segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Praga que ataca culturas de milho "alastra rapidamente em África"




 06.02.2017 11h46
SIC
A comunidade científica lançou um alerta para a necessidade urgente de travar o avanço de uma praga que está a ameçar, de forma fulminante, as culturas de milho no continente africano. Trata-se de uma lagarta que se está a transformar num dos maiores perigos para a segurança e comércio alimentar, avisa o Centro Internacional de Biociência Agrícola.

Esta organização sem fins lucrativos, CABI na sigla inglesa, considera que a sobrevivência dos produtores agrícolas está em risco dado que a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda), oriunda do continente americano, se está a reproduzir rapidamente e poderá chegar à Ásia e aos países do Mediterrâneo.

No Brasil, por exemplo, a lagarta do cartucho é considerada uma das principais pragas que destrói a cultura do milho, causando perdas anuais de quase 400 millões de euros. Em alguns casos, o ataque desta praga chegou a destruir 60% da produção. Há muito que a sua ameaça é conhecida na América, também por afetar outras culturas, como a do algodão, soja e arroz.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação está a planear uma reunião de emergência para dar resposta a esta ameaça global. O encontro está previsto para Harare, no Zimbábue, de 14 a 16 de fevereiro.

"Esta espécie invasiva é agora uma praga perigosa que alastra rapidamente em África, em especial na África equatorial, com possibilidade de chegar à Ásia. É necessária uma ação urgente para prevenir perdas devastadoras das culturas", alertou Matthew Cock, responsável da equipa científica do CABI.


CABI
Também conhecida por lagarta dos milharais e lagarta militar, a lagarta do cartucho começa por atacar a parte central da espiga chegando a destruir a planta por completo. Os cientistas acreditam que esta praga tenha chegado ao continente africano através de produtos importados. Depois de se estabelecerem numa zona, as mariposas adultas conseguem voar grandes distâncias e a lagarta multiplica-se de forma rápida.

Jayne Crozier, responsável do CABI, refere que a presença da lagarta já foi confirmada na África Ocidental e julga-se que possa também haver registos desta praga em culturas a sul e a oeste do continente.

"A recente descoberta da lagarta do cartucho em África constitui uma enorme ameaça à segurança e comércio alimentar na região", sublinha Jayne Crozier, em declarações à BBC.


CABI
Os ataques da lagarta do cartucho intensificaram-se nos últimos anos devido à resistência aos inseticidas e também devido às recentes mudanças no modo de produção do milho.

As autoridades da Zâmbia já estão a usar aviões militares para espalhar pesticidas nas zonas afetadas.

Morreu o grande ulmeiro que recebia os visitantes da Fundação Gulbenkian



Árvore morreu vítima de doença para a qual "ainda não existe nenhum tratamento eficaz"

O anúncio foi feito esta quarta-feira pela Fundação Gulbenkian: morreu o grande ulmeiro que recebia os visitantes junto à entrada principal do edifício sede da Fundação. A árvore está a ser removida e, explica uma nota da Gulbenkian, morreu vítima de grafiose do ulmeiro, "doença que já nos anos 80 dizimou a mata de ulmeiros que existia na zona poente do jardim, e para a qual ainda não existe nenhum tratamento eficaz".


A mesma nota refere que a grafiose é uma doença que afeta grande parte dos ulmeiros, "sobretudo as árvores adultas que vivem nas cidades", sendo transmitida por algumas espécies de escaravelho que se alimentam dos ramos e troncos das árvores, construindo túneis sob a casca onde depositam os ovos, "trazendo muitas vezes esporos de fungos de árvores doentes".

"As árvores ainda vivas no Jardim Gulbenkian foram as que conseguiram resistir durante mais tempo a esta doença europeia que tem dizimado a espécie nas últimas décadas. Em Lisboa são das poucas que ainda existem, fruto do cuidado e dedicação que a equipa de jardinagem lhes dispensa, mas a idade e a poluição atmosférica não ajudam, acrescendo o facto de nesta zona do jardim disporem de muito pouca altura de solo. Este ulmeiro será em breve substituído por uma árvore jovem", refere ainda a Fundação.

"Lagarta militar" ameaça agricultura africana


Já há seis países afetados e cientistas falam de uma emergência que vai abalar a sustentabilidade alimentar

Cientistas detetaram em vários países africanos a presença de uma lagarta que destrói plantações de milho, e não só, e pedem que sejam tomadas medidas urgentes para evitar a sua propagação.

A Spodoptera frugiperda, conhecida como a lagarta militar, é original da América e representa uma grande ameaça à produção de comida, segundo o Centro para a Agricultura e Biociência Internacional (CABI). A este passo, a praga chegará à Ásia e a países do Mediterrâneo em poucos anos.

Na investigação do CABI apresentada esta segunda-feira, segundo a Reuters, é explicado que a lagarta põe em risco a sustentabilidade de países dependentes da agricultura e deverá continuar a propagar-se no continente africano.

Além de se alimentarem das espigas de milho, destruindo as colheitas, estas lagartas comem mais de 100 espécies de plantas e destroem culturas de arroz, cana-de-açúcar, repolho, soja e beterraba.

Neste momento, a lagarta já foi encontrada pelos cientistas do CABI na Zâmbia, Zimbabwe, Malawi e na África do Sul mas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a praga está também presente na Namíbia e em Moçambique.

A lagarta militar "provavelmente viajou para África como adulta ou em ovos em voos comerciais", dentro de produtos importados, "e desde então tem-se espalhado dentro de África graças à capacidade de voo", explicou Matthew Cock, investigador principal do CABI. A traça da lagarta militar consegue voar grandes distâncias.

"São necessárias medidas urgentes para prevenir perdas devastadoras para as culturas e a subsistencias dos agricultores", continuou Matthew Cock.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura quer marcar para dia 14 a 16 uma reunião de emergência para discutir um modo de ajudar os vários países a responderem a esta praga, segundo a BBC.

Ministro da Agricultura quer consenso nacional sobre reforma da PAC


O Ministro da Agricultura anunciou hoje a criação de um "órgão" de
acompanhamento e aconselhamento do próprio Ministro, que permita
contribuir para a formulação e adaptação da posição nacional sobre o futuro da
PAC, no decurso do processo negocial que se avizinha.

Capoulas Santos explicou, na abertura do XI Congresso da Anpromis, que
pretende que "a estrutura a constituir tenha uma componente técnica
independente, com recurso aos nossos melhores especialistas na matéria e uma
componente de diálogo, e auscultação permanente do sector agrícola através
das suas organizações mais representativas". O Ministro acrescentou que tudo
fará para "reunir o maior consenso nacional possível, em torno da defesa dos
interesses portugueses, já que toda a conjugação de esforços será sempre pouca
para enfrentar com êxito os enormes desafios que teremos pela frente".

O titular da pasta da Agricultura apresentou igualmente o balanço da execução
do Programa de Desenvolvimento Rural, sublinhando que Portugal foi, em 2016,
o 1º Estado Membro da EU com maior percentagem de pagamentos do I Pilar em
31/dez (99,9%), encontrando-se na 5ª posição entre os 28, no que à execução
financeira dos programas de Desenvolvimento Rural diz respeito. Segundo o
Ministro, "isto deveu-se ao facto de termos conseguido desbloquear o PDR 2020,
que encontrámos, em outubro de 2015, sem um único projeto contratado, e
com uma execução acumulada de 12% em 2014 e 2015, trazendo-o para uma
situação em que, dos 32.213 projetos entrados, 28.488 (88%) se encontram já
analisados, dos quais 16.200 decididos e 8.494 contratados, a que corresponde
um investimento global de cerca de 1.000 milhões euros e um apoio público
(UE+OE) de quase 600 milhões euros". Capoulas Santos deu ainda nota de que
em 2016 foi batido o recorde de aprovação de candidaturas a projetos de
investimento (mais de 15.000), ultrapassando o ano 2010 (ano com melhor
registo até agora), com 10.852.

O Ministro reforçou que o Governo mantem o objetivo de equilibrar a balança
comercial agroalimentar, em valor, até 2020: "os recentes dados disponíveis
relativos a 2016, confirmam que conseguimos reduzir o deficit em cerca de 700
milhões euros, o que reforça a nossa convicção de que é realista essa meta".

 Lisboa, 02 de fevereiro de 2017

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Reforma florestal: consenso para mais asneira é mesmo não!

OPINIÃO

Sem desmerecer o contributo doutros agentes, não se poderá fazer prevenção de incêndios sem sapadores florestais. Com medidas assim está a cavar-se a sepultura das brigadas de sapadores que ainda vão resistindo.
17 de Janeiro de 2017, 5:46 Partilhar notícia

Em 3 de Novembro passado este jornal publicou um artigo de opinião meu intitulado "Reforma Florestal: consenso para a asneira, não!". A ideia central desse artigo que continuo a manter é que o pacote legislativo que resultou do Conselho de Ministros de 27 de Outubro persiste num erro que perdura na política florestal há cerca de dois séculos, pelo menos, que é o de privilegiar "instrumentos de política de comando e controlo, em vez de incentivos à melhoria da organização dos produtores florestais privados para a gestão dos seus espaços florestais."


Apesar desta divergência de fundo, restava ainda uma esperança sobre o que poderia vir num programa que não faz parte deste pacote legislativo, mais precisamente o dos sapadores florestais. É que, se, com alguma benevolência, quisermos procurar na política florestal algum ténue esboço do que poderia ser o regime de contratos programa entre o Estado e as organizações de produtores florestais que é advogado nesse artigo, isso seria o programa de sapadores florestais. Com vários defeitos que é preciso corrigir, e sem se dirigir em exclusivo às organizações de produtores florestais, apesar de tudo, este programa é a medida de política que, há mais anos (desde Agosto de 1999) tem providenciado co-financiamento público para os custos de investimento e de funcionamento de acções de produção de um bem público (prevenção de incêndios) providenciado pelas organizações com sapadores florestais.

Essa esperança de que, pelo menos, daqui poderia vir alguma coisa de positivo era alimentada pela informação que circulava sobre a actualização de 35000 para 40000 euros do co-financiamento do Estado para os custos do "serviço público" prestado pelas brigadas de sapadores florestais, co-financiamento esse que nunca actualizado desde o início deste programa, ou seja, desde ... 1999!!! Se o tivesse sido, agora o seu valor deveria ser não de 40000, mas de 47000 euros.

