sexta-feira, 30 de junho de 2017

Engenharia Florestal é formação em vias de extinção


Almerinda Romeira
 Ontem 19:00
Em Portugal há três cursos na área da Engenharia Florestal, mas muitas vagas ficam às moscas. Num país de floresta mal gerida, corre-se o risco de, no futuro, não haver quadros qualificados. Outra tragédia que se anuncia?


Há três escolas em Portugal onde se pode estudar Engenharia Florestal ou equivalente. E até estão bem distribuídas na geografia: Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Lisboa, na capital; Escola Superior Agrária, que se insere no Instituto Politécnico de Coimbra, no centro do país; e Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD), no Norte. Os professores e investigadores são, regra geral, de qualidade, como de qualidade é o conhecimento aí produzido. E os alunos? "A procura dos alunos é inexplicavelmente baixa", refere Domingos Lopes, diretor do departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD ao Jornal Económico. Em setembro de 2016, um artigo do jornal Público punha o dedo na ferida. Num país de florestas, apenas 23 alunos escolheram Engenharia Florestal. A UTAD, em Vila Real, no nordeste do país, é a mais penalizada. Aí resiste-se à aridez da procura tentando manter vivo um curso que se considera fundamental para o futuro da região e do país.

O desinteresse dos jovens é tanto mais difícil de entender quanto vai na razão inversa à da importância que a floresta tem para o país. Às suas funções de pulmão para a biodiversidade e para a conservação do solo e da água, a floresta junta a riqueza que lhe é inerente: madeira, resina… A floresta é o petróleo de Portugal. O petróleo verde, como se costuma dizer. "Em muito poucos momentos, a floresta foi realmente vista como o recurso natural que é", diz Domingos Lopes, fundamentando: "É essencial perceber não só o que é, mas também o que pode vir a ser e o que se perde se não a soubermos gerir bem".

O potencial económico da floresta é tremendo, salienta. Basta olhar para o exemplo da cortiça e até para o da fileira do papel. Embora salvaguardando que toda a monocultura é indesejável na perspetiva da prevenção de incêndios, há no setor do papel "um conhecimento aplicado, engenheiros florestais a trabalhar, um acompanhamento que "nos deveria obrigar a refletir sobre as consequências da boa gestão e de como esta pode gerar rendimento, que não pode ser apenas explicado pelo mais baixo período de revolução da espécie".

Afinal, por que razão fogem os jovens da Engenharia Florestal? "Ainda não conseguimos imprimir a esta fileira a necessária dinâmica económica e ecológica… A fileira ainda não conseguiu ser suficientemente dinâmica para mostrar todo o seu potencial", afirma Domingos Lopes. A questão é estrutural e é nessa perspetiva que tem que ser colocada. Que futuro queremos para Portugal? O que vamos fazer do interior desabitado e envelhecido? Só uma verdadeira política para a floresta evitará o colapso futuro. "Todos os engenheiros florestais serão necessários. Ao ritmo a que os estamos a formar não serão suficientes", diz Domingos Lopes, que vê na falta de qualificações um handicap ao desenvolvimento.

Qual é a empregabilidade dos cursos? Onde se trabalha? Quando Domingos Lopes se formou há uma vintena de anos, também na UTAD, o Estado era o principal empregador. Desde então, muita coisa mudou. Hoje são sobretudo gabinetes técnico-florestais, estruturas de prevenção de incêndios, associações de produtores florestais, microempresas da indústria da madeira. "Há sempre saídas", diz. Diferente é saber se são bem remuneradas. "Temos de tudo. No geral, não penso que seja muito diferente de qualquer jovem que se forme hoje em dia".

Além da licenciatura, a UTAD ministra um mestrado em Engenharia Florestal. Tem uma disciplina que, para o professor, é "a disciplina": Ordenamento Florestal. Silvicultura pura. "O conhecimento está próximo de nós. Muitas vezes não o sabemos é ver", sublinha. Porém, quem tem responsabilidades no país tem a obrigação de o procurar.


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