sexta-feira, 2 de março de 2018

Jerónimo Martins reforça aposta no agroalimentar Jerónimo Martins reforça aposta no agroalimentar


Ana Marcela 25.02.2018 / 12:00 

Dona do Pingo Doce comprou herdade no Alentejo para a produção de carne bovina, e avança com nova fábrica de lacticínios em maio 

É terreno a perder de vista, centenas de cabeças de gado espalhadas pelos 1100 hectares de terreno na zona de Monte Trigo. A 30 quilómetros de Évora, a herdade alentejana é a mais recente aquisição da Jerónimo Martins Agroalimentar (JMA) para instalar a produção de bovinos da raça Angus, depois de Manhente (Barcelos) e do Cartaxo. "O projeto Angus nas três localizações tem um investimento à volta de 25 milhões de euros", dos quais "cerca de cinco milhões deverão ser realizados este ano" na construção de pavilhões para a engorda intensiva, adianta António Serrano, CEO da JMA. 

Em maio arranca a nova fábrica de laticínios em Portalegre e, até ao final do ano, o grupo quer ter fechada uma localização para instalar a terceira unidade de aquacultura. Objetivo para 2018? Aumentar a produção para suprir as necessidades dos seus dois únicos clientes: Pingo Doce e Recheio. "Em 2018 as áreas de crescimento de produção são a Angus (na ordem dos 25%) e a fábrica de leite onde devemos chegar ao final do ano com mais 30 a 40% de produção face aos 40 milhões de litros de leite por ano atuais. Em 2019 deveremos atingir a produção plena de 100 milhões de litros", diz o responsável. 

Há seis anos começaram com os primeiros estudos para a entrada na produção alimentar. O grupo de retalho pretendia assim garantir a proteção da sua cadeia de abastecimento, não só em termos de acesso aos alimentos, como ao nível de segurança alimentar. Prevê-se que a população mundial atinja os nove biliões em 2050 e que haja maior escassez de alimentos. "O peixe é um desses casos, com os stocks selvagens sob ameaça, e o consumo de peixe cada vez a aumentar mais. Daí que as empresas de retalho olhem para este produto com preocupação", explica António Serrano. 

O projeto Angus arrancou em outubro de 2015. Sete hectares de terreno em Manhente, Barcelos, com capacidade para 900 animais em engorda intensiva; seguiu-se, no ano passado, 79 hectares no Cartaxo com mil animais em permanência e, desde o início do ano, os mais de mil hectares em Monte Trigo, no Alentejo. "Uma propriedade onde podemos desenvolver várias atividades, desde a produção de Angus (que vamos iniciar de raiz), à produção de comida. Temos ainda uma vacaria de produção de leite, cerca de 30 mil litros por dia, que colocamos na nossa fábrica em Portalegre", descreve António Serrano. 

O objetivo para a herdade em Monte Trigo é a produção intensiva de carne Angus. Em breve vão começar a fazer as primeiras inseminações, para que nove meses depois nasçam os primeiros vitelos na herdade alentejana. Dependendo dos licenciamentos, começam ainda este ano a construir os pavilhões em Monte Trigo e Cartaxo para engorda intensiva dos animais, projetos que deverão exigir um investimento de cerca de cinco milhões de euros, elevando para 25 milhões em três anos a aposta do grupo no projeto. "O objetivo é termos no conjunto das três localizações em torno de 15 mil -animais num espaço de quatro a cinco anos", adianta. E com isso assegurar mais de 70% das vendas de carne Angus do Pingo Doce e do Recheio (que fornece restaurantes e hotéis)", diz. Hoje garantem apenas 25% das necessidades. 

Impacto no sector António Serrano mostra-se entusiasmado com o impacto que este projeto poderá ter no sector agropecuário. "Quando tivermos os três projetos em perfeitas condições de desenvolvimento, seremos o maior produtor de Portugal e, se calhar, o maior ibérico", diz. "Temos aqui também uma oportunidade de desenvolvimento do país e do sector, ajudando algumas redes de produtores que trabalham connosco, e aumentando a produção portuguesa, reduzindo importações: na carne de vaca importamos 50% do que consumimos. Tudo o que fizermos aqui tem impacto na nossa balança comercial", reforça. 

O impacto do projeto no sector sente-se a dois níveis. É que além de comprar vitelos aos produtores nacionais de Angus, para depois os engordar nas herdades durante 14 a 15 meses, a JMA também compra a sua alimentação localmente. 


É este efeito dinamizador que António Serrano acredita que a fábrica de leite em Portalegre possa vir a ter na região. A nova unidade, na qual o grupo injetou 40 milhões de euros, tem uma capacidade de transformação de 100 milhões de litros de leite e deverá começar com os primeiros testes em maio. O impacto na região poderá ser "outro tanto". "Com a necessidade de aumento de capacidade de produção, levando à renovação de algumas vacarias e até que apareçam outros produtores que vejam aqui a possibilidade de se ancorar num projeto industrial forte, não é difícil pensar que o projeto possa gerar outros 40 milhões na região", antecipa. 

É para a futura fábrica que será encaminhado o leite produzido na herdade em Monte Trigo, bem como o dos produtores da cooperativa Serraleite, para assegurar a produção de leite UHT, natas, "vários tipos de manteigas e leites especiais que não temos hoje, ou outro tipo de necessidade que o consumidor venha a ter", diz. Este ano a expectativa é que a produção aumente entre 30 a 40% face aos atuais 40 milhões. 

"Em 2019 deveremos atingir a produção plena." Nova unidade de aquacultura No verão começam a chegar à rede de lojas as primeiras douradas da unidade de aquacultura da Madeira, onde o grupo, em joint venture, investiu cerca de 2,5 milhões; as vendas de robalo vindo de Sines já começaram em 2017. Na Madeira preparam-se para aumentar de 500 para mil toneladas a capacidade de produção, mas as duas unidades estão longe de satisfazer as necessidades do grupo. "Entre robalo e dourada o grupo deve vender entre sete a oito mil toneladas/ano, o que significa que estes projetos têm pouca expressão face ao que precisamos", diz António Serrano. 


Por isso, procuram uma nova localização. "Gostaríamos de chegar ao final de 2018 já com uma alternativa devidamente estruturada para aumentar a produção. Estamos numa fase de estudo das regiões, Portugal e Espanha são as áreas onde estamos mais concentrados."


Chuva que tem caído “não vai resolver problema que o país vive”, diz secretário de Estado do Ambiente

O secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, relembrou que apesar da chuva que tem caído nos últimos dias, a "situação gravosa" que o país vive se mantém



A chuva que tem caído ao longo desta semana "não vai resolver o problema que o país vive em quase todo o território, em especial a sul do Tejo e na zona transmontana", lembrou Carlos Martins.

O secretário de Estado explicou que o abastecimento público, através das barragens, ainda não oferece cuidados maiores, mas já considerado um cenário dramático ao nível dos aquíferos. "O nosso panorama é muito mais complicado ao nível das águas subterrâneas: do Minho ao Algarve a escassez é quase total, temos um território todo, todo coberto por uma situação que é, talvez das mais gravosas da história, desde que há registos, no que diz respeito às águas subterrâneas", acrescentou.

Carlos Martins falava à margem da abertura do encontro "Desafios da Água", que tem estado a decorrer ao longo desta quinta-feira em Albufeira, no Algarve. O encontro tem como objetivo definir e traçar metas rentáveis para a sustentabilidade dos recursos hídricos no futuro.

Tendo por base a situação atual do país, Carlos Martins anunciou, em declarações aos jornalistas, que já pediu à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) que seja elaborado um plano para a reutilização das águas residuais, adiantando que a percentagem de reutilização neste momento "andará entre 1, 5 e 2%" do volume de efluentes produzidos.

Precipitação 28/2/2018

Empresas duplicaram preços de limpeza de terrenos após o prazo dado pelo Governo


Algumas autarquias pensam recorrer a serviços espanhóis e duvidam que seja possível cumprir o prazo previsto na lei — 15 de Março.

PÚBLICO 27 de Fevereiro de 2018, 12:59 Partilhar notícia

 O objectivo da limpeza é criar faixas de protecção em torno das habitações, aglomerados e estradas nos meios rurais e florestaisFoto
O objectivo da limpeza é criar faixas de protecção em torno das habitações, aglomerados e estradas nos meios rurais e florestais LUSA/RICARDO GRAÇA
Depois de o Governo ter anunciado que os terrenos nas proximidades de casas e de aldeias têm de ser limpos até 15 de Março, há relatos de empresas que aumentarem os preços de limpeza dos terrenos para o dobro ou até para o triplo dos valores que antes praticavam.

Em declarações à rádio nabantina Hertz, a presidente da autarquia de Tomar, Anabela Freitas, deu conta de que os valores dispararam de forma considerável: "O preço de limpeza por hectare triplicou. Aquilo que a câmara em média pagava era de 1200 euros por hectare e neste momento estão-nos a pedir 3500 euros por hectare". Já em Janeiro, a autarca do PS dizia não ter meios para cumprir a nova legislação em vigor relativa à limpeza de terrenos, que deve ser feita até 15 de Março.

Também o i noticia nesta terça-feira que os preços para limpar os terrenos e as matas estão a disparar para o dobro, o que pode dificultar o cumprimento da lei que prevê que todos os proprietários têm de limpar os terrenos e criar faixas de protecção em torno das habitações, aglomerados e estradas nos meios rurais e florestais.


GNR da Guarda envolve padres na sensibilização das populações para limpeza de terrenos
Algumas autarquias ouvidas pelo jornal referem que o prazo é curto e é quase impossível de cumprir, admitindo recorrer a empresas espanholas. É referido o exemplo de Viseu, onde o preço médio de limpeza de cada hectare não ultrapassava os 1000 euros — agora chega aos 1500 euros, havendo "zonas do país onde os preços já chegam aos dois mil euros por hectare", segundo afirma o autarca viseense Almeida Henriques. Tudo isto "resulta da escassez da oferta" face à procura, explica, o que pode prejudicar também as famílias com baixos rendimentos.

Segundo uma nota enviada aos contribuintes, que gerou algum pânico e confusão ao fazer uma divulgação simplista da lei, o incumprimento do prazo de 15 de Março pode ser punido com coimas cujo valor pode variar entre 140 euros e 5000 euros, no caso de pessoa singular, e 1500 e 60.000 euros, no caso de pessoas colectivas". 