Apesar do valor de 40000 euros ficar aquém do necessário, situação que ainda se poderia aceitar dada a situação em que se encontram as contas públicas, esta actualização poderia ser o sinal do início de uma mudança gradual no sentido de levar o valor desse co-financiamento público para os níveis em que deverá estar. A esperança sobre esta mudança morreu com a publicação do Decreto-Lei N.º 8/2017, de dia 9 de Janeiro, onde se diz, no n.º 6 do artigo 19.º, que o valor da comparticipação do Estado que, de facto, passa para 40000 euros, será "atualizado com periodicidade não inferior a cinco anos". Com as subidas no salário mínimo que têm repercussões directas nos gastos de pessoal das brigadas de sapadores este aumento de 5000 euros por brigada já estará todo absorvido por essas subidas de salários em 2018. O que fazer, então, nos três, ou mais anos seguintes em que a comparticipação pública não vai ser actualizada?

Há mais situações que oneram os custos das brigadas de sapadores e que este decreto deveria ter corrigido, mas não corrigiu, como, por exemplo, contar com se fossem dias úteis, sem contar a correspondente folga a que os sapadores têm direito, os fins-de-semana em que eles estão de "serviço público". A consequência para as organizações com brigadas de sapadores florestais que respeitem este direito dos trabalhadores é que lhes têm que dar folgas, por sua conta e sem nenhuma comparticipação do Estado, correspondentes a cerca de um mês de trabalho por brigada e por ano!

Sem desmerecer o contributo doutros agentes, não se poderá fazer prevenção de incêndios sem sapadores florestais. Com medidas assim está a cavar-se a sepultura das brigadas de sapadores que ainda vão resistindo. Por isso, não me venham falar de "reforma" da política florestal, nem de que se está a dar prioridade à prevenção de incêndios. Face à realidade que se vive no terreno por quem lá está a trabalhar por esta causa, não só no Verão, mas no Inverno e no resto do ano, essas "reformas" e essas declarações de prioridade são só conversa. Desta conversa, já estamos cansados!

O preço da curgete triplicou e a culpa é do mau tempo

Mudança de hábitos alimentares introduziu novos produtos na dieta portuguesa que não se adaptam ao clima local.

 Ana Rute Silva

No Reino Unido, os supermercados estão a limitar a quantidade de brócolos, alface ou curgete por cliente devido à queda na produção destes produtos. A "culpa" é das baixas temperaturas que dizimaram a produção em Espanha, país onde o Reino Unido se abastece neste tipo de alimentos. Em Portugal não há prateleiras vazias, mas o preço da curgete, por exemplo, aumentou dos habituais 1,50 euros para 4,60 ou mesmo cinco euros em algumas das maiores cadeias de distribuição.


Domingos dos Santos, presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (Fnop), não quantifica a dimensão das perdas, mas lembra que muitas das espécies de legumes que agora são consumidas com frequência não são características do país, nem adaptadas ao solo. "No passado, a nossa alimentação durante o Inverno era baseada em autóctones como as couves, nabos, batata e pouca cenoura. Mas entretanto na Europa começámos a plantar semitropicais, como a curgete, o chuchu, a beringela e o nosso clima nem sempre permite essas culturas. Este ano, com as temperaturas de novo baixas, destruiu-se uma parte dessas culturas ao ar livre", disse ao PÚBLICO.

Em Espanha, França, Bélgica e Holanda o cenário é o mesmo. A produção que se salvou é diminuta e inclui estufas, onde os custos de produção são mais elevados (o que se reflecte no preço final). Domingos dos Santos sublinha que, por cá, não há falta de legumes nas lojas, mas os preços reflectem a escassez de produtos.

"O caso de Inglaterra é muito mais preocupante. Em Portugal temos zonas em que houve estragos, mas quem alimenta o Reino Unido são os espanhóis", sublinha.

Num comunicado recente, a Fepex, federação espanhola de exportadores de frutas, legumes e flores, avisou que a produção de alguns vegetais será 60% mais baixa do que o normal e que a situação deverá manter-se até meados de Abril.

Alimentos orgânicos: vale mesmo a pena?


Sopa, legumes no prato e fruta em todas as refeições. A seguir, produtos da estação... 
biológicos se o orçamento o permitir

PEDRO CARVALHO 5 de Fevereiro de 2017, 8:10 Partilhar notícia

Trata-se de uma pergunta difícil e que não possui uma resposta verdadeiramente esclarecedora ou que agrade a todas as pessoas. Por isso, vamos olhar para os estudos existentes sobre o tema e dar alguma informação.

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Quando se faz a comparação da agricultura orgânica versus a convencional, existem duas vertentes importantes que devem ser consideradas: a nutricional e a toxicológica. Começando pela nutricional, não é garantido que um alimento orgânico seja mais rico em fibra, vitaminas e minerais do que o seu análogo "convencional". Os detractores da agricultura orgânica poderiam usar este argumento ou até (a reboque do que já foi feito com o leite), citar a Universidade de Harvard, quanto à não existência de benefícios dos alimentos orgânicos.

Mas uma análise séria e imparcial tem de reconhecer que quando falamos sobretudo de frutas e hortícolas, olhar apenas as suas vitaminas e minerais é contar uma pequena parte da sua rica história nutricional. Como tal, as compilações dos vários estudos existentes sobre o tema, permitem dizer que os variados fitoquímicos (compostos com acção antioxidante) de uma série de alimentos como frutos vermelhos, tomate, maçã, morango, laranja e couves variadas é de facto maior nos biológicos, sendo que este acréscimo está na ordem dos 25%. Algo que faz sentido, uma vez que estes compostos são formados como um mecanismo de defesa da própria planta a factores agressores exógenos, que acabam por ser minimizados com a utilização de pesticidas sintéticos. Ainda assim, estando a falar de alimentos cujas viagens, tempo de prateleira e exposição à luz reduzem substancialmente o teor de todas estas substâncias, é de salientar que o critério primordial na hora da compra terá sempre de ir para a localidade e sazonalidade dos mesmos, suplantando o facto da sua proveniência ser orgânica ou convencional.

Se nutricionalmente já vimos que os alimentos orgânicos levam ligeira vantagem, o que dizer na exposição a outros compostos nefastos? Os dois grandes estudos citados acima, também nos revelam que regra geral, quer nos resíduos de pesticidas, quer na presença de alguns metais pesados como cádmio e chumbo, os alimentos orgânicos oferecem uma segurança extra, como também é documentado no último relatório da Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar. E a palavra extra aqui é essencial, uma vez que tal não quer dizer que os outros não sejam seguros, até porque as quantidades destas substâncias encontradas no produto final, estão genericamente abaixo dos limites legais.

Um argumento muitas vezes utilizado na defesa dos alimentos orgânicos é o menor impacto ambiental resultante deste tipo de agricultura. A este nível é importante reconhecer que se é verdade que uma quinta orgânica utiliza menos energia e é responsável por uma menor emissão de gases do que uma convencional com a mesma área, é também verdade que a quantidade de alimento produzido é menor, o que faz com que esta comparação (em termos de kg/produto) não seja substancialmente diferente da convencional e que o fornecimento de hortofrutícolas a grande escala quer a nível de custos, quer de espaço utilizado, muito dificilmente poderia ser assegurado por métodos orgânicos de forma exclusiva.

Pesando todos os argumentos na balança, a primeira prioridade deveria ser sem dúvida a existência de sopa, legumes no prato e fruta em todas as refeições. Estando esse pré-requisito atingido, a escolha de alimentos locais e sazonais é sem dúvida o passo seguinte e se possível optar (na medida que o orçamento permitir) pelos biológicos. Felizmente, hoje em dia existem cada vez mais projectos com entregas semanais de cabazes de fruta e legumes sazonais e biológicos a preços acessíveis, bem como diversos mercados dedicados exclusivamente a esse efeito. Caso tenha também aquele amigo que lhe consegue fruta e legumes orgânicos, ovos caseiros e afins, preserve-o bem, a sua saúde agradece!

domingo, 29 de janeiro de 2017

Novas Leis da floresta não pensam nas alterações ao clima


26 DE JANEIRO DE 2017 - 20:50

Especialista em alterações climáticas critica falta de horizonte das leis florestais.

Foto: Gerardo Santos / Global Imagens
FOTOGALERIA DO DIA

Milhares de pesssoas em protesto nos aeroportos dos EUA

O investigador Filipe Duarte Santos considerou hoje que a reforma da legislação florestal foi criada sem ter em conta as alterações climáticas que poderão mudar muito o tipo de clima de boa parte do sul do país.

"É surpreendente que este pacote legislativo, que é bem vindo e tem muitos aspetos positivos, não tenha tido em conta logo de início aqueles departamentos da administração central que têm a responsabilidade da adaptação às alterações climáticas", afirmou à Agência Lusa, à margem de uma conferência sobre investigação florestal.

Falando no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, Filipe Duarte Santos afirmou que "daqui a 50, 60 anos, o clima vai ser diferente", o que se deve refletir nas novas florestas que estejam e venham a ser plantadas, uma vez que "a floresta é um investimento a longo prazo".

"Quando se faz uma política florestal tem que se ter um horizonte temporal de 40 ou 50 anos", afirmou, referindo-se ao pacote de legislação aprovada em Conselho de Ministros em outubro passado.

No sul do país, por exemplo, "a floresta é vulnerável, sobretudo o montado", que desde há cerca de 50 anos tem cada vez menos chuva anualmente.

"Se continuar o decréscimo de precipitação e o aumento das temperaturas, as condições, que já não são ótimas, vão degradar-se e é necessário ter isso presente", defendeu, acrescentando que a floresta pode adaptar-se, mas que a ação humana também pode ajudar.

O catedrático da Universidade de Lisboa afirmou que "as pessoas que estão a investir na floresta e a plantar novas florestas têm que ser informadas sobre as condições climáticas futuras, até por uma questão económica".

Filipe Duarte Santos, especialista em Geofísica e Física Nuclear, apresentou projeções que, no pior dos cenários de continuado aquecimento global, vão significar que no fim deste século o Algarve e o Alentejo poderão ter um clima desértico, com cada vez menos caudal nos rios, nomeadamente o Tejo.

No plano internacional, considerou que "a China vai liderar o combate às alterações climáticas", quer por a sua economia se basear no carvão e ser extremamente poluente, quer por estar cada vez mais sujeita a fenómenos climáticos extremos.

"Eles têm perfeitamente consciência de que é necessário combater as alterações climáticas", afirmou, lembrando a primeira intervenção de um Presidente chinês no Fórum Económico Mundial de Davos, e defendendo que é preciso "respeitar um governo que tem esta consciência" e quer "contribuir para que no futuro o mundo não tenha sittauções graves".

Quanto à atuação do novo Presidente norte-americano, Donald Trump, Filipe Duarte Santos, que foi um dos revisores do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, considerou que "as notícias não são boas".

