domingo, 16 de fevereiro de 2014

Governo quer discutir preço da água para as culturas regadas


CARLOS DIAS 15/02/2014 - 13:12
Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural disse que não é possível esperar mais tempo para discutir um novo tarifário que irá substituir o que foi aprovado pelo ex-ministro António Serrano em 2010.

O Secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento Rural, Francisco Gomes da Silva, quer discutir o preço da água para rega que está em vigor desde 2010. O governante lançou a sua proposta no discurso que proferiu no encerramento do 7º Colóquio Nacional do Milho, realizado esta semana na cidade de Beja.

Perante os mais de 500 agricultores que estavam presentes, frisou que se trata de um problema que “deve preocupar seriamente” a todos. A urgência do debate sobre o preço de água para rega está directamente associada à “conclusão do projecto Alqueva”, assume Gomes da Silva, alegando que a conclusão do maior projecto de regadio europeu “vai mudar a realidade dos factores que determinam o preço da água em Portugal”.

O tarifário previsto no despacho 9000/2010, aprovado durante a gestão do ex-ministro da Agricultura António Serrano, estabelece que o tarifário para o consumo de água em Alqueva começa nos 4,2 cêntimos por metro cúbico à saída da rede primária para as associações de regantes. Os fornecimentos directos às explorações agrícolas têm um custo de 8,9 cêntimos por metro cúbico quando se trata de abastecimento “em alta” e de 5,3 cêntimos no fornecimento em baixa pressão. Os agricultores pagam no primeiro ano metade do preço da água previsto no tarifário atrás referido e suportam um aumento de 10% durante cinco anos.

O secretário de Estado lembrou que a dimensão do projecto Alqueva veio “alterar completamente” os pressupostos que estiveram por detrás da decisão de António Serrano. “Como é que nós vamos lidar com esta questão (preço da água) no futuro”, questionou Gomes da Silva, advertindo que não é possível “esperar mais tempo” para “colocar, discutir e decidir atempadamente” o problema, para que todos os que necessitam de água para regar “não se deparem com paredes difíceis de demover”.

Vários dos agricultores presentes mostraram-se surpreendidos pela colocação da inesperada proposta que Gomes da Silva garantiu “nada ter a ver com a cultura do milho”. Não disse se pretendia subir ou baixar o preço da água para rega, mas até o presidente da Associação dos Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis), Luís Vasconcelos e Souza, em declarações recentes ao PÚBLICO considerava que iria ser “difícil”manter a produção de milho no Alqueva nos anos em que os preços deste cereal se apresentem baixos. E explicava porquê: “Contrariamente a algumas zonas do país” o preço da água em Alqueva “vem onerar a cultura de milho”.

Se não houver uma reformulação do tarifário aprovado pelo Ministério da Agricultura em 2010, o consumo de água na produção de milho sofrerá uma forte redução e, nessas condições, “será difícil manter” os preços da água, antecipava Vasconcellos e Souza. Este empresário ainda admite que a viabilização das áreas plantadas “pode passar por produzir mais barato e de forma mais eficiente mas dificilmente será possível reduzir o consumo de água”.

Ao apresentar os valores de consumo de água na região, o novo presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva, José Pedro Salema, revelou que a cultura de milho consome um volume de água que oscila entre os 6,5/10 mil metros cúbicos por hectare, tornando-a “proibitiva” aos preços estabelecidos no tarifário de 2010.

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