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Alqueva "supera" expectativas pela "tão valorizada" reserva estratégica de água


Os novos quase 50.000 hectares de regadio vão ser distribuídos por 13 novos blocos de rega

O presidente da empresa gestora do Alqueva fez hoje um balanço "extremamente positivo" do projeto, que "superou" as expectativas, sobretudo pelo impacto na agricultura e pela "tão valorizada" função de reserva de água para enfrentar períodos de seca.

"Faço um balanço extremamente positivo do projeto Alqueva", que "superou todas as melhores expectativas, desde logo pelo impacto na agricultura de regadio" na área beneficiada, disse à agência Lusa o presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema.

"Depois pela confirmação da sua principal função" de "reserva estratégica de água", a qual, "nunca como agora foi tão valorizada", afirmou, frisando que são nos "períodos longos de seca", como o que Portugal atravessa, "que Alqueva mostra a sua principal virtude".

Segundo o responsável, no empreendimento já foram investidos cerca de 2.400 milhões de euros nas infraestruturas das valências agrícola, energética e de abastecimento público de água previstas no projeto inicial e que ficou concluído em finais de 2016, "nove anos mais cedo" do que o previsto (2025), disse.

Na valência agrícola, a EDIA acabou em 2016 a construção das infraestruturas necessárias para regar 120.000 hectares, mais 10.000 do que inicialmente previsto, e que estão em exploração.

A taxa de adesão dos agricultores ao regadio do Alqueva, que rondou os 76% em 2017, "é o dado mais surpreendente de todos", disse, frisando que em Portugal, "tradicionalmente, um perímetro de rega público atinge uma taxa de adesão igual ou superior a 80% ao fim de cerca de 20 anos".

Atualmente, a EDIA tem quase 4.000 agricultores clientes que usam a água do Alqueva, dos quais 170 são estrangeiros e exploram cerca de 35.000 hectares na área beneficiada e, destes, cerca de 100 são provenientes de Espanha.

O olival continua a ser a cultura predominante, com mais de 44.000 hectares, seguindo-se o amendoal, que começa a ganhar espaço e, atualmente, ocupa cerca de 8.000 hectares.

Na valência de abastecimento público de água, a EDIA concluiu, em 2010, as ligações entre a albufeira "mãe" de Alqueva e as quatro albufeiras abrangidas pelo projeto inicial para reforçar, sempre que necessário, o abastecimento de 13 concelhos do Alentejo com mais de 200.000 habitantes, incluindo os de Beja e Évora.

Na valência energética, além de ter construído as centrais de Alqueva e do Pedrógão, que começaram a funcionar em 2004 e 2006, respetivamente, e foram concessionadas à EDP, a EDIA terminou em 2011 a instalação das cinco centrais mini-hídricas do projeto inicial.

A empresa também aposta noutras fontes de energia renovável e instalou pequenas centrais solares fotovoltaicas junto à barragem do Alqueva e em duas estações elevatórias e um 1.º conjunto de painéis solares fotovoltaicos flutuantes para produzir energia para abastecer as operações do reservatório de água da Cegonha.

Agora, frisou José Pedro Salema, perspetivam-se "duas novas fases na vida" do Alqueva: o aumento da área de regadio em mais quase 50.000 hectares e o desafio da sustentabilidade da operação das infraestruturas de distribuição de água, que inclui a produção de energia fotovoltaica suficiente para alimentar as necessidades de bombagem.

Segundo José Pedro Salema, a EDIA vai desenvolver o projeto de expansão do empreendimento para aumentar a área abrangida pelo regadio do Alqueva dos atuais 120.000 para 170.000 hectares, num investimento de 235 milhões de euros, que deverá terminar em 2022.

Os novos quase 50.000 hectares de regadio vão ser distribuídos por 13 novos blocos de rega, sendo sete no distrito de Beja, cinco no de Évora e um no de Setúbal.

A expansão do regadio terá impactos diretos e "no ano de cruzeiro" poderá gerar mais 2.630 postos de trabalho e aumentos de 119 milhões de euros no valor bruto e de 89 milhões de euros no valor acrescentado bruto da produção anual do setor agrícola na região.

O projeto de expansão prevê também novas ligações e reforço de ligações existentes para levar água do Alqueva a sistemas de abastecimento geridos pelo Grupo Águas de Portugal, nomeadamente albufeiras e estações de tratamento de água, o que irá permitir servir ainda mais 50 mil habitantes.

Das obras previstas, destacam-se as ligações à albufeira do Monte da Rocha, que abastece os concelhos de Castro Verde, Almodôvar e Ourique e parte dos de Odemira e Mértola, no distrito de Beja, e à albufeira de Morgavel, que fornece a Zona Logística e Industrial de Sines, no distrito de Setúbal.

Ministro da Agricultura não teme problemas com chuva em zonas afectadas por incêndios

O ministro confia que as chuvas que estão previstas cair nesta semana não vão causar problemas. "As zonas mais problemáticas estão protegidas e creio que o risco será pequeno, esperando que venha chuva, mas não que venha em quantidades tais que provoque outro tipo de tragédias."

LUSA 26 de Fevereiro de 2018, 17:11 Partilhar notícia

O Ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, mostrou-se nesta segunda-feira confiante nas intervenções feitas ou que decorrem para minimizar o impacto das chuvas em zonas afectadas pelos incêndios.

Em Porto de Mós, onde acompanhou acções de limpeza de terrenos para prevenção de incêndios, Capoulas Santos lembrou o investimento feito para intervir nas zonas mais problemáticas.

Não, não é para cortar todas as árvores à volta das casas
Não, não é para cortar todas as árvores à volta das casas
"O Ministério da Agricultura disponibilizou quase 50 milhões de euros para acudir às zonas de maior risco, de maior inclinação e, até, para protecção de vidas humanas, pelo risco de desmoronamento de estradas onde as pessoas circulam", sendo que alguns projectos estão ainda em execução.

O ministro confia que as chuvas que estão previstas cair nesta semana não vão causar problemas. "As zonas mais problemáticas estão protegidas e creio que o risco será pequeno, esperando que venha chuva, mas não que venha em quantidades tais que provoque outro tipo de tragédias."

Capoulas Santos admite que havia "preocupação" que chuvas torrenciais repentinas no Outono, "como muitas vezes acontece", arrastassem detritos, provocassem erosão e contaminassem linhas de água.

"Felizmente, para este caso da erosão, as chuvas não foram muito intensas e foram escassas, o que foi mau para agricultura. Sol na eira e chuva no nabal, não é possível...", concluiu o ministro da Agricultura.

O ministro também negou que exista um diferendo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses quanto à aplicação da lei de limpeza de terrenos, mas o presidente da autarquia reassumiu a incapacidade para substituir os privados.

Limpeza de terrenos: "Implicará sacrificar algumas festas?"
Luís Capoulas Santos, que acompanhou naquele concelho acções de limpeza de terrenos do Estado e do município, disse no final da visita não haver "nenhum diferendo" com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), que pede a revisão da lei que responsabiliza as autarquias no caso de os proprietários não intervirem nas suas propriedades até 15 de Março.

"Este é um esforço que, longe de ser factor de conflitualidade, é factor de preocupação. O que estamos a fazer está, há muitos anos, na legislação. Só que, infelizmente, por todas as vicissitudes que conhecemos, não era cumprido. Este ano acho que todos temos obrigação, depois da tragédia inimaginável que se abateu sobre nós no ano passado, de tentar cumprir ao máximo uma legislação muito difícil de cumprir", afirmou o ministro da Agricultura.

O governante admitiu que "não será possível ir a todos os metros quadrados, mas o objectivo é que seja cumprida [a lei] tão amplamente quanto possível num tempo que está pré-determinado no calendário".

Capoulas Santos frisou o "enorme esforço que o Ministério da Agricultura" está a fazer e "o mesmo acontece seguramente às câmaras municipais e aos rendimentos de cada um dos proprietários".

"Tem de haver uma conjugação de esforços para que os recursos escassos que todos temos possam produzir os melhores efeitos possíveis, por forma a reduzir o risco de incêndios e a evitar outras tragédias".

Reconhecendo as "limitações orçamentais" das autarquias, Luís Capoulas Santos defende ser necessário "estabelecer prioridades". "Porventura, levar mais longe essas tarefas implica cortar noutras despesas. No Ministério da Agricultura estamos a conferir essa prioridade. Estou convencido que os municípios não deixarão de fazê-lo: implicará sacrificar algumas festas? Não sei. Dentro dos recursos que cada um dispõe, esses terão de ser mobilizados e levar o esforço tão longe quanto possível."

"Não temos capacidade"
Ao lado do ministro, o presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Jorge Vala, preferiu não comentar a proposta de Capoulas Santos para reduzir nas festas. Mas reafirmou o que tem sido dito pela ANMP.

"Nós, municípios, não nos conseguimos de forma nenhuma substituir aos privados, nesta intervenção", disse o autarca, lembrando, "sobretudo", a falta de meios.

Na Bezerra, onde a autarquia avança com trabalhos de limpeza de 39 hectares, Jorge Vala sublinhou que a equipa teve de vir da Guarda.

"Se os privados cumprirem por si, como nós estamos a cumprir, as coisas vão acontecer. Agora, se os privados se desligarem desta responsabilidade, nós é que não temos capacidade", garantiu.

Para Jorge Vala, os prazos são apertados e "foram muitos anos em que não se fez rigorosamente nada pela limpeza da floresta".

"Este projecto é de emergência nacional. No entanto, é um projecto de emergência nacional em que não deve toda a responsabilidade final recair sobre os municípios", concluiu.

Exportadores agro-alimentares temem falta de água


A escassez de água pode fazer desviar o rumo ascendente das exportações alimentares e cria pressão sobre os custos de quem produz. Importações de matéria-prima agrícola são a alternativa para a indústria transformadora

 Isabel Aveiro

Nos últimos dez anos, o défice das trocas comerciais da categoria de produtos alimentares e bebidas — abrangendo produtos primários e produtos transformados — entre Portugal e o resto do mundo sofreu uma redução, nem sempre contínua, até estabilizar em torno dos três mil milhões de euros. Com anos melhores e piores, entre o começo e o fim desses dez anos as importações de alimentos cresceram em mais de um terço, mas foram acompanhadas por uma quase duplicação das exportações de alimentos.