"Não sabemos o que Trump vai fazer [aos acordos de Paris contra o aquecimento global]", afirmou, apontando a nomeação para chefe da diplomacia norte-americana do ex-presidente da petrolífera ExxonMobil como sinal da incerteza.

Reforma para as florestas: a correr para ficar no mesmo lugar?


Miguel FreitasSeguir
27/1/2017, 0:52185

O problema da floresta não é tanto do âmbito legislativo, mas da sua operacionalização, que depende muito mais do voluntarismo de Estado do que de compromissos para o "bom funcionamento" dos mercados.

Está em consulta pública o pacote legislativo acerca de uma reforma para a floresta. O Governo cumpriu. Depois de mais uma época tremenda de fogos, o assunto não morreu nas palavras. A floresta está na agenda política. Isso é, desde logo, positivo. Também o processo me parece estimulante: trabalho intergovernamental, discussão pública alargada, envolvimento dos agentes, procura de compromisso na Assembleia da República.

1. A dura realidade

Portugal é o único país da Europa que está a perder área florestal (segundo relatório da FAO, 2015). Os dados do Eurostat confirmam isso mesmo (menos 255 mil hectares entre 2006 e 2015, isto é, 8% numa década). Este não é um bom cartão-de-visita para um país onde a floresta é reconhecidamente importante do ponto de vista económico e de gestão territorial, tendo um impacto enorme nos domínios das alterações climáticas e na conservação dos recursos solo, água e biodiversidade (cujo valor anual estimado de produção de bens públicos é da ordem dos 220 milhões de euros). Será possível inverter esta pesada tendência de redução de área florestal com as medidas propostas? Não creio. Com a necessidade de contenção das espécies de crescimento rápido e sem mecanismos de forte compensação que permitam a expansão de outras espécies e sistemas (um programa robusto silvo-ambiental que valorize os sistemas florestais e agroflorestais) e sem instrumentos de regulação de mercados (que equilibre a relação de forças entre uma indústria poderosa e uma produção pouco organizada), é mais que provável que em 2025 teremos ainda menos floresta do que agora.

Mas podemos ter uma floresta melhor gerida? Neste domínio as políticas públicas têm um efeito de alavanca, mas na prática os resultados têm sido dececionantes. A obrigatoriedade de apresentação de Planos de Gestão Florestal (PGF) para acesso aos apoios públicos levou a que mais de 1.5 milhões de hectares se tivessem submetido a este regime – embora somente 15 a 20% dessa área tenha sofrido intervenção desde 2006. O incentivo à criação de Zonas de Intervenção Florestal permitiu agrupar mais de 800 mil hectares, com muito interesse na Defesa da Floresta Contra Incêndios (DFCI), mas com baixo impacto no investimento produtivo. A certificação florestal é praticada em cerca de meio milhão de hectares e veio trazer uma dimensão de mercado mais estruturada, mas ainda residual na geração de valor. O que agora é proposto, com a criação das Sociedades de Gestão Florestal, o Banco de Terras e o cadastro simplificado, poderá contribuir, pois, para resolver alguns estrangulamentos que subsistem na gestão sustentável da floresta e na escala de intervenção e produzir resultados no médio prazo.

A outra dimensão essencial é a Defesa da Floresta Contra Incêndios. Se o atual sistema mostrou ter virtualidades, depois da sua criação em 2006, com um período de redução de áreas ardidas quase para metade (de uma média anual de 130 mil para 70 mil hectares, antes e depois daquela data), nos últimos cinco anos houve uma regressão. Uma leitura rápida permite-nos afirmar que após a primeira fase de instalação das grandes redes de prevenção e de criação de Equipas de Sapadores Florestais e de Planos Municipais de DFCI, entrámos num período de estagnação. O dispositivo de combate vai apagando os fogos, mas o modelo de prevenção não consegue evoluir. Elemento muito interessante – talvez a grande inovação destas medidas legislativas – a abertura para o uso do fogo de gestão (incêndios em épocas frias que ajudam a reduzir material combustível) e o uso sistemático do fogo controlado (criação do Plano Nacional de Fogo Controlado), ajuda a fazer a diferença. Mas não assegura a mudança.

2. Municipalização: dos equívocos à racionalidade do modelo

O debate à volta da municipalização da floresta, numa área que é esmagadoramente privada, só será consequente se não houver equívocos. Importa clarificar os níveis de intervenção e o papel dos municípios e da sua organização intermunicipal. Desde logo, não confundir o papel do planeador com o do gestor, evitando conflito de interesses. E dar centralidade no texto normativo às Comunidades Intermunicipais enquanto entidades de planeamento da Defesa da Floresta Contra Incêndios (em coerência, aliás, com o que se está a fazer com a elaboração dos Planos Regionais de Ordenamento Florestal). E, logicamente, estabilizar todo a arquitetura deste modelo nas cinco regiões plano, bem como o Sistema Nacional de Proteção Civil – o que impõe também aqui alterações legislativas – desfazendo o equívoco territorial do distrito. Este é um passo decisivo para dar maior racionalidade ao sistema.

Todos os anos nos repetem que falta prevenção. Dos 2000 quilómetros de "auto-estrada" previstos na rede primária estão concretizados menos de 30%. São precisos 120 milhões de euros para fazer o que resta e 150 milhões de euros para manutenção até 2025. Fora a rede secundária, caminhos e pontos de água. Para atingir o objetivo da duplicação das Equipas de Sapadores Florestais (500) são precisos mais 90 milhões de euros. Significa que este modelo de DFCI necessita, no mínimo, da duplicação de fundos, isto é, de 60 milhões de euros por ano. É possível? Os apoios de Estado são limitados e não esticam.

Os municípios fazem já um enorme esforço, representando 60% do investimento em prevenção e, mesmo assim, têm baixas taxas de execução (40%) dos Planos Municipais De Defesa da Floresta contra Incêndios. Importa rever o modelo, adaptando-o às diferentes realidades fundiárias do país e estimular a racionalização dos meios, através do associativismo municipal, em zonas homogéneas e em função do risco, procurando estabelecer prioridades de intervenção e promover a melhoria da eficácia destes planos. Isso permitiria dar uma nova lógica aos Gabinetes Técnicos Florestais, às Equipas de Sapadores Florestais e aos Planos de DFCI, que deveriam ser preferencialmente intermunicipais. Com isto o sistema ganharia consistência com bastante menos custos.

3. A chatice da despesa pública

Em suma, depois deste pacote legislativo, que tem um conjunto de aspetos positivos, haverá muito mais a fazer. A sua implementação, tal como está concebido, acarreta um aumento não despiciendo da despesa pública, o que agrava a limitação financeira para os sistemas de incentivo e de proteção das florestas. É preciso fazer as contas e saber como usar com mais eficiência o que lhe está atualmente imputado (teoria da 'manta curta', isto é, como afetar as verbas do Programa de Desenvolvimento Rural e do Fundo Florestal Permanente) ou onde há dinheiro 'novo' (vindo de áreas emergentes da economia, como os mercados voluntários de carbono, ou de fundos que podem ser mobilizados – públicos, como o fundo do ambiente, ou de investimento, incluindo da economia colaborativa). Porque, verdadeiramente, o problema da floresta não é tanto do âmbito legislativo, mas da sua operacionalização. Esta continua a depender muito mais do voluntarismo de Estado do que de compromissos para o "bom funcionamento" dos mercados (dos bens transacionáveis, mas também dos serviços ecosistémicos). Enquanto assim for, podemos estar como súbditos da Rainha de Copas do País das Maravilhas – running to stand still – a correr para ficar no mesmo lugar. Este debate está por fazer.

Professor universitário e ex-deputado do PS

sábado, 28 de janeiro de 2017

GOVERNO PROÍBE USO DE FITOFÁRMACOS EM ESPAÇOS PÚBLICOS

COMUNICADO


O Conselho de Ministros aprovou hoje a proibição da utilização de produtos fitofármacos nos espaços públicos. O Decreto-Lei que altera a Lei nº 26/2013, de 11 de abril, tem como objetivo restringir a utilização de fitofármacos em espaços públicos, privilegiando o uso de outros meios de controlo de pragas e plantas invasoras, como sejam o controlo mecânico, biológico, biotécnico ou cultural.

Nessa medida, passam a ser proibidos tratamentos fitossanitários em jardins infantis, parques de proximidade e parques de campismo, hospitais e centros de saúde, lares de idosos e escolas. A exceção à regra serão as escolas de formação em ciências agrárias. Outra das medidas a adotar é a obrigatoriedade de afixação de avisos que indiquem entidades responsáveis, tratamentos, data de tratamento e data a partir da qual pode ser restabelecido o acesso às áreas tratadas, sem restrições.

A nova legislação determina também que seja dada preferência a produtos fitofarmacêuticos que não contenham substâncias ativas incluídas na lista de substâncias perigosas prioritárias. As exceções à lei são as situações em que haja necessidade de fazer face a uma praga, devendo sempre ser dada prioridade à utilização de produtos cuja utilização é permitida em modo biológico e de produtos fitofarmacêuticos de baixo risco, quando disponíveis, ou quando não exista alternativa. Estas exceções dependem de autorização expressa da DGAV – Direção Geral de Alimentação e Veterinária, autoridade que regulamenta a aplicação de produtos fitofármacos.

As penalizações por violação do disposto na lei podem ir de 250 a 3 740 euros no caso de pessoas singulares, ou de 500 a 22 000 euros no caso de pessoas coletivas. A legislação entra em vigor 90 dias após promulgação. Desde novembro de 2015 que o uso profissional de produtos fitofarmacêuticos está sujeito a formação específica para os aplicadores, incluindo as Câmaras Municipais.

Lisboa, 26 de janeiro de 2017

domingo, 22 de janeiro de 2017

Ministro da Agricultura acompanha «com preocupação» falta de chuva no país

19-01-2017 
  
O ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, admitiu que o Governo está a «acompanhar com preocupação» a falta de chuva no país, e disse esperar «que São Pedro cumpra a sua missão».


«Estamos de facto numa situação que nos preocupa porque já o ano anterior foi um ano mau em termos de pluviosidade suscetível de recarregar os aquíferos», afirmou o ministro, assinalando que a chuva de 2016 «não foi suficiente».


Capoulas Santos adiantou que «há uma panóplia de soluções que só devem ser equacionadas em função do agravamento ou não da situação» e disse esperar que «o São Pedro cumpra a sua missão».


«Há até um ditado português que diz "abril, águas mil" e é normalmente quando há muita pluviosidade», referiu o governante, acrescentando porém que tal «não significa» que o Governo não esteja «a acompanhar a situação com preocupação».


O ministro da agricultura, que falava à margem da apresentação do livro "O Vinho no Tempo da Guerra", recordou que «o Governo já adoptou um conjunto de medidas para um conjunto de municípios no baixo Alentejo onde se esgotaram as reservas para abeberamento do gado».


