domingo, 14 de agosto de 2011

Na maior fábrica de iogurte do país ninguém vê leite

por Margarida Videira da Costa , Publicado em 12 de Agosto de 2011
Fotografia
A maior fábrica de iogurtes
João Pedro Tomaz
No mundo dos iogurtes, os portugueses são uma espécie estranha:
preferem bebê--los, em qualquer lado. Segundo explica a Danone, marca
líder no país, metade das vendas em Portugal são iogurtes líquidos. O
que não acontece no resto do mundo, onde as pessoas preferem comer um
iogurte em casa, ao pequeno-almoço, ou como sobremesa, com uma colher.
Esclarecida a diferença, é mais fácil imaginar o interior da maior
fábrica do país, em Castelo Branco. Obviamente, há mais garrafas que
copinhos a circular rapidamente pela linha de produção. Uma linha que
começa e acaba sem que alguém possa ver um fio de leite - a principal
matéria--prima.

Mais precisamente, chegam a esta fábrica 130 mil litros de leite por
dia, em camiões cisterna. Cerca de 25% vem de produtores desta região
e outra grande parte do Alentejo, um pouco mais a sul. O mesmo leite
há-de sair dali cerca de 15 horas mais tarde, mas já feito iogurte.
A metamorfose é complexa e altamente controlada. E é por isso que
durante toda a linha de produção ninguém tem contacto visual com o
leite. O principal trabalho é feito a partir de uma sala com
equipamento electrónico e quadros brancos com números, fórmulas e
indicações, que lembram uma sala de aula. Tudo disposto em volta de
paredes vidradas para a restante fábrica, um espaço ruidoso onde é
difícil encontrar um caminho entre muitos silos e tubagens.
receitas O iogurte é um tema sério. Os primeiros eram mesmo vendidos
em farmácias. O adjectivos ligados ao sabor vieram depois, na altura
em que era conhecido pelos benefícios para o sistema imunológico e
digestivo. Um século depois, o factor saúde continua a ser importante
neste mercado. Cerca de 30% da produção da fábrica diz respeito à gama
de produtos que promete acabar com os problemas de trânsito
intestinal. Portugal é o único país europeu que tem este produto em
estado líquido.
Ao todo, a Danone tem 11 marcas no mercado português, cada uma delas
com vários produtos, o que faz com que nesta fábrica sejam
reproduzidas mais de 80 receitas diferentes, entre iogurtes sólidos,
batidos e líquidos. Há dois meses começou a ser produzida uma receita
totalmente desenvolvida pela equipa de investigação portuguesa. "A
renovação foi feita especificamente a pensar no consumidor português,
através de um levantamento de marketing", explicou Nuno Santos,
responsável pela equipa, "com um aumento da percentagem de fruta e
novos sabores."
Cada pormenor de cada iogurte se traduz em referências que levam a que
o leite passe mais ou menos tempo a fermentar, já com todos os
ingredientes e vitaminas incluídos. Quando volta a ver a luz da
fábrica, o leite já é um iogurte e restam-lhe poucos minutos na linha
de produção. O processo de enchimento, que dura entre oito e 10
minutos, também é totalmente mecanizado: a qualidade da selagem das
embalagem é assegurada por controlos pontuais.
As garrafinhas caem já em caixas de cartão [de um fornecedor
português, sublinham] e dali seguem para a refrigeração. Segundo os
dados da Danone, os iogurtes batidos saem da produção a 20oC, os
sólidos a 39oC e os líquidos a 7oC.
em números Cada português consome, em média, 21 quilos de iogurte por
ano. Em igual período, a produção desta fábrica ultrapassa a barreira
das 50 mil toneladas de iogurte, uma capacidade que aumentou 40% nos
últimos dois anos, devido a um investimento de 5 milhões de euros na
única unidade da Danone no país (Espanha tem seis).
A modernização, que pôs a fábrica entre as cinco melhores que a marca
tem no mundo todo, também levou a que a equipa da Danone em Portugal
ficasse mais reduzida. Entre os escritórios, em Lisboa, e a fábrica, a
marca emprega 262 pessoas. Com 33,5% das vendas de iogurtes em
Portugal, a Danone facturou 140 milhões de euros o ano passado e
obteve lucros de 16,5 milhões.
Embora a maior parte da produção desta fábrica sirva para abastecer o
mercado nacional (dois em cada três iogurtes consumidos em Portugal
são feitos aqui), boa parte da produção (13,5%) segue para Espanha e
para a Bélgica. Um dos objectivos da marca é que a percentagem
exportada duplique, chegando aos 25% em 2012.
http://www.ionline.pt/conteudo/142781-na-maior-fabrica-iogurte-do-pais-ninguem-ve-leite

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