segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Como a madeira queimada acaba nas nossas casas


25.10.2017 16:02 por Ana Catarina André e Bruno Faria Lopes 2811

A madeira ardida nos incêndios deste ano tem valor, está a entrar num ciclo que emprega milhares de pessoas – e vai acabar em produtos que usamos todos os dias.
 

Ricardo Pereira
Na serração Progresso Castanheirense, uma das 40 empresas destruídas pelo incêndio de Pedrogão Grande que em Junho provocou 64 mortes e deixou mais de 150 desalojados, já há máquinas a trabalhar, empilhadores a transportar matéria-prima e camiões carregados e prontos a sair. "Aos poucos, vamos pondo tudo a funcionar", diz Sandra Carvalho, gestora da empresa familiar situada no concelho de Castanheira de Pera. "Estamos a trabalhar com madeira queimada, mas claro que ninguém gosta", desabafa. 

As serrações e os madeireiros são elos de um circuito industrial que usa a madeira de pinheiros e eucaliptos que ardeu nos incêndios. Esta madeira serve para fabricar as paletes de madeira que transportam os produtos que consumimos, para os aglomerados que estão dentro das portas e dos móveis que compramos, para o papel onde escrevemos e lemos, para a construção, para móveis de madeira maciça, para pellets que aquecem casas e dão energia às empresas.

"Há muita madeira queimada nas nossas casas", observa João Gonçalves, director da Centro Pinus, a associação que reúne em Portugal todos os protagonistas da chamada "fileira do pinho", que emprega mais de 50 mil pessoas.  Ao contrário do que a imagem dramática de uma floresta em chamas pode sugerir, a madeira ardida com diâmetro suficiente pode manter intacta a sua validade técnica e comercial.

Aproveitar e valorizar esta madeira é algo visto pelos empresários e peritos da área como um imperativo num país em que, antes de ter ardido este Verão o equivalente ao distrito de Viseu, já havia défice de madeira. Antes dos incêndios recorde deste ano, a Centro Pinus estimava que em Portugal faltava madeira de pinho para cobrir 43% do consumo industrial. 

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