Apesar das medidas tomadas, Capoulas Santos admitiu que o Governo está a «seguir com preocupação uma situação que pode de facto vir a agravar-se» e que «não deixará de agir de acordo com o que as circunstâncias determinarem».

Fonte: Lusa

Com o seu leite em pó, a Comissão e o Conselho apenas ajudam a transbordar mais o copo

CNA

Iniciativa de produtores de Leite em Bruxelas – 23 de Janeiro, por ocasião da reunião do Conselhos de Ministros da Agricultura

A Coordenadora Europeia Via Campesina (CEVC), da qual a CNA faz parte, irá manifestar-se juntamente com o European Milk Board (EMB), no dia 23 de Janeiro, em frente do edifício Justus-Lipsius (Rua de la Loi 175, 1000 Bruxelas), contra a colocação dos stocks de leite em pó resultante da intervenção pública e em defesa da reposição de um instrumento de regulação da produção de leite na UE. 

Como facilmente se entende, quando a Comissão Europeia e o Conselho de Ministros da Agricultura da UE lançam, num mercado inundado de leite, as suas 360 mil ton de leite em pó resultantes da aplicação da intervenção, não ajudam a recuperação dos preços ao produtor e muito menos ajudam a indústria a comercializar os seus imensos stocks gerados pelos largos meses de crise.

Se a Comissão e o Conselho tinham dúvidas sobre a crise no sector de leite, o mercado que tanto veneram deu-lhes uma resposta clara, quando em Dezembro apenas adquirir 40 ton das 20 mil que foram postas em licitação (menos de 1%). A razão é evidente: não foi pelo preço base de licitação estar alto, mas sim pelo mercado estar tão saturado que o preço no privado ainda é mais baixo de que o preço estabelecido pela Comissão.

O fim do regime de quotas leiteiras e o falhanço da política de exportação da UE deixaram o mercado do leite da UE a transbordar, onde todos, inclusivamente a CE, lutam agora para se desfazer dos seus stocks para júbilo da grande distribuição.

A CNA, que estará presente nesta iniciativa através de um dirigente da Confederação, continua a afirmar que apenas a reposição de um instrumento de regulação público da produção irá travar a destruição do sector do leite na Europa e salvaguardar a qualidade e sustentabilidade do modelo de produção.

Bruxelas, 17 de Janeiro de 2017,

sábado, 21 de janeiro de 2017

Crise foi boa para a agricultura


Em 2015 os ganhos de produção foram os melhores em 21 anos. Mas em seis anos a mão-de-obra no sector diminuiu 35,1%

FRANCISCO JOSÉ CARDOSO / MADEIRA / 19 JAN 2017 / 02:00 H.

 Crise foi boa para a agricultura

Não, não há mais pessoas a trabalhar na Agricultura. Mas há mais e melhor exploração agrícola. O tão propalado 'regresso' à terra de muitas pessoas apanhadas no furacão da crise, sobretudo desde 2010, não passou de miragem. Mas a verdade é que os números não mentem quanto ao aumento da quantidade e, consecutivamente, dos ganhos que o sector tem tirado de uma maior aposta na produção regional.

Segundo as 'Contas Económicas Regionais da Agricultura', referentes a 2015, publicadas pela Direcção Regional de Estatística da Madeira nesta terça-feira, a "produção do ramo agrícola na Região Autónoma da Madeira (RAM) atingiu os 104,4 milhões de euros", sendo este o segundo valor mais alto em 21 anos (desde 1995), só ultrapassado por 2010, em que se obteve rendimentos da terra no valor de 104,71 milhões de euros.

Os dados provenientes do Instituto Nacional de Estatística (INE), que divulgou recentemente a informação ainda provisória de 2015, possibilita a actualização da série com início em 1995.

Da análise dos dados é assim possível concluir que, "em 2015, a produção do ramo agrícola na Região Autónoma da Madeira (RAM) fixou-se em 104,4 milhões de euros, um crescimento de 14% em termos nominais face ao ano anterior" (91,55 milhões de euros).

Pecuária sem grande expressão

Refira-se que do total da produção agrícola regional de 2015, "84,5% foi proveniente da componente vegetal e 12,2% da animal, sendo que as restantes parcelas derivaram de serviços agrícolas e actividades secundárias não agrícolas", explica. "A nível nacional, o peso da produção vegetal foi inferior (55,9%), embora se tenha revelado também mais preponderante que a parte animal (39,7%)".

Já "desagregando a componente da produção vegetal (cujo total foi de 88,2 milhões de euros) para a RAM, constata-se que as parcelas mais representativas foram as hortícolas frescas (23,9 milhões de euros) e os frutos subtropicais (17,8 milhões de euros)", sendo que a "principal fatia da produção animal, cujo total foi de 12,7 milhões de euros, derivou da avicultura, que concentrou quase dois terços daquele total".

Uma vez que à "actividade agrícola está inerente a utilização de uma série de bens e serviços que constituem os consumos intermédios", salienta-se que "esta variável rondou os 39,9 milhões de euros em 2015 (+12,1% que em 2014 - 35,54 milhões de euros)". E conclui: "A diferença entre produção agrícola e consumo intermédio constitui o chamado Valor Acrescentado Bruto (VAB) agrícola. Em 2015, o VAB agrícola fixou-se em 64,5 milhões de euros, crescendo 15,2% em termos nominais entre 2014 e 2015." Ou seja, um total de VAB em 2014 de 56,01 milhões.

Menos gente na agricultura

Como referimos a abrir, ao contrário do que seria de supor, não há muito mais pessoas a trabalhar na agricultura, há é uma melhoria na produção.

De facto, durante sete anos (2008 a 2014) a mão-de-obra na agricultura regional superou as 10 mil pessoas. No ano de referência destas contas, estavam a trabalhar pouco mais de 9.710 pessoas, dos quais apenas 1.570 eram assalariados e a grande maioria 8.140 eram não assalariados.

No ano anterior, estavam no sector 10.110 pessoas como força de trabalho, 1.580 dos quais assalariados e 8.530 não assalariados. Em 2008, no ano do início da crise económica e financeira e que, alegadamente, terá levado muita gente ao desemprego e, por consequência, a procurar na agricultura uma forma de subsistência, existiam 11.240 pessoas, registando um interessante crescimento de 17,7% face a 2007 (9.250).

Em 2009 ainda registou-se um novo crescimento de 14,3% para uma mão-de-obra de 13.120 activos. Mas foi 'sol de pouca dura', uma vez que nestes últimos seis anos até 2015 a força de trabalho da agricultura diminuiu 35,1%.

Isto leva a concluir que, efectivamente, o 'regresso à terra' ficou-se pelo caminho e está bem longe dos efectivos em 1995 (não há dados anteriores disponíveis), que representam uma diminuição significativa de 53,2%.

Trabalho escravo "repugna" ministro da Agricultura


Capoulas Santos pede "severidade" às autoridades, na sequência da denúncia de exploração laboral na apanha da azeitona no Alentejo

2017-01-19 00:21 Redação / CM
 
O ministro da Agricultura classificou, nesta quarta-feira, de "repugnante" a existência de trabalho escravo na agricultura portuguesa e disse esperar que as autoridades competentes "atuem com toda a severidade".

Quando o crime atinge os seres humanos naquilo que é a sua essência, como parece ser o caso, naturalmente é algo que nos repugna e espero que as autoridades competentes atuem com toda a severidade porque não é aceitável que seres humanos utilizem outros seres humanos apenas para obter lucros. Isso é completamente repugnante", afirmou Capoulas Santos, que falava à margem da apresentação do livro "O Vinho no Tempo da Guerra", sobre a notícia da existência de trabalho escravo em explorações agrícolas no Alentejo.

O presidente da Câmara Municipal da Vidigueira contou hoje terem sido detetados 80 imigrantes sazonais, que trabalham em explorações agrícolas nos concelhos de Moura e Ferreira do Alentejo, a viverem numa oficina, em Pedrogão do Alentejo, no concelho de Vidigueira, com uma única casa de banho, sem privacidade, a dormirem em camas constituídas por pequenos colchões por cima de paletes e, à frente das quais, tinham fogões para cozinharem.

Vi hoje algumas notícias que me entristeceram profundamente", afirmou Capoulas Santos que disse esperar "que as autoridades a quem compete fiscalizar atuem, detetem e submetam às entidades judiciais aqueles que se vier a comprovar que foram responsáveis por atividades criminosas".

Falta de chuva preocupa mais do que o frio

 20-01-2017 
 

 
Em Trás-os-Montes, os agricultores já estão a recorrer a ração para alimentar os animais. Mais do que o frio é a falta de chuva que está a preocupar alguns agricultores, em Trás-os-Montes e no planalto mirandês. A situação ainda não é dramática mas o alerta começa a soar porque a falta de chuva começa a encolher as pastagens obrigando os agricultores a recorrerem à ração para alimentar os animais.

Na terça-feira, o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, admitiu que o Governo está a «acompanhar com preocupação» a falta de chuva no país. Capoulas Santos adiantou que «há uma panóplia de soluções que só devem ser equacionadas em função do agravamento ou não da situação» e disse esperar que «o São Pedro cumpra a sua missão».

Fonte: TSF

Estudo: Há mais árvores que dão cortiça mas apenas o sobreiro "dá" rolhas

20-01-2017 
  
O sobreiro "Quercus suber" não é a única espécie de árvore que dá cortiça mas só a cortiça do sobreiro permite fazer rolhas para engarrafar vinho, segundo um estudo divulgado recentemente.

O trabalho das investigadoras Carla Leite e Helena Pereira, do Centro de Estudos Florestais do Instituto Superior de Agronomia (ISA), publicado na revista "Frontiers in Materials", é «a primeira compilação estruturada com informação científica disponível sobre espécies que produzem quantidades significativas de cortiça», segundo um comunicado do ISA.

O estudo conclui que existem outras espécies que produzem cortiça além do sobreiro mas a matéria-prima não pode ser usada para rolhas, embora possa ser utilizada para outros produtos em cortiça.

«A existência de fontes adicionais poderá ser muito relevante para a indústria, uma vez que a área de distribuição do sobreiro se restringe sobretudo à Bacia do Mediterrâneo e, consequentemente, o fornecimento mundial de cortiça é limitado», afirma-se no comunicado.

O artigo mostra quais as espécies com maior potencial corticeiro e dá informações sobre essas espécies, como a estrutura, a composição química ou o potencial na área da biotecnologia.

E abrange espécies corticeiras como o carvalho da Turquia "Quercus cerris" ou o sobreiro da China "Quercus variabilis", espécies do cerrado do Brasil e outras.