No último ano, segundo os dados preliminares do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal vendeu para o resto do mundo produtos alimentares e bebidas no valor de 5,94 mil milhões de euros — entre primários (agrícolas e pesca, no valor de 1,8 mil milhões de euros) e transformados (no valor de 4,1 mil milhões de euros) —, situando o défice total da categoria em 3,13 mil milhões de euros.

Em Trás-os-Montes, para quê deitar cereais à terra? "É fazer-lhes o enterro"

Na análise aos dados relativos a 2016, o INE adiantava que "nas trocas comerciais de 'produtos alimentares e bebidas' o défice aumentou 106 milhões de euros, tendo atingido um saldo negativo de 2973 milhões de euros, mantendo-se como o segundo maior défice" do país, por classificação de grandes categorias económicas (CGCE), a seguir aos combustíveis. Adiantava ainda que, "para esta evolução" verificada em 2016 "contribuiu sobretudo o aumento do défice nos 'produtos primários destinados principalmente ao consumo dos particulares'".

Não deitar por terra o trabalho feito 
Em hortícolas e fruta (pronta a consumir e preparada) as exportações portuguesas ascenderam a cerca de 1400 milhões de euros (que somando os 79 milhões de venda de flores e plantas tiveram um crescimento anual de 12,4%), de acordo com o presidente da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal. Na área de agricultura onde este sector opera – de regadio - Gonçalo Santos Andrade admite que em 2017 "não foi tão grave, se calhar, como noutros subsectores", que enfrentaram "um desastre".

Mas, em declarações ao PÚBLICO, admite que 2018 "começou muito mal" e recorda que no seu sector "normalmente estas situações de seca reflectem-se no ano seguinte" - "a situação é muito preocupante", porque as "reservas [de água] estão muito em baixo em muitas geografias do país". "Neste momento não consigo dizer que impacto é que isso pode ter", mas, reconhece, "pode ser desastroso".


"O deserto vem por aí abaixo"
"Temos que fazer mais barragens ou não?"; "O que vamos negociar no novo quadro comunitário" também para "ir buscar água ao mar" e estudar processos de dessalinização? - são as perguntas que se colocam ao sector. Portugal precisava de um plano "que permitisse encarar o futuro com uma perspectiva risonha e que não deitasse por terra o trabalho feito a nível de marketing e comercial pelas empresas na excelente promoção do que é o nome de Portugal hoje em dia lá fora ao nível dos produtos das frutas, legumes e flores".

"Assusta-nos", diz, que "haja um decréscimo de disponibilidade de produto" e que seja assim "afectada a nossa ambição de continuar a crescer as exportações" de frutas, legumes e flores, à medida do plano traçado, de 10,8% ao ano, até atingir os dois mil milhões de euros em 2020.

Mais importações?
"Enquanto cliente da agricultura", a FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares tem estado "bastante atenta à problemática da seca e ao impacto na cadeia de valor agro-alimentar", pelas consequências que a falta de água tem "no abastecimento agrícola de proximidade", afirma Pedro Queiroz, director-geral da organização, em respostas escritas ao PÚBLICO. A FIPA contabiliza as exportações de produtos da indústria agro-alimentar e das bebidas em 4867 milhões de euros, de um volume de negócios total de 15.916 milhões de euros em 2017.


"Cresce-lhes a cabeça e a barriga mas a carne é zero"
"Pelo facto de haver uma redução da produção", explica Pedro Queiroz, "a indústria tem de procurar mais as suas matérias-primas nos mercados internacionais para continuar a garantir o abastecimento ao mercado nacional, quer para a alimentação humana, quer para a alimentação animal".

Os alertas sobre a alimentação dos animais constam das últimas previsões agrícolas do INE. A mais imediata é a falta de água para beberem. Depois, as "baixas temperaturas e a escassa precipitação conduziram a um abrandamento no desenvolvimento" dos "prados, pastagens e culturas forrageiras" e levou a "uma disponibilização de matéria verde" que foi "inferior ao normal", e "obrigando a uma antecipação do consumo de alimentos conservados e concentrados". A falta de precipitação "também atrasou a instalação de forragens" e, segundo o INE, "a grande maioria das explorações agro-pecuárias já esgotou as reservas de palhas e fenos, prevendo-se que tenham de continuar a recorrer a alimentos adquiridos".

"Confrontamo-nos com uma situação alarmante que passa pela falta de pasto nos lameiros. As sementeiras correram muito mal, tudo porque muitas delas nem sequer rebentaram e os produtores estão a recorrer a suplementos alimentares para os animais", confirmou há dias o secretário técnico da Associação de Produtores de Bovinos de Raça Mirandesa (ACRBM), Válter Raposo, à Lusa. "O preço da palha está ao dobro dos preços praticados no ano passado, uma situação que se vai ressentir na economia das explorações pecuárias, já que a margem de lucro é cada vez menor", vincou Válter Raposo.

"Naturalmente que havendo redução da produção será necessário recorrer à importação procurando mercados que garantam os mesmos níveis de qualidade", explica, por seu turno, Pedro Queiroz. Mas, para a Federação que representa um sector com 11.322 empresas, a "questão mais grave é mesmo o facto de se estar perante sérios riscos de escassez de matéria-prima de origem nacional", que tem "parâmetros de qualidade bastante reconhecidos e espécies que podem não ser fáceis de encontrar noutras regiões do globo", conclui.

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O sal vai subindo pelo Tejo


Agricultores da Lezíria estão preocupados com o Tejo e defendem nova barragem na Beira Baixa

Jorge Talixa
26 de Fevereiro de 2018, 7:06

A Lezíria Grande de Vila Franca de Xira é uma das regiões agrícolas mais férteis do país, assegurando uma parte muito significativa das produções nacionais de arroz, de tomate e de milho. Nos seus 13 mil hectares actuam cerca de 300 empresas que geram perto de 2000 postos de trabalho e movimentam 60 milhões de euros por ano. Mas toda esta actividade, hoje muito modernizada, está também totalmente dependente da qualidade da água do Tejo.
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O sistema de regadio da Lezíria Grande baseia-se em três grandes estações elevatórias que captam água no Tejo e promovem, depois, a sua distribuição por uma rede de centenas de quilómetros de condutas.

As dezenas de milhões de euros ali investidos nas últimas décadas reforçaram a eficiência dos sistemas e reduziram as perdas de água ao mínimo. Mas, ao mesmo tempo, os caudais médios do Tejo diminuíram e isso faz com que a cunha salina (zona do Tejo até onde as marés levam a água salgada do Atlântico) vá subindo com alguma frequência até ao Norte da Lezíria, ameaçando pôr em causa a disponibilidade da água necessária.

Nos anos mais secos o problema agrava-se. Em 2005 tornou-se mesmo impossível a utilização da água do Tejo captada na estação situada mais a Norte (Conchoso) e foi preciso tomar medidas de emergência, com a construção de uma barreira no rio Sorraia que permitiu reter alguma água e manter o regadio a funcionar. Em 2012, o problema repetiu-se e só foi atenuado com recurso ao pequeno rio do Risco, que mantinha alguma água em condições.

Já em 2017, a preocupação voltou a colocar-se, mas a Associação de Beneficiários da Lezíria Grande de Vila Franca de Xira (ABLGVFX) conseguiu sensibilizar a tutela do Ambiente e a EDP, que promoveu algumas descargas excepcionais nas barragens de Castelo de Bode e do Cabril que ajudaram a manter a água captada no Tejo com a qualidade necessária.

"Ao olharmos para o Tejo percebemos que água temos sempre. A questão é se tem qualidade em termos de sal para ser bombada e utilizada na rega", sustenta Joaquim Madaleno, director executivo da ABLG, admitindo que 2018 voltará a ser um ano de preocupação para garantir a água necessária.

"Percebe-se que os 7 hectómetros (caudal mínimo) que vêm de Espanha não chegam, o Tejo precisa de mais água para se manter e precisa também de receber mais água de Castelo de Bode, através do Zêzere. Terá que haver, no futuro, uma gestão que tenha em conta não só a produção de energia eléctrica, mas também a manutenção das boas condições do Tejo, da boa qualidade da água, da biodiversidade e que chegue também para os utilizadores, seja na agricultura, seja na indústria", defende Joaquim Madaleno, considerando que para acautelar o futuro e antevendo a repetição de anos secos, o Estado português deverá também retomar alguns planos de construção de barragens para armazenamento de água.

Nesse sentido, o director da ABLGVFX considera que seria fundamental recuperar o projecto de construção de uma grande barragem no rio Ocreza (na zona do Alvito, distrito de Castelo Branco), que já esteve no Plano Nacional de Barragens, mas foi retirado.

Joaquim Madaleno julga que essa infra-estrutura seria capaz de reter água suficiente para garantir outro tipo de caudais no Tejo e beneficiar todas as actividades económicas situadas a jusante, incluindo a agricultura que se faz na Lezíria de Vila Franca, a 150 quilómetros de distância.

"Houve uma pressão dos ambientalistas para não se fazer, mas até tem pouco impacto ambiental, porque não vai mexer com populações, nem no leito do Tejo. Vai mexer num afluente que está no meio do nada. E isso faria com que estivéssemos menos dependentes de Espanha", salienta Joaquim Madaleno, admitindo que a situação é preocupante. "Em 2018 só Deus sabe como será, porque se não houver água nas barragens não se pode fazê-la", conclui.


Medidas sobre limpeza das matas “são meros paliativos” face a “tempestades de fogo”

28.02.2018 às 8h00


Perante incêndios que "são tempestades de fogo", as medidas impostas de limpeza de matéria combustível em redor de casas e aldeias "são meros paliativos", considera o especialista Paulo Fernandes, em entrevista ao Expresso

Paulo Fernandes é um dos principais especialistas em floresta e incêndios em Portugal. Investigador do Centro de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro − que integra a equipa de peritos da Comissão Técnica Independente que elaborou o relatório sobre os incêndios de Pedrógão e está a trabalhar no dos incêndios de outubro −, considera que "há um problema de comunicação" face a uma lei que existe há 12 anos e que "em vez de aperfeiçoada foi degradada".

