinheiro a uma empresa que paga salários em Portugal
seguindo as regras que temos, ou queremos dá-lo a uma empresa que está
a cilindrar toda a gente que está no mercado e cujo único fator é o
preço?»

E, quando questionada sobre se está a pensar nalgum caso em
particular, volta à carga: «estou a pensar na grande distribuição. Já
ouvi histórias terríveis. De empresas que só não acabaram porque têm
pessoas muito valentes à frente».

Nesta sexta-feira Catarina Portas fez a festa de inauguração da maior
loja que abriu até agora: a "A Vida Portuguesa" chegou ao renovado
Intendente, com uma loja de 500 metros quadrados.

É o último capítulo de uma história que começou em 2004, com um
investimento de mil euros e sem crédito bancário. Uma história que tem
corrido bem. Nos últimos anos, o negócio tem crescido a quase 10% por
ano, apesar da crise.

No último ano faturou 1 milhão e 300 mil euros, com uma importância
crescente do turismo: quase 50% da faturação vem dos turistas que
visitam Lisboa e Porto.

Perfil

Catarina Portas tem a mesma gargalhada sonora do irmão, o
vice-primeiro-ministro Paulo Portas. E, como o irmão, também foi
jornalista. Mas as semelhanças - pelo menos as públicas, as mais
evidentes - terminam aí. As preferências políticas, por exemplo, são
opostas.

Ao fim de quase 20 anos como jornalista, e depois de passar por
rádios, jornais e televisões, Catarina Portas lançou-se no mundo dos
negócios.

Criou uma das marcas mais reconhecidas do contexto das PME: A Vida
Portuguesa, que se dedica a vender produtos clássicos nacionais, que
surgiram entre os anos 20 e os anos 60, com o design original. Com
essa ideia, não só fez negócio como ajudou a recuperar muitas destas
empresas, que de repente viram as vendas multiplicar-se. As andorinhas
de Bordallo Pinheiro são um bom exemplo: «Era uma peça esquecida. A
Bordallo fazia 10 por ano. Agora vendem-se 10 mil».

Virou-se depois para os quiosques tradicionais de Lisboa. Recuperou
alguns. Recuperou os quiosques e as receitas das bebidas de época que
lá se vendem.

As revistas Wallpaper e Monocle repararam em Catarina Portas: a
primeira falou dela como uma empreendedora de destaque, a segunda
incluiu-a numa lista de 20 figuras a nível mundial que merecem ser
acompanhadas.

No mês passado, a Vida Portuguesa pagou 26 salários. Os pedidos de
franchising têm sido muitos, mas com pouca sorte: foram todos
rejeitados. Esta empresária, que «gosta de controlar», talvez se
aventure a ir lá para fora no próximo ano ou em 2015.

Hugo Neutel

http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=3561631

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