A cortiça chinesa entrou recentemente no mercado, em forma triturada, e segundo o trabalho das investigadoras do ISA está a despertar muito interesse, até pelo potencial de quantidade.

Em termos gerais, diz-se também no documento, os componentes químicos da cortiça estão a «receber muita atenção», com a pesquisa a incidir em campos como a biomédica ou a saúde.

A cortiça tem sido alvo de investigação no Centro de Estudos Florestais ao longo dos últimos 30 anos e é no centro que se tem desenvolvido grande parte do conhecimento científico mundial sobre esta temática, diz-se no comunicado.

Fonte: Lusa

Ucrânia esgota quota de importação de milho na primeira semana do ano

18-01-2017 
 

 
Na primeira semana de 2017 foi esgotada a quota de importação de milho da Ucrânia com tarifa zero. Com o acordo entre a União Europeia e a Ucrânia de 2014, o bloco europeu estabeleceu quotas de importação com tarifa zero para o milho, trigo e cevada procedente da Ucrânia. No caso do milho, a quota estabelecida para o período de 01 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2017 é de 450 mil toneladas, de 400 mil toneladas em 2016.

Entre 01 e 06 de Janeiro passados, os pedidos apresentados de certificados de importação de milho superaram as 450 mil toneladas, com os quais não foram apenas suspensos novos pedidos a partir de 06 de Janeiro, mas também introduzido um coeficiente de atribuição de 8,332851 por cento para a qual serão multiplicados os pedidos apresentados de 01 a 06 de Janeiro de 2017.

Em 2016, a colheita de milho da Ucrânia registou rendimentos recorde de 6,6 toneladas por hectare e quase 28 milhões de toneladas de produção. A União Europeia tem em discussão a possibilidade de aumentar as quotas de importação com tarifa zero de cereais provenientes da Ucrânia, aumentado o limite para mais de 1 milhão de toneladas para o milho e o trigo.

Fonte: Agrodigital

Baixas temperaturas podem provocar "geada negra" frequente nos Invernos

 17-01-2017 
 

 
As baixas temperaturas previstas para os próximos dias podem provocar a chamada "geada negra", que, segundo a meteorologista Madalena Rodrigues, é natural que aconteça com alguma frequência em Portugal.


«Afecta plantas mais sensíveis ao frio e surge principalmente com temperaturas negativas ou próximo de zero», disse a responsável do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), explicando que não é um fenómeno raro.


A "geada negra", explicou, na verdade não é geada, que é branca, mas sim uma situação de frio que queima a seiva das plantas, que ficam negras por isso.


Madalena Rodrigues não indicou locais prováveis para a "geada negra", afirmando apenas que as temperaturas muito baixas podem afectar plantas ao ar livre que não sejam próprias da época ou que sejam mais sensíveis. A meteorologista frisou que a "geada negra" acontece com alguma frequência nos Invernos e que apenas afecta as plantas.


As temperaturas vão descer entre 04 e 09 graus Celsius a partir de quarta-feira em Portugal continental devido a uma massa de ar continental mais fria e seca.


A "geada negra" acontece com frio intenso e muito seco e com vento, que impede a formação de geada mas provoca o congelamento da seiva, e a planta fica escura e morre. Regar as plantas pode ter uma acção protectora.

Fonte: Lusa

Ministro diz que reforma da floresta está em vigor até final de Junho

17-01-2017 
 

 
O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural disse que a reforma da floresta estará em vigor até final de Junho, estimando os custos da sua implementação «entre 500 a 600 milhões de euros», até 2020.


«Os diplomas que foram aprovados na generalidade serão corrigidos e complementados com algumas das sugestões recolhidas durante a discussão pública. Até final de Fevereiro, muito provavelmente, o Governo aprovará, em definitivo, estes diplomas. Uma parte deles seguirá para promulgação do senhor Presidente da República», afirmou Capoulas Santos.


«Há três ou quatro que terão de ir ainda à Assembleia da Republica por se tratar de matérias com competência reservada do parlamento e, portanto, só depois da aprovação no parlamento, que poderá ainda introduzir correções ou alterações, o pacote estará aprovado e em vigor. Eu estimo que isso acontecerá, na totalidade, até ao final do primeiro semestre deste ano», acrescentou o ministro.


O governante, que falava em Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo, na penúltima sessão de discussão pública da proposta de reforma, a decorrer até 31 de Janeiro, adiantou que a implementação da nova legislação representará um custo estimado «entre os 500 a 600 milhões de euros».


«Estimamos que os custos que vamos ter associados aos apoios ao investimento, ao financiamento dos gabinetes técnicos municipais e às equipas de sapadores florestais, andará entre os 500 e os 600 milhões de euros até 2020», afirmou Capoulas Santos, acrescentando: «Esta reforma vai, seguramente, aumentar a riqueza do país e permitir aproveitar muito melhor esse enorme património que temos e que, parte dele, está subaproveitado».


O Governo aprovou, na generalidade, em Outubro passado, «um pacote legislativo composto por 12 diplomas, dez dos quais foram colocados à discussão pública durante desde Novembro para ouvir contributos da sociedade civil» e «tentar obter o máximo consenso possível».


«Quando falamos de floresta, do que é necessário fazer na floresta, que são tarefas de longo prazo, seria uma pena que uma hipotética mudança de governo, que em democracia acontecerá mais tarde ou mais cedo, que venha um outro governo deitar por terra tudo aquilo que, entretanto, for feito».


Do conjunto de medidas previstas, o ministro destacou «a legalização do património, a elaboração do cadastro, a identificação dos proprietários, a criação de entidades gestoras dos espaços florestais, um banco de terra, onde serão colocadas as terras do Estado, para venda ou arrendamento, e os terrenos identificados como sem dono conhecido».


Reforçou a criação de um Balcão Único do Prédio (BUPi), onde os proprietários poderão registar os seus prédios, gratuitamente, até 31 de Dezembro de 2018.


Capoulas Santos revelou que durante os três meses de discussão pública da proposta de reforma «as críticas ao modelo de fundo não são muito substanciais», adiantando que «as questões mais polémicas» prendem-se com as competências atribuídas às autarquias e com as áreas de produção de eucalipto.


«Nalguns sítios acusam esta reforma de dar demasiado poder às autarquias e, noutros lados, dizem que há défice de transferência de poderes para os municípios», explicou.


Relativamente à produção de eucalipto, disse que «a estratégia do Governo vai no sentido de não aumentar a área mas conduzir o eucalipto para as zonas onde ele pode ser mais produtivo».


«Temos, em Portugal, zonas onde se produzem 30 metros cúbicos de madeira de eucalipto por hectare, mas a produtividade média de Portugal é cinco metros cúbicos por hectare. Isto significa que há muitos milhares de hectares que estão em sítios onde esta espécie não é produtiva», explicou, garantido que o Governo «tem consciência de que esta fileira é muito importante para as exportações do país e para a produção de pasta de papel».

Fonte: Lusa

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Autarca denuncia "trabalho escravo" no Alqueva


"É uma vergonha para o Alentejo e para Portugal a forma como continuamos a receber os trabalhadores imigrantes vindos de países pobres", protesta o autarca da Vidigueira.

CARLOS DIAS 18 de Janeiro de 2017, 6:30 Partilhar notícia

Depois de cada campanha de azeitona no Alentejo muitos imigrantes ficam abandonados à sua sorte ANTONIO CARRAPATO

São dezenas — chegam à centena — de homens e mulheres imigrantes a dormir todos juntos num barracão sem condições sanitárias. A denúncia é do presidente da câmara da Vidigueira, revoltado com o que tem visto no seu concelho nestes tempos da apanha da azeitona. A situação repete-se, ao ritmo das colheitas sazonais, à volta do Alqueva, um empreendimento que exige muito mais mão-de-obra do que o Alentejo consegue fornecer. Para Carlos Graça,  inspector da Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT), não há dúvidas: estamos a falar de novos escravos.

O problema da falta de mão-de-obra necessária às novas culturas em Alqueva não apanhou ninguém desprevenido. Sabia-se que existia, mas nada foi feito atempadamente para garantir os trabalhadores necessários e os empresários agrícolas viram-se forçados a recorrer às empresas de contratação. Esta necessidade de mão-de-obra e a falta de mecanismos adequados para a sua contratação "potencia a criação de redes mafiosas que alimentam novas formas de escravatura", assinala ao PÚBLICO Manuel Narra, presidente da câmara da Vidigueira.

O autarca foi recentemente confrontado com o alojamento de entre 80 e 100 pessoas "dentro de uma oficina e outras 30 pessoas dentro de um apartamento, com homens e mulheres misturados, dispondo apenas de um chuveiro e de uma sanita". O que é revelador dos maus tratos a que têm sido sujeitos, sublinha. "Só nos pode causar revolta e indignação", assume o autarca, incomodado com o que tem visto no seu concelho.

Carlos Graça, que coordena uma equipa nacional de combate ao trabalho não declarado no seio da ACT, disse ao PÚBLICO que o caso da Vidigueira "infelizmente não é único". E aponta uma outra situação que foi detectada em Serpa onde 55 pessoas estavam alojadas num T3 e "alguém" recebia pelo aluguer da casa 1530 euros por mês.

"Estamos a falar de pessoas que estão a ser escravizadas", salienta o inspector da ACT, vincando o peso da palavra "escravizadas" porque, diz, essa é a definição que deve ter, recordando que já são vários os indivíduos condenados em tribunais portugueses por sujeitarem outros a trabalho escravo.

É que apesar deste trabalho ser remunerado — parcamente — as condições a que os trabalhadores estão sujeitos são desumanas. Para além de que dos seus salários é ainda descontado o preço do alojamento e da alimentação. A maioria vem de países asiáticos (Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão).

Reportando-se à realidade presente, Carlos Graça diz que a actuação das empresas de contratação de mão-de-obra estrangeira, nas condições "degradantes" em que é feita, "é um fenómeno que está longe, mesmo muito longe de ser controlado". É um processo evolutivo, em que os intervenientes (as empresas de contratação de mão-de-obra) se vão adequando às alterações que vão sendo introduzidas pelas autoridades portuguesas no controle e fiscalização na contratação de imigrantes. "Estamos perante indivíduos que estão bem assessorados", facto que já levou à prisão de um advogado em Beja por estar envolvido neste tipo de expedientes.

Carlos Graça alerta para as consequências resultantes da actuação das empresas de contratação, lembrando que muitas das culturas em Alqueva "ainda se encontram numa fase embrionária e que a capacidade produtiva do empreendimento agrícola ainda vai crescer mais 35% nos próximos anos". Ainda vai ser necessária mais mão-de-obra, reforça o inspector da ACT.

