segunda-feira, 29 de julho de 2013

É dos maiores especialistas mundiais: "Há vinhos tão bons em Portugal que é difícil seleccionar 50"

Joshua Green é director da revista Wine & Spirits desde 1986. E há
mais de trinta anos que conhece os vinhos portugueses



Vinhos portugueses
Hêrnani Pereira
29/07/2013 | 15:45 | Dinheiro Vivo

Portugal deve explorar a diversidade das suas castas e tirar partido
do cariz único que estas variedades introduzem nos seus vinhos. Quem o
diz é Joshua Greene, um dos mais conceituados críticos
norte-americanos, que esta semana esteve em Portugal a convite da
ViniPortugal. Joshua Greene é um apaixonado pelos nossos vinhos e,
embora assuma que não são fáceis de entender, frisa que essa é a sua
grande vantagem.

"Ninguém nos EUA conhece a trincadeira ou o avesso [castas autóctones]
e isso é um valor imenso para os produtores portugueses, não há razão
nenhuma para plantarem cabernet ou chardonnay. Devem, sim, educar os
consumidores americanos sobre a sua diversidade, castas e regiões. Dá
trabalho, claro que sim, mas isso permite-lhes criar o seu próprio
mercado", afirma.

Há 30 anos que Joshua Greene visita Portugal com regularidade. Agora,
a ViniPortugal desafiou-o a selecionar os 50 melhores vinhos
portugueses para os EUA, um mercado prioritário para o setor. Nos
últimos três meses, Joshua passou uma semana por mês em Portugal a
escolher os melhores dos melhores entre mais de 600 vinhos que provou.
Uma tarefa árdua, que agora terminou e cujos resultados serão
conhecidos numa gala em Nova Iorque a 24 de janeiro do próximo ano.

Responsável pela revista Wine & Spirits desde 1986, Joshua Greene é o
segundo especialista norte-americano a quem coube esta difícil tarefa.
O primeiro foi o master sommelier e o master of wine Doug Frost. O
Dinheiro Vivo entrevistou Joshua Greene e quis saber em que é que a
sua seleção irá ser diferente da de Frost. "Somos pessoas diferentes,
temos gostos diferentes. Penso que quem conhece o meu gosto vai
perceber muito bem a minha escolha. Penso que será um pouco mais
tradicional do que a dele", afirmou.

Uma coisa é certa: a tarefa é tudo, menos fácil. "É muito difícil,
muito doloroso. O objetivo é mostrar Portugal no seu todo", diz
Joshua, explicando que pretende escolher vinhos "muito
característicos" de cada uma das regiões, pelo que foi "muito útil" ir
eliminando os vinhos de estilo mais internacional. "Mas há vinhos tão
bons que é muito difícil escolher só 50. Estou a deixar de fora
excelentes vinhos e isso deixa-me muito triste", sublinha.

Os EUA e o vinho
O mercado norte-americano é, atualmente, o quarto principal destino
das exportações de vinho português, tendo crescido 8,4% em 2012, para
51,3 milhões de euros. A meta estabelecida pela ViniPortugal, que está
a aplicar dois milhões de euros do seu plano de promoção neste mercado
este ano, é a de conseguir um aumento das exportações portuguesas para
os EUA em 40% num período de três anos. A meio do percurso, Jorge
Monteiro, presidente da ViniPortugal, assegura que os dados mostram
que o objetivo será atingido.

Os EUA são, provavelmente, o maior mercado de vinho no mundo. Com uma
população de 314 milhões de pessoas, provenientes de praticamente todo
o mundo, quisemos saber que tipo de vinhos é que o consumidor
americano prefere.

Joshua Greene aponta, precisamente, a profusão de culturas para
assegurar que não há um consumidor-tipo. "Neste momento, há duas
categorias que vieram do nada e estão a 'bombar' e a conquistar novos
consumidores para o vinho. Temos os jovens, dos 20 aos 27 anos, que
bebem vinhos tintos muito doces. E há um boom enorme, entre os
consumidores afro-americanos e hispânicos, do Moscato. O Moscato Asti,
o da Califórnia... Pode ser uma oportunidade para o moscatel
português, se for feito dentro daquele estilo doce, com um baixo grau
alcoólico, na ordem dos 5 a 6%, e com um toque de frisante", explica o
crítico.

Mercado potencial e em grande desenvolvimento é, também, o dos
apreciadores de vinhos naturais. "Há uma variedade imensa de gostos.
Para o produtor português, creio que o desafio será chegar aos EUA e
identificar quem é o seu consumidor potencial. Assim que o encontrar,
só tem de expandir", defende Joshua Greene.
Questionado sobre a região portuguesa que mais aprecia, o crítico
norte-americano não hesita em apontar o Douro, classificando-o como um
dos "terroirs de excelência em qualquer parte do mundo" e destacando o
papel do homem na sua construção. "Para mim, é a região mais dramática
do ponto de vista físico e a mais emocionante de todas", frisa. Mas no
que à presença dos vinhos portugueses no mercado americano diz
respeito, Joshua destaca os verdes. "Há muitos americanos que
adotaram, realmente, o vinho verde como o seu vinho e que o servem nos
casamentos e aniversários", explica, apontando a "excelente relação
qualidade/preço" como o factor distintivo. E, a reboque do vinho
verde, "há muitos importadores que começam a comprar outros vinhos
portugueses. Esse foi o ponto de acesso ao trade", diz.

Joshua assume que foi a existência de vinhos de "excelente qualidade"
a preço muito baixo - "compravamos vinho a menos de um dólar a
garrafa, era de doidos" - que o conquistou há 30 anos quando começou a
visitar Portugal.

http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/Artigo/CIECO216019.html?page=0

Sem comentários:

Enviar um comentário