quarta-feira, 18 de abril de 2012

Inovar não é só lançar novos produtos e embalagens

18 de Abril de 2012 às 16:17:40 por Rita Gonçalves

Muitas vezes negligenciada pelos empresários, a modernização dos
processos de produção é talvez a mais sustentada e frutífera forma de
inovação
A inovação pode ajudar as empresas a crescer, criar emprego e assim
ajudar a economia nacional a sair do sufoco? Pedro Miguel Santos,
director-geral da Consulai, especialista em consultadoria
agro-alimentar, não tem dúvidas que sim. Porque o lançamento de novos
produtos e embalagens, assim como o melhoramento de bens e serviços já
existentes, é apenas uma ínfima parte do conceito de inovação.
A retracção no consumo em Portugal e a diminuição da abertura para a
experimentação por parte do consumidor têm levado as empresas a lançar
menos produtos no mercado e canalizar os investimentos para o
aperfeiçoamento dos processos de produção, sublinha Pedro Santos.
"A inovação vai muito além do lançamento de novos produtos e serviços.
Tornar o processo de produção mais eficiente também é inovar. É uma
melhoria mais estruturada e de longo prazo que permite produzir de
forma mais eficiente, barata e sem perdas, e aproveitar melhor os
recursos".

Este tipo de inovação é muitas vezes esquecida em Portugal. Não só
porque não tem o mesmo impacto mediático do lançamento de um novo
produto como também porque muitos empresários desconhecem que a
melhoria dos processos produtivos também é inovação.
"Temos aconselhado as empresas a pensarem a médio e longo prazo. A
fabricar produtos diferenciadores e de forma mais eficiente. A
aproveitar as oportunidades agora em cima da mesa para que, quando a
crise passar, possam estar novamente na linha da frente. A inovação é
uma atitude. As empresas têm de estar disponíveis e conscientes de que
o mundo está sempre a mudar e que é preciso antecipar tendências. As
indústrias estão felizmente a tornar-se mais activas e menos
reactivas".
Exportar diferenciação
Ao longo dos séculos, os portugueses têm demonstrado que sabem como
ninguém encontrar boas ideias e soluções em situações de aperto e
sufoco. Mas, Pedro Santos acredita que não é isso que move os
empresários portugueses actualmente mas sim a necessidade de
preparação para os desafios que se avizinham.
"As mudanças estão em curso. São sobretudo demográficas: o
envelhecimento da população em Portugal contrasta com o
rejuvenescimento noutras geografias. Em Angola, por exemplo, perto de
50% da população tem menos de 15 anos. Também a economia mundial sofre
a deslocalização dos centros de poder para os BRIC. A Europa e os EUA
deixaram de ser os centros de decisão do Mundo".
As implicações para a agro-indústria nacional são muitas: desde logo
porque o Brasil, a Rússia, a Índia e a China são os países que mais
lutam para pôr fim às barreiras de importação e movimento de bens. "Um
país pequeno como o nosso, que abandonou a produção de bens
alimentares, tem muito a perder".
Como pode o País preparar-se para enfrentar estes desafios? "Portugal
tem de construir um pulmão forte de produção mesmo nas culturas onde
não é competitivo, como cereais, algumas frutícolas, entre outros,
para reduzir as importações e tornar-se menos dependente do
estrangeiro. E investir na produção de um conjunto de produtos de
nicho – competitivos e diferenciadores – que fazemos realmente melhor
do que outros, para exportar". Azeite, vinho, pêra rocha, mirtilos,
enchidos tradicionais e frutos secos, são alguns exemplos. "Temos um
conjunto de riquezas que não sabemos aproveitar".
A aposta na sustentabilidade, como a redução da pegada de carbono, a
diminuição da poluição e a protecção das águas, entre outros, pode
funcionar como um bom argumento de diferenciação na hora de competir
com países que ainda não têm na agenda as questões ambientais.
Os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e o Brasil
são destinos de exportação privilegiados para os produtos portugueses.
"Em Angola, por exemplo, tudo o que é alimentar gira em torno das
marcas portuguesas, dominamos o mercado e somos reconhecidos pela
qualidade".
http://www.hipersuper.pt/2012/04/18/inovar-nao-e-so-lancar-novos-produtos-e-embalagens/

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