Manuel Narra, que realizou na segunda-feira uma reunião com várias instituições para debater este problema, deixou claro que o que está a acontecer, neste momento, "é mau, mas vai piorar nos próximos tempos". O problema social que a mão-de-obra imigrante está a suscitar "é consequência dos efeitos colaterais do empreendimento do Alqueva que levou a intensificação das culturas que requerem muita gente", analisa o autarca.

As empresas são as primeiras a reconhecer que há falta de pessoas para trabalhar o regadio. Um agricultor contactado pelo PÚBLICO, mas que pediu para não ser identificado, reconhece a "má imagem" que fica para o sector agrícola alentejano. "Não podemos deixar a azeitona na árvore, pois não temos alternativa." Os maus tratos aos imigrantes não os deixam indiferentes, mas reconhece que para alguns, "o problema passa ao lado".

Em 26 anos nunca vi 5 tostões. Zero

Num outro patamar de intervenção encontra-se a Cáritas Diocesana de Beja. O seu presidente Florival António Silva diz que a instituição continua a apoiar os imigrantes que chegam ao Alentejo para trabalhos sazonais e a quem "é dada roupa e alimento" quando dele necessitam. Também têm pago a viagem de regresso ao país de origem aos que não tem dinheiro para cobrir esse custo. No final de cada campanha de azeitona, tornou-se recorrente observar a presença de imigrantes abandonados à sua sorte. 

Enquanto a ACT forma uma equipa de intervenção com 10 inspectores que vai actuar a nível de todo o país, Manuel Narra reclama do Governo legislação adequada às exigências e a atribuição de novos compromissos às autarquias, por exemplo no sector do alojamento, para que estas não estejam "sujeitas a constatar as situações degradantes que se têm observado".

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

McDonald’s quer comprar mais hortícolas aos produtores portugueses

Jan 11, 2017

Tomate, cebola e alface iceberg são os hortícolas que a McDonald's Portugal quer comprar aos produtores nacionais.  A cadeia de restauração já tem alguns fornecedores portugueses para estes produtos mas quer reduzir ainda mais as importações. Actualmente, cerca de 42% dos alimentos utilizados pela marca em Portugal são comprados a fornecedores nacionais.

Durante uma sessão de apresentação do Guia Prático do Empreendedor Agrícola, na Escola Superior Agrária de Santarém, André Santos, gestor de qualidade da McDonald's, explicou que, para fornecer a cadeia de restauração, os produtores devem ter um determinado perfil: ser certificados em Global GAP, McDonald's Agriculture Assurance Programme e Food Safety Standard; não utilizar organismos geneticamente modificados; cumprir a legislação comunitária  e local; não utilizar Bisfenol A; utilizar óleo de palma de fonte sustentável e proveniente de fornecedores da McDonald's; não recorrer à nanotecnologia na preparação dos produtos.

Quando questionado sobre a necessidade de batata nacional, André Santos explicou que a marca utiliza duas variedades (a Russet Burbank e a Shepody) importadas de França e «de difícil produção em Portugal». No que diz respeito às sopas, «existe capacidade» para comprar mais a fornecedores nacionais.

A Campotec, organização de produtores que fornece a McDonald's desde 2004, foi convidada a falar da sua experiência. Délio Raimundo, do departamento de Desenvolvimento e Inovação da Campotec, contou que, em 2016, a OP vendeu 1,5 M€ à McDonald's. O tomate e a maçã fatiados são os produtos mais vendidos pela empresa de Torres Vedras à cadeia de restaurantes estadunidense.

Délio Raimundo explicou que o Oeste «não é suficiente em termos temporais» para satisfazer as necessidades da McDonald's. Entre Janeiro e Abril, a região não tem tomate para consumo em fresco «e é aí que temos de ir buscá-lo ao Sul de Espanha».

Portugal taxa bebidas e proíbe doces nas máquinas automáticas


Neste mês, todos os pacotes de açúcar passam a ter menos quantidade. Máquinas de venda automática mudam em março

Diminui a quantidade de açúcar por pacote na cafetaria e na restauração, aplicam-se taxas sobre as bebidas açucaradas e proíbem-se os doces das máquinas de venda automática do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Portugal parece já ter declarado guerra ao açúcar, mas a bastonária da Ordem dos Nutricionistas alerta que ainda há muito a fazer para diminuir o seu consumo.

Além das referidas medidas, Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direção-Geral da Saúde, destaca uma ação tomada anteriormente para baixar o consumo de açúcares: as orientações dadas às escolas para a oferta alimentar nas cantinas. "Para percebermos o efeitos destas iniciativas, será publicado em março o Inquérito Nacional da Alimentação, que também irá avaliar a quantidade de açúcar que os portugueses ingerem", adianta. Quando saírem os resultados, será possível perceber se é nas crianças ou nos adultos que há um maior consumo, quais as diferenças entre o norte e o sul.

Tal como o sal, sublinha Pedro Graça, "o açúcar é uma das grandes fontes de preocupação a nível europeu", uma vez que "é um produto muito barato", e, na maior parte das vezes, "invisível", já que a sua maior ingestão ocorre em produtos que não são açúcares, mas onde está presente. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, diz que "é importante que a indústria alimentar reduza a quantidade de açúcar nos seus produtos". Como os consumidores estão habituados aos alimentos com um determinado sabor e perfil, se uma empresa reduzir o açúcar dos seus alimentos, isoladamente, pode perder clientes para a concorrência.

"O que se quer é que haja um acordo entre o Ministério da Saúde e as associações do setor - dos refrigerantes, dos cereais, dos laticínios - e que se comprometam com uma redução num determinado horizonte temporal", sugere.

A bastonária da Ordem dos Nutricionistas aplaude a taxação sobre as bebidas açucaradas, que entra em vigor em fevereiro, mas ressalva que só faz sentido "se o valor for usado na componente de educação alimentar". "A legislação diz que reverte para o SNS. Acredito que seja para medidas preventivas relacionadas", acrescenta.

Quando questionada sobre aquilo que ainda tem de ser feito em Portugal, a bastonária alerta para a necessidade de consciencialização. "Tem de existir uma tomada de consciência que o consumo é excessivo e que tem consequências negativas". Tudo o que servir para "aumentar a literacia nesta área é de mérito". Uma população "mais informada faz melhores escolhas".

Fruto de um acordo entre a indústria e as autoridades de saúde, a partir deste mês, todos os pacotes de açúcar distribuídos na cafetaria e restauração terão entre cinco e seis gramas, ao contrário das anteriores seis a oito. Já a partir de março, os doces, bem como os snacks e os salgados, desaparecem das máquinas de venda do SNS. Para este ano está ainda previsto o arranque do Plano Assistencial Integrado para a Pré-Obesidade, um modelo de intervenção da DGS. Este prevê que qualquer pessoa que, por qualquer motivo, recorra a uma consulta num centro de saúde seja pesada e medida. Mesmo que entre com uma gripe. Se for detetado excesso de peso, será marcada uma outra consulta para avaliação do problema.

Salmonela: um aliado que combate o cancro cerebral

 
12.01.2017 às 0h32
 
Os ovos são dos alimentos mais associados às salmonelas

JUSTIN SULLIVAN/ GETTY IMAGES
A descoberta para a cura do cancro cerebral está mais perto – uma equipa de investigadores modificou a composição genética da salmonela para matar células cancerígenas

Expresso
EXPRESSO

A salmonela é uma bactéria patogénica para humanos, que provoca uma das principais infeções transmitidas pelo consumo de alimentos. As doenças causadas por salmonela configuram um problema de saúde pública em todo o mundo, responsáveis pela morte de 400 pessoas por ano. No entanto, uma equipa de investigadores da Universidade Duke, no estado da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, 'programou' a bactéria para não atacar o trato gastrointestinal humano, mas antes a mais agressiva forma de cancro cerebral conhecida: glioblastoma.

Este tipo de tumor é letal na maioria dos casos, devido ao seu rápido crescimento. Mesmo com os melhores cuidados atualmente disponíveis, o tempo médio de vida para quem desenvolve o cancro é de apenas 15 meses, sendo que apenas dez por cento dos pacientes sobrevive por mais cinco anos. A sua remoção total através de cirurgia é praticamente impossível porque pode resultar em lesão cerebral. Mas as células não removidas, nestes casos, têm o poder de se multiplicar e voltar ao tamanho inicial.

O trabalho da equipa de investigadores consistiu em fazer alguns ajustes genéticos no ADN da bactéria e transforma-la num "míssil guiado" contra o glioblastoma, tornando-o inofensivo para o paciente, escreve o blogue tecnológico "Engadget".

Mais especificamente, os investigadores tornaram as bactérias permanentemente deficitárias em purinas, que são bases nitrogenadas (que compõe o ADN, como a adenina e a guanina). Acontece que o tumor tem várias purinas na sua constituição genética, logo vai atrair a bactéria. Uma vez injetada diretamente no cérebro, a salmonela entranha-se no tumor e começa a reproduzir-se.

Os investigadores também fizeram com que a bactéria produzisse dois compostos – "azurian e p53", ambos responsáveis pela autodestruição das células, mas apenas em ambientes com pouco oxigénio, como o interior de um tumor, onde as bactérias se multiplicam rapidamente. Desta maneira, quer as células cancerígenas, quer as bactérias, acabam por morrer.

Nas experiências com ratos, 20 por cento duraram 100 dias, o que equivale a 10 anos. O tratamento duplicou a taxa de sobrevivência e prolongou a esperança média de vida.

Ministro diz que a reforma da floresta estará em vigor até final de junho


16.01.2017 às 22h58

 
Implementação da nova legislação representará um custo estimado "entre os 500 a 600 milhões de euros", adianta Capoulas Santos

O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural disse esta segunda-feira que a reforma da floresta estará em vigor até final de junho, estimando os custos da sua implementação "entre 500 a 600 milhões de euros", até 2020.

"Os diplomas que foram aprovados na generalidade serão corrigidos e complementados com algumas das sugestões recolhidas durante a discussão pública. Até final de fevereiro, muito provavelmente, o Governo aprovará, em definitivo, estes diplomas. Uma parte deles seguirá para promulgação do senhor Presidente da República", afirmou Capoulas Santos.

"Há três ou quatro que terão de ir ainda à Assembleia da Republica por se tratar de matérias com competência reservada do parlamento e, portanto, só depois da aprovação no parlamento, que poderá ainda introduzir correções ou alterações, o pacote estará aprovado e em vigor. Eu estimo que isso acontecerá, na totalidade, até ao final do primeiro semestre deste ano", acrescentou o ministro.

