sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Organizadores de marcha contra a Monsanto acusam Facebook de censura

HUGO TORRES

22/08/2013 - 23:08

Convocatória para protesto à porta da sede da multinacional, em St.
Louis, foi apagada. Justificação: viola as regras da rede social.

A Monsanto é líder mundial na produção de sementes geneticamente
modificadas LARRY DOWNING/REUTERS

O grupo de activistas que promoveu as manifestações de 25 de Maio
contra a Monsanto e a produção de organismos geneticamente modificados
(OGM) – que, segundo o próprio grupo, de nome March Against Monsanto,
levou dois milhões de pessoas às ruas de 436 cidades, em 52 países –
viu a convocatória para um novo protesto ser apagada da sua página no
Facebook.

A manifestação global agendada para 12 de Outubro pretende ser ainda
mais participada do que a anterior. O EcoWatch, um site de informação
ecologista, fala em mais de 600 acções de protesto previstas para todo
o mundo, avançando com uma ambiciosa estimativa de participação – 3,6
milhões de pessoas. Uma delas, no entanto, é motivo de atenção
particular.

É em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, que a "marcha"
terá o seu mais importante protesto – ou, pelo menos, o mais
simbólico. É ali que fica a sede da Monsanto, a multinacional que os
ecologistas acusam de ser a principal responsável pela proliferação
dos OGM e pela condução de uma política comercial e produtiva nefasta
para a vida na Terra.

Na segunda-feira, à sensibilidade do protesto em St. Louis o Facebook
juntou-lhe controvérsia. A empresa liderada por Mark Zuckerberg
decidiu apagar o "evento" que servia de convocatória para os
utilizadores daquela rede social, alegando que o conteúdo violava as
suas regras.

"Removemos este conteúdo que você publicou ou de que era o
administrador porque viola a Declaração de Direitos e
Responsabilidades do Facebook", lê-se na mensagem que os
administradores da página do March Against Monsanto naquela rede
social recebiam ao tentar aceder ao "evento". A imagem dessa mensagem
foi depois publicada na mesma página e no site do movimento para
denunciar o que é tido como um acto de censura.

No ponto 5 da sua Declaração de Direitos e Responsabilidades – o
conjunto de regras pelo qual os utilizadores da rede se comprometem a
reger –, o Facebook reserva o direito de "remover qualquer conteúdo ou
informação", se considerar "que estes constituem uma violação desta
declaração" ou da sua política de utilização de dados.

A convocatória em causa era uma das 80 que a March Against Monsanto
tem publicadas na sua página para 12 de Outubro. Mas foi a única
apagada. O movimento criou, entretanto, um novo "evento", onde dá
conta de que o primeiro foi apagado, repete o convite à mobilização e
estende-se longamente em questões de contexto como a do impacto global
dos OGM.

"Marcha connosco para continuarmos a sensibilizar a opinião pública a
respeito da agricultura corporativa predatória e das práticas
negociais da Monsanto. A Monsanto não está a resolver o problema da
fome no mundo. Pelo contrário, está a desviar a atenção das suas
verdadeiras causas – pobreza, falta de acesso à comida e, cada vez
mais, falta de acesso à terra para a cultivar", alerta a convocatória
da March Against Monsanto.

Novo filme sobre a Monsanto
Além da organização deste protesto, o grupo de activistas está
empenhado no financiamento do filme Santo 7.13.15., do realizador
Robert Everest, que pretende através de uma ficção científica
distópica denunciar o que considera ser os malefícios da acção da
Monsanto. No seu argumento, Everest leva a propriedade industrial dos
OGM ao limite e aplica-a a seres humanos geneticamente modificados,
cuja reprodutibilidade estaria dependente da autorização da empresa
que criou a sua sequência genética (o que acontece com as sementes
comercializadas pela Monsanto).

A produção de Santo 7.13.15. está dependente da campanha de
financiamento colectivo que está a decorrer no site indiegogo até 6 de
Setembro. Os cerca de 122 mil dólares conseguidos até ao momento
estão, contudo, ainda longe dos 300 mil dólares (quase 225 mil euros,
ao câmbio actual) necessários para avançar com o projecto. No vídeo de
apresentação da campanha, o realizador sugere que a Monsanto está
relacionada com o cancro da mãe.

A concretizar-se, este não será o primeiro filme a ser feito sobre a
multinacional que, fundada em 1901, é hoje a líder mundial na produção
de sementes geneticamente modificadas. Marie-Monique Robin realizou em
2008 odocumentário Le monde selon Monsanto ("O mundo segundo
Monsanto", numa tradução livre), no qual denunciava a política
agressiva de expansão da empresa.

Recorde-se que a Monsanto foi recentemente notícia (em Julho) por ter
desistido de cultivar novos transgénicos na União Europeia. A
multinacional conduzida pelo empresário escocês Hugh Grant anunciou
então ter retirado pedidos de autorização de cultivo de organismos
geneticamente modificados no espaço comunitário. A Comissão Europeia
confirmou.

http://www.publico.pt/tecnologia/noticia/organizadores-de-marcha-contra-a-monsanto-acusam-facebook-de-censura-1603738

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