domingo, 18 de agosto de 2013

Deixem-nos trabalhar!

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Carlos Neves

Julho e Agosto. Para alguns são meses de férias na praia com banhos no
mar. Para outros são meses de trabalho no campo com banhos dos
aspersores da rega. Para uns é tempo de acompanhar a volta a Portugal.
Para outros a rega do milho é como a corrida de bicicletas: No
princípio há o trabalho da equipa no apoio ao líder: a partir de certa
altura ele fica por conta própria a disputar os últimos quilómetros na
subida da montanha. Nós também tivemos o apoio na rega do São Pedro,
este ano bastante generoso no Inverno e Primavera. Depois veio o Verão
e ficamos por conta própria, do nosso trabalho, da água possível e dos
sistemas de rega disponíveis. Depois vem Setembro, mês de colher o
prémio do nosso trabalho. O ano passado saiu-nos a fava com a terceira
descida do preço do leite depois das subidas da ração. Agora o preço
do leite já recuperou, mas a ração desceu menos que o prometido e
ainda sentimos os efeitos secundários desse ano 2012 que foi muito mau
e não podemos deixar que se repita.

Adiante. Temos sempre a alegria da colheita, agora mais fácil com as
grandes máquinas automotrizes de ensilar que temos ou podemos alugar e
nos permitem fazer o serviço melhor, mais rápido e mais simples,
certo? Nem sempre. Há coisas que complicam.

O milho é cortado nos campos e transportado em reboques agrícolas para
ser armazenado nos silos junto às vacarias. Nos últimos anos, vários
agricultores que circulavam na estrada com reboques de milho silagem
foram advertidos pela autoridade de trânsito sobre a obrigatoriedade
de cobrir cada carga com uma lona ou rede. Acontece que a esmagadora
maioria dos reboques agrícolas (99%?) não estão preparados para essa
cobertura. Colocar manualmente uma lona após cada enchimento do
reboque é perigoso para o tractorista, para os outros veículos (se a
lona não ficar bem fixa) e demora mais tempo que o enchimento do
reboque. E assim, à boa maneira portuguesa, temos de viver e trabalhar
com leis impraticáveis, esperando ter a sorte de não encontrar na
estrada agentes da autoridade ou, se os encontrar, que estejam
ocupados com coisas mais importantes que complicar a vida dos
agricultores. Se a polícia quiser ser escrupulosa pode multar e
impedir o transporte da colheita em tempo oportuno. Em alternativa,
podemos "brincar" às escondidas com a polícia, procurando outros
caminhos. Ora o trabalho agrícola é muito sério. É um trabalho honrado
que precisa do apoio da lei e não de complicações legais. Tendo em
conta que a silagem de milho não é uma matéria perigosa que possa
causar danos nos outros veículos (como a areia, por exemplo), nos
últimos dois anos através da APROLEP fiz vários contactos junto do
governo no sentido de ser decretada uma excepção da "obrigação de
cobertura" para o transporte de forragens entre os terrenos e as
explorações agro-pecuárias. Ainda não fomos atendidos, mas temos de
insistir. Há alguns anos atrás, também foi conseguida (creio que por
iniciativa da CAP) uma excepção para o transporte de trabalhadores
agrícolas nos reboques. Portanto, se houver empenho das principais
organizações agrícolas e dos ministérios da Agricultura e
Administração Interna, podemos ultrapassar esta dificuldade no
trabalho dos agricultores. Semear, regar e colher já é difícil quanto
baste. Não compliquem!

Carlos Neves

Publicado em 17/08/2013


http://www.agroportal.pt/a/2013/cneves5.htm

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