O governante, que falava em Ponte de Lima, no distrito de Viana do Castelo, na penúltima sessão de discussão pública da proposta de reforma, a decorrer até 31 de janeiro, adiantou que a implementação da nova legislação representará um custo estimado "entre os 500 a 600 milhões de euros".

"Estimamos que os custos que vamos ter associados aos apoios ao investimento, ao financiamento dos gabinetes técnicos municipais e às equipas de sapadores florestais, andará entre os 500 e os 600 milhões de euros até 2020", afirmou Capoulas Santos, acrescentando: "Esta reforma vai, seguramente, aumentar a riqueza do país e permitir aproveitar muito melhor esse enorme património que temos e que, parte dele, está subaproveitado".

O Governo aprovou, na generalidade, em outubro passado, "um pacote legislativo composto por 12 diplomas, dez dos quais foram colocados à discussão pública durante desde novembro para ouvir contributos da sociedade civil" e "tentar obter o máximo consenso possível".

"Quando falamos de floresta, do que é necessário fazer na floresta, que são tarefas de longo prazo, seria uma pena que uma hipotética mudança de governo, que em democracia acontecerá mais tarde ou mais cedo, que venha um outro governo deitar por terra tudo aquilo que, entretanto, for feito".

Do conjunto de medidas previstas, o ministro destacou "a legalização do património, a elaboração do cadastro, a identificação dos proprietários, a criação de entidades gestoras dos espaços florestais, um banco de terra, onde serão colocadas as terras do Estado, para venda ou arrendamento, e os terrenos identificados como sem dono conhecido".

Reforçou a criação de um Balcão Único do Prédio (BUPi), onde os proprietários poderão registar os seus prédios, gratuitamente, até 31 de dezembro de 2018.

Capoulas Santos revelou que durante os três meses de discussão pública da proposta de reforma "as críticas ao modelo de fundo não são muito substanciais", adiantando que "as questões mais polémicas" prendem-se com as competências atribuídas às autarquias e com as áreas de produção de eucalipto.

"Nalguns sítios acusam esta reforma de dar demasiado poder às autarquias e, noutros lados, dizem que há défice de transferência de poderes para os municípios", explicou.

Relativamente à produção de eucalipto, disse que "a estratégia do Governo vai no sentido de não aumentar a área mas conduzir o eucalipto para as zonas onde ele pode ser mais produtivo".

"Temos, em Portugal, zonas onde se produzem 30 metros cúbicos de madeira de eucalipto por hectare, mas a produtividade média de Portugal é cinco metros cúbicos por hectare. Isto significa que há muitos milhares de hectares que estão em sítios onde esta espécie não é produtiva", explicou, garantido que o Governo "tem consciência de que esta fileira é muito importante para as exportações do país e para a produção de pasta de papel".


Mercado das flores vale 500 milhões e atrai multinacionais


Nuno Miguel Silva
 14 Jan 2017

Grupo estrangeiro Interflora anunciou esta semana a entrada no mercado nacional, onde quer construir uma rede com 150 a 200 floristas. Mercado tem reforçado volume de negócios e aumentado as exportações, que já valem entre 15% e 20% do total.

flores

O mercado nacional das flores, entre flores de corte e plantas envasadas, deverá valer cerca de 500 milhões de euros de receitas por ano, segundo revelou ao Jornal Económico Vítor Araújo, vice-presidente da APPP-FN – Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais. Desse montante, cerca de 15% a 20% destina-se à vertente de exportação, um segmento em constante crescimento. Este dinamismo é uma das razões que explica por que é que esta semana, um dos líderes mundiais do setor, a Interflora, anunciou a sua entrada no mercado nacional.

"Portugal é uma grandessíssima oportunidade para nós, em particular no que respeita às oportunidades de comércio eletrónico. Por outro lado, a economia portuguesa está a recuperar", explicou Eduardo Gonzalez, CEO da Interflora Espanha, em declarações exclusivas ao Jornal Económico. A Interflora já garantiu uma rede de cerca de 60 floristas em Portugal, mas o seu objetivo é chegar a  um total entre 150 e 200 floristas nacionais.

O vice-presidente da APPP-FN considera positiva esta entrada da Interflora no mercado nacional. "Penso que é benéfico. Penso que é positivo tudo o que seja facilitador da entrega de flores ao consumidor final e, por isso, vejo com bons olhos essa notícia, penso que é muito boa para o setor",  defendeu Vítor Araújo.

Eduardo Gonzalez assume que a entrada do grupo no mercado nacional de flores "é um compromisso firme da Interflora" e avança que "vemos oportunidades especialmente no comércio de flores online em Portugal, para o qual estamos a preparar uma teia completamente adaptada ao mercado português". A empresa renovou a sua página na web para adaptá-la a todos os dispositivos. O comércio eletrónico já responde por 70% dos pedidos recebidos pela Interflora.

A Interflora Espanha registou vendas de 15 milhões de euros no ano passado, respeitantes a cerca de 250 mil pedidos. A empresa tem no país vizinho uma rede de 1.600 floristas. Para o presente exercício, Eduardo Gonzalez prevê um aumento do volume de negócios entre 2% e 4%. Segundo os dados disponibilizados pela Interflora, em média, um comprador de flores realiza um pedido e meio por ano, gastando cerca de 50 euros. Cerca de 35% das encomendas de flores solicitadas à Interflora ocorrem no Dia dos Namorados (São Valentim) e no Dia da Mãe.

A marca Interflora nasceu em 1980 e está presente em 150 países, com uma rede de 55 mil floristas e mais de 10 milhões de encomendas respondidas por ano. Em cada dia, cerca de 30 mil clientes de vários pontos do Globo confiam na Interflora. Em Espanha, a Interflora opera desde 1951, tendo registado mais de 10 milhões de encomendas até ao momento.

Em Portugal, o mercado das flores tem beneficiado das mais recentes melhorias nas técnicas de produção e dos investimentos realizados. Segundo Vítor Araújo, nos últimos anos "aumentámos em cerca de 10% as exportações e reduzimos as importações em cerca de 20%".

No que respeita ao segmento das flores de corte, o grosso das exportações vai para Espanha e para a Holanda, sendo também esses países as principais origens de importações. No segmento das plantas envasadas, os principais mercados de exportações são a França, Inglaterra e Itália.

Os principais centros de produção de flores em Portugal, além da ilha da Madeira, são a região do Montijo, que inclui os concelhos de Alcochete e de Palmela. Esta região é responsável por cerca de 70% da produção de flores em Portugal, estando aí localizadas cerca de 200 hectares de estufa. Vítor Araújo refere que existe ainda um outro grande centro produtor de flores em Portugal, na Costa Vicentina, na região de Odemira, essencialmente assegurado por produtores holandeses. As regiões de Aveiro e de Chaves também têm relevância neste setor. No segmento de plantas envasadas, os maiores focos de  produção localizam-se nas zonas Centro e Norte do País.

Para o vice-presidente da APPP – FN, as datas festivas são os pontos altos do mercado de flores em Portugal, a saber: Natal, Dia dos Namorados, Dia da Mãe, Dia da Mulher, Dia de Finados e Páscoa. Além do consumidor final, um parceiro estratégico dos produtores de flores são as grandes superfícies.

Segundo os dados do INE – Instituto Nacional de Estatística, em 2012, as principais áreas de plantação de flores de corte em Portugal eram ocupadas pela prótea, gladíolo, crisântemo, gerbera, rosa, lírio, cravo e cravina.

Altri assina na segunda-feira contratos de investimento com Estado


A cerimónia de assinatura dos contratos de investimento, que terá lugar na Celbi, Leirosa, na Figueira da Foz, será presidida pelo primeiro-ministro.

15 de Janeiro de 2017 às 12:16

O grupo Altri vai assinar na segunda-feira contratos de investimento com o Estado português, através das suas subsidiárias Celbi e Celtejo, num evento que será presidido pelo primeiro-ministro, António Costa.
 
A cerimónia de assinatura dos contratos de investimento, que terá lugar na Celbi, Leirosa, na Figueira da Foz, conta também com as presenças dos ministros da Economia e da Agricultura, bem como do secretário de Estado da Indústria, de acordo com a empresa.
 
O grupo português Altri dedica-se à produção de pasta de papel nas suas três unidades - Caima, em Constância, Celtejo, em Vila Velha de Ródão, e Celbi, na Figueira da Foz, e desenvolve também atividade na gestão da floresta, detendo cerca de 85 mil hectares, bem como produz energia através da biomassa.
 
Em Dezembro passado, de acordo com a minuta do contrato de investimento aprovado pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e pelo secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, publicado em Diário da República, a Celtejo, fábrica de pasta de papel da Altri, vai investir 85,3 milhões de euros no novo projeto de inovações no processo de produção de papel 'tissue'.

O queijo e a serra de Jorge Coelho

Jorge Coelho voltou às origens e à memória dos tempos em que o avô Raul o levava em busca dos melhores queijos da serra. O ex-ministro investiu 1,5 milhões de euros para criar a queijaria Vale da Estrela, na região de Mangualde, e vai vender até para a China. "É o projecto da minha vida", assegura.

23 de Dezembro de 2016 às 10:45

O leite chega às oito e meia da manhã, depois de ter sido recolhido durante toda a noite junto de produtores da zona. É esse leite cru de ovelhas de raça bordaleira, alimentadas em pastagens da região demarcada da Serra da Estrela, que as queijeiras da Vale da Estrela vão trabalhar. Em São Cosmado, Mangualde, Jorge Coelho pôs em marcha um projecto que o trouxe de regresso às origens. Seguindo a vocação do seu avô Raul, começou há dois meses a produção de queijo da serra certificado. Investiu 1,5 milhões de euros, recorrendo a crédito bancário, e depois de Portugal e Reino Unido prepara-se para começar a vender para a China.

Dez queijeiras vão, numa manhã igual às outras, dar forma aos 220 queijos de meio quilo que serão produzidos naquele dia. Nas grandes cubas, juntam ao leite o sal e a flor do cardo para que coalhe. As mãos das mulheres começam então a dessorar a coalhada. Com a ajuda de um pano, juntas, espremem com força. 

São jovens e têm um sorriso na cara. À excepção de Anabela Fraga, responsável pela produção contratada por Jorge Coelho a outra queijaria da região, as trabalhadoras da Vale da Estrela (que, no total, conta com 13 pessoas) estavam desempregadas. Concorreram ao lugar, entre muitas outras candidatas (todas mulheres), tiveram formação e hoje, salienta o ex-ministro socialista, têm contrato sem termo e podem "desenvolver uma nova carreira com dignidade". 

