segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

João Portugal Ramos. Marquês de Borba investe em Angola

A quebra do poder de compra e o excesso de marcas levaram o
enólogo/produtor a vender para fora cerca de 60% da produção. Agora
para Angola


Produtor e enólogo em Estremoz
Diana Quintela
30/11/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo

Um casal brinda com Marquês de Borba. Esta é uma das imagens da
campanha publicitária que João Portugal Ramos lança em Angola e que
sintetiza o desejo do enólogo e produtor neste mercado: amor eterno.

Assente no claim "Marquês de Borba. Atrai quem sabe escolher", a
comunicação e a campanha da parceria luso-angolana WG/SanjayLise
remetem para a "associação do lifestyle, convívio e glamour à escolha
de um grande vinho alentejano". Durante um mês e meio, o Marquês de
Borba tinto vai estar em outdoors nas renovadas ruas de Luanda, na
televisão e na imprensa.

Com o mercado nacional em crise, João Portugal Ramos quer reforçar as
exportações, que pesam 60% no negócio. "Sinto que o crescimento pode
vir de fora", diz o produtor, ao Dinheiro Vivo.

Depois de se ter lançado no vinho verde Alvarinho, no verão, com foco
nos EUA e Reino Unido, agora aposta em Angola com o seu best-seller.
"Temos expectativas muito altas para este mercado", admite, revelando
que Angola já vale 10% das exportações.

Leia mais: João Portugal Ramos investe um milhão nos vinhos verdes

A par da campanha, a mudança de distribuidor, aliada à "grande
afinidade do consumidor angolano com o vinho português", nomeadamente
"o vinho alentejano", só pode dar bons frutos. E isso confirma-se nos
10% que a empresa familiar espera crescer este ano, chegando aos 17 a
18 milhões de euros.

Veja o vídeo: João Portugal Ramos. Do Alentejo para o mundo

Este resultado é contrário ao desempenho do mercado português (-5%).
Uma situação que João Portugal Ramos já esperava. "As pessoas procuram
o preço baixo, apesar de quererem beber melhor." Também na
restauração, que antes do agravamento do IVA "já vinha em grande
queda", se nota uma perda. Além disso há a proliferação de marcas.
"Outro bem de grande consumo tem 10% das marcas. As pessoas não sabem
para que lado se hão de virar."

Embora este produtor esteja noutras regiões, o Alentejo foi aquela que
fez grande a marca cá dentro e lá fora. "A primeira garrafa Alentejo
que vendi com o meu nome foi para a Suécia e a primeira de Douro
também." Foi este mercado que o empurrou para crescer.

"Somos um país pequeno, mas estamos entre os dez mais importantes
produtores mundiais de vinho. Temos peso na produção mas não
conseguimos passá-lo para o consumo geral", diz. A publicidade é um
caminho, mas antes é preciso resolver as elevadas taxas de países como
Brasil, Venezuela ou Angola.

"Não basta dar jantares em casa de embaixadores com 12 pessoas - media
ou compradores -, falta passar a imagem de qualidade para o grande
público." Fazer como França? "Os franceses têm uma história muito bem
contada", diz Portugal Ramos. São conhecidos por terem vinhos caros,
apesar de hoje já serem mais baratos que os portugueses, o que só não
é um problema maior porque "as marcas reconhecidas há centenas de anos
vendem ao preço que querem".

Mas os portugueses também conseguem. Veja-se a nomeação de João
Portugal Ramos para o prémio de Adega Europeia do Ano, pela
prestigiada revista Wine Enthusiast. "Termos sido escolhidos é
espantoso e mostra que lá fora estão atentos ao trabalho que
desenvolvemos no Alentejo." E é também um sinal de otimismo para
Portugal.

"Pôr medalhas nos rótulos nunca me entusiasmou, mas a verdade é que
elas vendem. Houve uma altura em que um grande guru de marketing me
disse: 'O seu nome tem de sair dos vinhos' - do Marquês de Borba, Vila
Santa... Foi um erro total, que me atrasou uma série de anos. O meu
nome é que vende."

Na corrida estão concorrentes ferozes como a Axa Millésimes e Vins, de
Michael Gassier (França), Marqués de Riscal (Espanha) e Produttori del
Barbaresco (Itália). O vencedor é revelado dia 31 de dezembro.

Alentejo Entre xisto, acácias e carvalho
Fomos à principal unidade de João Portugal Ramos: Estremoz. São 150
hectares geridos por uma empresa familiar e de onde sai o vinho Vila
Santa, entre outros

"A manhã [11 de julho] esteve nublada e fresca, J'aquim, mesmo boa
para a vinha, hã?!" Sorridente, João Portugal Ramos cumprimenta o
capataz, Joaquim Faria, no início da visita guiada. O homem moreno, de
chapéu e óculos escuros, acena que "sim" e avisa: "a tarde vai estar
quente". O alerta apressa a saída do grupo, seduzido pelos cheiros de
mármore e cal do lagar, e de mosto e carvalho francês da adega, onde
repousa Vila Santa 2012, a 15 graus de temperatura e 70 de humidade.
Mas ali também há Marquês de Borba, Quinta da Viçosa e Loios.

Com o pátio das acácias para trás, a vista passa a ser de paralelas
verdes: 150 hectares no Alentejo. "Olhe a beleza desta vinha", diz
Portugal Ramos, apontando com o walkie talkie a Pintainho com 8 anos.
O solo é de xisto, algum "em adiantado estado de metamorfização", para
ajudar à drenagem e permitir que raízes vão bem fundo.

Como a da vinha Extremos, cuja cor vai do esbranquiçado ao encarnado.
"'Tá linda, pai", diz João Maria, filho mais novo do produtor. A dias
de ir para a Califórnia, o jovem de 22 anos, formado na Universidade
de Montpellier, França, conhece o seu futuro.

Chegamos ao cimo do Castelo, a 450 metros de altitude. "Quero muito
ter dimensão, mas manter os postos de trabalho [125 pessoas] é o mais
importante", diz o enólogo, que se tornou produtor em 1997 e rejeita
ser chamado de empresário. "Só tive a sorte de estar no local certo na
altura certa."

http://www.dinheirovivo.pt/Buzz/Artigo/CIECO298014.html?page=0

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