terça-feira, 13 de março de 2018

Alterações climáticas exigem novas formas de gestão agrícola


12.03.2018 às 16h14


Eventos climáticos extremos, que vão ser mais cada vez mais frequentes e duradouros, exigem que os agricultores se adaptem, de maneira a que o sector se torne mais resiliente, conclui estudo internacional ECOSERVE

Os eventos climáticos extremos, que vão ser mais cada vez mais frequentes e duradouros, implicam "novas formas de gestão agrícola e agroflorestal" para tornar "o sector mais resiliente", defende um estudo internacional.

"Os agricultores vão ter de se adaptar, encontrando novas formas de gestão agrícola e agroflorestal por forma a tornar este sector mais resiliente às alterações climáticas", afirma o cientista José Paulo Sousa, coordenador de uma equipa de investigadores portugueses que participa no estudo internacional ECOSERVE, que está a avaliar os efeitos das alterações climáticas nos processos biológicos do solo.

Os eventos climáticos extremos "vão ser cada vez mais frequentes e de maior duração", alerta o investigador do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC).

Uma medida para mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, nomeadamente períodos prolongados de seca, passa pela "utilização de variedades de plantas cultiváveis com as características mais adequadas para promover o sequestro de carbono no solo, de modo a aumentar o uso eficiente da água e dos nutrientes", revelam os primeiros resultados do estudo, referidos numa nota da UC enviada hoje à agência Lusa.

"Um maior teor de carbono no solo implica uma maior capacidade de o solo reter água e disponibilizá-la para as plantas, logo menor é a necessidade de rega", explica a UC.

O trabalho científico, já publicado na revista "Journal of Applied Ecology", comprovou também que o tipo de agricultura praticada influencia o sequestro de carbono no solo.

De acordo com os investigadores, "os sistemas de cultivo orgânicos, sistemas em que a utilização de químicos é muito reduzida e onde os resíduos de uma cultura são utilizados como fonte de matéria orgânica para a cultura seguinte, originam maiores stocks de carbono no solo do que sistemas de cultivo convencionais", acrescenta a UC.

Este facto, esclarece José Paulo Sousa, "está intimamente relacionado com as características das espécies cultivadas, especialmente com a facilidade com que os resíduos destas espécies se decompõem e são posteriormente incorporados no solo", ou seja, existem "espécies ou variedades que influenciam de forma positiva a quantidade e qualidade dos stocks de carbono no solo".

Através de uma meta-análise global, complementada com medições em campo, a equipa relacionou as "características de diferentes espécies cultivadas com as respostas dos stocks de carbono nos dois tipos de cultivo, tendo encontrado relações significativas entre a presença de espécies que originam resíduos da cultura mais recalcitrantes, normalmente utilizadas em cultivos orgânicos, e maiores stocks de carbono", observa o investigador e docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Coimbra.

Estas conclusões são relevantes porque "fornecem pistas para possíveis medidas de mitigação dos efeitos de alterações climáticas na agricultura", sustenta José Paulo Sousa.

"Ao utilizar variedades de espécies cultiváveis com as características apropriadas, os agricultores podem mitigar estes efeitos, aumentando o stock de carbono no solo, logo aumentando o uso eficiente da água e dos nutrientes", conclui o investigador.

O estudo ECOSERVE envolve, além da equipa da Universidade de Coimbra, investigadores de Espanha, de França, da Holanda, da Suécia e da Suíça.

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