A lei que obriga a limpeza de uma área de 50 metros em redor das casas e de 100 metros em redor de aglomerados urbanos está a suscitar grande polémica. O que está a falhar na mensagem para que a floresta seja limpa de forma adequada pelos privados e pelas autarquias?
Há sobretudo um problema de comunicação. A mensagem está muito simplificada e perdem-se detalhes técnicos importantes que não é possível fazer passar de forma massificada através de vídeos e panfletos. É necessário distinguir o que se deve limpar em espaços rurais ou dentro de espaços florestais. E as pessoas não se lembram de procurar informação mais técnica sobre especificações da legislação.

O que deve ser corrigido nesta campanha?
Temos de chamar a atenção para as prescrições técnicas defeituosas. Não há mais nenhuma legislação no mundo, com exceção talvez da da Galiza, que seja tão rigorosa. Em países como a Austrália ou o Canadá a gestão dos combustíveis restringe-se a 30 metros em redor das casas ou das povoações. Nós impomos 50 metros para as casas e 100 para as povoações. É o dobro!

É exagerado? Porquê?
Há estudos que defendem que acima de 30 metros não se ganha nada. Ou seja, é a diferença entre limpar uma área de cerca de um hectare ou limpar cerca de 2800 metros quadrados. Ou seja, se adotássemos o perímetro de 30 metros, equivaleria a um terço da área que agora exigimos que seja limpa e seria mais fácil e barato as pessoas aderirem. Faz muita diferença.

Também há divergências técnicas quanto ao desbaste de árvores e arbustos e à distância das copas das árvores. O que defende?
É necessário haver uma hierarquia nestas intervenções. Primeiro limpa-se o mato rasteiro, depois os ramos e por último afastam-se as copas. Mas os estudos indicam que há efeitos contraproducentes no afastamento de copas. Formando clareiras aumenta a secura, a temperatura e a velocidade do vento, o que pode contrariar o efeito das intervenções pretendidas. Num país que tem uma legislação destas há tantos anos, esperávamos que a lei fosse aperfeiçoada, e não degradada.

Pode apontar bons e maus exemplos do que se está a passar no terreno?
As pessoas andam a cortar, a empilhar e a queimar. E estão tão receosas de ter problemas por não cumprir a lei que cortam até árvores de fruto, como marmeleiros, ou árvores ornamentais, como palmeiras. Os agentes da GNR que andam no terreno também não têm a formação adequada e exigem a limpeza de silvas ou arbustos que não têm de ser removidos.

As autarquias têm de fiscalizar as limpezas dos terrenos privados até 15 de março, e avançar elas próprias com os trabalhos de limpeza em redor de casas, estradas, fábricas ou aldeias se os privados se estas não forem feitas até 31 de maio. Os prazos foram antecipados e as penalizações agravadas. Os autarcas dizem que é impossível cumprir a lei. Em que é que têm razão e em que é que não têm?
As autarquias nunca ligaram muito a isto, porque a fiscalização era uma forma de perderem votos. Por isso foi-se desviando o ónus para a GNR, sacudindo a água do capote. Mas podem ter um papel mais pedagógico. A lei existe há 12 anos e ainda hoje as pessoas não sabem o que devem limpar.

Mas têm razão quando dizem que é impossível fazer tudo o que lhes é pedido no espaço de tempo que lhes é dado?
Sim. É impossível limpar tudo em tão pouco tempo. Este é um trabalho de formiga que dá resultados a prazo.

No relatório da Comissão Técnica Independente relativo aos incêndios de Pedrógão apontaram falhas nos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios e nas falhas nas limpezas das bermas de estradas ou em redor de aldeias...
Em incêndios que são tempestades de fogo, como os de Pedrógão, este tipo de medidas são meros paliativos, já que as casas arderam porque sobre elas caíram fagulhas vindas de longe e não dos 50 metros em redor. Estes perímetros são pequenas barreiras que o fogo ignora. Mais de 80% das casas que arderam no incêndio de Pedrógão foram atingidas por fagulhas e projeções de outros materiais. Para enfrentar fogos com a escala dos que tivemos em 2017 é mais importante criar manchas florestais fragmentadas e com menor combustível, para que os fogos atinjam menor envergadura e assim se controlem as projeções, e ter uma intervenção mais rápida e efetiva.

Que balanço faz do que foi feito até agora para preparar o país para a chamada "época de fogos"?
Foram criados mais meios humanos, com mais GIPS e mais sapadores. Mas aumentar os meios humanos ou aéreos não significa melhores resultados. O que precisamos é de um sistema de gestão integrada de fogos florestais com mais conhecimento e maior especialização e para isso aguardo o que vai ser desenhado pela nova Agência de Gestão dos Fogos Rurais (AGIF). É aí que se joga o futuro.

Precipitação 27/2/2018

Limpeza das matas. “Já há proprietários a oferecer as suas terras às juntas de freguesia”

27.02.2018 às 19h41


Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal) disse esta terça-feira, em Lisboa, que "temos de promover a limpeza das terras, mas não com uma pistola apontada à cabeça"

"Já há proprietários de terras a oferecer as suas propriedades às juntas de freguesia, pois não querem ou não podem proceder à respetiva limpeza, conforme está a ser exigido", disse hoje Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

Esta mensagem foi transmitida diretamente ao ministro da Agricultura, Capoulas Santos, convidado pela CAP para encerrar um debate, em Lisboa, sobre o impacto das alterações climáticas na atividade agrícola.

"Naturalmente, senhor ministro, todos temos de promover a limpeza das terras mas não com uma 'pistola' apontada à cabeça", acrescentou ainda o líder da CAP, numa alusão ao ultimato transmitido aos portugueses através de uma carta enviada há cerca de uma semana pela Autoridade Tributária a todos os contribuintes. "Eu nem queria acreditar… até os meus netos, que têm menos de um ano, foram avisados", ironizou ainda o mesmo responsável.

Oliveira e Sousa lamentou a forma como o assunto está a ser trazido para a opinião pública, que "não é seguramente a mais feliz".

POR FALTA DE ÁGUA "HÁ PRODUTORES PECUÁRIOS A QUE SE ESTÃO A DESFAZER DOS ANIMAIS"
Na resposta àquelas acusações, o ministro da Agricultura não rebateu os argumentos e nem sequer deu sequência à questão da limpeza dos terrenos, mas disse apenas que a preocupação do Governo não é menor que a da CAP. "Não estamos tensos, face a toda esta tragédia dos fogos e da seca que se mantém, mas estamos muito preocupados", sublinhou Capoulas Santos.

E acrescentou ainda que, devido à falta de água já há produtores pecuários que se estão a desfazer dos seus animais. "É uma situação que me entristece e que, enquanto ministro, irei tentar contrariar".

Falando para uma sala com cerca de 300 pessoas – agricultores, investigadores, académicos, empresários e representantes de vários departamentos governamentais – o ministro da Agricultura recordou que acabam de ser destinados 80 milhões de euros para compensar os mais afetados pelos incêndios e que se antecipou em dois meses o pagamento de 500 milhões de euros de ajudas aos agricultores que estão a sofrer com os efeitos da seca. "Fomos o único país da União Europeia a conseguir essa antecipação, e houve logo mais três que nos quiseram copiar".

Capoulas Santos frisou que se a antecipação nos pagamentos se deu foi porque o Governo português se soube mobilizar. "Repito: as ajudas são sempre poucas nestas circunstâncias, mas tenho a certeza de que terão um impacto positivo junto da produção".

REPORTAGEM: Seca: Agricultores do Alto Alentejo fazem "contas à vida" com culturas a "morrer"

As culturas de sequeiro no Alto Alentejo estão a morrer e o abeberamento do gado está em risco para desespero dos agricultores, que fazem "contas à vida" com os prejuízos causados pela seca que teima em durar.

Agricultor no concelho de Campo Maior, no distrito de Portalegre, Luís Machado tem de percorrer todos os dias 14 quilómetros (ida e volta) até à albufeira mais próxima para garantir o abeberamento aos mais de 230 bovinos que pastam na sua exploração.

"Os poços, noras e a barragem secaram em abril do ano passado e, para poder proceder ao abeberamento destas cabeças de gado, sou obrigado a fazer um transporte diário de cerca de seis mil litros de água. Durante os fins de semana tenho de fazer quatro transportes para conseguir que este gado subsista e não morra à sede", lamenta o agricultor, em declarações à agência Lusa.

Enquanto os animais são alimentados "à mão", através de fenos, palhas e rações, Luís Machado faz contas às despesas, observando que dentro de pouco tempo também "não há perspetiva" de recolher fenos porque a falta de água não deixou desenvolver as suas culturas.

"Essa é uma preocupação acrescida e que nem sabemos como vai ser resolvida, porque o que se passa aqui está a passar-se também em partes de Espanha. Em relação à compra de alimentos para o inverno, tudo o que virá a haver há de ser a preços completamente incomportáveis e não sei se vamos conseguir aguentar as nossas explorações", diz.

Já no concelho vizinho de Elvas e com Badajoz (Espanha) à vista, a exploração agrícola de Mário Mendes está vocacionada para a produção de cereais, mas a seca, de dia para dia, está a matar uma extensa cultura de aveia.

"A cultura não se instalou por falta de água. E o que podemos ver é a cor da seara, uma parte mais amarela [no caule], provocada pelo 'stress hídrico'", e, noutra parte, "as folhas mais adiantadas, com mais desenvolvimento, estão a começar a secar por causa da falta de água, do vento norte e frio", relata à Lusa o produtor.

"Não é um ano mau. Se continuar assim é um ano péssimo", desabafa Mário Mendes, também produtor de gado.

Repetindo argumentos utilizados por produtores pecuários, o agricultor de Elvas diz que o gado está a ser alimentado "à mão", quando deviam "entrar em cena", nesta altura do ano, as pastagens naturais.

Considerando que o Governo deveria "agir" com medidas "que não seriam gravosas" para o Estado, o agricultor defende o fim do período de retenção dos animais (termina a 30 de abril e só depois os produtores podem vender animais do efetivo para refugo), e autorização para o gado poder pastorear nos pousios de lavouras mistas (de cereais e de pastorícia).

A zona raiana de Elvas conta com a Barragem do Caia como um "grande aliado" na agricultura e no fornecimento público (abastece os concelhos de Elvas, Campo Maior, Monforte e Arronches), mas devido à seca a albufeira está a 19 por cento da sua capacidade total.

