sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A exploração laboral na origem do tomate vendido na Europa


Foto: Elaine Casap/Unplash


25 Outubro 2017 às 15:51

Documentos judiciais revelam que produtos feitos à base de tomate, vendidos por duas grandes cadeias de distribuição italianas aos supermercados europeus, têm trabalhos forçados na sua base, na fase do cultivo.

Os documentos, citados pelo britânico "The Guardian" e assinados pela procuradora italiana Paola Guglielmi, fazem parte de uma investigação judicial espoletada pela morte de um trabalhador sazonal, num campo de cultivo de tomate, no sul de Itália.

Segundo a procuradora, as empresas italianas Mutti e Conserve Italia são acusadas de sujeitarem os trabalhadores, a maioria migrantes a trabalhar sazonalmente, a "condições de exploração absoluta".

Segundo o jornal britânico, os gigantes italianos fornecem os principais supermercados britânicos e europeus com tomate em lata, polpa de tomate e outros compostos do fruto.


Como resultado de uma longa investigação - alicerçada em registos telefónicos e numa operação de vigilância aérea levada a cabo pela própria em campos de cultivo na região -, a procuradora conseguiu relacionar a "exploração" dos trabalhadores migrantes sazonais com os gigantes industriais.

A Conserve Italia, que produz tomates enlatados da marca Cirio, vendidos pela multinacional Tesco, afirmou, em comunicado, que exige que todos os seus fornecedores "respeitem" os trabalhadores e o código ético da empresa.

"Sabemos que no sul de Itália, há algumas situações que não estão na nossa linha, mas não conseguimos nem é nossa responsabilidade verificar o que acontece na região. Pedimos aos nossos fornecedores que respeitem os direitos humanos", disse o porta-voz da empresa, que cortou relações com o fornecedor em causa, depois da morte de Muhammed.

A Multi defendeu-se dizendo que sempre esteve comprometida com a "luta contra a exploração laboral" e que vai continuar a estar, em cooperação com fornecedores e concorrentes para evitar acidentes no terreno.

A polémica em torno do caso começou com a morte de Abdullah Muhammed, um imigrante sudanês de 47 anos, que sofreu um ataque cardíaco enquanto trabalhava num campo de cultivo em Nardó, no sudeste de Itália, em julho de 2015. A acusação de homicídio contra o então empregador - também sudanês - baseia-se na premissa de que a vida de Abdullah teria sido salva se este tivesse podido ir ao hospital.

"Neste caso, houve homicídio. O homem não teria morrido se tivesse sido assistido por um médico. A violação das disposições de segurança no trabalho foi flagrante", disse Paola Guglielmi.

A investigação preliminar ao caso está concluída, restando agora a um juiz a tarefa de decidir se este deve ir a julgamento.

Segundo o relato do "The Guardian", no dia em que morreu, Muhammed tinha começado a trabalhar no campo às quatro horas da manhã, onde trabalharia na colheita do tomate até às 17 horas. Fazia-o sete dias por semana, sem interrupções ou pausas para descanso, durante a época para a qual era contratado. O chamado trabalho sazonal era pago com o salário mínimo e não dava direito a acesso a assistência médica.

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