Na queijaria, o trabalho segue a tradição. Retirado o soro à mão, que vai servir para fazer requeijão, a massa é colocada em formas com destino a uma prensa que permitirá eliminar o excesso. Resta colocar-lhe a marca de caseína, o bilhete de identidade de cada queijo que identifica o lote e o produtor, e salgá-lo para que ganhe casca a toda a volta. Numa primeira câmara frigorífica vai ficar 12 ou 13 dias, onde será virado e lavado antes de passar para uma segunda, onde durante mais cerca de 15 ou 16 dias verá a casca engrossar. "No mínimo, têm de ter 30 dias de cura", explica Anabela Fraga, corrigindo os tempos referidos por Jorge Coelho para esta fase do processo. "Ele já sabe bastante mas ainda é um pouco leigo", sorri.

Em menino, o socialista aprendeu a arte da cura com o avô Raul, que tinha um negócio de compra, tratamento e venda de queijo da Serra da Estrela. Depois de ter deixado Mangualde, primeiro para estudar em Coimbra e depois com destino a outros voos em Lisboa, o ex-presidente da Mota-Engil passa agora metade da semana na terra. Quer colaborar no desenvolvimento da região. "Já estive em muitos projectos de grande dimensão em Portugal, seja a nível político, seja nas empresas, mas este é o projecto da minha vida", admite.

Para fazer um queijo DOP (denominação de origem protegida), as 10 mulheres fazem na Vale da Estrela o mesmo trabalho que uma só faria numa grande fábrica, mas esse não seria um queijo certificado. Para o ser tem de seguir o método tradicional, ainda que hoje conte com o apoio da tecnologia e cumpra rigorosas regras de higiene e segurança alimentar. Na sua produção apenas pode ser usado leite de ovelha bordaleira, só lhe é adicionado sal e cardo e o soro tem de ser retirado manualmente. Lavar, cintar, espremer e enformar também exigem mão humana. Por isso, acaba por ser um queijo caro. E "gourmet".

Na área de produção, Anabela Fraga não pára, dando o exemplo às outras mulheres. Tanto está a limpar cubas como a fazer requeijão. O número destes queijos frescos vai variar em função da quantidade de soro retirado. A marmita que utiliza permite produzir 160. 

As duas câmaras frigoríficas estão repletas de queijo que vai sair para o Natal. A queijaria produz apenas queijo DOP Serra da Estrela, de 500 e 800 gramas, e requeijão. Irá ainda fazer o curado, diz Jorge Coelho," e mais nada". No que ao queijo diz respeito. Porque, na Vale da Estrela, está já montada uma cozinha industrial para fazer compotas. A ideia é que durante os meses de Verão, em que não há leite, a empresa produza compotas de abóbora, frutos vermelhos (mirtilos, morangos e framboesas) e Maçã Bravo de Esmolfe. O "break even" do investimento está previsto acontecer em quatro ou cinco anos, afirma o agora empresário, que já tem um novo projecto para quando o da queijaria estabilizar: uma plataforma electrónica para vendas online de produtos da região. 

Desde que a Vale da Estrela abriu as portas, no passado dia 5, sucedem-se as visitas ao espaço. Ali é possível comprar os queijos, mas também peças de artesanato que Jorge Coelho idealizou e encomendou a artesãos da região. De viagens que fez trouxe ideias que replicou. Criou uma "caixa do queijo" como viu em Paris, pediu a um escultor um boneco de um pastor, tirou as pernas a francelas (onde se punha o queijo a secar) criando uma tábua para requeijão. À venda estão ainda miniaturas de casas típicas da serra, assim como da capela de Santo António dos Cabaços, não fosse ele o protector das ovelhas.

Nova plataforma virtual liga agricultores e consumidores de todo o país

11/1/2017, 20:01423

A plataforma virtual "Adelaide.farm", apresentada no Algarve, vai permitir aos pequenos produtores vender os seus produtos a preços justos, entregando-os perto da casa de consumidores de todo o país.

A plataforma virtual "Adelaide.farm", apresentada esta quarta-feira no Algarve, vai permitir aos pequenos produtores vender os seus produtos a preços justos, entregando-os perto da casa de consumidores de todo o país.

O projeto visa "resolver o problema de escoamento dos pequenos agricultores", embora também possa abranger grandes produtores, explicou a sua promotora, Alice Teixeira, que quer também contribuir para travar o abandono crescente da atividade agrícola por falta de viabilidade económica.

A plataforma vai ligar os produtores — que se comprometem a vender os seus produtos a preços justos e nas quantidades que quiserem — aos consumidores, que podem ter acesso a produtos nacionais da época, recolhendo-os em pontos de entrega, que se espera que estejam espalhados por todo o país.

O objetivo é que existam várias regiões Adelaide — locais onde se vão realizar as entregas — geridas por um organizador, que pode ser um agricultor ou uma cooperativa, desde que esteja ligado à atividade, e cuja função é agregar as propostas de "stock" dos produtores e tratar das encomendas, explicou Alice Teixeira.

O preço dos produtos é definido pelo produtor, que deve sempre receber mais de metade do preço final de venda, sendo também entregue ao organizador uma margem de entre 20% a 30% do valor, pelo seu trabalho.

Já a MyFarm, empresa que promove a plataforma, nascida no Instituto Politécnico de Beja, recebe uma percentagem pelas vendas: de 5% no caso de serem vendas de produtos a grosso, a profissionais, e de 16%, no caso de vendas domésticas.

Os consumidores podem fazer a compra dos produtos em várias modalidades, inclusive através da gestão de uma horta visual.

Neste caso, segundo Alice Teixeira, o que se pretende "é que o consumidor se fidelize a um conjunto de agricultores e os ajude a pagar os custos de produção ao longo de um período", pagando uma mensalidade, com a duração de três, seis ou doze meses.

O consumidor pode também optar por fazer compras na modalidade de mercearia, adquirindo cabazes regionais ou produtos a granel, sendo o organizador quem define o número de produtos por cabaz e indica a quantidade mínima de compra por produto.

Para os consumidores profissionais, como restaurantes, mercearias ou mesmo outros produtores, está disponível a modalidade de venda de produtos a grosso, o que permite beneficiar de descontos, consoante as quantidades encomendadas.

Os produtores que queiram integrar o projeto devem inscrever-se na plataforma, embora a inscrição tenha que ser validada, havendo uma ferramenta simplificada de gestão na plataforma para contabilizar custos e receitas.

Segundo Alice Teixeira, o nome dado ao projeto é uma forma de homenagear uma agricultora da região de Leiria chamada Adelaide e que se viu obrigada a abandonar a agricultura por falta de rentabilidade.

Luís Miguel Campos, também parceiro no projeto, referiu que se trata de "um modelo de negócio diferente" cujo objetivo "não é ganhar dinheiro", mas sim que os agricultores possam ganhar mais e os consumidores comprar produtos de melhor qualidade a bons preços.

Novo representante da FAO em Portugal quer conselho nacional de segurança alimentar


por Ana Rita Costa- 16 Janeiro, 2017

O novo representante da ONU para a Alimentação e Agricultura (FAO), Francisco Sarmento, defendeu que a criação de um Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN) que reúna os players mais relevantes na promoção de uma alimentação saudável deve ser uma questão prioritária.

De acordo com a Lusa, o responsável referiu que "Portugal não tem [um CNSAN] e eu acho que era importante. Não tem de ser, necessariamente, um órgão completamente novo, deve construir-se com base no que já existe".

O responsável assumiu funções em dezembro passado, sucedendo a Hélder Muteia, e pretende que se crie um órgão à semelhança do que já existe noutros países da CPLP e que permita que "as diferentes iniciativas que existem do Ministério da Saúde, da Educação, da Agricultura possam caminhar juntas para resolver os problemas da alimentação".

"A necessidade de uma maior coordenação entre setores cuja ação impacta na questão da alimentação é uma prioridade em Portugal", afirmou, sublinhando também que "nós temos um campo muito amplo para trabalhar em Portugal se quisermos, de facto, realizar no país o direito humano à alimentação adequada".

"Em Portugal, não temos problemas graves de subnutrição como noutros países, mas isso não significa que não tenhamos problemas no sistema alimentar que impactam na saúde das pessoas", acrescentou ainda Francisco Sarmento.

Para o novo representante da FAO, é preciso também responder à desertificação que está a ocorrer nas regiões do interior do país. É que de acordo com o responsável, "os agricultores de menor dimensão deixaram de ser competitivos e a atividade agrícola praticamente em algumas regiões já não é expressiva". A solução, diz ainda, poderia passar pela criação de "um mercado local baseado nas compras públicas das escolas e das Forças Armadas, por exemplo. Existem estudos realizados em países da Europa que mostram que isso representa 10% a 15% do Orçamento do Estado. Este tipo de ação poderia manter estes agricultores nos campos, impedir a saída de pessoas para as grandes cidades e, talvez, levar outras pessoas a retornar para a agricultura."

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

"Frio não deriva das alterações climáticas"


O geofísico e investigador das alterações climáticas, Filipe Duarte Santos explica que frio não está ligado às alterações climáticas

Como responde aos que dizem que esta vaga de frio que atinge a Europa e o hemisfério norte em geral é uma prova de que não há aquecimento global?

Aquilo que caracteriza o aquecimento global é a média da temperatura ao longo do ano e para toda a superfície do globo. Esquecem-se da palavra global. Temos milhares de estações meteorológicas certificadas pelos países membros da Organização Meteorológica Mundial e quando chegamos às médias destas estações temos um valor anual que está a subir. Há uma variabilidade natural, mas a tendência é sempre a temperatura a subir. Desde a Revolução Indus trial já subiu 1º C. Há quem diga que esse valor é pouco, mas não se lembram que a terra é muito grande e que esta é uma alteração significativa. As temperaturas mais baixas acontecem numa determinada região da terra, mas a subida das temperaturas médias é a nível global.

Mas há tendência para fenómenos mais extremos?

Sim, mas o que caracteriza melhor estes fenómenos extremos são as ondas de calor, onde há uma mortalidade muito elevada, e que são cada vez mais frequentes, com temperaturas muito altas, seca e depois períodos de precipitação em flecha, muito rápida. Os períodos frios não são característicos das alterações climáticas. Para nós, Portugal, é pior a seca que o frio.

Como vê a perceção na sociedade destes fenómenos?

A realidade é esta: se formos à internet e pesquisarmos por "alterações climáticas", encontramos sites que dizem que é um embuste. E outros, evidentemente, que procuram explicar que existem e usam dados científicos. As pessoas com menos conhecimentos tanto podem acreditar numa coisa como noutra. Não vale a pena mistificar isto: há duas narrativas. Há muitos governos que reconhecem já que existem alterações climáticas e chegou-se ao Acordo de Paris. Os cientistas também devem ter mais intervenção pública, mesmo que isso nem sempre seja confortável.