Embora o abastecimento público esteja garantido, por um período de três anos, a pouca água, segundo os agricultores, coloca em risco a próxima campanha de rega.

A albufeira tem 36 milhões de metros cúbicos de água armazenados, mas 31 milhões estão cativos para o abastecimento às populações.

Para Luís Rodrigues, técnico da Associação de Regantes e Beneficiários do Caia, a situação é "catastrófica" em termos de regadio.

As culturas de primavera/verão, aponta, "vão ser afetadas", caso não entre na albufeira um "caudal suficiente".

Precipitação 26/2/2018

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Por que morrem tantas pessoas com tratores em Portugal?


Acidentes continuam a aumentar e com consequências cada vez mais trágicas. Agricultores idosos, falta de formação dos condutores, de manutenção dos veículos, e características das explorações são algumas das causas

2018-02-24 10:00 Aline Raimundo

Homem de idade avançada, com pouca instrução, traído pelo cansaço. São três características a ter em conta para traçar o perfil da maioria das vítimas de acidentes com tratores agrícolas, uma realidade em que Portugal ocupa lugar de destaque.

Só nos últimos cinco anos, morreram 358 pessoas nesta situação. "Os acidentes com tratores em Portugal são, infelizmente, demasiado regulares. Há mais de uma vítima mortal por semana", afirma à TVI24 o coordenador técnico da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri).

Mais de 50% dos acidentes com vítimas mortais surge com operadores do sexo masculino, com uma idade superior a 65 anos, com baixo nível de qualificações e sinais de fadiga acentuados", acrescenta Augusto Ferreira.

Apesar de estar só na 12ª posição em termos de dimensão de superfície agrícola, Portugal é o terceiro país da União Europeia que regista mais mortes em acidentes com tratores, sendo apenas ultrapassado pela Grécia e pela Polónia. 

"Os acidentes com tratores assumem-se determinantemente como a principal causa de morte no trabalho agrícola", sublinha o mesmo responsável.

A TVI24 contactou a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária para obter dados atualizados do número de acidentes com tratores agrícolas, que remeteu mais informações para o Ministério da Administração Interna, que, por sua vez, não deu resposta até ao momento.

As causas
A maioria dos acidentes com tratores ocorre em propriedades agrícolas e são muitas vezes semelhantes: o veículo despista-se, capota e apanha o condutor, esmagando-o.


Entre as causas, Augusto Ferreira destaca o envelhecimento e a insuficiente formação dos condutores.

"Portugal tem os agricultores mais velhos da União Europeia, cuja média de idades passou dos 63 anos em 2009 para os 65 anos em 2016. Ao envelhecimento encontram-se ainda associados reduzidos conhecimentos sobre os riscos dos equipamentos e uma quase total ausência de formação."

A antiguidade e a falta de manutenção dos veículos e a não utilização das estruturas de segurança são outros perigos a ter em conta.

"Aproximadamente 50% dos tratores têm mais de 20 anos. Ou seja, tratores para os quais ainda não existia a obrigatoriedade de possuírem estruturas de segurança anti capotamento", explica.

O responsável da Confagri sublinha ainda a insuficiente avaliação dos riscos relacionados com a inclinação do terreno ou a carga transportada.

"As características da atividade agrícola nacional são também elas um fator de risco acrescido, em particular pelas caraterísticas estruturais das explorações, que em grande parte do território são constituídas por parcelas com acentuado declive e uma reduzida dimensão", acrescenta.

Como alterar o cenário
De acordo com a Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária, os acidentes com veículos agrícolas são os que apresentam a maior taxa de mortalidade.

É oito vezes superior à de acidentes com condutores de automóveis ligeiros ou pesados", realça o coordenador técnico da Confagri.

Para atenuar este cenário, o especialista alerta para a necessidade de apoios à formação e também à substituição ou atualização dos veículos.


"Ultrapassar constrangimentos de muitas dezenas de anos não é fácil. No entanto, e no imediato, são necessárias políticas de sensibilização, acrescidas de políticas de apoio à formação dos operadores, que permitam designadamente a formação gratuita a todos os agricultores e em todas as regiões e políticas que permitam o apoio específico à substituição de tratores sem estruturas de segurança ou, em alternativa, à sua instalação quando possível."

Augusto Ferreira defende ainda que é preciso "sangue novo", com a atração de mais jovens para a agricultura e a "promoção da cessação da atividade de agricultores com idade avançada."

O Governo introduziu recentemente algumas medidas para reduzir os níveis de sinistralidade com tratores e máquinas agrícolas, como a obrigatoriedade da inspeção aos tratores e da participação dos condutores em ações de formação.

"Com as recentes alterações ao Código da Estrada, a formação passou a ser obrigatória para os condutores de veículos agrícolas da categoria II (tratores agrícolas ou florestais, simples ou com equipamentos montados, bem como os tratores agrícolas ou florestais com reboque ou máquina rebocada) e da categoria III (tratores agrícolas ou florestais com ou sem reboque e as máquinas agrícolas ou florestais pesadas, com peso superior a 3,5 toneladas)", explicou o mesmo responsável da Confagri.

Em conjunto com a Autoridade para as Condições do Trabalho e as organizações agrícolas locais, a Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas realiza, há vários anos, ações de sensibilização para agricultores, como também promove ações de formação regulares de habilitação para a condução de veículos agrícolas.

Governo anuncia nova campanha para poupança de água

Nova campanha vai apelar à poupança de água

21 Fevereiro 2018 às 15:44


O Governo vai lançar uma nova campanha a sensibilizar para a necessidade de poupar água, este ano alargada a todos os utilizadores, dos domésticos, à agricultura e indústria.

"Se no ano passado a campanha foi muito dirigida à falta de água nas torneiras das pessoas, que nunca aconteceu, este ano começamos mais cedo" e a ação de sensibilização "tem de ser dirigida a todos", disse o ministro do Ambiente João Matos Fernandes no parlamento.

A campanha, que deverá ser lançada em meados de março, vai dirigir-se "certamente a cada um de nós enquanto cidadãos, mas [também] a todos os outros grandes utilizadores de água, como a pecuária, a agricultura, e rega e a indústria", explicou.

João Matos Fernandes falava aos jornalistas após a audição na comissão parlamentar do Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, onde foi ouvido sobre a poluição no Rio Tejo.

Cidadãos urbanos passaram o ano "sem dar por ela, e isso não pode acontecer"

"Temos mesmo de alargar a campanha a todos porque na altura já todos os agricultores sabiam bem que estavam em seca, não era preciso dizer-lhes para pouparem água", defendeu o governante.

E, recordou o ministro, os cidadãos urbanos, passaram o ano "sem dar por ela, e isso não pode acontecer", e é necessário que todos se adaptem às novas condições do clima e reduzam os consumos de água.

A nova campanha "está a ser desenhada e, o mais tardar dentro de três semanas, estará na praça pública", anunciou.

Entre as ações de combate à seca listados pelo ministro está a limpeza dos fundos das albufeiras para garantir que o volume de água agora inútil passará a ter qualidade para ser utilizada.

A alteamento em duas albufeiras, o reforço das ligações a partir do Alqueva e de outras barragens, e o apelo para que agricultores que necessitam de água do Alqueva o digam o mais rápido possível, para permitir a organização do acesso ao recurso, são outras medidas do Governo.

O tratamento de águas residuais para reutilização terá um plano em junho para que as 50 maiores ETAR do país, de uma maneira geral, aquelas das grandes cidades, estejam preparadas para que todo o seu efluente possa vir a ser usado.

João Matos Fernandes apontou que, em muitos casos, será necessário efetuar alguns investimentos e o objetivo é que essa água possa ser reutilizada "sem qualquer custo acrescido", tendo uma rede própria.

Questionado acerca dos resultados da anterior campanha para a poupança, o ministro disse que, "tendo sido um ano com uma afluência de turistas tão grande e população tão grande nos locais onde água é mais consumida, os valores do consumo em cidades como Lisboa e Porto, ao longo do ano até cresceram".

Mas, "isso não quer dizer que não haja resultados positivos da campanha", garantiu.

No caso de Viseu, em que "nos dias mais complexos eram captados 15 mil metros cúbicos de água, chegamos a conseguir valores de 10 mil metros cúbicos, ou seja, uma redução de quase um terço", apontou João matos Fernandes.

Outros exemplos que escolheu foram os de empresas como os metropolitanos de Lisboa e do Porto, que diminuíram o gasto de água na lavagem das carruagens.

Incêndios: Agricultores de Coimbra reclamam reabertura de candidaturas a apoios


A Associação Distrital de Agricultores de Coimbra (ADACO) reclamou hoje a reabertura, durante mais um mês, das candidaturas simplificadas a apoios na sequência dos incêndios de 15 de outubro, criticando a burocracia do Ministério da Agricultura.

"Não pode ninguém ficar de fora dos apoios por questões burocráticas. Em Pedrógão [nos incêndios de junho] houve três meses para fazer as candidaturas e aqui só houve um mês. O que nós reclamamos é que, no mínimo, mais um mês, as candidaturas simplificadas [até cinco mil euros] sejam reabertas", disse hoje aos jornalistas Isménio Oliveira, dirigente da ADACO.

"O senhor ministro [da Agricultura] diz que fez um esforço enorme para pagar o que já foi pago até agora, reabriu as candidaturas acima dos 400 mil euros que contemplam cinco lesados. Porque é que não reabrem para três mil agricultores que têm muitas dificuldades em sobreviver com aquilo que aconteceu e que estão a ficar fora dos apoios?", questionou.

Em declarações na freguesia da Tocha, concelho de Cantanhede, onde dirigentes daquela associação foram confrontados com situações de agricultores que fizeram a primeira declaração de prejuízos, após os incêndios, nas juntas de freguesia e na Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro "e, por qualquer motivo, não foram contactados para continuar o processo e agora não têm direito", criticou.

Outros casos, de acordo a ADACO, incluem pessoas "ausentes do país em trabalho ou longe das suas terras", pelo menos uma situação de um agricultor de Gouveia que ficou ferido nos incêndios e esteve hospitalizado e também casos de cidadãos estrangeiros residentes no interior centro do país, que "por falta de apoio, por desconhecimento de onde se deviam dirigir ou até por alguns estarem isolados nas suas povoações", não se candidataram aos apoios.

