segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Incêndios: Agricultores de Coimbra reclamam reabertura de candidaturas a apoios


A Associação Distrital de Agricultores de Coimbra (ADACO) reclamou hoje a reabertura, durante mais um mês, das candidaturas simplificadas a apoios na sequência dos incêndios de 15 de outubro, criticando a burocracia do Ministério da Agricultura.

"Não pode ninguém ficar de fora dos apoios por questões burocráticas. Em Pedrógão [nos incêndios de junho] houve três meses para fazer as candidaturas e aqui só houve um mês. O que nós reclamamos é que, no mínimo, mais um mês, as candidaturas simplificadas [até cinco mil euros] sejam reabertas", disse hoje aos jornalistas Isménio Oliveira, dirigente da ADACO.

"O senhor ministro [da Agricultura] diz que fez um esforço enorme para pagar o que já foi pago até agora, reabriu as candidaturas acima dos 400 mil euros que contemplam cinco lesados. Porque é que não reabrem para três mil agricultores que têm muitas dificuldades em sobreviver com aquilo que aconteceu e que estão a ficar fora dos apoios?", questionou.

Em declarações na freguesia da Tocha, concelho de Cantanhede, onde dirigentes daquela associação foram confrontados com situações de agricultores que fizeram a primeira declaração de prejuízos, após os incêndios, nas juntas de freguesia e na Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro "e, por qualquer motivo, não foram contactados para continuar o processo e agora não têm direito", criticou.

Outros casos, de acordo a ADACO, incluem pessoas "ausentes do país em trabalho ou longe das suas terras", pelo menos uma situação de um agricultor de Gouveia que ficou ferido nos incêndios e esteve hospitalizado e também casos de cidadãos estrangeiros residentes no interior centro do país, que "por falta de apoio, por desconhecimento de onde se deviam dirigir ou até por alguns estarem isolados nas suas povoações", não se candidataram aos apoios.

No total, o dirigente da ADACO estima que na região Centro existam cerca de três mil agricultores que não se candidataram, mil dos quais entregaram a primeira declaração de prejuízos.

Isménio Oliveira notou, por outro lado, que nas candidaturas a apoios superiores a cinco mil euros - que implicam a elaboração de um projeto, que vários agricultores não têm meios para concretizar - estão a existir "cortes brutais" e Isménio Oliveira volta a criticar a burocracia inerente a essas candidaturas.

"Os projetos nem sequer se sabe se são aprovados. E obedecem a medidas anteriores, não foi criada nenhuma medida para fazer projetos de emergência em relação aos incêndios, era uma medida que já havia e as pessoas têm de entregar dezenas, centenas de papéis", argumentou.

Um dos agricultores, Climério Domingues, 75 anos, residente num lugar dos arredores da Tocha deu hoje nota aos jornalistas dos mais de 70 mil euros de prejuízos que sofreu, onde se incluem 25 animais - vacas, bezerros e novilhos - além de maquinaria e alfaias agrícolas.

"Sem ajudas, para mim não há hipótese. Não veio ajuda porque as candidaturas foram uma coisa muito repentina e o projeto, independentemente de saber se era ajudado ou não, teria custos também para mim", frisou, aludindo ao período de tempo necessário, cerca de 10 a 15 anos, para sustentar um projeto de recuperação da atividade.

"Já não somos jovens com 40 ou 50 anos", enfatizou.

Com prejuízos superiores a cinco mil euros, Jacírio Andrade, produtor de mel na localidade de Morros, freguesia de Bom Sucesso, na Figueira da Foz, decidiu, no entanto, optar pela candidatura simplificada, reduzindo as mais de 60 colmeias que perdeu para 57 "para não atingir os cinco mil euros" de prejuízo e ter de elaborar um projeto.

"Mesmo assim, também não recebo nada", lamentou, explicando que os cerca de 4.600 euros da declaração de prejuízos que apresentou não resultaram em qualquer apoio, dado a candidatura não ter tido seguimento, por alegadamente não ter sido alertado para os procedimentos necessários.

"Isto era o meu sustento e não é só isto que está aqui. São 60 enxames que ando a comprar porque fiquei sem nada e são mais cinco ou seis anos que não produzo mel", afirmou.

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