domingo, 25 de agosto de 2013

Mar de gente no funeral de bombeira

GINA PEREIRA


foto SARA MATOS/GLOBAL IMAGENS

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"Foi para salvar. Morreu". Era este sentimento de consternação que
dominava as muitas centenas de pessoas que, este sábado à tarde,
participaram no funeral de Ana Rita Pereira, a bombeira de 24 anos dos
Voluntários de Alcabideche, Cascais, que morreu quinta-feira no
combate a um fogo na serra do Caramulo, Tondela, e que deixa uma filha
de quatro anos.

Bombeiros de várias corporações da região de Lisboa (Sintra, Cascais,
Estoril, Amadora, Colares, Montelavar e Póvoa de Santo Adrião, entre
outros) juntaram-se numa formatura que acompanhou, a pé, ao som da
fanfarra, o percurso de cerca de 30 minutos entre o quartel e o
cemitério. E que foi acompanhado por uma enorme moldura humana, em que
se integrava o ministro da Administração Interna e o presidente da
Câmara de Cascais.

À passagem pela porta principal do quartel, depois de várias salvas de
palmas, o cortejo parou e a sirene tocou. O pai, que a levou para os
bombeiros, saiu do carro e, de capacete nas mãos, não conseguiu suster
as lágrimas. Ali, até a sirene chorou.

O corpo de Ana Rita Pereira, de 24 anos, auxiliar de acção médica no
serviço de medicina do Hospital de Cascais, esteve desde sexta-feira à
tarde em câmara ardente no quartel dos Bombeiros de Alcabideche onde,
este sábado, se realizou uma missa de corpo presente.

O cortejo fúnebre, a pé, começou com uma forte salva de palmas com
destino ao cemitério de Alcabideche e prolongou-se por cerca de 30
minutos, ao som de uma fanfarra, e com várias manifestações de pesar
pelo caminho.

No final da cerimónia, Jaime Marta Soares, presidente da Liga de
Bombeiros Portugueses (LPB), lamentou a morte de mais um bombeiro
(este ano, esta foi a terceira morte no combate a fogos florestais),
num ano que está a ser "muito difícil e muito complicado".

"Infelizmente o homem muitas vezes não é capaz de superar as forças da
natureza e vai perecendo assim, de forma complicada e dramática. Mas
são os ossos do ofício dos bombeiros que estão envolvidos nestas
situações", disse, aos jornalistas, refutando as críticas ontem
ouvidas de falta de formação dos bombeiros voluntários para combaterem
fogos florestais.

"isso é pura mentira e especulação", disse, garantindo que "hoje os
bombeiros portugueses são dos melhores bombeiros do mundo no combate
aos fogos florestais" e atribuindo os acidentes que se têm verificado
este ano "às contingências do clima, às taxas altíssimas de calor,
baixa humidade mas, acima de tudo, a uma floresta desordenada e
abandonada".

O presidente da Liga volta a apontar o dedo ao Ministério da
Agricultura e ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
"que têm obrigação de definir estratégias para que a floresta
portuguesa seja diferente" e ao Estado por não dar o exemplo e ter a
sua floresta "maltratada". "Ai sim há desleixo e negligência", disse.

O presidente da Liga garante que não irá faltar apoio à família desta
bombeira, que deixa uma filha de quatro anos. Enquanto o seguro da
Câmara Municipal de Cascais não for acionado, o responsável garante
que o Fundo de Protecção Social dos Bombeiros suportará as despesas
necessárias. "Não deixaremos um minuto sequer as pessoas ficarem em
dificuldades", disse.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3385958

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