No total, o dirigente da ADACO estima que na região Centro existam cerca de três mil agricultores que não se candidataram, mil dos quais entregaram a primeira declaração de prejuízos.

Isménio Oliveira notou, por outro lado, que nas candidaturas a apoios superiores a cinco mil euros - que implicam a elaboração de um projeto, que vários agricultores não têm meios para concretizar - estão a existir "cortes brutais" e Isménio Oliveira volta a criticar a burocracia inerente a essas candidaturas.

"Os projetos nem sequer se sabe se são aprovados. E obedecem a medidas anteriores, não foi criada nenhuma medida para fazer projetos de emergência em relação aos incêndios, era uma medida que já havia e as pessoas têm de entregar dezenas, centenas de papéis", argumentou.

Um dos agricultores, Climério Domingues, 75 anos, residente num lugar dos arredores da Tocha deu hoje nota aos jornalistas dos mais de 70 mil euros de prejuízos que sofreu, onde se incluem 25 animais - vacas, bezerros e novilhos - além de maquinaria e alfaias agrícolas.

"Sem ajudas, para mim não há hipótese. Não veio ajuda porque as candidaturas foram uma coisa muito repentina e o projeto, independentemente de saber se era ajudado ou não, teria custos também para mim", frisou, aludindo ao período de tempo necessário, cerca de 10 a 15 anos, para sustentar um projeto de recuperação da atividade.

"Já não somos jovens com 40 ou 50 anos", enfatizou.

Com prejuízos superiores a cinco mil euros, Jacírio Andrade, produtor de mel na localidade de Morros, freguesia de Bom Sucesso, na Figueira da Foz, decidiu, no entanto, optar pela candidatura simplificada, reduzindo as mais de 60 colmeias que perdeu para 57 "para não atingir os cinco mil euros" de prejuízo e ter de elaborar um projeto.

"Mesmo assim, também não recebo nada", lamentou, explicando que os cerca de 4.600 euros da declaração de prejuízos que apresentou não resultaram em qualquer apoio, dado a candidatura não ter tido seguimento, por alegadamente não ter sido alertado para os procedimentos necessários.

"Isto era o meu sustento e não é só isto que está aqui. São 60 enxames que ando a comprar porque fiquei sem nada e são mais cinco ou seis anos que não produzo mel", afirmou.

CDS questiona Governo sobre limpeza de terrenos



Parlamentares querem saber quando e como é que a confusão gerada pela comunicação feita sobre a nova lei de limpeza de terrenos vai ser clarificada. Também perguntam que apoio está a ser dado às autarquias.

Rita Marques Costa
23 de Fevereiro de 2018, 17:47

A campanha de divulgação da nova lei que regulamenta a limpeza dos terrenos tem provocado confusão entre os proprietários de terrenos. A edição do PÚBLICO desta sexta-feira dá conta que até há árvores em risco de serem abatidas desnecessariamente, devido à forma simplificada como a lei está a ser comunicada. Na sequência desta notícia, o CDS endereçou algumas questões ao Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e ao Ministério da Administração Interna sobre o que será feito para reverter a situação.

No documento, os deputados do CDS perguntam "que medidas vai o Governo tomar, com a necessária urgência, no sentido de corrigir e clarificar a informação inicialmente prestada aos portugueses" e "quando". Isto porque "não é obrigatório cortar todas as árvores à volta das casas, muito menos árvores de fruto, mas apenas fazer a limpeza do mato e/ou materiais combustíveis num raio de 50 metros, bem como garantir uma distância entre copas", detalham.
Municípios rejeitam diploma do Governo que os obriga a limpar a floresta


Os parlamentares aproveitam ainda para questionar sobre o "tipo de informação e apoio que estão a ser dados às autarquias nesta área, no âmbito da Campanha de limpeza de matos 2018".

Acrescentam ainda que "chegou ao conhecimento do grupo parlamentar do CDS que, nalguns municípios, as câmaras municipais, antes de darem a autorização para que os proprietários realizem as queimas, estão a exigir pareceres do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e de associações de caça e pesca locais, tornando quase inviável o cumprimento dos prazos, dada a morosidade com que, habitualmente, estes serviços funcionam". Por isso, querem saber se o Governo tem conhecimento do fenómeno, se a iniciativa está em conformidade com a lei e que impacto eventuais pareceres negativos podem ter.

Ao PÚBLICO, Paulo Fernandes, engenheiro florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, explicou que "o afastamento de 10 metros entre copas de eucaliptos e pinheiros pode fazer com que cresça mais mato e aumentar a velocidade do vento e a secura, o que irá ajudar as chamas a progredir". Pelo que os parlamentares do CDS exigem saber: "Quais os fundamentos que levaram a esta distinção entre espécies? Que entidades foram consultadas para o apoio à tomada de decisão?".
Árvores de fruto não têm de ser cortadas

As questões endereçadas aos ministérios são assinadas pelos deputados Patrícia Fonseca, Ilda Araújo Novo e Hélder Amaral.


A confusão até já fez com que o Governo publicasse um alerta na página do Portugal sem Fogos a indicar que as árvores de fruto não têm de ser cortadas, desde que estejam inseridas numa área agrícola ou jardim. Entretanto, circula uma petição a pedir alterações à lei, ao que o Governo contrapõe que apenas clarificou uma legislação que não é nova e que a limpeza dos terrenos é um imperativo nacional.

Segundo a campanha de informação divulgada pelo Governo, os proprietários de terrenos têm até ao dia 15 de Março para limpar os terrenos numa faixa de 50 metros ao redor das casas e 100 metros à volta das aldeias. A iniciativa é da responsabilidade conjunta do Ministério da Administração Interna e do Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

Alentejo planta mais 800 hectares de vinha em 2018


Estão autorizadas novas plantações de vinha em Portugal até 1.916 hectares, sendo 42% destinados à produção de vinhos alentejanos. O Governo fala em "ganhos de escala" para as empresas e dá prioridade a jovens agricultores.

António  Larguesa António Larguesa alarguesa@negocios.pt
23 de fevereiro de 2018 às 12:27

É o equivalente a cerca de 800 campos de futebol com as dimensões máximas previstas pela FIFA. A atribuição de novas autorizações de plantação na região vitivinícola do Alentejo pode ascender este ano a 800 hectares (ha) para a produção de vinhos com Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP), que são os mais valiosos para as empresas.

No total do território nacional, a área máxima de nova vinhas a atribuir aos produtores pode ascender a 1.916 hectares em 2018, segundo um despacho assinado pelo secretário de Estado da Agricultura e Alimentação, Luís Vieira, que define as regras e os critérios de elegibilidade e de prioridade e os procedimentos administrativos a observar na distribuição de autorizações para novas plantações.

Aludindo ao "bom desempenho das exportações nacionais" – em 2017 subiram 7,5% para um novo valor recorde de 778 milhões de euros – e à "crescente notoriedade e reconhecimento internacional da identidade e qualidade" dos vinhos nacionais, conjugada com as "as perspectivas de subida gradual da procura" a nível mundial, o Governo entende que "importa proporcionar ao sector vitivinícola um incentivo ao aumento da capacidade de oferta".

Apontando que, com a plantação de novas vinhas, está a "[fomentar] os ganhos de escala das empresas já instaladas no sector, assim como a entrada de novos viticultores", o Executivo definiu os limites máximos para as autorizações de plantação em zonas geográficas delimitadas de DOP ou IGP. Além do Alentejo, estão nestas circunstâncias a região da Madeira (mais 0,7 ha) e do Douro, onde também só podem ser plantados mais 4,2 ha em 2018 – a esmagadora maioria (4 ha) para a produção de vinhos DOP Douro ou IGP Duriense.

Candidaturas na Internet e prioridade aos jovens 

As candidaturas devem ser submetidas na página do Sistema de Informação da Vinha e do Vinho entre 1 de Abril e 15 de Maio, sendo a decisão comunicada aos candidatos até ao dia 1 de Agosto. Se a autorização concedida for inferior a 50 % da superfície requerida, o produtor pode recusá-la no prazo de um mês sem qualquer sanção administrativa. 

Entre outras regras, o despacho já publicado em Diário da República prevê que, se a superfície total abrangida exceder a disponibilizada, a prioridade será dada aos jovens produtores (até aos 40 anos), às candidaturas "com potencial para melhorar a qualidade dos produtos para DOP ou IGP", a quem não tiver deixado expirar autorizações nos últimos cinco anos e ainda às "superfícies a plantar de novo no quadro do aumento da dimensão das pequenas e médias explorações vitícolas". 

"Se após a hierarquização efectuada [nestes termos] ainda subsistirem situações de candidaturas que obtenham a mesma pontuação e para as quais não exista área disponível suficiente, são prioritariamente contempladas as candidaturas com pedidos de menor área", estipula ainda este diploma com origem no Ministério tutelado por Luís Capoulas Santos.

Mails das finanças sobre fogos. PCP acusa governo de "alarme injustificado"


23 DE FEVEREIRO DE 2018 - 06:43

Comunistas pedem explicações e dizem que há idosos assustados com comunicação da Autoridade Tributária.


Foto: José Carlos Prata/Global Imagens

O PCP acusa o governo de espalhar um "alarme injustificado" ao enviar através da Autoridade Tributária milhões de e-mails, em massa, para contribuintes a avisar que é preciso limpar os terrenos à volta das casas e das aldeias.

O aviso com a indicação expressa das multas a que se fica sujeito começou a chegar no início da semana e destinou-se mesmo a quem não tem terrenos ou casas em espaços rurais, algo que para os comunistas não faz qualquer sentido, mesmo que que se explique que é apenas uma comunicação em colaboração com o Ministério da Administração Interna e o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural.

O deputado do PCP João Ramos, que já enviou uma pergunta ao Ministério da Agricultura sobre o tema, conta que foram contactados por idosos assustados com o e-mail das finanças sem saberem o que fazer.

O representante do PCP conta os sustos que estes e-mails já causaram.
João Ramos diz que não faz sentido enviar estes e-mails a quem tem casas no meio de cidades.
Os comunistas salientam que a Autoridade Tributária não tem qualquer competência nesta área e que devia ser outra entidade, por exemplo o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a contactar os proprietários.

Na pergunta que já seguiu para o governo o PCP quer conhecer os critérios para o envio destes e-mails e porque razão foi a Autoridade Tributária a enviá-los sem qualquer seleção dos destinatários.

