sexta-feira, 20 de março de 2015

Negócio com patentes terá de aumentar 10% ao ano até 2020


Ana Rute Silva 20/03/2015 - 08:38 

Novo pacote de fundos europeus PDR 2020 inclui 100 milhões de euros para a inovação no sector agro-alimentar. Laboratórios do Estado terão de ser "motores de desenvolvimento" para os produtores.
 
Inovação no sector agro-alimentar terá fundos específicos de 100 milhões de euros Paulo Pimenta 


Os resultados de exploração de patentes e propriedade industrial no sector agrícola e alimentar terão de aumentar em média 10% ao ano até 2020, passando dos actuais 50 mil euros (dados de 2013) para 97 mil euros nos próximos cinco anos. Esta é uma das metas traçadas pelo Ministério da Agricultura que, nesta sexta-feira, apresenta oficialmente a estratégia para a investigação e inovação no sector. O novo quadro comunitário desenhado para estas actividades económicas (PDR2020) tem destinado uma verba específica de 100 milhões de euros para a inovação, cujas candidaturas arrancam na primeira quinzena de Maio.

 Nuno Vieira e Brito, secretário de Estado da Alimentação e Inovação Agro-alimentar, acredita que haverá uma corrida aos fundos, tendo em conta o dinamismo que as empresas têm demonstrado nos últimos anos. "O sector está a correr bem, cada vez mais temos mais jovens e mais pessoas qualificadas e interessadas em novos produtos e que reconhecem a importância da inovação e a necessidade de, não tendo essa capacidade, se aproximarem das instituições que o podem fazer. Estou seguro de que teremos as candidaturas esgotadas", disse ao PÚBLICO.

Além dos 100 milhões de euros do PDR2020, há 4400 milhões de euros disponíveis no POCI, o Programa Operacional de Competitividade e Internacionalização, cujo primeiro eixo temático é direccionado ao reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da inovação. O Horizonte 2020 dispõe ainda de 77.000 milhões de euros especificamente orientados para o apoio à investigação.

Aumentar a produção científica, as parcerias internacionais, ligar empresas e universidades, criar clusters e centros de competência dedicados a produtos concretos (50 em 2020), ou acreditar os laboratórios do Ministério da Agricultura são algumas das intenções desta estratégia. As estruturas do Estado (quatro laboratórios e quatro estações experimentais) também vão aproveitar os fundos disponíveis.

"A expectativa é que, mesmo a nível do próprio ministério, os laboratórios e as estações experimentais sejam motores de desenvolvimento para os produtores. Que olhemos para as estruturas e que passem a acompanhar [a inovação] e se possível a dinamizar o sector agrícola e agro-alimentar português", diz Nuno Vieira e Brito. Ao contrário do que sucede noutras actividades, a inovação na alimentação tem estado "nas mãos do Estado (laboratórios e universidades públicos)". É, por isso, preciso aproximar as empresas dos investigadores e partilhar conhecimento – necessidade que há muito está diagnosticada. Outra das intenções é que as pequenas empresas, com menos capacidade financeira e de recursos humanos para ter estruturas de I&D, também recorram à investigação disponível nas universidades.

Foram definidas sete linhas de orientação, que também serão seguidas pelas estruturas públicas, alvo de uma reestruturação recente. Incluem desde a produção de alimentos à protecção animal, ecossistemas florestais ou alterações climáticas. "Fomos ao encontro de um facto positivo da inovação e investigação. Quando a agricultura não era uma actividade interessante, a investigação ressentiu-se e, do ponto de vista oficial, não houve grandes investimentos. Quem o fez foram as empresas", diz Nuno Vieira e Brito.

O último relatório da União Europeia coloca Portugal entre os países "moderadamente inovadores", ocupando o 16.º lugar entre 27 Estados-membros e o sexto entre os que estão abaixo da média da UE. Há uma "elevada dependência do ensino superior (50%) e do sector Estado (34%). Na agricultura, apenas 14% da inovação é proveniente das empresas", indica o Innovation Union Scoreboard (2013). A despesa total de Portugal em I&D foi de 2748 milhões de euros, 101 milhões de euros dos quais na agricultura, ou sejam apenas 3,7%.

Do gelado de algas aos enchidos de coelho
Apesar de a despesa em investigação e desenvolvimento estar longe dos patamares europeus, as pequenas empresas têm vindo a lançar novos produtos na área alimentar, usando parcerias com universidades e matéria-prima nacional. 

A gelataria Emanha, na Figueira da Foz, criou um gelado de kefir com algas marinhas em parceria com o Grupo de Investigação em Recursos Marinhos da Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, do Instituto Politécnico de Leiria. Em Bragança, a Grão a Grão alargou a produção de fumeiro tradicional à carne de coelho. Manteve todos os processos de fabrico mas mudou a matéria-prima principal, mais magra e com menos calorias. 

Já em Beja, a Mestre Cacau tem usado o medronho para produzir paté, em parceria como Centro de Excelência para a Valorização dos Recursos Mediterrânicos. Na lista de novos produtos estão ainda o medronho seco coberto com chocolate, trufas com aguardente de medronho ou medronho seco confitado. Há ainda o exemplo da aguardente da Lourinhã, uma das três aguardantes classificadas na Europa, que tem sido aplicada em bombons ou pastéis, num projecto da Câmara Municipal da Lourinhã para dinamizar o produto.

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