segunda-feira, 16 de abril de 2012

Seca: Espanha pode prejudicar Portugal, diz especialista

Por Francisca Paiva e Luís Mendes - jpn@icicom.up.pt
Publicado: 16.04.2012 | 12:18 (GMT)
Marcadores: Agricultura , Ambiente , Chuva , Clima , País , Porto , Seca
A especialista em Geomorfologia Laura Soares adianta que Espanha pode
prejudicar Portugal quando começar a sofrer as consequências da seca.
Agricultores e consumidores são os mais afetados pela falta de chuva.

A seca extrema tem afetado Portugal nos últimos meses. Segundo dados
do Instituto de Metereologia de Portugal (IM), os episódios mais
longos de seca na cidade do Porto foram assinalados de março de 1943 a
fevereiro de 1946. Já no país, o fevereiro mais seco foi registado em
1931. Há já 80 anos que não existia um mês de tão pouca chuva em solos
lusos.

Relativamente aos dados de 2012, e de acordo com o Instituto de
Meteorologia, a quantidade média de precipitação até 31 de março deste
ano foi de 20,8 milímetros (um terço do valor habitual). No entanto,
enquanto que no norte e centro foi registado um agravamento da
situação, no sul a situação melhorou com as chuvas do final do mês.
Apesar desta melhoria, é no Alentejo que a seca extrema é mais sentida
e que mais afeta o setor agrícola e pecuário.

O provérbio popular diz que "a invernia de março e a seca de abril
põem o lavrador a pedir". No entanto, um dos problemas consequentes da
seca é que não afeta apenas os agricultores, mas também os
consumidores de produtos hortícolas. Também os produtores de gado se
deparam com obstáculos, sendo o principal a falta de pastagens para
alimentar o gado. Os produtores lucram menos, uma vez que têm que
comprar rações, que se tornam meios mais dispendiosos de
sustentabilidade.

Como explica Laura Soares, do departamento de Geografia da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto (FLUP), "estarmos a viver um
período de seca muito prolongado vai ter implicações a vários níveis".
Neste momento, as "implicações em termos agrícolas" são as mais
visíveis, "e é, efetivamente, onde há problemas mais graves e onde
culturas já estão perdidas", afirma. Certo é que "o consumidor vai ser
afetado, consequentemente, porque o preço dos produtos vai aumentar",
diz.

Outras implicações estão diretamente relacionadas com os recursos
hídricos. "As barragens estão secas e temos que pensar que a maior
parte dos cursos de água tem a sua nascente em Espanha. E quando os
espanhóis sentirem este problema relacionado com a seca, vão fechar as
portas e nós ainda vamos sofrer mais", diz. "Pensando nós de uma
maneira sistémica, se temos falta de água, isso vai refletir-se na
agricultura", refere.

Alterações climáticas vs. ciclos da natureza
Mais uma das consequências que preocupa a especialista em
Geomorfologia são os incêndios florestais no verão. Com o atual défice
elevado de água e um verão como têm sido os anteriores, com
temperaturas altas, este "será um ano grave e negro", considera. Laura
Soares acredita, no entanto, que a seca não se justifica com as
alterações climáticas. "Há uma certa tendência para falarmos logo em
alterações climáticas mas estas sempre existiram, não se deve
justificar os períodos de seca com isso", remata.

Já Júlio Sá, o conselheiro nacional do Partido Ecologista, "Os
Verdes", pensa que as alterações climáticas estão no centro da
questão. "A seca já é uma consequência geral. Os nossos agricultores
até têm cultura de prevenção à seca, sobretudo no verão, mas isso
acontecer no inverno é algo de inédito. E estamos a assitir a uma
alteração climática, mais do que climatérica. O homem tem uma
intervenção que altera o meio", defende.

Continuando a frisar a importância da intervenção humana como causa
principal do período de seca, Júlio Sá garante que "a preocupação é
sempre grande e não pode ser vista a nível de um episódio, como um ato
isolado". "Tem que haver toda uma política de prevenção dos impactos
provocados pela seca", diz. O conselheiro alerta ainda que "os
episódios climatéricos são encarados casualmente". "Depois não temos
um plano que vingue", aponta.

"Os Verdes" têm defendido, ao longo dos anos, o uso eficiente da água
com várias recomendações e propostas no Parlamento e no programa
eleitoral do partido. Segundo Júlio Sá, "existe um plano para
preservar e salvaguardar a água, que foi aprovado em 2005 e até hoje
não aplicado na prática, o que leva a uma falta de medidas adequadas
para a poupança e eficiência". "Neste momento, há uma estimativa
oficial que aponta para uma perda de 50% de água no transporte e
armazenamento de água no nosso país", explica. Acrescenta também que
"uma das propostas recentes na Assembleia da República foi sobre a
gestão eficiente da água na manutenção dos campos de golfe, por
exemplo".

Júlio Sá adverte ainda que os portugueses "votam num partido, não no
São Pedro", alertando para as resistências dos políticos face a
medidas tomadas sobre o ambiente no Parlamento. Já Laura Soares
acredita que todos os cidadãos devem preocupar-se com a falta de água
e, assim, tomar medidas para a poupar e remediar as consequências da
seca.

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