Na reação às críticas do PCP, o secretário de Estado das Florestas exlica que os avisos nunca são demais. Miguel Freitas sublinha que todos os contributos, como o das Finanças, são bem-vindos.

21 anos de dados confirmam: o milho transgénico não só é seguro, como tem benefícios para a saúde


Por ZAP - 23 Fevereiro, 2018

Milho transgénico afinal traz beneficios para a saúde
Os defensores de alimentos orgânicos citam frequentemente notícias ou estudos isolados que respaldam a sua visão de que as culturas geneticamente modificadas não são boas, porque não aumentam os rendimentos dos agricultores e não são seguras para a saúde.

Porém, uma equipa de cientistas italiana, através de uma meta-análise rigorosa que vasculhou os dados de mais de seis mil estudos produzidos em 21 anos de informação, descobriu que o milho transgénico possui diversas vantagens sobre as variedades convencionais e é seguro.

O milho transgénico aumentou os rendimentos de agricultores em até 25% (variando de 5,6 a 24,5% nos países com culturas) e diminuiu drasticamente os contaminantes perigosos do alimento.

A análise incluiu dados desde 1996, quando o primeiro milho transgénico foi plantado, até 2016 nos Estados Unidos, Europa, América do Sul, Ásia, África e Austrália. As descobertas foram publicadas em fevereiro na revista científica Scientific Reports.


O estudo também reafirmou o consenso científico de que o milho geneticamente modificado não representa riscos para a saúde humana. Pelo contrário, pode até ter benefícios.

Por exemplo, as culturas de milho transgénico apresentaram percentagens mais baixas de micotoxinas (-28,8%), fumonisinas (-30,6%) e tricotecenos (-36,5%) relativamente ao milho convencional.

As micotoxinas são tóxicas e cancerígenas. O milho transgénico provavelmente apresenta menor teor porque as variedades geneticamente modificadas diminuem o dano feito por insetos em 59,6%. Esse dano enfraquece o "sistema imunológico" da planta, deixando-a mais suscetível ao desenvolvimento de fungos.

As micotoxinas são uma ameaça persistente para a saúde humana e animal. Embora o milho comercial seja analisado para contaminação, os sistemas de segurança alimentar geralmente não são tão rigorosos, resultando na exposição significativa aos efeitos tóxicos e cancerígenos. Vários estudos têm demonstrado que a contaminação por micotoxinas está associada ao aumento da taxa de cancro de fígado, por exemplo.

A meta-análise italiana também marca o que poderia ser um capítulo final noutra faceta do debate sobre o uso de transgénicos na agricultura.

O argumento de que as culturas transgénicas não resultam em aumentos de rendimento recebeu atenção proeminente depois de ter sido publicada uma grande reportagem sobre o assunto que fez capa no New York Times.

O artigo citava um relatório das Academias Nacionais de Ciências dos EUA e afirmava que "existiam poucas provas" de que a introdução de culturas geneticamente modificadas nos Estados Unidos produzisse lucros além dos observados em culturas convencionais.

No entanto, as informações tinham sido tiradas do contexto. O relatório americano apenas afirmava o óbvio: nenhuma cultura transgénica foi projetada especificamente para aumentar os rendimentos, mas sim para combater as perdas de ervas daninhas e insetos, o que, aliás, teve um impacto positivo óbvio na rentabilidade das culturas.

A notícia do New York Times também deixou de fora a informação de que o rendimento e os ganhos de lucro foram maiores nos países em desenvolvimento.

Uma revisão feita em 2015 pela PG Economics descobriu que as culturas transgénicas proporcionaram benefícios económicos de 133,4 mil milhões de dólares (108,2 mil milhões de euros) entre 1996 a 2013, com cerca de metade dos ganhos a pertencer a agricultores de países em desenvolvimento.

De acordo com o estudo italiano, mais de 53 milhões de hectares de milho geneticamente modificado foram cultivados em 2015, representando quase um terço da área global de milho plantado. Os Estados Unidos lideram a produção em 33 milhões de hectares, com o Brasil, a Argentina e o Canadá a seguirem as pisadas.

Enquanto os aumentos de rendimentos foram mais modestos em países desenvolvidos onde as condições de crescimento são piores, o aumento do cultivo de milho transgénico nos países em desenvolvimento pode proporcionar aos agricultores e consumidores benefícios substanciais para a saúde e economia, conclui a meta-análise italiana.

Mais de 250 mil hectares irrigáveis sem água este ano por causa da seca


Associações de regantes estimam prejuízos na ordem dos mil milhões de euros.
Rita Marques Costa

22 de Fevereiro de 2018, 16:21 actualizado a 22 de Fevereiro de 2018, 16:53


Em Portugal, existem 547.838 hectares de superfície irrigável, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) para 2016. Mas a Federação Nacional de Regantes (Fenareg) estima que metade não terá água este ano. Carina Arranja, secretária-geral da federação, explica que os agricultores afectados por esta realidade têm duas alternativas: ou instalam culturas que "utilizem menos água" mas são menos rentáveis, ou "não produzem nada este ano".

A Fenareg diz em comunicado que está a "efectuar um levantamento rigoroso das implicações desta situação" e já foi possível concluir que nove aproveitamentos hidroagrícolas – Divor, Veiros, Lavre, Vale do Sado, Vigia, Abrilongo/Xévora, Campilhas e Alto Sado, Caia e Lucefecit – não vão regar este ano. Só estas infra-estruturas cobrem uma área de 50.000 hectares.

Ao PÚBLICO, Carina Arranja diz que "fora destes aproveitamentos o impacto é ainda maior".

Os regantes, que nesta altura planeiam a campanha de rega para 2018, estão a ser "obrigados" ao rateio da água disponível (divisão proporcional), "de modo a minimizar os prejuízos económicos causados pela falta de chuva". 

Para diminuir o impacto desta situação, a Fenareg defende maior "flexibilidade" nos pagamentos directos e na aplicação das medidas agro-ambientais que os agricultores estão obrigados a cumprir. Além disso, seria importante "aliviar os pagamentos da Segurança Social" e os custos relacionados com a energia utilizada para fazer chegar a água às explorações.

As estimativas dos regantes apontam para mil milhões de euros em prejuízos globais. Em termos de impactos para os produtores, Carina Arranja não tem dúvidas: "A quebra será evidente." Só no Vale do Sado, onde predomina a cultura do arroz, "as associações estimam 12 milhões de euros de prejuízo". "Se este ano não correr bem, corre-se o risco do abandono da actividade agrícola."

Cada hectare produzido em regime de regadio produz, nas contas da Fenareg, seis vezes mais do que um hectare em sequeiro.

Ilídio Martins, director executivo da Associação de Regantes e Beneficiários de Campilhas e Alto Sado, estima que 250 dos 450 agricultores associados à organização, serão afectados pela falta de água. "Temos 4000 hectares de regadio em risco", que estão instalados nos concelhos de Ourique, Santiago do Cacém e Odemira. Desses, 200 hectares são de olival em modo de produção intensivo, "cuja morte é certa" caso não chova. 

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Mais de 200 milhões de euros de fundos da UE pagos indevidamente


Por ZAP - 21 Fevereiro, 2018

O Tribunal de Contas detetou irregularidades nas contas do IFAP, organismo encarregue de pagar fundos europeus da agricultura e pescas, e concluiu que mais de 200 milhões de euros foram pagos por erros.

O Tribunal de Contas detetou irregularidades nas contas do Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (IFAP), organismo encarregue de pagar fundos europeus da agricultura e pescas, e concluiu que foram pagos indevidamente mais de 200 milhões de euros.

Segundo o Correio da Manhã, no final da auditoria às contas de 2014, foi ainda detetado um défice de 80,3 milhões de euros de despesas não reembolsadas pela UE. Assim, o IFAP irá ter de recuperar, do total de 200 milhões de euros, 171 milhões, restando 31,3 milhões em processos ainda abertos, segundo a auditoria.

De acordo com o documento, mais de metade do valor da dívida tem mais de oito anos. Os erros detetados foram cometidos, em alguns casos, antes de 2002, estando neste período identificadas dívidas no valor de 25,8 milhões.

Em execução fiscal, o IFAP tem já cerca de 50 milhões, quase 30% da dívida. Conforme explica o CM, o processo inicia com a identificação do erro pelos próprios serviços. Depois, o instituto contacta o promotor que, depois de se pronunciar, tem um prazo para pagar o valor em causa. A execução fiscal é a última fase do processo.

A auditoria detetou também um défice de 80,3 milhões de despesas do Quadro Comunitário de Apoio III não reembolsadas pela UE. O Tribunal de Contas recomenda o Ministério das Finanças a regularizar este "montante não reembolsado" ao IFAP.

Num total de 136 mil euros, foram também encontradas irregularidades no pagamento de horas extraordinárias. A auditoria responsabilizou a anterior direção do IFAP, liderada por Luís Souto Barreiros, que arrisca agora ter de devolver aquele valor ao Estado.

Agricultores exigem Plano Nacional de Emergência para combater a seca


21 DE FEVEREIRO DE 2018 - 07:32

A Confederação dos Agricultores de Portugal considera que a agricultura no país atravessa uma catástrofe.



O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) avisa que o país está a definhar devido à seca, uma situação gravíssima e extraordinária. Esta terça-feira, o Instituto Nacional de Estatística indicou que a redução da área de cultivo de cereais de inverno atingiu um mínimo histórico - a menor área dos últimos 100 anos.

Um alerta que leva o presidente da CAP a pedir medidas extraordinárias em entrevista ao Jornal de Negócios. Eduardo Oliveira e Sousa quer um Plano Nacional de Emergência comum a vários ministérios com medidas a curto, médio e longo prazo. Em declarações à TSF, o responsável considera que deve ser o próprio primeiro-ministro a coordenar este plano.

As declarações de Eduardo Oliveira e Costa à TSF.
O presidente da CAP refere que as linhas de crédito não resolvem o problema, já que são insuficientes e pouco adaptáveis a situações de emergência.

Eduardo Oliveira e Sousa pede outro tipo de medidas como, por exemplo, ajudas específicas à manutenção de animais e a simplificação das regras da Política Agrícola Comum.

