domingo, 4 de junho de 2017

Em Oeiras, a agricultura é porta de entrada no mercado de trabalho



Para seis utentes da associação BIPP – Inclusão para a Deficiência, a formação em agricultura terminou com uma oferta de emprego. Hoje cultivam 12 hectares, em Oeiras, e o projecto está pronto para crescer.

MARGARIDA DAVID CARDOSO 1 de Junho de 2017, 20:28 Partilhar notícia

Antes da agricultura, estas pessoas estavam "a léguas de entrarem no mercado de trabalho". Tinham capacidades para desenvolver competências mas não estavam a potenciá-las, foi o diagnóstico de Joana Santiago, presidente da associação BIPP – Inclusão para a Deficiência, que as acompanha desde 2014 no projecto de capacitação de pessoas portadoras de deficiência intelectual e de desenvolvimento - Programa Semear. Hoje, seis homens entre os 25 e 45 anos trabalham numa exploração agrícola em Oeiras. O que cultivam começou a ser vendido num mercado local. No futuro, apontam para mercados e supermercados nacionais.

Tiveram formação, ao abrigo do programa, e no final foi-lhes oferecido um posto de trabalho: 12 hectares de cultivo e dois agrónomos na chefia. Desde Dezembro, cumprem um horário das 8h às 17h, recebem o salário mínimo.

Cultivar a terra para pertencer à terra

Tomás Coimbra, um dos agrónomos, regressa à quinta depois de levar os últimos produtos para o mercado Semear, no parque empresarial Lagoas Park, em Oeiras. Lá, quatro dos trabalhadores acabavam de montar a banca de venda de fruta e legumes e compotas produzidas por um outro projecto da BIPP, o Mercado Gourmet. É assim há três semanas, sempre à quinta-feira, entre as 11h e as 19h, e a intenção é que continue.

A criação do mercado acontece quando a produção "já está encaminhada", contextualiza Tomás Coimbra. Começaram a produzir no início do ano, num terreno de 12 hectares cedido pelo Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), na Quinta do Marquês de Pombal. Acabam de colher as primeiras culturas e começaram a plantar as que se seguem. A rúcula e os espinafres já acabaram por este ano, a abóbora está a ser plantada. Não tarda colhem-se os tomates, couve portuguesa e cenouras, melões e melancias.

Ainda não se pode dizer que a produção é biológica – "porque este solo, habituado ao pasto, implica alguns químicos autorizados nos primeiros anos" – mas é para lá que querem caminhar, explica Tomás Coimbra.

Das hortas do Semear, levaram brócolos, couve lombarda, favas e cebolas, o que ainda não chega para abastecer o mercado por completo - os outros produtos são comprados a produtores locais. Importa agora aumentar a produção e obter a certificação da Global Gap, de forma a "garantir a qualidade e segurança dos produtos", acrescentou o agrónomo. Abastecer outros mercados e supermercados e explorar culturas tradicionais são as metas que se seguem.


A escolha de culturas curtas (que duram parte do ano) não é por acaso: "Queremos habituar os clientes a uma oferta diversa". É uma questão de negócio, diz Tomás Coimbra. Joana Santiago reforça: isto "não é angariação de fundos. É trabalho, não é por caridade. Isto é uma empresa com um modelo de negócio". Apenas diferente das outras, dizem, por ser inclusiva. Já ali foram investidos 300 mil euros.

"Isto mostra à sociedade que estas pessoas são capazes de desempenhar, e bem, as suas funções", prosseguiu a presidente da BIPP. É também uma forma de empoderamento de quem "cresceu a achar que não tinha capacidade para sair de um ciclo de pobreza e exclusão social", expões Joana Santiago.

Através do Semear, a BIPP formou 36 pessoas, desde 2014, o primeiro ano do programa. 20 estão empregadas, expõe Raquel Monteiro, técnica superior da BIPP. A maioria era beneficiário do Rendimento Social de Inserção (RSI) ou do subsídio de desemprego.

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