sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Municípios do Douro têm taxas de desemprego à espanhola

Resende, a terra de férias de infância do ministro Pires de Lima, e
Cinfães são os casos mais dramáticos



Douro vinhateiro sofre com desemprego
D.R.
23/08/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo

Resende, a terra das férias de infância do atual ministro da Economia,
António Pires de Lima, é a recordista do desemprego em Portugal
continental.

Desertificação, abandono dos campos, trabalho sazonal ligado à apanha
da cereja e às vindimas, falências de pequenas empresas, sobretudo da
construção e do pequeno comércio, constrangimentos financeiros
impostos ao maior empregador da região – a autarquia –, tudo ajuda a
explicar o declínio social da bonita região, à beira do rio Douro
plantada.

Resende, um pequeno concelho do distrito de Viseu, terá uma taxa de
desemprego de quase 29%. Apesar da população total rondar as 9600
pessoas, apenas 3900 dizem estar ativas – as que trabalham ou se dizem
aptas a fazê-lo (dados dos censos do INE). Destas, cerca de 1118
estavam sem trabalho e inscritas no centro de emprego, referem os
dados de julho do IEFP.

A vizinha Cinfães, a apenas 23 minutos de carro, segue de perto com o
segundo maior registo (28,2%). São níveis mais graves do que a média
de Espanha, ali tão perto, com uma taxa de 26%.

Numa entrevista concedida ao Jornal de Negócios, em 2009, Pires de
Lima confessou que a sua infância "dividia-se entre Lisboa e Resende,
onde passávamos as férias, e onde chegavam a estar 50 ou 60 primos e
tios juntos, durante duas ou três semanas". Isto foi no pós-25 de
abril de 1974; na altura a agricultura dava trabalho a muita gente.

Hoje, o ministro passa lá menos tempo, refere quem o conhece, a ele e
à família. A lavoura, como diz Paulo Portas, seu correligionário do
CDS, também mudou. Está mais mecanizada; é preciso menos gente para o
trabalho do campo.

A autodenominada "Capital da Cereja e Coração do Douro vinhateiro",
enfrenta de forma emblemática a agressividade do programa de
ajustamento num ano em que o desemprego poderá chegar a 18,2% (média
prevista pelas Finanças).

"É uma terra que sofre com a interioridade, não tem grandes empresas,
o principal empregador, a câmara, está obrigada a reduzir efetivos no
âmbito do plano de ajustamento, o pequeno comércio tem fechado portas,
a agricultura é difícil nesta geografia inclinada, a crise da
construção também nos afeta, embora seja pior em Cinfães", resume José
Augusto Marques, pároco de Resende.

Logo em seguir relativiza. "Graças a Deus, não é tão mau como parece.
As pessoas ainda têm as suas pequenas terras, onde cultivam e criam
animais para si próprias. Um desemprego destes seria muito mais
gravoso numa cidade grande", observa o padre. "Há um alívio temporário
com a apanha da cereja, em maio/junho, e as vindimas, em setembro, há
o turismo, mas mesmo assim não chega para amenizar a crise social que
se vive".

O norte, sobretudo a região do Douro vinhateiro, é particularmente
fustigado pela crise. Mas o Alentejo também. Moura e Barrancos surgem
no famigerado top 10.

José Pós-de-Mina, presidente da câmara de Moura, reconhece que o
município, com uma taxa de desemprego de 26%, "vive uma situação
estrutural e crónica do ponto de vista do emprego".

O seu diagnóstico converge com o do pároco de Resende. "O modelo
agrícola mudou, precisando hoje de menos mão-de-obra. Depois a crise
da construção cá e em Espanha deixou muita gente sem trabalho, muitos
deles com pouca escolaridade".

O autarca não esquece o papel "destruidor" do programa de ajustamento,
"que obriga a autarquia, o maior empregador, a reduzir efetivos". "Os
números do desemprego são ainda empolados por uma especificidade da
nossa região: uma comunidade cigana com 600 a 700 membros que vive
muito de apoios sociais", constata.

Felgueiras e Alcanena, dois bons exemplos
Uma forte especialização na indústria do calçado de alta qualidade,
que exporta cerca de 95% da produção, e o fabrico de vinho verde, são
os segredos do aparente sucesso de Felgueiras, que conseguiu
contrariar o agravamento generalizado do desemprego a nível nacional,
sintetiza João Sousa, vice-presidente da câmara.

Com uma taxa que rondará os 8,7% da população ativa do concelho,
Felgueiras tem dos menores níveis de desemprego municipal. A produção
de kiwis é outra das atividades que ajuda a travar a crise.

Mais a sul, Alcanena regista um desemprego próximo de 7,3%. O
investimento do grupo Mosqueteiros (distribuição, supermercados) num
centro logístico e alguma recuperação na indústria dos curtumes,
ligada ao calçado, serão as principais causas deste caso mais raro de
desemprego relativamente baixo. A emigração também ajuda a explicar o
fenómeno.

http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO249197.html?page=0

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