O responsável fala ainda da necessidade de sensibilizar Bruxelas para libertar verbas para ajudas extraordinárias.

A atual situação de seca levou a uma redução da área de cultivo de cereais de inverno para um mínimo histórico dos últimos 100 anos. Já na terça-feira, o presidente da Associação Nacional de Produtores de Cereais explicava à TSF que esta é uma situação "preocupante" para a "soberania alimentar do país".

Agora, também o presidente da CAP considera que esta é uma situação gravíssima extraordinária, sobretudo no interior do país. Oliveira e Sousa refere que o país está a definhar, não só na agricultura, mas também na pecuária.

A 15 de fevereiro, quase 10% do país estava já em seca extrema. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera aponta as regiões do Interior Norte, Trás-os-Montes, a zona de Beja, e do sotavento algarvio como as mais preocupantes.

Ministro da Agricultura "não tem saquinhos de dinheiro" para os agricultores


21 DE FEVEREIRO DE 2018 - 10:04

Capoulas Santos reage aos apelos dos agricultores lembrando que há várias medidas que já estão em execução e que os recursos são limitados.

O ministro da Agricultura está consciente dos problemas que os agricultores enfrentam por causa da seca, mas lembra que os apoios não podem ser atribuídos indiscriminadamente.

Em declarações à TSF, Capoulas Santos salienta que os recursos são limitados. "As medidas têm de ser dirigidas para aqueles que efetivamente estão em dificuldades e não de uma forma geral e avulsa, como se o país tivesse um conjunto de recursos inesgotável".

A reação do ministro da Agricultura na TSF.
A Confederação dos Agricultores de Portugal e a Confederação Nacional da Agricultura exigem ao governo um Plano Nacional de Emergência para combater a seca, que contemple apoio financeiro aos agricultores. Na reação, Capoulas Santos realça que o ministério tem mecanismos para apoiar os agricultores em dificuldades, que estão à disposição, mas é preciso cumprir as regras.

"Mais de 1600 projetos aprovados aguardam que os agricultores apresentem os comprovativos de despesa para serem ressarcidos", acrescentando que "o ministério não atribui um saquinho de dinheiro a cada pessoa".

Capoulas Santos garante que foram aplicados 15 milhões de euros de apoios públicos para o armazenamento de água nas explorações agrícolas, explicando que os agricultores apresentaram comprovativos de despesa no valor de apenas cerca de um milhão de euros.

O ministro da Agricultura afirmou que foi criada uma linha de crédito "com garantia do Estado para a banca facilitar pagamentos", no valor de 5 milhões de euros, para os produtores pecuários. Capoulas Santos refere que, neste momento, os agricultores têm ainda à disposição 4 milhões de euros.

Na TSF, o ministro anunciou ainda que, à semelhança do ano passado, vai pedir à União Europeia que antecipe as ajudas da Política Agrícola Comum para os agricultores.

Milhares de pinheiros vão ser abatidos na Serra de Sintra


O PEV denuncia o abate iminente de milhares de pinheiros na zona da Malveira da Serra. Os Verdes querem ouvir o presidente do Instituto de Conservação da Natureza sobre esta "gestão economicista" do parque natural.

 Liliana Valente
LILIANA VALENTE 22 de Março de 2017, 15:50 Partilhar notícia


Milhares de pinheiros na zona da Lagoa Azul, no Parque Natural de Sintra-Cascais, estão a ser marcados para abate pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) numa extensão de cerca de cinco quilómetros. A denúncia é d'Os Verdes que querem explicações do presidente daquele instituto.

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"Só vemos uma razão: querem fazer dinheiro. Uma floresta de pinheiros pode ser uma floresta que se vai repondo, cortando uns e plantando outros. Nunca se fez cortes assim tão grandes, porque deixando uma área muito grande a descoberto corre-se o risco de que as infestantes, como as acácias, se propaguem e tomem espaço, sobretudo agora na primavera", diz ao PÚBLICO a dirigente do partido Manuela Cunha.

O PEV nota a coincidência de ter tido esta denúncia no Parque Natural de Sintra-Cascais no Dia da Floresta, que foi terça-feira celebrado pelo Governo numa reunião do conselho de ministros dedicado ao tema que aconteceu exactamente em Sintra. 

Para os ecologistas, o problema coloca-se porque a área de abate destas árvores é muito extensa. "Estão a ser marcados para abate milhares de pinheiros, estende-se por uma área de mais de 5 km", clarifica a dirigente do PEV, que acredita que a justificação do ICNF para este abate em larga escala será a doença das árvores. "Mas não há razão nenhuma", defende. "Não é um abate do ponto de vista ambiental, só pode ser um abate economicista", acusa.

O PEV quer travar o abate com esta dimensão e por isso vai chamar ao Parlamento o presidente do ICNF, Rogério Rodrigues, para explicar o porquê de decidir o abate de tantas árvores e se não se trata de uma "gestão florestal numa zona de parque que não tem uma visão ecologista, mas economicista", acrescenta.

O PÚBLICO questionou o ICNF sobre o assunto mas ainda não obteve resposta.

Agricultores e empresários propõem ‘novo Alqueva’ no Ribatejo


Revista de Imprensa JE
Ontem 10:36
O investimento ronda os 4,5 mil milhões de euros, mas deverá gerar uma aposta dos privados da ordem dos 5 mil milhões de euros. A obra pode avançar arrancar a curto prazo com a construção do açude de Valada e de dois blocos de rega. Capoulas Santos já tem conhecimento da iniciativa.


Cristina Bernardo
"Jorge, é possível fazermos Alqueva no Ribatejo?", perguntou o empresário Manuel Campilho ao especialista em planeamento hidráulico Jorge Froes, quando se deparou com escassez de água na sua Quinta da Lagoalva, em Alpiarça. A resposta foi: "Não só é possível, como é absolutamente indispensável, se quisermos continuar a ter disponibilidade de água em quantidade suficiente para manter viva a atividade agrícola de toda esta região".

A história é relatada na edição deste sábado, 24 de fevereiro, do "Expresso", que conta que o projeto por enquanto se designa Projeto Tejo — Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Tejo e Oeste e foi lançado oficialmente esta semana perante o secretário de Estado da Agricultura, Luís Vieira, o ex-ministro da Economia Augusto Mateus, entre outras figuras ligadas ao setor.

O investimento ronda os 4,5 mil milhões de euros – 1,99 mil milhões de euros para barragens, açudes, estações elevatórias e adutoras; 2,09 mil milhões de euros para estações elevatórias e redes de rega e 420 milhões de euros para drenagem, viário, elétrico, etc.-, mas pode gerar uma aposta dos privados da ordem dos 5 mil milhões de euros, de acordo com a mesma publicação.

Apesar de faltarem encontros com Marcelo Rebelo de Sousa e o ministério da Agricultura, a obra pode avançar arrancar a curto prazo com a construção do açude de Valada e de dois blocos de rega.

Agricultores de Redondo admitem não semear culturas de primavera/verão

21 fev 2018 15:29

Os agricultores do perímetro de rega da Vigia, albufeira no concelho de Redondo (Évora), não devem realizar este ano culturas de primavera/verão, como milho ou tomate, devido à seca, admitiu hoje o presidente da associação de regantes.
 
"Vamos aconselhar vivamente os agricultores a não as fazerem porque as possibilidades de haver água para elas são muitíssimo escassas", disse à agência Lusa Luís Bulhão Martins, responsável pela associação de beneficiários da Obra da Vigia.

Neste perímetro de rega alentejano, que serve cerca de 100 agricultores, explicou, cerca de "20 a 25%" das terras costumam ser ocupadas por culturas de primavera/verão, mas, por causa da seca, está em risco a sua utilização na próxima campanha.

"Se não houver uma mudança climática expressiva, culturas como o milho ou o tomate, que se fazem no perímetro, vão estar com seríssimos problemas", pelo que, insistiu, a associação vai "aconselhar os agricultores a não as fazerem".

A albufeira da Vigia, que está ligada ao sistema do Alqueva, desde 2015, tem uma capacidade de armazenamento total que ronda os 17 milhões de metros cúbicos de água e serve para o abastecimento público do concelho de Redondo e para a rega agrícola.

Segundo Luís Bulhão Martins, a barragem está atualmente a 13% da sua capacidade, com 2,5 milhões de metros cúbicos de água, mas apenas "7% são capacidade útil", ou seja, cerca de 1,4 milhões, porque o restante "é o volume morto, que não se consegue, nem deve retirar, por questões ambientais".

Como "não vamos até ao volume morto", isso significa que "temos um milhão de metros cúbicos de água para regar", quando, num ano normal, os agricultores gastam "cinco a seis milhões de metros cúbicos na Vigia", comparou.

Contactado pela Lusa, o presidente da Câmara de Redondo, António Recto, disse hoje que o abastecimento público "está garantido", graças à ligação ao Alqueva, que está a injetar na Vigia "100 litros de água por segundo" 24 horas por dia.


Mas, reconheceu, se o abastecimento à população está salvaguardado, existe "um outro problema e bastante sério que tem a ver com a agricultura e com a possibilidade de os agricultores regarem durante a próxima campanha".

"E isso também nos deixa preocupados, uma vez que a economia também assenta, principalmente na freguesia de Montoito, a partir da zona de regadio", sublinhou.

Com as culturas de primavera/verão em risco de não serem semeadas, assinalou Luís Bulhão Martins, o objetivo é garantir água para as culturas de outono/inverno, como cereais, e salvaguardar a sobrevivência das culturas permanentes, nomeadamente o olival, que representa "50% da área regada" no perímetro, e a vinha, "que não chega bem aos 10%".

"Estamos em fevereiro e já tivemos de dar um bocadinho de água a agricultores aflitos para regarem culturas de outono/inverno", quando, nesta altura, costuma acontecer o contrário, afirmou o responsável da associação: "Estaríamos com problemas de água a mais, por causa da chuva".

Luís Bulhão Martins alertou para o "impacto terrível em termos económicos" que a situação representa na zona de Montoito, cujos agricultores "vão ter este ano uma perda de rendimento terrível", e reclamou medidas de apoio da parte do Ministério da Agricultura.

"Esperamos que o ministério tome as devidas medidas e procure, junto das verbas que tem da Política Agrícola Comum (PAC), arranjar qualquer coisa que tenha significado em termos de minimização da perda de rendimento", reivindicou.