sábado, 7 de setembro de 2013

Defender a floresta dos incêndios exige a valorização dos activos florestais, adopção de medidas oficiais de prevenção, políticas mais assertivas de combate e uma maior vontade politica dos governos

São sobejamente conhecidas as razões que estão na origem dos
incêndios. Não precisamos mais de diagnóstico de mais planeamento de
mais nomenclatura precisa-se sim, de políticas públicas e comunitárias
que invertam hemorragia demográfica que levaram à exaustão à rotura as
aldeias da região. Precisa-se, que este e os próximos Governos tomem
medidas efectivas de valorização dos recursos intrínsecos da floresta
na área económica social cultural e ambiental. Os factores
tradicionais que estão na origem dos incêndios à muito que se
encontram identificados, mas não resolvidos, como sendo: certos
interesses económicos instalados nesta área; a condescendência do
actual regime jurídico no tratamento dado aos pirómanos; a falta de
comportamento cívico e a negligência humana; a inexistência de fogos
controlados para a renovação de pastagens para os animais; a ausência
de campanhas de sensibilização junto das comunidades; a falta de
investimento na prevenção em área privada, baldios e pública; o
afastamento dos técnicos florestais de áreas de responsabilidade e de
comando em muitas instituições; o insuficiente número de equipas de
sapadores florestais; as questões fito sanitárias no coberto
florestal; a gestão da caça; a conflitualidade territorial; o
afastamento das populações e outros agentes económicos do mundo rural
em todo o dispositivo de combate existente; a depreciação económica da
madeira de pinho e o ambiente de crise da economia portuguesa são
factores não despiciendos na abordagem da problemática dos incêndios.

Adensar ainda mais estes problemas o Governo extingue serviços
públicos, faz reformas contra a opinião das populações afastando-as
cada vez mais do poder de decisão, insiste em ofensivas contra a
propriedade dos compartes tentando privatizar os baldios para
ulteriormente os entregar aos interesses da indústria de celulose e
multinacionais do sector.

Problemas fitossanitários das nossas florestas e a crise financeira do
país põem em causa este importante sector da economia

A diminuição de actividade no sector da construção civil associado à
crise da indústria da madeira e as novas exigências nacionais e
comunitárias relativas ao aparecimento do Nemátodo e outros agentes
biótipos, o corte, manifesto e transporte e comercialização da madeira
de pinho com a obrigatoriedade de destroçar e queimar os sobrantes,
submeter a madeira a tratamento térmico; são factores condicionantes e
um sério desafio à manutenção, desenvolvimento dos povoamentos do
pinheiro bravo na região e no País. Veja-se as dificuldades de
comercialização da madeira das astas públicas promovidas recentemente
um pouco em toda a região. Não se pode aceitar a ideia de que a
floresta se resume apenas à produção de eucalipto para pasta de papel,
sobreiro para cortiça, ou à produção do pinheiro manso para a produção
de pinha. Em todo o caso nunca podemos dissociar o interesse da
floresta de outras funções igualmente importantes para todas as
espécies florestais e que estão relacionadas com a protecção do solo,
a regulação do ciclo da água ou o sequestro de carbono para já não
falar na cinegética ou na paisagem que são elementos de grande
interesse para a economia regional e Nacional.

Existem estudos suficientes que dão respostas à forma de proteger a
floresta com equipas especializadas em fogo, as Universidades produzem
investigação de topo, reconhecida internacionalmente, acerca do
comportamento do fogo e da sua relação com os diferentes tipos de
vegetação.

O Governo precisa de aquilatar melhor a afectação de meios financeiros
entre a prevenção e o combate. Precisa-se de mais equipes de sapadores
florestais a inclusão destas, nas brigadas GAUF integrando
organizações locais cujo dispositivo de proximidade e conhecimento de
terreno, em colaboração com os bombeiros seria uma mais-valia para um
efectivo combate aos incêndios florestais.

A título de exemplo, é justo realçar os dados relativos aos incêndios
florestais dos anos de 2007 e 2008 com uma taxa de incêndios
relativamente reduzida que poderá ter ocorrido por várias razões mas
que aconteceu precisamente nos anos em que houve maior envolvimento
das associações de produtores florestais e baldios na sensibilização
das populações é justo concluir que tal impacto positivo estará também
associado ao trabalho de sensibilização junto das populações.

PELA BOCA MORRE O PEIXE

Quando temos um secretário de Estado que perante o Estado de
calamidade dos incêndios afirma que não arde mais nas áreas de
responsabilidade de gestão do Estado, é pertinente perguntar qual a
área total ardida nas áreas submetidas a Regime Florestal desde, pelo
menos, 1990 (data a partir da qual são disponibilizados dados
cartográficos pelo ICNF).

Peguemos como exemplo, o concelho de Mondim de Basto área onde o
SBTMAD tem feito e desenvolvido trabalho junto das comunidades baldias
através do Grupo de Baldios recentemente constituído. Utilizando dados
cartográficos publicados pelo ICNF revelam que cerca de 85% da área
ardida acumulada desde 1990 ocorreu em área baldia submetida a regime
florestal e em regime de co-gestão com o Estado e apenas 15% em área
particular. Isto é, dentro da área do Perímetro Florestal de Mondim de
Basto, com uma área total de 11.046,5 ha, arderam cumulativamente
11.481 ha desde 1990. A esta haverá ainda somar a área ardida anterior
a 1990, para a qual não existem dados publicados. Com este exemplo
apenas se pretende realçar e chamar a atenção do Secretário de Estado
para os resultados desta gestão e a pouca seriedade das suas
afirmações " ao afirmar que lhe apontem a má gestão das áreas baldias
mal geridas". É caso para dizer " não consegue ver o argueiro no seu
próprio olho.

Só nos dois maiores incêndios que ocorreram no mês de Agosto neste
Concelho em 2013, que abrangeram sobretudo a Freguesia de Ermelo e
Atei estima-se uma área total ardida de cerca de 3.200 ha dos quais
pelo menos 2.600 são área florestal baldia, onde o Estado é o
co-gestor. A análise previsional dos prejuízos provocados por este
incêndio leva-nos para valores de aproximadamente 11 milhões de euros,
entre valores de substituição da floresta, depreciação de material
lenhoso (prejuízo imediato), valores de perda/expectativa não cumprida
(prejuízo futuro em 25 anos) e valor de destruição de activos como a
resina. Junte-se a estes prejuízos a componente social ao colocar em
causa um conjunto de empregos rurais directamente relacionados com a
floresta, como resineiros e madeireiros agravando fortemente a
sustentabilidade social destas áreas e agravando a desertificação.

Peguemos nestes dados e extrapolemos para o distrito de Vila Real e
Bragança onde cumulativamente apenas neste ano de 2013 arderam 36 482
ha e tenhamos consciência de que os incêndios e a falta de políticas
adequadas para que estes não tomem as proporções que têm tido, são uma
das maiores condicionantes à sustentabilidade das zonas rurais.
O que se precisa na verdade é de menos retórica, mais e melhor
trabalho e politicas que se adeqúe ao nosso mundo rural.

Vila Real, 5 de Setembro de 2013

A Direcção do SBTMAD

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/09/06g.htm

Sem comentários:

Enviar um comentário